Angie Thomas – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 05:55:45 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.9 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Angie Thomas – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 10 Livros de 2017 que poderia oferecer como prenda de Natal https://branmorrighan.com/2017/12/10-livros-de-2017-que-poderia-oferecer.html https://branmorrighan.com/2017/12/10-livros-de-2017-que-poderia-oferecer.html#respond Sun, 10 Dec 2017 16:15:00 +0000

À semelhança do que fiz em 2016, aqui ficam 10 sugestões de livros para este Natal. Aliás, na verdade, esta imagem pode muito bem reflectir parte dos melhores livros que li este ano. Há algum tempo que decidi não fazer TOPs, mas se recomendamos uma lista de livros é porque eles para nós representam alguma coisa, não? Pois bem, alguns remontam já aos primeiros meses do ano, como Iluminações de uma Mulher Livre, de Samuel Pimenta, enquanto outros saíram recentemente, como Jalan Jalan, de Afonso Cruz. Não estando ordenados por nenhuma ordem ou razão específica, tentei ainda assim equilibrar o número de autores portugueses e autores estrangeiros. Por causa disso, há outros dois livros que estariam ali igualmente bem: “1933 foi um mau ano”, de John Fante (Alfaguara) e “A Sul de Nenhum Norte”, de Charles Bukowski. Acabei por não colocá-los porque são autores que já têm uma boa legião de fãs e nestas recomendações quis colocar livros que talvez não fossem escolhas evidentes à primeira vista. Ora vejamos. 

Afonso Cruz, apesar de para mim ser um dos melhores autores do mundo (é a verdade), parece continuar a ser conhecido apenas num circuito mais restrito, o que escapa à minha compreensão (mas também pode ser só impressão minha). “Jalan Jalan”, a sua mais recente obra, tem sido para mim uma leitura que tem atingido várias dimensões. Nos últimos dois anos devo ter viajado por sete países diferentes, vivi um mês no Japão, etc, e às vezes há aqui coisas sobre essa mobilidade constante que disparam alguns “triggers”. Deixarei essas deambulações para o texto de opinião. O que interessa aqui é: vale COMPLETAMENTE a pena ser adquirido e lido com atenção. 

Eimear McBride, a autora revelação, para mim, de 2016 com o seu “Uma Rapariga É Uma Coisa Inacabada”, lançou este ano o seu segundo romance “Pequenos Boémios”. Foi mais um livro que devorei compulsivamente e foi a concretização da certeza que esta autora se tornou numa das minhas preferidas de sempre. A sua forma de escrita, muitas vezes fragmentada, transporta-nos directamente para o psicológico dos seus protagonistas. Há murros no estômago que merecem ser sentidos. As suas histórias são exemplos disso. 

James Rhodes e a sua história brutal em “Instrumental” são ideais para os que estão dispostos a mergulhar em cenários agressivos, porém também comoventes. Um livro não muito fácil de se ler, mas onde se aprende muito e se acompanha a luta de quem já atravessou estados mentais que passam completamente ao lado da maioria dos humanos durante a sua vida. Só tenho pena de não ter conseguido ir ver nenhum dos concertos que deu recentemente em Portugal.

Angie Thomas foi genial ao escrever “O Ódio Que Semeias”. Apesar de estar categorizado como jovem-adulto, é um livro que recomendaria para qualquer faixa etária. Penso que escrevi isto na opinião: este é um livro necessário! No nosso país não conhecemos assim tantas histórias como aquela, mas é excelente para abrirmos os olhos em relação a outras realidades tão difíceis. E tudo isto é facilmente testemunhado a partir da protagonista com quem a empatia é imediata. 

David Litchfield e as suas maravilhosas ilustrações. “O Urso e o Piano” é toda uma viagem por uma história super querida ilustrada de forma a aquecer e a derreter os nossos corações. Recentemente foi editado “O Gigante Secreto do Avô” que veio comprovar a sua mestria no que toca à forma magnífica como dá cor às suas histórias. Frios e quentes misturam-se num equilíbrio que acabam por reflectir as emoções do que se está a ler. 

Dulce Garcia e o seu “Quando Perdes Tudo Não Tens Pressa de Ir a Lado Nenhum” foram uma das melhores descobertas de 2017. Confesso que foi o título que me atraiu. A vida prega-nos rasteiras e às vezes, mesmo que não seja bem assim, sentimos que perdemos tudo e que então a vida parece que pode esperar que lhe voltemos a dar atenção. Foi um romance sentido, dramático, mas com um sentido real bastante apurado. Um romance de estreia muito bem conseguido. 

Carla M. Soares já é bem conhecida por estes lados. No início do ano lançou “O Ano da Dançarina” e foi uma excelente maneira de recordar alguma história e de ao mesmo tempo viver um romance que poderia mesmo ter acontecido. Sei que entretanto lançou outro romance, mas ainda não o tenho nem li. Como tal, fica esta sugestão que irá deliciar os amantes de romance histórico. 

Sandra Carvalho é uma das autoras mais queridas de Portugal. A cada Feira do Livro está horas e horas a assinar livros e foi este ano que terminou a trilogia Crónicas da Terra e do Mar, que recomendo por completo. A Sandra é uma autora que inspira um carinho enorme e uma devoção completamente merecida. As suas narrativas proporcionam-nos viagens fantásticas, sempre com aquele olhar romântico. Nunca são histórias fáceis, existe sempre muita luta, mas também o amor vence sempre no fim. Leiam-na e deixem-se conquistar. Vale a pena!

Rosa Montero, outra escritora que é das minhas preferidas. Lembro-me do impacto que teve o primeiro livro que li seu. “A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te”. Tinha perdido dois grandes amigos meus recentemente e, apesar de a história ter um contexto amoroso e autobiográfico, as emoções foram tão fortes que foi impossível não me sentir atingida por elas. Em “A Carne”, Rosa Montero expõe a peito aberto as fragilidades emocionais que a idade pode trazer com elas. Como será o amor quando sentimos que o nosso tempo já passou? Um romance duro, mas que vale a pena. 

Samuel Pimenta é um jovem autor português que continua a passar ao lado de muita gente, mas cuja voz merece ser ouvida. É um poeta notável e um romancista acutilante. Depois de em 2016 ter lançado o romance “Os Números Que Venceram os Nomes”, uma chamada à atenção à forma como a humanidade pode progredir, este ano presenteou-nos com “Iluminações de Uma Mulher Livre”, que pretende dar uma nova força à imagem e ao poder interior da mulher. É um dos autores nos quais vale a pena apostar. 

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Opinião: O Ódio que Semeias, de Angie Thomas https://branmorrighan.com/2017/11/opiniao-o-odio-que-semeias-de-angie.html https://branmorrighan.com/2017/11/opiniao-o-odio-que-semeias-de-angie.html#respond Sun, 12 Nov 2017 11:56:00 +0000

O Ódio que Semeias

Angie Thomas

Editora: Editorial Presença

Sinopse: Starr tem 16 anos e move-se entre dois mundos: o seu bairro periférico e problemático, habitado por negros como ela, e a escola que frequenta numa elegante zona residencial de brancos. O frágil equilíbrio entre estas duas realidades é quebrado quando Starr se torna a única testemunha do disparo fatal de um polícia contra Khalil, o seu melhor amigo. A partir daí, pairam sobre Starr ameaças de morte: tudo o que ela disser acerca do crime que presenciou pode ser usado a seu favor por uns, mas sobretudo como arma por outros. Um poderoso romance juvenil, inspirado pelo movimento Black Lives Matter e pela luta contra a discriminação e a violência.

OPINIÃO: Esperança. Esta é a palavra chave deste pequeno maravilhoso romance. Em O Ódio que Semeias, Angie Thomas tem o poder de não só agarrar o leitor com uma história extremamente cativante, mas principalmente de sensibilizá-lo. Dependendo de quem lê, este livro é uma oportunidade para mostrar uma realidade que tantos, como eu, desconhecemos, ou então serve para espelhar emoções que muitos dos que a vivem sentem, servindo assim para que neste livro encontrem uma voz. Servindo, em parte, como homenagem ao músico 2PAC, que para além de artista era também activista, o título original “The Hate You Give” (THUG) é inspirado precisamente numa das suas canções “THUGLIFE – The Hate U Give Little Infants Fucks Everybody”. E é curioso que hoje em dia, nas redes sociais, se utiliza muito a hashtag #thuglife, mas muito poucas pessoas parecem ter noção do que é que realmente isso significa. Neste livro têm a oportunidade de ter todo um contexto e exemplo do que é realmente viver isso na primeira pessoa. 

Racismo, ódio, medo, abuso policial, tiroteios, morte. Todos estes ingredientes estão expostos de forma brutal através da voz de Starr. Ela é apenas uma adolescente que tenta perceber qual a sua verdadeira voz. Dados os dois mundos nos quais tem que habitar todos os dias, Starr vive em constante sobressalto e dúvida. A Starr do bairro é diferente da Starr da escola que frequenta e acredita que seria desastroso ser a mesma Starr nos dois universos. É de mão dada com ela que conhecemos a realidade que é viver num daqueles bairros problemáticos. É de coração apertado que sentimos com ela a morte do seu amigo. Nós não estamos lá, mas estamos. Angie Thomas, na sua simplicidade magnífica, tem o poder de nos transportar visual e emocionalmente para os cenários que descreve. Conseguimos sentir o pânico da nossa protagonista, conseguimos até, nas nossas cabeças, debater as suas crises existenciais. Este é um livro como poucos, neste sentido. Tira-nos da nossa zona de conforto, das nossas vidas tão pacatas e tão seguras e faz-nos imaginar como seria viver sempre de coração nas mãos. Num minuto estamos a sorrir e a implicar com o irmão mais novo, no outro estamos deitados no chão com tiros a entrarem pelas janelas. 

É de salientar que a trama principal deriva da morte de Khalil, morto a tiro por um agente “branco”, apenas por ser “preto”. A investigação policial que se faz à volta desta morte dramática leva a crer que se vai tentar ilibar, seja de que maneira for, o polícia que o baleou, só com a desculpa, não provada, de que Khalil era um traficante ou que ele achou que Khalil teve um movimento que podia ser ameaçador. Tudo tretas. O impacto que a diferença racial tem na forma de agir de algumas pessoas é aqui exposta de forma crua e dura. No entanto, nem tudo é mau. Nem todos têm esses estigmas e é no lado da luta, no lado do amor, no lado da compaixão que assistimos a uma revolução. Ou várias. Uma que se passa tanto no interior como no exterior de Starr, mas também naqueles que a rodeiam. As vozes começam a erguer-se e a acção toma lugar na luta pela justiça. A coragem que a autora transmite na personagem de Starr é necessária e urgente. E não cabe só a quem vive nesses bairros tomar uma posição, mas também a todos nós. 

O Ódio que Semeias é um romance notável, estimulante e comovente. Acima de tudo urgente e de leitura obrigatória. 

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