Concurso O Desassossego da Liberdade – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 05:51:14 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.2 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Concurso O Desassossego da Liberdade – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 E agora, o que se segue? [Diário de Bordo LVIII] Sobre a Apresentação do “Desassossego da Liberdade” https://branmorrighan.com/2015/07/e-agora-o-que-se-segue-diario-de-bordo.html https://branmorrighan.com/2015/07/e-agora-o-que-se-segue-diario-de-bordo.html#comments Tue, 07 Jul 2015 11:32:00 +0000

Quis começar com esta foto, embora pudesse ter começado com o elenco completo ou qualquer outra, porque a primeira coisa que me vem à cabeça quando penso no passado sábado é: Gratidão. O Gil Cardoso apanhou, e muito bem, esta pequena pérola enquanto eu agradecia ao Miguel Reis (aka Tio Rex) pela sua presença e contributo neste dia tão especial. Mas o que é certo é que não é só ao Miguel que agradeço, mas a cada um dos presentes. De coração. 

Acho que, muitas vezes, quando as pessoas só vêem o resultado final não fazem ideia do processo todo para lá chegar. E este foi um processo longo. Com muitas alegrias pelo meio, mas também com (quase demasiados) dissabores. E porque este é o meu blogue e tenho liberdade para isso, vou-me estender um pouco mais do que o que fiz na apresentação onde não quis estar a colocar uma carga emocional demasiado intensa, embora emoção tenha sido a palavra de ordem do dia. 

Esta colectânea começou a ser idealizada há mais de um ano. Eu tinha-me reunido com o João Batista, editor da Livros de Ontem, e ele tinha-me convidado a fazer parte do programa Guest Bloguer onde pretendia valorizar o trabalho que todos nós fazemos de forma gratuita. O convite consistia em amadrinhar uma obra literária – escolher um autor e um manuscrito e ser editora convidada do livro. Ora, eu tenho um grande problema – que na verdade é sinal de sorte – que é ter criado laços e uma admiração muito fortes por uma boa parte dos autores que fui conhecendo ao longo do caminho. Andava a remoer, a remoer… 

Havia ainda outra questão. Há muito tempo que andava com estas três palavras na minha cabeça “Desassossego da Liberdade”. Tinha para mim que um dia se escrevesse uma obra teria este título. Só que a escrita não é um talento que eu possua, muito menos tempo para isso, e decidi partilhar este meu pequeno sonho com pessoas que me diziam alguma coisa. (Deixei muita gente de fora, eu sei.) Eu daria o mote, elas a sua escrita e eu poderia libertar, finalmente, esta ansiedade de existir algo com este cunho. Inspirada por Fernando Pessoa e pela minha própria vida – com o facto de me deparar constantemente com escolhas em que parece que tenho, ou não, de abdicar da minha liberdade – estas três palavras ganharam vida na mão de doze pessoas incríveis. Mas já lá vamos.

Comecei por partilhar este pequeno desassossego com o escritor Luís Miguel Rocha. Cúmplices de imensas ideias e projectos concretizados e por concretizar, chegámos à conclusão que poderia sair dali algo bonito. Seriam convidados autores que ou por se encaixarem no tema, ou por estarem completamente fora dele, me fazia sentido estarem presentes. Quanto mais não fosse pelo simbolismo pessoal. O Luís fazia parte desse leque, obviamente. Depois havia a questão de dar oportunidade a novos autores, coisa que não era uma novidade para mim. No ano anterior já tinha lançado um concurso de contos que tinha resultado numa obra literária editada por outra editora jovem. Criou-se então mais um concurso para cinco novos autores. A oportunidade destes partilharem o mesmo espaço com outros autores mais conhecidos, serviria como uma rampa de lançamento, mesmo que em evento único. Uns puxariam os outros e o que é certo é que a literatura portuguesa precisa de mais solidariedade e apoio entre escritores. Na minha cabeça o projecto fazia cada vez mais sentido.

Mas faltava algo. Sendo algo organizado por mim e espelhando um pouco daquilo que eu idealizo, mesmo que através da expressão dos convidados, faltava alguma irreverência, alguma inovação, principalmente no que toca ao cruzamento das diversas artes. Foi daí que surgiram os convidados especiais cuja arte principal é a música. O Guillermo de Llera eu conhecia por causa dos Primitive Reason, por quem tenho uma grande estima e carinho, e sabia que ele escrevia já algumas coisas. Li um pouco e achei que ele se encaixaria perfeitamente ali. E depois havia uma das pessoas que eu mais admirava no seio musical por todo o seu percurso – o Noiserv. Também começou como engenheiro electrotécnico no IST, mas a música acabou por falar mais alto e hoje em dia dedica-se-lhe a 100%. Não sei se conhecem o trabalho dele, mas é vasto e de um talento bastante único. Numa entrevista por causa dos 10 anos desde o seu primeiro concerto, falei-lhe do projecto. Sabia que ele tinha uma agenda descomunal, cheia de concertos e outras iniciativas, que o tempo era mais do que ocupado. Também lhe disse que tinha pensado em convidá-lo, mas que nunca o tinha feito por causa disso – íamos já em Novembro, se não me engano e os convites já tinham sido todos feitos bastante tempo antes. O que é certo é que ele ficou entusiasmado com a ideia e poucos dias depois a primeira versão do seu conto estava pronta, e que versão! Uma autêntica surpresa, ou não se considerarmos tudo o que tem feito, mas para a sua estreia no seio literário fiquei verdadeiramente orgulhosa. O Noiserv ia estrear-se na escrita através de uma iniciativa minha – YEAH! 

Eu sei, entusiasmo de criança e um nada infantil, mas todo este projecto é-me tão querido que o fui vivendo assim, como quem descobre o sol, o mar, o vento e a terra pela primeira vez. E ainda havia a questão da capa. Com todo o respeito por quem costuma tratar desses pormenores, também eu quis assumir essa parte e quem mais poderia escolher do que alguém cujo trabalho também me desassossega no bom sentido? O João Pedro Fonseca, desde que o conheci há quase ano e meio, tornou-se numa referência no meio artístico contemporâneo pela sua irreverência e pela sua visão do mundo. A harmonia terminava com ele a ser o autor do magnífico trabalho gráfico. 

Como nunca foi meu objectivo lucrar com qualquer iniciativa minha (todos os concertos que organizo, por exemplo, as receitas vão sempre totalmente para os artistas), decidi doar os direitos que me cabiam a uma Instituição sem Fins Lucrativos – a Burricadas, o Abrigo do Jumento. Conheci esta instituição através da banda Nobody’s Bizness que já antes tinha lançado um disco que revertia a favor desta causa. Comuniquei essa vontade aos autores e ao editor e todos quiseram dar a sua parte para esta causa! Estou ansiosa por ir visitar o burrinhos e os jumentos assim que tenhamos uma verba porreirinha para eles. E pronto, tudo se estava a encaminhar mais ou menos a bom ritmo. 

Em Dezembro o Luís esteve mal, bastante mal. Eu tinha acabado de apresentar O Cavalheiro Inglês, da Carla M. Soares (autora presente na colectânea), quando recebo uma mensagem de um familiar dele. De alguma forma as coisas, para mim, começaram a descambar por essa altura. A nível pessoal atravessei uma fase muito complicada que teve o seu pico na morte de um amigo meu de infância em Fevereiro e na morte do Luís, um dos meus melhores amigos, nem um mês depois. Também eu tive uma ida às urgências ainda em Fevereiro… Enfim! É verdade que para fora pouco transpareceu, tive o aniversário de grande sucesso no Musicbox, o aniversário no Maus Hábitos (Porto), etc. etc., mas sabem os deuses o resto. Não que me esteja a queixar, pelo contrário, mas fácil também não foi. O Luís nunca conseguiu acabar o seu conto. A pessoa que me ajudou a catapultar os maiores projectos do blogue até então, a que mais me tinha apoiado e dado a sua amizade, tinha desaparecido. Talvez vocês achem ridículo, mas quando finalmente me vi com os livros nas mãos desatei a chorar. Esperava-se o rejubilo e o orgulho, mas assomou-me uma tristeza enorme, misturada com a sensação de incompletude. 

Por muito frio que possa soar, a verdade é que a vida continua e haviam pelo menos seis estreias na literatura portuguesa (os cinco novos autores e o David “Noiserv” Santos) e também por eles tinha de seguir em frente e tratar de terminar de forma bonita o que tinha começado. O apoio incondicional dos autores convidados foi essencial. Veio então a questão da apresentação e quem já me vai acompanhando sabe que eu gosto muito pouco de coisas “by the book”. As apresentações formais de palcos com mesas e microfones, distantes dos leitores, etc. etc., embora as faça enquanto apresentadora convidada, não são algo que me deixe confortável. Lembrei-me então d’O Bom, o Mau e o Vilão, espaço que visitei aquando da apresentação da Revista Gerador #2, e a partir daí as coisas seguiram o rumo que lhes quis dar. A editora deu-me total liberdade e pus mãos à obra. Convidei o Tio Rex, cujo trabalho admiro muito, para abrir o final de tarde com meia dúzia das suas lindas canções, convidei todos os autores que pudessem estar presentes e ainda, ninguém sabia, preparei uma série de petiscos para o convívio final. 

Às 19h15, hora de início do evento, a sala que nos tinha sido concedida estava cheia, com pessoas de pé e ainda pessoas fora dela. Por muito que achem que não, eu fico ridiculamente nervosa a cada vez que tenho que assumir o papel de protagonista. Quando enfrento as pessoas a minha cabeça parece que esvazia e eu esqueço-me de tudo o que possa ter pensado ou preparado. Ok, não fiquem desiludidos, mas eu já não consigo preparar nada, sai tudo de improviso. E com isso acaba sempre por me escapar alguma coisa, muitas vezes importante, mas acho que não me safei demasiado mal. A última música do Tio fez com que eu me pusesse à prova de forma brutal (a música chama-se O Que o Tempo Destrói e fala sobre a morte e sobre o tempo passado sem essas pessoas), as lágrimas vieram-me aos olhos, o coração disparou e era como se de repente tudo aquilo que sempre tentei calar me viesse gritar aos ouvidos. As saudades, tudo. Bem sei que não foi planeado, nem o Miguel faz ideia disto que vos estou a contar (na verdade não o disse a ninguém). Entre exercícios de respiração e uma resistência férrea, após terminada a canção espetei um sorriso no rosto e enfrentei os leitores presentes. 

Dei primeiro voz aos novos escritores em que cada um falou da sua experiência perante esta colectânea. Motivações, emoções, tudo. O testemunho do Eduardo, em particular, não querendo desvalorizar os outros, claro, foi bastante eloquente e fez até com que algumas pessoas se emocionassem. Foi com muito orgulho que os ouvi, só faltou a Cláudia, e é uma honra ter uma colectânea com pessoas tão valorosas. E depois os meus queridos amigos de longa viagem, a Carla, o Nuno, o David e o Samuel. Sou uma sortuda por conhecê-los e partilhar com eles estes meus sonhos. O Manuel Jorge Marmelo e o Pedro Medina Ribeiro não puderam estar presentes, com muita pena minha, mas ainda assim foi uma tarde muito bonita. O João Batista também falou da editora, do processo de crescimento e do gosto que foi partilhar este projecto connosco. 

Estamos todos de parabéns. Principalmente todos aqueles que nos ajudaram no crowdfunding. Sei que ficaram para último, mas os últimos também são os primeiros no sentido que sem vocês nunca teria existido colectânea. E o statement foi forte, ultrapassámos em boa medida o que foi pedido. E pronto, apresentação terminada chegaram mais abraços, mais sorrisos, autógrafos e comidinha boa. 

Quero fazer aqui um grande destaque para uma pessoa que foi invisível para toda a gente a tarde toda, mas que sem ela eu não teria conseguido ter nem a força nem a disposição que tive. A minha querida amiga Rita Levy foi completamente incansável. Fui ter com ela ao início da tarde, fomos às compras, cozinhámos a tarde toda e foi ela que tratou de toda a distribuição e apresentação da comida enquanto eu andava de um lado para o outro. Quero também deixar um beijinho gigante e um abraço forte à Telma, colega e amiga do INESC, que na véspera, estando eu já em pânico, fez questão de fazer alguns brigadeiros e Guacamole para dessa forma estar presente na apresentação, já que não ia estar em Lisboa no fim-de-semana. Obrigada às duas, as minhas mais recentes companheiras de aventuras profissionais e académicas, mas que estão sempre prontas a ajudarem-me no que eu precisar fora desse meio.

E é por estas pequenas coisas que eu sei que sou uma rapariga (a tentar ser mulher) muito sortuda. A vida pode dar muitas chapadas, podem surgir contratempos, mas tem existido sempre alguém, mesmo que de forma mais ou menos inesperada, que me tem dado a mão e ajudado a levantar a cabeça. 

Provavelmente estou-me a esquecer de mil pormenores, mas quem lá esteve poderá falar da sua experiência. Este é um mero relato bastante pessoal e que vem fechar as comemorações do 6º aniversário. Sim, porque esta iniciativa começou por ser uma comemoração de mais um ano de blogue. 

Não sei o que me trará o futuro. Termino este processo de sorriso no rosto e algumas lágrimas no coração, mas também acho que talvez possa estar na altura de pousar um pouco a cabeça para mais tarde regressar com mais força. Eu adoro o que faço, tenho a sorte de poder partilhar isso com imensas pessoas talentosas, e palavras como “fazes bem às pessoas”, como me disseram no Sábado da parte de quem mais admiramos, ajudam-nos a acalentar nova motivação e novos projectos – a seu tempo. 

Despeço-me com um muito obrigada a todos os que estiveram presentes, a todos os que mesmo longe estiveram connosco e em especial ao Gil Cardoso por ter registado alguns dos melhores momentos! 

Um grande beijinho a todos, até breve.

Mais Fotografias:

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É HOJE! Apresentação da Colectânea Desassossego da Liberdade https://branmorrighan.com/2015/07/e-hoje-apresentacao-da-colectanea.html https://branmorrighan.com/2015/07/e-hoje-apresentacao-da-colectanea.html#respond Sat, 04 Jul 2015 10:02:00 +0000

Estão mais do que convidados a aparecerem hoje, pelas 19h15, n’O Bom, o Mau e o Vilão (Rua do Alecrim, 21). Não só teremos a apresentação desta colectânea especial como estarão presentes boa parte dos autores que a compuseram, incluindo o nosso artista plástico João Pedro Fonseca! 

Venham que haverá muito boa disposição, muitos sorrisos e uns miminhos! 

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[DESTAQUE] Desassossego da Liberdade já à Venda ao Público! https://branmorrighan.com/2015/06/destaque-desassossego-da-liberdade-ja.html https://branmorrighan.com/2015/06/destaque-desassossego-da-liberdade-ja.html#comments Thu, 18 Jun 2015 12:23:00 +0000

É com muita, muita alegria que vos comunico, já com uns dias de atraso, que esta colectânea tão especial já está à venda no site da Livros de Ontem: http://livrosdeontem.pt/produto/desassossego-da-liberdade-colectanea/

E é especial por imensas razões. Em primeiro lugar porque foi um desafio organizar uma obra literária. O que escolher, quem escolher? Pois bem, esoclhi o que realmente importa – sentir que de alguma maneira esta obra pode marcar pela diferença. Na altura falei com o Luís Miguel Rocha e ele deu-me o empurrão que eu precisava para avançar com a ideia. Contactei autores que me tinham marcado no último ano (afinal esta obra surge como comemoração do 6º aniversário do blogue) e que quis desafiar a saírem da sua zona de conforto e a pensarem sobre este tema.

Afinal o que é o Desassossego da Liberdade? “Ah e tal, faz-me lembrar Fernando Pessoa”, e faz lembrar muito bem. Mas o centro não é a heterogeneidade de Fernando Pessoa nem os seus desassossego, é antes sermos capazes de olhar para nós mesmos e para os que nos rodeiam e ponderar até que ponto somos livres e até que ponto é que sermos ou não nos desassossega (ou não desassossega de todo). 

Para além dos cinco autores que convidei – Carla M. Soares, Manuel Jorge Marmelo, Samuel Pimenta, Nuno Nepomuceno e Pedro Medina Ribeiro – também o Luís esteve para participar com um conto, mas devido a nos ter deixado cedo de mais, nunca chegou a terminá-lo. A sua presença, o seu espírito e todo o seu carácter maravilhoso e solidário marcaram o rumo desta colectânea. Foi com ele que discuti a ideia de doarmos os direitos de autor a uma associação sem fins lucrativos, neste caso a Burricadas – Abrigo do Jumento. Já antes uma banda portuguesa, os Nobody’s Bizness tinham feito um disco que revertia em parte para a Burricadas e eu decidi fazer o mesmo. Afinal os burros também são cultura portuguesa! 

Como no último ano o blogue também mergulhou com alguma profundidade no meio musical, tive a ideia de convidar pelo menos um músico para participar nesta colectânea e o Guillermo de Llera, com o seu espírito irreverente já conhecido nos Primitive Reason, foi uma escolha imediata. Mas eu tinha outro desejo meio secreto, por gostar tanto do seu trabalho e da forma como mostra ver o mundo – o Noiserv. Calhei de o entrevistar enquanto a colectânea era preparada e falei-lhe dela. Sabia que a sua agenda andava ao rubro e que por isso seria provável que ele não pudesse aceitar, mas para minha grande alegria aceitou e aceitou muito bem. Se do Guillermo já conhecia alguns escritos, do Noiserv foi uma estreia e uma estreia maravilhosa. Espero que o possam descobrir com o mesmo fascínio que eu o fiz, afinal é a sua estreia na literatura! 

A sua e não só, vem aí mais uma parte muito gratificante. Não fazia sentido organizar algo deste género se não fosse para dar oportunidade a novos autores, àqueles que provavelmente nunca teriam publicado, e decidi abrir um concurso. A escritora Tânia Ganho foi um anjo ao aceitar ser júri (infelizmente não pôde participar, tenho a certeza que seria esplêndida) e lá surgiram cinco vencedores. Ainda não conheço todos pessoalmente, mas os que tenho visto pelas redes sociais têm-me aquecido o coração com o seu empenho e com a sua felicidade.

A cereja no topo do bolo foi o João Pedro Fonseca, um dos artistas mais maravilhosos que conheço, ter aceite fazer parte deste projecto. A capa está perfeita. Os astros foram bondosos comigo ao permitirem-me conhecer alguém com tanto talento e tão disposto a fazer coisas diferentes, a romper conceitos e a ir mais além. Não podia ter pedido nada nem ninguém melhor, nem mais adequado. 

O livro venceu a batalha do crowdfunding por uma margem jeitosa e dia 4 de Julho teremos lançamento. Falta a certar a hora, mas podem já ficar a saber que será no bar O Bom, o Mau e o Vilão e que terá algumas surpresas. Não sei se é só de mim, mas estou cansada do estilo apresentação formal. E quem me conhece sabe que gosto de “agitar” um bocado as coisas. Curiosos? Pois bem, também eu! Ansiosa de poder confirmar tudo, mas vamos ter de esperar mais uns dias. Talvez Segunda a informação completa e oficial possa ser disponibilizada. 

Obrigada a todos os que fizeram parte deste processo que, para mim, já começou há cerca de um ano. Ter o objecto físico agora na mão significa tanto! Mas também me relembra uma ausência que ainda pesa, que vai sempre pesar. Ainda assim quero virar isto como uma espécie de comemoração, como algo de bom que surgiu através de ideias e incentivos de pessoas maravilhosas, como todas até agora têm sido, mesmo com dificuldades e imprevistos pelo meio. Sou uma pessoa muito grata e uma pessoa melhor, mais atenta e mais forte depois deste último ano. 

Vemo-nos em breve, sim? E obrigada, mais uma vez, por estarem desse lado de forma tão carinhosa! 

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E agora, o que se segue? [Diário de Bordo XLV] O Desassossego da Liberdade está quase aí, entre outras coisas https://branmorrighan.com/2015/03/e-agora-o-que-se-segue-diario-de-bordo-5.html https://branmorrighan.com/2015/03/e-agora-o-que-se-segue-diario-de-bordo-5.html#comments Fri, 06 Mar 2015 19:09:00 +0000

Tem sido uma longa espera, mas no fim vai valer a pena. Digo eu, que sou suspeita. Os últimos meses não têm sido fáceis, um autêntico desassossego por assim dizer, mas aos pouco os astros vão-se alinhando e as coisas boas vão aparecendo. A próxima coisa boa, que tenho toda a esperança que seja uma iniciativa bem conseguida, será a Colectânea Desassossego da Liberdade organizada por mim, com todo o trabalho editorial feito pela editora Livros de Ontem.

Desde que me desafiaram a amadrinhar uma obra e desde que, posteriormente, decidi que queria que fosse uma colectânea com vários autores, que tenho andado com este bichinho dentro de mim. Os autores convidados aceitaram, o concurso de contos para novos autores foi um sucesso e eis que temos então 5 Autores + 2 Convidados Especiais + 5 Novos Autores. Para além de que o lucro da publicação irá reverter a favor da associação sem fins lucrativos Burricadas! 

A colectânea terá um texto meu em que poderão perceber melhor o porquê das minhas escolhas o significado desta colectânea, mas antes de mais quero deixar registado o meu agradecimento à Livros de Ontem pelo excelente trabalho que tem feito com os autores e, agora, com o Booktrailer. A capa é do nosso fantástico artista João Pedro Fonseca e se quiserem relembrar os autores participantes vejam o vídeo, vale pena. Também é grande motivo de orgulho para mim o facto de a estreia literária do nosso grande músico Noiserv ser através de uma iniciativa do BranMorrighan. Seis anos que vêem as suas comemorações a serem fechadas com o culminar de muito trabalho e muita gratidão por aqueles que acreditam em mim.

Link para Apoiar Aqui: http://ppl.com.pt/pt/livros-de-ontem/desassossego-da-liberdade

(Continua depois do vídeo)

Ah! Vamos lá esclarecer aqui uma coisa, pode ser que com o tempo eu consiga! O BranMorrighan é apenas uma pessoa – eu mesma, Sofia Teixeira – e está declarado como um blogue pessoal. Não é uma zine, não é um site de música ou de literatura, não é uma plataforma comercial ou sequer com algum tipo de fim lucrativo. O BranMorrighan é o resultado do meu esforço em dar voz àquilo e àqueles que acredito terem qualidade e será sempre desenvolvido num contexto bastante pessoal. Não sou escritora, não tenho formação musical, percebo muito pouco das técnicas de um e de outro, mas sou alguém que já não consegue viver sem Literatura ou Música e daí as opiniões, daí a expressão do que sinto quando leio ou ouço. Fico muito lisonjeada quando me tratam por “vocês”, mas fico muito pouco agradada quando vejo que o contacto é egoísta. Felizmente tenho conhecido pessoas fantásticas em ambos os meios e vai ser sempre por elas, sejam escritores, músicos e até promotoras e editoras, que lutarei por um trabalho melhor, mas sempre, e principalmente, por mim mesma. Porque só faz sentido o BranMorrighan continuar a existir se eu tiver gosto naquilo que faço e paixão nas minhas iniciativas. Por isso desenganem-se, não estou aqui para me tentar fazer passar por qualquer uma das grandes publicações que tanto sigo e admiro (com estrutura e equipas e quase todas renumeradas), mas agradeço o respeito pelo meu esforço. Ser aluna de doutoramento, professora na faculdade, jogadora de basquet e ainda ter um blogue com o ritmo de publicações que o BranMorrighan tem não é fácil. 

Ainda assim, não estou aqui para me queixar, mas antes para dizer que as entrevistas hão-de voltar, apesar dos meses e meses de atrasos, e que assim que consiga estabilizar a minha vida profissional muitas novidades irão estoirar por aí! Grande beijo e abraço a todos, obrigada por estarem desse lado! 

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[6 Anos Blogue Morrighan] VENCEDORES do Concurso de Contos – Desassossego da Liberdade https://branmorrighan.com/2014/12/6-anos-blogue-morrighan-vencedores-do-3.html https://branmorrighan.com/2014/12/6-anos-blogue-morrighan-vencedores-do-3.html#respond Mon, 15 Dec 2014 20:17:00 +0000 Ilustração João Pedro Fonseca

É com grande prazer que vos anuncio os vencedores do Concurso de Contos – O Desassossego da Liberdade. Sei que a espera foi muita, mas houve alguns contratempos impossíveis de controlar que, infelizmente, atrasaram alguns processos relacionados com a colectânea. Ainda assim, finalmente podemos anunciar os vencedores e os respectivos contos seguirão então para revisão e posterior publicação, juntamente com os dos nossos convidados.

Como dizia no regulamento, o júri foi composto por mim, pelo editor João Batista (Livros de Ontem) e por um elemento externo, a escritora Tânia Ganho.

Deixemo-nos de torturas e aqui estão os títulos e respectivos autores:

Acromegalia – Eduardo Duarte

Dilia – Márcia Costa

Matryoshka – Cláudia Ferreira

Reunião de Família – André Mateus

Tempo Vazio – Márcia Balsas

A ilustração e capa do livro ficou a cargo do artista João Pedro Fonseca e é a que podem ver na imagem do post, que tem simbolizado o aniversário desde o dia 13 de Dezembro. 

Em meu nome e em nome da editora Livros de Ontem, quero agradecer a todos os participantes pelo seu esforço e pelo seu contributo. Muitos parabéns aos vencedores do concurso que, com o seu cunho pessoal e de forma tão diferente uns dos outros, conseguiram destacar-se dos demais. Estes cinco novos autores juntam-se assim a Luís Miguel Rocha, Manuel Jorge Marmelo, Carla M. Soares, Nuno Nepomuceno, Samuel Pimenta, Pedro Medina Ribeiro e aos convidados especiais Guillermo de Llera (Primitive Reason) e David “Noiserv” Santos, cuja estreia na literatura se dará nesta colectânea. 

É com um gosto e prazer enormes que vejo mais uma iniciativa do blogue a tomar forma física e mal posso esperar por ter um destes livrinhos na mão – vamos preparar um evento bonito para a sua apresentação. Como foi dito no post original, AQUI, o livro ainda vai passar pelo processo de edição normal e posteriormente pelo processo de crowdfunding. Mal tenha novidades, informar-vos-ei sobre tudo. Não esquecer que os direitos de autor, cerca de 30%, serão para uma instituição sem fins lucrativos, a Burricadas, ler AQUI.

Até breve! 

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[6 Anos Blogue Morrighan] Colectânea O Desassossego da Liberdade – Guillermo de Llera é Convidado Surpresa! https://branmorrighan.com/2014/11/6-anos-blogue-morrighan-colectanea-o_20.html https://branmorrighan.com/2014/11/6-anos-blogue-morrighan-colectanea-o_20.html#respond Thu, 20 Nov 2014 12:33:00 +0000 Fotografia por Sofia Teixeira

Contexto Concurso de Contos – O Desassossego da Liberdade

À semelhança do convidado anterior, o David Santos aka Noiserv, conheci o Guillermo de Llera, pessoalmente, por causa do blogue. Foi em entrevista ao Primitive Reason que fiquei fascinada como o carácter de Guillermo e Abel e foi uma agradável surpresa quando descobri que este primeiro também escrevia. Já entrevistado aqui no Morrighan, poderão constatar que Guillermo é um artista no verdadeiro sentido da palavra e também na ilustração dá cartas, fora todo o contexto musical em banda e a solo. 

Dada a mística dos próprios Primitive Reason e ainda da empatia que senti em relação ao mesmo, achei que ter o Guillermo de Llera na colectânea O Desassossego da Liberdade acabaria também por simbolizar este meu respeito pelo seu trabalho e por me terem marcado de forma tão positiva neste último. Vai ser mesmo especial! Obrigada, Guillermo! 

Sobre o Guillermo no Morrighan: 

http://www.branmorrighan.com/search/label/Guillermo%20de%20Llera

Sobre os Primitive Reason no Morrighan: 

http://www.branmorrighan.com/search/label/Primitive%20Reason

Facebook

https://www.facebook.com/de.Llera.Art.and.Music

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[6 Anos Blogue Morrighan] Colectânea O Desassossego da Liberdade – Noiserv é Convidado Surpresa! https://branmorrighan.com/2014/11/6-anos-blogue-morrighan-colectanea-o_17.html https://branmorrighan.com/2014/11/6-anos-blogue-morrighan-colectanea-o_17.html#respond Mon, 17 Nov 2014 13:58:00 +0000 Fotografia por Sofia Teixeira

Contexto – Concurso de Contos – O Desassossego da Liberdade

Anunciei ontem, no fim da entrevista ao Noiserv – em que falámos da sua carreira com quase uma década – que este iria fazer parte da lista de convidados da colectânea O Desassossego da Liberdade que irá simbolizar o sexto aniversário do blogue Morrighan, editada pela Livros de Ontem.

Acompanho o trabalho musical do David há muitos anos. É impossível não admirar a sua postura enquanto músico e todo o universo que cria à sua volta. Cada concerto é único, a multiplicidade de instrumentos torna a experiência completamente diferente dos demais, e toda a sua percepção em termos de concepção de cada disco humaniza-o perante o espectador. Depois das experiências pelo teatro e cinema, eis que teremos um Noiserv escritor, porque dizer David ou Noiserv é a mesma coisa, um está intrinsecamente ligado ao outro, e não podia estar mais orgulhosa desta participação. Uma estreia na literatura que, quem sabe, poderá vir a ser apenas o primeiro capítulo de outro caminho a percorrer. 

Sobre o David no Morrighan: 

http://www.branmorrighan.com/search/label/noiserv

Facebook

https://www.facebook.com/noiserv

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Entrevista ao Noiserv, Músico Português – 10 Anos Depois, o DVD, as Lembranças e as Diversas Experiências https://branmorrighan.com/2014/11/entrevista-noiserv-musico-portugues-10.html https://branmorrighan.com/2014/11/entrevista-noiserv-musico-portugues-10.html#respond Sun, 16 Nov 2014 17:46:00 +0000 David Santos é o nome do homem por trás de Noiserv que está prestes a comemorar a primeira década de actuações ao vivo. Em tom de coincidência, decidiu lançar o DVD intitulado “Everything should be perfect even if no one’s there” que tem nove canções, 24 instrumentos e um só músico, ele mesmo, em palco. Com este DVD, Noiserv deixa a questão no ar: O que será que nos move e faz procurar a perfeição? Como extra, o DVD tem ainda o filme “53 minutes and a few seconds”, que regista o processo de montagem de um concerto de noiserv. Foi sobre este trabalho que estive sentada com o David, no antigo e mítico Bar da Bola no Instituto Superior Técnico, faculdade onde o músico tirou o seu curso de engenharia e onde eu própria estou a tirar agora o meu doutoramento.

Fotografia por Vera Marmelo

Sobre o regresso a casa, ao Técnico, e as possíveis saudades, entre risos, David conta-nos que não são assim tantas: «Eu estive realmente muitos anos aqui dentro. Estive no curso, depois no mestrado, ainda tive uma bolsa, foram mesmo muitos anos, mas como sempre morei aqui perto, nunca deu para ficar com muitas saudades, nunca estive muito afastado. (risos).» 

Foi em Março de 2005 que Noiserv deu o seu primeiro concerto ao vivo e uma das minhas curiosidades era sobre o que mais poderia ter mudado no David, enquanto músico, nestes quase dez anos: «Eu acho que em 2005, se calhar, ainda não era músico sequer. Acho que essa é a grande diferença. Há dez anos atrás supostamente ia ser engenheiro e apenas tinha gravado uma maquete de três músicas. Fui ao Festival Termómetro Unplugged tocá-la e esse foi o primeiro concerto. Neste momento consigo viver só da música e ter uma dinâmica completamente diferente sobre a minha vida. Pensando na parte musical, acho que mudou tudo, é uma diferença enorme.»

Em relação ao timing do DVD, este vem no contexto dos dez anos, mas também porque antes não fazia sentido: «Quando tinha só um disco, não fazia sentido porque o DVD ia, provavelmente, ser só das músicas daquele disco; quando foi o EP, no meio, já tinha na ideia na cabeça de fazer outro disco; é claramente com este disco, do ano passado, que a música começou a chegar a mais pessoas e que é mais unânime os concertos estarem todos quase sempre cheios, de preencherem salas de tamanho já considerável. É engraçado sair agora nesta altura dos dez anos, quase como se fosse um marco, mas inicialmente não foi com esse propósito.» A razão de lançar o DVD é também explicada: «Eu acho que enquanto músico, sempre fui uma pessoa que viveu muito de metas, de primeiro querer ter um disco nas lojas, depois um vídeo que as pessoas pudessem ver, ter um segundo disco, poder fazer uma banda sonora e ir tocar ao estrangeiro. Acho que o DVD acabou por ser mais uma dessas metas.»  

Cada uma destas metas já foi atingida pelo David «sim sim! (risos)», mas antes de passar a cada uma delas, optei por explorar um pouco mais o concerto escolhido para constar no DVD. Porquê o Teatro Diogo Bernardes? «Tenho-me apercebido que em Portugal há muitos teatros, quer novos quer antigos, mas mais os antigos porque gosto de coisas antigas, com cerca de 100 a 150 anos, mas muito arranjadinhos, em que a música soa melhor aí do que noutros sítios. Portanto, quando pensei em fazer um DVD ao vivo pensei “Tem que ser num desses teatros.”, tem de ser numa das salas em que quando estou a tocar sou quase tão espectador como as pessoas, mas sou espectador da sala, que é uma coisa bonita de se ver mesmo para quem está a tocar. Ponderando as várias hipóteses achei que este seria o mais fixe e acabou por ser aí.»

Talvez quem o veja ao vivo não tenha noção, mas em estúdio Noiserv utiliza dezenas de instrumentos que em concerto se reflectem em apenas cerca de treze. Tive de lhe perguntar como é que ele consegue fazer essa passagem sem que essa diferença considerável se note: «Eu costumo pensar que fazer as músicas ao vivo é quase como fazer um novo disco, mas com a ideia de que há umas músicas base que devo seguir. Há um processo, mais ou menos longo, de eu ouvir as cinquenta pistas que cada música tem e perceber, assim à primeira audição, quais é que são aquelas que, mesmo que não saibas que estão lá cinquenta, consegues enumerar facilmente. Se eu claramente oiço algumas, então claramente tenho de tentar colocá-las na música. Depois, dentro da ideia de que estando a tocar sozinho a música tem de ter uma lógica de loops, tentar ali, quase que matematicamente, perceber com os instrumentos que tenho como é que a música pode ficar parecida com a do disco. Algumas ficam parecidas, outras a estrutura fica ligeiramente diferente, mas acho que tenho conseguido sempre ser mais ou menos fiel.»

Ao ouvir a parte do matematicamente, não pude deixar de partilhar uma gargalhada com o David e perguntar-lhe se era aí que a engenharia entrava na música: «Eu acho que é um bocadinho! (risos) Há aquela visão toda muito poética das músicas, que são só o som, mas eu vejo a música muito como algo, não de vectores, mas de tabelas. Ou seja, como se cada instrumento fosse uma das variáveis e todas ao mesmo tempo é que formam a música. E tu consegues fazer a música soar mais ou menos parecida com menos variáveis do que aquelas que ela tem na realidade.»

Fotografia por Vera Marmelo

Também neste lado de engenheiro, Noiserv já conta com a construção de uma caixinha de música, mas a nível de instrumentos apenas construiu um teclado que foi usado com os You Can’t Win, Charlie Brown num concerto tributo aos Velvet Underground, juntamente com um sintetizador construído por ele. Nesta coisa dos instrumentos, o nosso músico declara que gosta de ir às lojas e começar a experimentá-los até encontrar o som que quer: «Eu faço as coisas muito na base do experimentar. Eu tenho de ir a uma loja de instrumentos em segunda mão, ou através do ebay porque a imagem do instrumento é gira e eu já percebi mais ou menos o som que vai sair dele, e tenho de experimentar os instrumentos. Imagina que há quatro ou cinco teclados, experimento todos. Se há uma que acho que o som é fixe e que o vou usar no futuro, compro-o. E isto é tipo bola de neve, o que faz com que ao longo destes dez anos tenha acumulado… Sei lá, cento e tal! (risos)»

E esta parte académica não fica por aqui. Ora leiam como é que ele me explicou a forma como encara os erros de gravações de loops que por vezes acontecem nos concertos: «É quase como se houvesse uma tabela ou um gráfico ao nível do erro. Se o erro for muito mau, eu tenho de parar a música e recomeçar outra vez para não ficar muito esquisito, se não for assim tão mau eu posso conseguir, com os loops que vou colocar a seguir, se os puser mais altos em cima daquela falha, ao fim de dois ou três loops tapar aquela falha. É quase como uma lógica, enquanto estás a tocar, estás a pensar de que forma podes tapar, ou se não podes tapar, parar e recomeçar. É quase como que um jogo diferente dependendo do erro que aconteceu ou não.»

Independentemente do mundo de fórmulas e gráficos que habitam a cabeça de Noiserv enquanto actua, este tem sempre uma presença notável e simpática nos seus concertos. «Eu penso que sou assim mesmo! (risos) Acho que é difícil tocar num palco sozinho. É solitário e assustador estares à frente de quatrocentas pessoas sozinho. A forma que eu arranjo de conseguir fazer isso é sentir que não estou assim tão sozinho, e se estiver a falar com elas como estou a falar contigo num café, por exemplo, à partida já não estou tão sozinho como estaria. Até porque se calhar há coisas que eu vivi no dia que acho que é importante serem ditas. Se as pessoas estão a ouvir as minhas músicas, que acabam por ser as minhas emoções, se houver uma outra emoção que tenha sentido naquele dia, seja qual for a história, se calhar isso ainda é tão ou mais importante do que a música. Juntando isso ao facto de não gostar de me sentir sozinho, acabo por falar bastante, se calhar até demais! (risos)»

Este paralelismo entre a sua música e a sua vida, é algo já admitido pelo próprio David, em que cada um dos seus trabalhos acaba por reflectir alguma parte importante da sua vida. Dado esse peito aberto, questionei-o se alguma vez se sentiu, de alguma forma, demasiado exposto perante o seu público: «Eu acho que exposto estás sempre. A não ser que isto fosse uma personagem qualquer inventada e fosse essa personagem a ser exposta e não eu, o que não é o caso. Para mim, o Noiserv é como eu próprio, não faço essa distinção, por isso automaticamente estou sempre exposto. Tens é sempre a tua vida mais privada que eu acho que essa não deve ser exposta, mas tens tudo o resto que está relacionado com a tua maneira de ver o mundo e as sensações que vais tendo que no fundo são um complemento para a minha música. Acho que quem a ouve tem o direito de saber isso. Nesse sentido, não me assusta muito essa ideia de estar exposto.» 

Fotografia por Sofia Teixeira

O próprio disco, Almost Visible Orchestra, abreviado – A.V.O. – acaba por reflectir um pouco desse espelho entre si e os seus discos, sendo que este trabalho também funcionou como homenagem à sua avó que tinha falecido há pouco tempo. No sentido desta reconstrução pessoal, o David partilha connosco: «Eu acho que os próprios discos são momentos da vida que vais tendo. Mesmo em relação a este disco, todos temos avós. Eu fiz isto, em concreto, para a minha avó, mas no fundo para quem estiver a ouvir pode ser para a avó dessa pessoa. Tirando alguns casos em que se calhar isso não acontece, o elemento avó é algo transversal a todos. Todos tivemos uma altura em que a nossa avó foi quase mais mãe do que a nossa própria mãe. E em vez de ver isso como “estou a expor aquele momento”, estou é a usar aquele momento como inspiração para mim, para uma coisa que acho que é transversal a toda a gente. Depois também acho que só se vive uma vez e podes mudar amanhã. Porque é que hei-de estar preocupado com daqui a dez anos – “há dez anos atrás disse isto ou aquilo”? Não sei, tento não pensar muito nisso. No fundo, tudo o que eu mostro, partilha algo com a música, separando completamente isso da minha vida pessoal que não está relacionada com a música.»

Para quem leu a entrevista anterior e tem estado atento a esta, já reparou que para além do projecto Noiserv, David Santos faz também parte de uma banda – os You Can’t Win, Charlie Brown. Em tom de balanço, após um Verão de inúmeros concertos, muitos deles em festivais, perguntei-lhe como é que ele fazia a gestão dos dois projectos com dias em que tem de tocar pelos dois na mesma noite: «Tocar no mesmo dia é, naturalmente, mais complicado. Não é só o ser cansativo, é porque emocionalmente são duas coisas diferentes. Tocar sozinho é uma coisa, tocar com amigos é outra coisa. Parece que tenho de estar em dois sítios diferentes, na cabeça, para conseguir tocar pelos dois. (risos)» Em termos de público e de fãs, mesmo com Noiserv a ter um número mais expressivo de seguidores, na sua opinião ambos os projectos acabam por ganhar com esta sinergia pois «há fãs de Noiserv que vão ver You Can’t Win, Charlie Brown e ficam a gostar, mas também há aqueles que só depois de nos verem como banda é que descobrem que eu tenho o projecto a solo. É bom para os dois.»

Pegando um pouco nesta febre dos festivais de Verão e do número cada vez maior dos mesmos, quis saber a sua opinião sobre os mesmos e se haverá assim tanta oferta para tantos festivais: «Hoje em dia tens esta coisa pela Europa toda que é cada país ter três a quatro festivais de grande dimensão, o que não é novidade. O que se passa cá em Portugal é que começas a ter cada vez mais festivais dedicados à música portuguesa. Mas isso deve-se ao facto de haver cada vez mais bandas e de o público português estar mais interessado nas bandas portuguesas. Há dez anos atrás uma banda portuguesa era vista como “ah, isto não presta”. Hoje não é assim, quando sai um nome novo existe uma curiosidade imediata em ver o que é que este faz. Portanto, se o público está mais interessado, há mais público para os festivais e quem os organiza apercebe-se disso. Hoje em dia consegues ter um cartaz, facilmente, com quarenta bandas portuguesas.» Entre festivais ou concertos a solo, o resumo acaba por ser bastante simples: «É importante estar nesses festivais e que a música faça sentido neles, mas é a diferença entre veres um ou quatro filmes ao mesmo tempo. Eu acho que é sempre melhor, para quem está a ver e para quem está a tocar, estar só dedicado a esse momento. Mas os festivais também são importantes, em que o desafio é conquistares novos públicos.»

Um dos marcos que o David conquistou, foi tocar no estrangeiro. Inglaterra, Alemanha, Áustria e França foram alguns dos países sortudos com a sua presença e ele conta-nos um pouco dessas experiências: «Como já toco em Portugal há muito anos, cá há automaticamente muito mais público e muito mais adrenalina. Lá fora é como se fosse há dez anos atrás por cá. Como o princípio foi aqui. Mas o público em si, tem sido muito parecido com o de cá. Se calhar em Inglaterra não tanto, mas lá há tanta oferta que a diferença é quase como Lisboa e o norte, em que no norte as pessoas vão muito mais facilmente aos concertos. De resto, nos outros países, o público é assim quente como no nosso país.» Já um país que nunca foi, mas que gostava de ir: «A Islândia! Nunca fui tocar nem assistir. É o país da Björk e dos Sigur Rós, dessa malta toda, deve ser um país com uma energia diferente!» Qualquer dia recebes um convite para ir abrir Sigur Rós, disse-lhe eu: «(risos) Ah! Isso era bom, isso era bom!»

Fotografia por Vera Marmelo

Também o teatro já teve a colaboração deste nosso músico versátil, com a sua música a acompanhar as peças. «Qualquer coisa que me desafie, relacionada com a música, acho sempre interessante e gosto, eu mesmo, de me sentir na corda bomba e pensar como é que posso fazer isso. É um estado em que gosto de estar, e gosto de estar porque felizmente, no fim, tem corrido tudo bem. Se calhar há um dia que não corre e deixo de gostar. (risos) Ainda por cima eu tenho aquela coisa de estar fechado num estúdio a fazer as minhas músicas e de repente estou perante um elenco de quinze pessoas, em que a música é importante, mas não é o mais importante. É algo que te faz crescer enquanto músico e compositor.»

Nem a sétima arte escapou a Noiserv, sendo este o protagonista da banda sonora do filme «José e Pilar». Foi a primeira vez, e única até hoje, que compôs em português, com o tema Palco do Tempo, e também esse foi um ponto importante da sua vida. Ainda para mais sendo Saramago, e a própria Pilar, um ícon literário intemporal: «Para mim é mesmo um marco grande, principalmente por isso tudo que acabaste de dizer. Ao princípio o convite do Miguel era apenas usar algumas músicas minhas, do primeiro disco, num documentário do José Saramago. De repente, com o passar das coisas, acabei por fazer grande parte das músicas da banda sonora, onde fiz então essa música em português que se tornou na música de apresentação do filme; o filme ao longo dos anos tornou-se a homenagem ao Saramago e a última coisa dele em vida que existia. Uma música que ao princípio era só um tema de apresentação acabou por tornar-se uma homenagem à vida de José Saramago. E isto tudo numa altura em que nem sabia se ia ser músico, se era bom ou não enquanto tal, e o que saísse dali ia ficar para sempre como algo ligado ao Saramago. Acho que isso é uma coisa que nunca se esquece. E isto tanto como músico como enquanto pessoa. O que o Noiserv ganha enquanto músico, eu também ganho enquanto pessoa. É um orgulho o Saramago ter achado que a minha música merecia representar a sua vida. Para mim é mesmo um prazer muito grande, acima de tudo porque quando fazes os teus discos, fazes a banda sonora da tua vida, mas quando fazes a banda sonora de um filme, a música tem de ser boa o suficiente para a vida daquelas pessoas parecer bem aos olhos dos outros. Um filme que as pessoas gostaram muito, podiam não ter gostado tanto se não gostassem da música. Foi como ajudar a imortalizar o Saramago, uma grande responsabilidade, mas muito fixe.»

São várias as vezes que o confrontam com o cantar em português e em que ele mostra sempre vontade de o fazer. Com estes dez anos de estrada e uma única música em português, perguntei-lhe em que estado é que essa questão estava neste momento: «Se pensares bem eu fiz trinta músicas em inglês, uma música em português e a versão de outra música em português. Portanto, são trinta contra uma e meia, já que a meia não era uma música minha. Acho que, automaticamente, se pegar numa guitarra e fazer um “Lalala”, esse “Lalala” vai sair em inglês. Sempre (risos). Eu tenho de forçar o ser em português, mas também é giro. Tal como disse, quando falámos do teatro, se calhar o cantar em português é uma cena não tão segura o que torna giro fazê-lo. Mas neste momento, como a promoção deste disco, em termos de concertos, tem sido muito activa, não tive tempo para fazer novas músicas, nem em português nem em inglês. Quem sabe se o próximo não será em português? (risos)»

Como se todas estas experiências não bastassem, recentemente o CCB teve um “Quarto do Noiserv”! «Isso veio no contexto de um festival de música para crianças. Eles todos os anos têm este conceito do quarto dos músicos em que tens duas ou três salinhas, em género de reuniões, em que te dizem “tens esta salinha de reuniões, e tens quinze minutos para fazeres o que quiseres, em tom de perfomance, como se isto fosse o quarto do Noiserv”, e o público tem entre os três e os nove anos. Acabou por ser um concerto de quinze minutos, mas em que não houve paragens. Não é suposto serem três músicas, mas algo contínuo. Foi uma experiência muito gira.»

Em contraste com este registo alegre e juvenil, lê-se, pela imprensa, muitos registos de opinião em que a música de Noiserv é classificada como melancólica: «Pode ser melancólica, mas na parte feliz que a melancolia tem. Acho que a melancolia tem estas duas partes – a parte mais feliz e a parte mais triste. Quando é muito triste já nem é melancolia é tristeza profunda. A melancolia acho que é puxar a tristeza mais para parte de esperança e acho que os miúdos têm muito isso. É o público ideal para perceber que a minha música não é triste, mas é optimista. Eles não saem de lá a chorar, houve pequenitos que me disseram “foi muito bonito mesmo” com os olhos a brilhar e não de chorar de tristeza! (risos)» 

Para terminar, e em tom de resumo, tendo passado um pouco por cada marco que o David teve enquanto músico, perguntei-lhe o que é que ele achava que ainda lhe faltava “conquistar”, para além de abrir para Sigur Rós, claro (risos): «Acho que falta sempre tudo… Quer dizer, acho que acima de tudo há um objectivo transversal que é conseguires com que a tua música chegue ao maior número de pessoas possível, e as pessoas são quase infinitas, por isso é como se a tua tarefa nunca estivesse feita porque nunca chegaste a toda a gente. E não fazendo isso de forma obsessiva, na ideia de conquistar novas pessoas sem nunca desiludir quem conquistas antes, acho que é uma tarefa que nunca terá fim, a não ser que sinta que não tenho capacidade de fazer mais música. Por exemplo, o “falta-me tocar ali”, eu não tenho muito dessas coisas… Claro que gostava de tocar num Coliseu. Desde muito pequeno, desde os meus doze anos, que vou ao Coliseu de Lisboa e sempre me perguntei como seria tocar ali. Claro que seria um marco importante, mas o mais importante é como cheguei ali porque o concerto em si seria tão importante como outro em que tivesse tocado para apenas duas pessoas num sítio qualquer. As metas que traço estão mais relacionadas com o enquanto eu fizer música não desiludir as pessoas com ela. E espero que isso nunca mude.»

Por último, mas não menos importante, aproveito este momento para divulgar algo que me deixou super lisonjeada: o David aceitou fazer parte da colectânea que estou a organizarO Desassossego da Liberdade. Contribuirá com um conto e é, sem dúvida, um grande nome a juntar a outros da Literatura como Manuel Jorge Marmelo, Samuel Pimenta, Carla M. Soares, entre outros, e ainda outra surpresa de peso que será anunciada brevemente. Parece que o nosso Noiserv, para além do teatro e do cinema, se vai agora estrear na escrita! Fiquem atentos e obrigada pela vossa visita.

Apoiar o projecto aqui: http://ppl.com.pt/pt/livros-de-ontem/desassossego-da-liberdade

Site Oficial:

www.noiserv.net

Facebook:

www.facebook.com/noiserv

Bandcamp:

https://noiserv.bandcamp.com/

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[6 Anos Blogue Morrighan] Colectânea O Desassossego da Liberdade – Revelação do Sexto Convidado! https://branmorrighan.com/2014/11/6-anos-blogue-morrighan-colectanea-o_13.html https://branmorrighan.com/2014/11/6-anos-blogue-morrighan-colectanea-o_13.html#respond Thu, 13 Nov 2014 11:13:00 +0000

Contexto – Concurso de Contos – O Desassossego da Liberdade

Apostar em novos autores sempre foi um objectivo meu, pelo menos, quando merecido. Foi o caso do Nuno Nepomuceno, que com uma primeira obra e com uma humanidade e genuinidade ímpares conquistou não só o meu respeito como o meu carinho. Se por um lado eu já tinha autores de thrillers, policiais, romances e poesia, achei que faltava desafiar, para um mesmo tema, alguém ligado ao policial. Claro que não foi essa a razão principal, mas conjugou que nem uma luva! 

Fica então anunciado o nosso querido Nuno Nepomuceno como mais um autor presente na colectânea, mas preparem-se que ainda faltam mais surpresas. Aproveito para reforçar que o nosso escritor terá brevemente a reedição d’O Espião Português no mercado, tal como a publicação da sua continuação! Só boas notícias a rodearem este aniversário! 

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[6 Anos Blogue Morrighan] Colectânea O Desassossego da Liberdade – Revelação do Quinto Convidado! https://branmorrighan.com/2014/11/6-anos-blogue-morrighan-colectanea-o_9.html https://branmorrighan.com/2014/11/6-anos-blogue-morrighan-colectanea-o_9.html#respond Sun, 09 Nov 2014 11:23:00 +0000

Contexto – Concurso de Contos – O Desassossego da Liberdade

Estamos em contagem decrescente, a quatro dias, para o Concurso de Contos e Ilustração acabar e é com muita, muita alegria que partilho convosco este quinto convidado. O Pedro Medina Ribeiro foi um dos primeiros autores portugueses de quem li literatura fantástica. Na altura, o seu A Noite e o Sobressalto foi uma autêntica surpresa – sete contos num estilo sombrio, perspicaz e sublime, que me levou a recordar mundos como os de Poe e outros ainda mais misteriosos. 

O ano passado, lançou nova obra, esta em romance fantástico – O Diletante e a Quimera. 

Para além de um óptimo escritor, como pessoa é de uma simpatia e genuinidade tão fortes que ao pensar nesta colectânea, tentei imaginar como seria um conto escrito por alguém tão habituado a escrever sobre fantástico. Será que irá sair uma coisa Fantástica sobre o tema? Se repararem, os autores são todos de géneros diferentes e o próximo convidado, que será revelado amanhã, ainda é de outro género literário. 

Espero que estejam tão ansiosos como eu, que mal posso esperar por receber os contos desta gente toda e também os vossos! 

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