Carlos J. Barros – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 06:11:17 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.3 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Carlos J. Barros – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 Entrevista a Carlos J. Barros, escritor português https://branmorrighan.com/2010/06/boa-tarde-todos-hoje-deixo-vos.html https://branmorrighan.com/2010/06/boa-tarde-todos-hoje-deixo-vos.html#comments Tue, 08 Jun 2010 19:03:00 +0000 Boa tarde a todos! Hoje deixo-vos a entrevista do escritor Carlos Barros, autor de um livro que adorei ler “O Ladrão de Livros”.

Sobre mim: Tenho alguma dificuldade em “falar” sobre mim. Corro vários riscos ao fazê-lo. Sinto-me um intruso a entrar na vida do Carlos José Barros. Claro que sou eu, sou tímido na primeira abordagem com as pessoas, divertido na segunda. Nada do que escrevo é bom, nada do que digo tem valor. Sou muito crítico e bastante inseguro no que toca à escrita. Dizem os amigos que sou tonto, dizem os conhecidos que esperam pelo próximo, digo apenas para os que não conheço que há sempre em mim uma vontade de escrever enorme. Talvez defeito de profissão – jornalista – tudo o que se move, o que tem cheiros e sons, o que liberta cores mesmo que num preto e branco muito «nosso», serve para escrever. Como digo “falar” sobre mim é um acto brutal em que me digladio entre o sonho e a realidade. Vivo naquele limbo do nada onde existe tudo, até cerejas.

Estilo e Ritmo de Escrita: Não tenho um estilo definido ou apenas tenho a minha própria “métrica” das palavras e que se vão enquadrando como um puzzle. Nunca tenho o problema dos títulos nos Livros porque eles nascem do título. Do nada aparece algo que gosto tipo: “Ladrão de Livros” ou “Como matei o Ministro” e parto para a aventura. Chego a estar a escrever um texto que nem eu calcularia que seria o inicio de um Manuscrito e quando olho à minha volta já estou a “construir” mais um romance. Gosto de escrever com”navegação à vista” (riso) ou seja todos os dias quando pego no texto tenho ideias, mas não tenho um fim nem uma direcção, deixo sempre que as personagens me levem para onde elas entenderem. Sinto-me quase sempre refém delas, menos no final. Geralmente ocorre-me uma ideia a ¾ do livro e depois vou amadurecendo a ideia, deixo-me levar até que… acaba. O ritmo tem a ver com as ideias, tanto posso descrever de uma forma ofegante, repentina e cheia, como posso saborear toda uma prosa que nos vai abraçando.

Influências: A maior das minhas influências nasce em mim, na minha imaginação que não me larga nas 24 horas do dia. Descendo à terra, tenho um carinho especial pela escrita do “Gabo” (Gabriel Garcia Marquez). Durante a minha juventude recusava-me a ler outro escritor que não ele. Gosto da escrita do Philiph Roth pela sua simplicidade e crueldade. Adoro a forma como Haruki Murakami olha para a vida desenhando magnifica metáforas num imaginário muito oriental, mas com um toque nova-iorquino. Mas a escrita e os escritores é uma descoberta constante e estou sempre tentado a ser influenciado. Há nomes portugueses que me dizem muito, não vou falar em nenhum em particular porque acho que não devo. mas todos os dias despontam prosas magnificas escritas na língua de Camões, felizmente ainda sem o novo acordo ortográfico.

Projectos Futuros: Não sei a que distância está o futuro. Dentro de dias sairá um novo romance. “Aqui há pena de Morte – diário de um sem-abrigo”, penso que é um futuro demasiado presente. Estou a ultimar e a limar um outro romance que em principio sairá daqui a um ano. Em Agosto começarei a pensar no que irei começar a escrever. Pelo caminho penso que terei de «agarrar» todas as oportunidades que apareceram. Que cá, quer lá «fora» e dar força à minha escrita. Os meus amigos ensinaram-me a acreditar nela e eu começo a acreditar.

O Ladrão de Livros” é um convite a uma meditação interior, a uma viagem pela nossa solidão, com um destino bem definido – a nossa redescoberta. É ténue a fronteira entre o sonho e a realidade. Realidade que nos conduz a uma paz e nos ensina a sorrir para a vida, independentemente das circunstâncias, dos nossos recalcamentos, dos nossos fantasmas…

Página do autor no facebook

Blog do autor

]]>
https://branmorrighan.com/2010/06/boa-tarde-todos-hoje-deixo-vos.html/feed 2
Opinião: O Ladrão de Livros de Carlos J. Barros https://branmorrighan.com/2010/06/opiniao-o-ladrao-de-livros-de-carlos-j.html https://branmorrighan.com/2010/06/opiniao-o-ladrao-de-livros-de-carlos-j.html#comments Tue, 01 Jun 2010 15:11:00 +0000 O Ladrão de Livros

Carlos J. Barros

Editora:Fronteira do Caos

Nº de Páginas:214

Sinopse:“O Ladrão de Livros” é um convite a uma meditação interior, a uma viagem pela nossa solidão, com um destino bem definido – a nossa redescoberta. É ténue a fronteira entre o sonho e a realidade. Realidade que nos conduz a uma paz e nos ensina a sorrir para a vida, independentemente das circunstâncias, dos nossos recalcamentos, dos nossos fantasmas…

Opinião:Após a leitura dos primeiros parágrafos, nada fazia prever o quanto acabei por gostar deste livro. Em poucas palavras, O Ladrão de Livros é uma delícia, um pouco complexa, mas extremamente saborosa.

No início, a leitura foi um pouco difícil. Não que estivesse mal escrito, mas a formatação escolhida para o texto, penso que não foi a mais adequada. Parágrafos com contextos diferentes não estão espaçados, o que faz com que de repente nos percamos na história. Mas tendo consciência deste tipo de formatação, começamos a não estranhar tanto quanto de repente mudamos de cenário.

Fora este pequeno pormenor, opção que acho que a editora devia rever, o livro está extremamente bem escrito, num português delicado que dá gosto ler.

O Ladrão de Livros mostra-nos duas histórias paralelas, a de uma mulher e a de um homem. O que têm em comum é o livro que lêem. O livro chama-se Linhas Paralelas e por mais que o leiam, querem sempre continuar a lê-lo e a cada leitura, eles não reconhecem as palavras. É como se o livro fosse constantemente reescrito. E o mais engraçado, é que a capa do livro muda. Umas vezes está todo colorido, outras vezes está metade colorido metade cinzento. Este livro que lêem, fala de duas pessoas que estão destinadas, mas que nunca se cruzam. Mesmo percorrendo as mesmas ruas, os mesmo locais, passam sempre paralelamente um ao outro sem nunca se cruzarem. Um livro extramamente curioso.

Mais do que um romance, este livro obriga-nos a uma introspeção enorme, a vermos o que realmente importa, se damos valor ao que deviamos, ajuda-nos, essencialmente, a revermos a nossa identidade.

As histórias de David e Matilde, são bastante diferentes uma da outra e ao mesmo tempo bastante parecidas. Com uma escrita elegante e profunda, apegamo-nos a estas duas personagens e só queremos continuar a ler para ver o que acontece a seguir. Mesmo nada o prevendo, será que algum dia as suas linhas se irão cruzar?

Além de a história ser mesmo muito boa, o final do livro é muito surpreendente e leva-nos a reflectir ainda mais. Gostei muito dos momentos que este livro me proporcionou. Para além de não ser de fantasia, género que tenho bebido bastante, conseguiu surpreender-me com a sua sensibilidade e profundidade. Um livro que não ficava nada mal em todas as bibliotecas. Recomendo este livro sem reservas nenhumas.

Deixo um excerto disponibilizado no site da editora:

“Quando ‘acordou’ daquela letargia devidamente explicável, já o rapaz ia a uma distância razoável, seguiu-o. Pelo caminho ia roubando a fragrância que se desprendia dele, um perfume que bem conhecia, rompia com todos os protocolos conhecidos – docemente amargo, quando se perdia pela solidão e vertiginosamente salgado, quando planava sobre a ilusão. Pertencia-lhe aquela fórmula da sua própria existência, não tinha dúvidas de que a vida sobreviveria a mais um salto sobre a sua própria imagem – meio gelada, meio a arder – de sobrevivente. Desceu uma rua acentuada e viu o seu ‘vulto’ a entrar numa enorme porta, num antigo palácio – só depois se apercebeu que era a Biblioteca Municipal Braamcamp Freire. Desceu, o que viria depois a descobrir – a rua da ‘amargura’. Apreciou durante poucos minutos – o tempo que a ansiedade permitiu – a paisagem do lado esquerdo que se estendia até ao rio Tejo. De novo ouviu aquele ruído metálico e rafeiro vindo de um rádio a pilhas, não vinha de lado nenhum o velho que calmamente empurrava a sua ‘pasteleira’. Examinou, de forma delicada e complacente Matilde, e soltou um suspiro.

– Tenha cuidado – aclarou a garganta e repetiu – tenha cuidado com o que persegue.

– Desculpe?! – Matilde ficou numa paralisia quase profusa.

– Tenha cuidado – fixou-lhe os olhos e desceu fundo, como se de uma montanha russa se tratasse – ele é um ‘Ladrão de Livros’. Rouba-lhes a alma e bebe-lhes a vida. – Naquele instante Matilde já olhava para um imenso vazio, o barulho do rádio tinha desaparecido e com ele as palavras que escutara.

– Mas não somos todos assim? – interrogou-se no meio da sua perplexidade – para que servem os livros? Não é para isso, para lhes roubarmos a Alma e lhes bebermos a Vida?”

]]>
https://branmorrighan.com/2010/06/opiniao-o-ladrao-de-livros-de-carlos-j.html/feed 5