Crónica – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 05:58:44 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.1 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Crónica – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 [Crónica Joel Portugal] Quiro quê? – Uma crónica sobre Quiroprática https://branmorrighan.com/2018/05/cronica-joel-portugal-quiro-que-uma.html https://branmorrighan.com/2018/05/cronica-joel-portugal-quiro-que-uma.html#respond Sun, 27 May 2018 14:32:00 +0000

Recentemente em conversa com a Sofia, surgiu a oportunidade de colaborar numa crónica, abordando a Quiroprática e um pouco do meu dia a dia. Sucintamente, a Quiroprática é uma área da saúde de primeiro contacto, que avalia, diagnostica e trata patologias e/ou disfunções do foro neuro-músculo-esquelético (NME). Mais um palavrão médico? Eu ajudo… são todos os problemas de saúde que estão relacionados com nervos (incluindo espinal medula e meninges), músculos, tendões, ligamentos, ossos e cartilagens. 

A Quiroprática só trata isto?

Passo a explicar com detalhe a visão de Saúde que a Quiroprática preconiza.

O amplo modelo de cuidados de saúde Quiropráticos é de holismo (observar o paciente na sua globalidade). Neste modelo, a saúde é vista como um processo complexo no qual todas as partes e sistemas do corpo se esforçam para manter o equilíbrio homeostático contra um ambiente dinâmico de mudança interna e externa. O corpo humano é percebido como sendo imbuído com uma habilidade inata (inteligência inata), aquando do nascimento, para responder a mudanças no seu ambiente interno e externo. Os pioneiros de saúde viram isso como prova do poder de cura da natureza, vis medicatrix naturae. Este conceito enfatiza os poderes recuperativos inerentes do corpo, na restauração e manutenção da saúde e na importância da participação ativa do paciente no tratamento e prevenção de doenças. A presença de uma capacidade inerente dentro do organismo para influenciar a saúde e a doença tem sido descrita por muitas disciplinas de cuidados de saúde diferentes. “Algo” tem que dar vida a um organismo tão complexo. Esse “algo” está bastante documentado na literatura científica. A Medicina alopática ou convencional chama a isto de Vis medicatrix naturae, a cultura Hindu chama-a de Prana, a cultura Chinesa de Chi, a Japonesa de Xi, Freud de Libido, Reich de Orgone Energy, Bergson de Élan Vital, Pert de Molecules of Emotion e a Quiroprática chama de Inteligência Inata. Várias palavras para uma matéria só. 

O vasto leque de cuidados Quiropráticos providenciam cuidados de saúde holísticos e colaboram com o paciente para optimizar a sua saúde. 

Embora a principal contribuição da Quiroprática para a saúde geral, seja através da avaliação e do tratamento de distúrbios NME, é comum também aconselharem os pacientes sobre outras questões do estilo de vida, como dieta, nutrição, exercícios e controle do stress.

A prática contemporânea da Quiroprática, enfatiza a avaliação e tratamento conservador de distúrbios NME e na importante relação entre o funcionamento do sistema NME e o bem-estar geral e a saúde. A disfunção ou doença do sistema musculoesquelético, sob qualquer forma, é vista como tendo o potencial de criar disfunções do sistema locomotor que podem levar ao comprometimento do funcionamento do indivíduo. Este modelo é apoiado pelo princípio subjacente que enfatiza a importante inter-relação que existe entre estrutura e função do corpo humano.

Além de se especializar no tratamento com ajustes mecânicos (manipulativos) dos distúrbios das articulações da coluna e extremidades, é comum que os Quiropráticos incluam outros procedimentos de tratamento na orientação do paciente e na promoção da saúde em geral. Terapias comuns aplicadas incluem aconselhamento alimentar, suplementação nutricional, terapias manuais e exercícios.

Muitas vezes o sistema NME é de facto um componente do corpo clinicamente negligenciado, apesar de distúrbios relacionados com este sistema, serem comuns e representarem quantidades significativas de tempo perdido no trabalho e lazer. 

Por tudo isto eu acredito que merece plena consideração e avaliação sempre que os pacientes são atendidos, independentemente da queixa que os levou a procurar cuidados de saúde. 

O sistema NME deve ser visto como uma parte do corpo na sua globalidade e sujeito à mesma avaliação diagnóstica intensiva que qualquer outro sistema do corpo. Este sistema está envolvido em tantas alterações de função que exige tal atenção e não deve ser desconsiderado no diagnóstico, mesmo quando o problema inicial parece removido do sistema NME.

Além disso, o sistema NME humano é responsável por mais da metade da massa do corpo e é o seu maior consumidor de energia. As grandes quantidades de energia exigidas por ele, têm que ser fornecidas através dos outros sistemas do corpo. Se o sistema NME aumenta sua atividade, um aumento na exigência é colocado em todos os outros sistemas do corpo para atender às novas e maiores demandas de energia. A quiroprática observa que a presença de doença ou disfunção dentro deste sistema, pode interferir com a capacidade de agir eficientemente, o que, por sua vez, requer um maior trabalho dos outros sistemas dentro do corpo.

Porque o sistema nervoso é altamente desenvolvido no ser humano e influencia todos os outros sistemas do corpo, desempenha um papel significativo na saúde e na doença.

Um conceito básico contínuo da Quiroprática, é que as anomalias na estrutura ou função podem ter um efeito sobre a saúde e a sensação de bem-estar do corpo. Os efeitos do sistema nervoso na capacidade do corpo combater doenças através da resposta imunológica demonstram esse conceito. (1)

O sistema nervoso também se comunica com o sistema endócrino para manter um estado de homeostase, definido simplesmente como equilíbrio fisiológico. Esta tendência do corpo suster um estado estável ou buscar equilíbrio apesar das mudanças externas, referidas por ponos por Hipócrates, é o tema subjacente no conceito original de Inteligência Inata de D. D. Palmer (Pai e percursor da Quiroprática), que influencia a saúde.

Procedimentos manuais e, especificamente, os ajustes Quiropráticos são aplicados para abordar distúrbios locais do sistema NME e para melhorar a função do mesmo. Uma consequência da melhoria da função do sistema NME, pode ser a melhor capacidade do corpo de se auto-regular, permitindo assim que o corpo busque a homeostase e uma melhor saúde. Na descrição deste processo por Haldeman, a terapia manipulativa melhora a função do sistema músculoesquelético, causando uma mudança na contribuição do sistema nervoso, que por sua vez pode ter um efeito positivo noutros tecidos do SMN, disfunção de órgãos, condições patológicas de tecidos ou num conjunto de sintomas (2). O mecanismo reflexo que suporta essas ideias foi de facto documentado, embora os efeitos da manipulação nesses reflexos ainda não tenham sido adequadamente avaliados e demonstrados.(3)

Agora que entendemos mais claramente a importância do sistema nervoso e tendo em conta que o sistema nervoso central controla todo o corpo humano, (funcionamento de órgãos, respiração, batimento cardíaco, emoções, pensamentos, capacidade cognitiva, músculos, etc.) é crítico dar-lhe bastante atenção e cuidado. 

Posso até dizer que todos nós vivemos a nossa vida através do sistema nervoso central. 

Escrevo esta metáfora informática sobre o sistema nervoso para terminar: Eu vejo o sistema nervoso como drivers para os computadores. Sem ele, não seria capaz de escrever este texto. 

Se esta metáfora lhe conseguiu esboçar um sorriso, então parabéns… Tem um sistema nervoso saudável! 

Referências:

(1) Brooks WH, et al: Neuroimmunomodulation: neural anatomical basis for impairment and facilitation, Ann Neurol 12:56, 1982. 

(2) Haldeman S: The clinical basis for discussion of mechanisms of 

manipulative therapy. In Korr IM, editor: The neurobiologic mechanisms of manipulative therapy, New York, 1978, Plenum. 

(3) Sato A: Physiological studies of the somatoautonomic reflexes. In Haldeman S, editor: Modern developments in the principles and practice of chiropractic, East Norwalk, CT, 1980, Appleton Century-Crofts. 

Coote JH: Central organization of the somatosympathetic reflexes. In Haldeman S, editor: Modern developments in the principles and practice of chiropractic, East Norwalk, CT, 1980, Appleton- Century-Crofts. 

Beal MC: Viscerosomatic reflexes: a review, JAOA 85:786, 1985. 30. The central connection: Somatovisceral/viscerosomatic interaction, 1989. In Proceedings of International Symposium, Cincinnati, OH, 

1989.

Joel Portugal

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[CRÓNICA PAULO ANDRÉ CECÍLIO] Tudo é Melhor no Porto – Dick Dale https://branmorrighan.com/2017/10/cronica-paulo-andre-cecilio-tudo-e.html https://branmorrighan.com/2017/10/cronica-paulo-andre-cecilio-tudo-e.html#respond Tue, 03 Oct 2017 09:43:00 +0000

Tudo é melhor no Porto

Isto hoje até parece uma frase batida, mas continua tão verdadeira quanto o era desde que há uns curtos anos eu decidi dizê-la alto e bom som para quem a quisesse ouvir: Tudo é melhor no Porto. Sim, é certo que o facto de provir de boas famílias futebolísticas ajudou a cimentar o meu amor pela cidade. Mas a música, as saídas, as pessoas também contribuíram em larga escala para que, todos os dias, eu passasse a sonhar em mudar-me para a mais bela das cidades mundiais e quem sabe europeias (alguém me arranje um emprego, s.f.f.).

O Porto, cidade, esteve sempre presente; por ali se passava rumo a Ponte de Lima para as férias tradicionais de Páscoa, por ali se ficou durante outros tantos verões, ali se viu uns quantos jogos em família. Concertos, esses, só a partir de 2010 – altura em que começa a existir tempo e dinheiro e vontade de partir sozinho à descoberta. O local, a Casa da Música. O artista, era dois: o mago da guitarra surf, Dick Dale, e os punks originais, os The Sonics (e até houve tempo para, depois, apanhar os YACHT numa outra sala, sendo que já praticamente ninguém se lembra dos YACHT e isso não é necessariamente uma coisa má).

Não me recordo exactamente que meio de transporte apanhei para chegar até ao Porto, mas lembro-me de que fiquei bastantes horas depois dos concertos à espera de voltar para baixo. Tudo em nome, evidentemente, do rock n’ roll. Porque Dick Dale era – e é – o homem que pôs toda a gente a dançar depois de ter visto Pulp Fiction e porque os Sonics eram – e são – uma das melhores bandas dos anos 60 e autores, também, de um disco nada vergonhoso para a idade em pleno 2015: This Is The Sonics.

Do que me recordo é disto: dos Sonics a dar um bom concerto que só pecou por escasso. Dos YACHT a serem chatos. E de Dick Dale, do génio Dick Dale, que dá a dada altura uma das suas palhetas de guitarra a uma menina na fila da frente. Menina essa que estava em cadeira de rodas, mas que se divertia como se voasse sobre a audiência. Vi-a depois a sair e fiquei com esta frase para sempre, dita no sotaque mais bonito do país: ser manquinha até tem cousas boas… E não será preciso mais do que isto para explicar o rock n’ roll.

xxx

Paulo André Cecílio

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[Crónica Paulo André Cecílio] Tangerinas https://branmorrighan.com/2017/09/cronica-paulo-andre-cecilio-tangerinas.html https://branmorrighan.com/2017/09/cronica-paulo-andre-cecilio-tangerinas.html#respond Fri, 01 Sep 2017 14:26:00 +0000

Quando Edgar Froese morreu, em Janeiro de 2015, levou também consigo boa parte do espírito criativo dos Tangerine Dream, que fundou quase cinquenta anos antes na sua nativa Alemanha, à procura de uma música que não fosse similar aos ecos rock n’ roll que vinham dos Estados Unidos e que pudesse ser tão clássica quanto os grandes compositores da Europa.

Nascia então uma das bandas mais importantes da música electrónica do séc. XX, que influenciou tantos e tantos nomes que posteriormente influenciaram outros tantos nomes, que deu praticamente origem àquele género a que chamamos trance (basta ouvir Phaedra, editado em 1974, caso não acreditem).

Dois anos e meio após a morte de Froese, os Tangerine Dream continuam activos. E dois anos e meio parece ser uma distância temporal suficiente para poder afirmar, sem medo de ofender ou sem que alguém me acuse de sem um abutre, que os Tangerine Dream deram, sem exageros, um dos piores cinco concertos que já vi em toda a minha vida.

A banda, cuja música continuo a adorar, veio até Lisboa no ido ano de 2010, para apresentar sabe quem o quê, traduzindo esse quê em três longas horas de rock progressivo azeiteiro (nem sequer era rock progressivo, o bom!) e deixando a electrónica para outros campos mais perdidos no tempo. Se bem me lembro até trouxeram uma vocalista. Uma vocalista, valha-me a santa.

Os Tangerine Dream, portanto, passaram a figurar numa lista que também inclui: os Biffy Clyro, em Paredes de Coura 2008; os Klaxons, no Super Bock Super Rock 2007; os Tara Perdida, no “mítico” Rock One em Portimão, em 2009; e uma banda absurda cujo nome felizmente esqueci mas que fez a primeira parte da Zola Jesus no Musicbox há uns tempos. Não devia ser orgulho para uma banda que emitiu clássicos como Atem. Mas aconteceu.

Paulo André Cecílio

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[TEXTO ANA CLÁUDIA SILVA] a ilha bela https://branmorrighan.com/2017/04/texto-ana-claudia-silva-ilha-bela.html https://branmorrighan.com/2017/04/texto-ana-claudia-silva-ilha-bela.html#respond Tue, 11 Apr 2017 10:00:00 +0000

a ilha bela

lembro-me, exactamente, que foi no mês de abril que recebi a tua última carta.

escreveste-me daquela fantástica ilha.

com vista para a plantação de chá.

meses mais tarde, visitei-a.

lembrei-me de cada palavra tua.

entre uma fatia de bolo de ananás e uma chávena com chá verde,

entre o desfolhar de uma revista,

entre ouvir falar francês, inglês, espanhol e português.

de tantas memórias,

de tantas recordações,

eis que até nos meus sonhos aparece essa ilha.

surge em forma de neblina, ou em forma de um barco perdido no oceano

ou em forma de canção

ilha, bela,

flor da minha esperança,

devolve-me as letras líricas de outras cartas

enquanto te confesso que o amor

esteja ele onde estiver

fará sempre parte deste momento

e das saudades que tenho de lhe escrever.

Ana Cláudia Silva

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[Texto Ana Cláudia Silva] a areia que não se move https://branmorrighan.com/2016/11/texto-ana-claudia-silva-areia-que-nao.html https://branmorrighan.com/2016/11/texto-ana-claudia-silva-areia-que-nao.html#respond Fri, 11 Nov 2016 09:48:00 +0000

não há areia que se mova por ti.

não há onda que rebente sem olhar atrás

sem adivinhar o que viveu.

há o balanço

interior e emocional

dos que partiram sem deixar rasto

e aquele que (não) ficou;

há a tua nova presença

da beleza que tem guiado os meus dias.

com toda a mudança,

tive tempo para me encontrar,

para sofrer e libertar,

para apaixonar e namorar

e desamigar.

de apenas desejar o amor e não a tristeza.

devia ter feito uma lista de resoluções de ano novo

só para riscar o que já concretizei.

gostava de, um dia, poder escrever uma música para ti.

ou que musicasses algum dos meus textos.

gostava que o teu abraço não fosse uma despedida

como se estivéssemos num aeroporto.

do inesperado.

para ti.

A fotografia foi tirada na Praia de Populo, São Miguel, Açores.

Ana Cláudia Silva

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[Diário de Bordo, Samuel Pimenta] A janela https://branmorrighan.com/2016/01/diario-de-bordo-samuel-pimenta-janela.html https://branmorrighan.com/2016/01/diario-de-bordo-samuel-pimenta-janela.html#respond Sun, 24 Jan 2016 11:28:00 +0000

A janela

Tenho saído muito pouco de casa. Depois de explorar bastante a aldeia e a região, comecei, finalmente, a trabalhar no livro que me trouxe até aqui. Melhor dizendo, comecei a escrever, que já venho a trabalhar neste projecto desde 2015. Por estar tão focado e tão imerso na escrita, posso não sair tanto de casa, mas a presença do cenário que me tem envolvido nos últimos dias é constante, escrevo virado para uma janela que tem vista sobre a aldeia.

Mesmo passando os dias em frente ao ecrã do computador, é impossível dissociar-me de Pinheiro. Não só por ser o lugar onde estou, mas porque Pinheiro é o cenário da história do meu livro. Ficcionar sobre uma aldeia com a qual tenho uma ligação emocional tão forte não tem sido fácil, é necessário tomar muitas decisões, a maior parte delas difíceis. Quando olho pela janela, procuro ver a aldeia com um certo distanciamento, para poder tomar as decisões mais acertadas relativamente ao livro que estou a escrever.

É curioso que vim para Pinheiro para me aproximar mais do lugar sobre o qual quero escrever, mas, em nome de uma maior clareza mental, confronto-me com a urgência de me distanciar dele, mesmo ainda estando aqui. A janela para onde estou virado é ideal para isso: estabelece a fronteira entre mim e a aldeia e coloca-me na posição de espectador. Distancio-me para que me possa aproximar. Contradição ou não, é este o caminho. 

Pinheiro (Carregal do Sal), 23 de Janeiro de 2016 – 16h21m

Samuel Pimenta

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[Crónica João Pedrosa] Frequência Cardíaca https://branmorrighan.com/2016/01/cronica-joao-pedrosa-frequencia-cardiaca.html https://branmorrighan.com/2016/01/cronica-joao-pedrosa-frequencia-cardiaca.html#respond Mon, 18 Jan 2016 20:32:00 +0000 https://www.facebook.com/Frequência-Cardíaca-1109585775720375/

Olá, cá estou eu novamente para dar um pouco mais de brilho a este blog! 

Há quem pense que só há troca de favores na administração pública, mas também o há no mundo dos blogs, prova disso é que a Sofia só me deixou escrever sobre o meu programa:  Frequência Cardíaca na condição de poder participar nele como entrevistada. Como acho que o programa não vai passar do segundo episódio acabei por ceder. 

Bom, a paixão pela rádio deve ter começado praticamente ao mesmo tempo que a paixão pela música. Foi na rádio que adquiri muita da minha cultura musical, nomeadamente em programas de autor como o MQ3 de Miguel Quintão; Indigente de Nuno Calado; Portugália de Henrique Amaro ou E o Resto é Ruido de Luís Oliveira. Alguns dos meus heróis também são da rádio,  como é o caso do Rui Estevão (gosto do seu lado irreverente e provocador). A rádio, mesmo à noite em casa, sempre foi uma alternativa à televisão. A radio faz nos imaginar! 

Quando no final do ano passado o meu amigo Leonel Mendrix me convidou para integrar a Walkmanradio porque – e segundo ele – havia espaço para mim e para a música que escutava, fiquei radiante! Meti logo mãos à obra e subornei a minha prima Elsa Poderosa para me tratar da ilustração do programa (saber segredos de família é tramado). A Débora Umbelino aka Surma já foi mais complicado, tive que lhe prometer que escreveria sempre bem sobre as suas coisas e que a convidava para o programa, e foi assim que consegui que me fizesse os jingles! 

O Frequência Cardíaca tem como objectivo divulgar a música alternativa mais palpitante do momento e promover pessoas talentosas,  até porque o seu anfitrião não tem nada de que se possa promover. Podem ainda escutar nesta Frequência uma rubrica chamada Conversa De Café ou rubrica mais deprimente de sempre, onde recebo convidados para conversar num ambiente informal e com linguagem coloquial, entenda-se: completamente corriqueira e javarda, sobre vários assuntos. Quando não me apetecer fazer nenhum vou subornar amigos de bom gosto (e de quem também sei segredos) para serem eles a elaborar a playlist, sempre com o intuito de que não falhe nenhum batimento aos nossos ouvintes.

Apesar de não ter nenhuma experiência neste meio, nem conhecimentos técnicos, e de por isso o programa ser bastante caseiro, tem sido bastante divertido fazê-lo.

Reconheço que há muito caminho a percorrer e muito a melhorar, mas gostava muito que um dia me dissessem: “não tens jeitinho nenhum para aquilo mas foi lá que conheci…” a Surma; a Elsa Poderosa; a Adriana Jaulino ou a banda x, y ou a. E assim o meu objectivo estava alcançado!

João Pedrosa

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[Diário de Bordo, Samuel Pimenta] A aldeia https://branmorrighan.com/2016/01/diario-de-bordo-samuel-pimenta-aldeia.html https://branmorrighan.com/2016/01/diario-de-bordo-samuel-pimenta-aldeia.html#respond Sun, 17 Jan 2016 12:17:00 +0000

A aldeia

Lá fora, fumegam as chaminés. O ar está tão frio que o fumo parece uma massa espessa que se dobra e redobra, elevando-se vagarosamente, não indo muito além das copas das árvores. Repousa sobre os campos da aldeia, formando uma camada densa como o nevoeiro. A chuva foi embora. Depois de uma semana a chover ininterruptamente, pude ir além dos limites da casa onde estou. O frio não me intimida e aproveitei para explorar mais a aldeia de Pinheiro e as povoações vizinhas. Acordo cedo, durmo em média seis horas por dia, pego na bicicleta e sigo caminho.

Se nos primeiros dias as pessoas estranhavam a minha presença, não é habitual verem estranhos nas ruas, agora já se familiarizaram comigo, sabem quem sou e o que faço aqui. Algumas abordam-me, evocam pessoas da minha família, fazem perguntas. Quando vou ao café, fico muito atento, a ouvir as conversas. São essas conversas que me dão a conhecer mais da aldeia onde nasceram os meus ancestrais.

Pinheiro é uma aldeia típica do Planalto Beirão. Fica entre duas serras, a da Estrela e a do Caramulo, as casas são feitas de pedra, está rodeada por florestas de pinheiros, carvalhos e eucaliptos, é abundante em água, que corre em ribeiras, regatos, rios e enche as minas e os poços, e alimenta-se daquilo que a terra e o gado oferecem. Por estarem tão dependentes dos recursos da natureza, os habitantes de Pinheiro são muito sensíveis ao impacto da poluição sobre as águas ou dos fogos sobre as florestas. Não existem serviços e a distância das grandes cidades, onde os serviços abundam, é uma limitação. A oferta de emprego é muito reduzida na região e as elites esforçam-se por acentuar ainda mais o fosso que as separa do resto da população. É por isso que as gentes daqui estão familiarizadas com a necessidade de partir em busca de uma vida melhor. Há filhos da terra no Brasil, na Suíça, em França e até nos Estados Unidos da América, o que justifica o abandono e a ruína de muitas casas da aldeia. Ainda assim, a aldeia tem vida, tem gente.

Olho para os habitantes de Pinheiro como se estivessem muito próximos da condição dos elementos da natureza, como se vivessem segundo as leis de uma outra linha do tempo, mais lenta, mais rigorosa, mas também mais apaziguadora, desprovida do que é supérfluo. Diria que vivem ao ritmo do crescimento das árvores e das pedras, pois conhecem o valor da espera, necessária para que cresça o fruto na planta ou o cristal na rocha. Conhecem os ciclos da Terra. E esse conhecimento não é recente, é um pacto selado nos primórdios da ocupação deste território, remonta aos cultos pagãos. Isso explica os mitos que tenho vindo a ouvir desde que aqui estou, e outros que me foram passados pelo meu tio António, que contava histórias como ninguém, onde se fala de moiras encantadas a viver dentro das rochas, de aparições e penedos sagrados, de espíritos, demónios, bruxas e lobisomens a vaguear pelas sombras das casas e das árvores.

Aldeias como esta são portais raros para uma das dimensões que mais me fascina, a imaginação. Estar aqui é como pisar um território fronteiriço entre o mundo físico e o limiar do mundo mitológico e da fantasia, onde os humanos, procurando uma fuga para o peso da sua vida terrena e dual, convivem de perto com criaturas fantásticas que dão sinal do caminho do meio, da terceira escolha entre o bem e o mal, o caminho da virtude que a natureza, por ser neutra, tão bem conhece.

Pinheiro (Carregal do Sal), 16 de Janeiro de 2016 – 18h06m

Samuel Pimenta

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[Diário de Bordo, Samuel Pimenta] A nova casa https://branmorrighan.com/2016/01/diario-de-bordo-samuel-pimenta-nova-casa.html https://branmorrighan.com/2016/01/diario-de-bordo-samuel-pimenta-nova-casa.html#comments Sun, 10 Jan 2016 18:02:00 +0000

A nova casa

Uma residência literária é o acto de ir viver para um local durante um determinado espaço de tempo, com a finalidade de escrever, de criar. No meu caso, vim para a aldeia de Pinheiro, no concelho de Carregal do Sal, a terra de onde é originária parte da minha família. Embora conheça a aldeia desde a minha infância, passar pela experiência de viver aqui é fundamental para a escrita do meu novo livro. Conhecer os lugares durante um fim-de-semana é diferente de conhecer os lugares por lá ter vivido durante algum tempo. Era imperioso estar aqui. Cheguei no dia 3 de Janeiro e fico até ao fim do mês. E desde que cheguei, tenho-me deparado com aquele que é o primeiro desafio para quem escreve: o lugar onde se escreve, a casa.

A primeira semana tem sido, literalmente, de adaptação à nova casa onde estou a viver, aqui na aldeia. Em Alcanhões, vila do concelho de Santarém, onde vivo, estou habituado a escrever na minha casa, com a qual estou mais que familiarizado, mas desde que cheguei a Pinheiro tenho-me vindo a adaptar a um novo espaço, procurando ambientar-me às divisões que podem potenciar o acto criativo. Acabei por escolher o ponto mais alto da casa, onde há uma secretária com uma janela virada para a Serra do Caramulo, de onde vejo as casas da aldeia, um souto e o pinhal ao longe. É o cenário ideal para o exercício da escrita, inspirador e apaziguador, mas as casas têm outros desafios. Estou habituado a interromper abruptamente a escrita, levantar-me da secretária e andar pelas divisões da casa, ponderando ideias em voz alta, incorporando personagens e olhando para a janela que tiver mais próxima de mim, preciso de horizonte. Mas também danço. Sim, interrompo regularmente a escrita para dançar, para que as palavras bloqueadas se libertem dos meus músculos, do meu corpo. É que a escrita, antes de ser uma arte do intelecto, é uma arte corporal, vem do corpo, passa por ele. Em última análise, porque passa pelas mãos. No meu caso em particular, preciso de muito mais do que as mãos para escrever, preciso do meu corpo completo, e por isso dançar ajuda-me a escrever melhor, a trazer a palavra à superfície. Acaba por ser uma forma de meditação, também. Ora, para poder fazer tudo isto na nova casa, tenho de me adaptar aos espaços, conhecer quais os seus limites e que cantos me são mais confortáveis. Na minha casa de origem, por exemplo, chego a descer e a subir as escadas à noite sem a luz ligada, posso fazê-lo porque conheço a casa e a casa conhece-me, temos um pacto. Ou então posso dançar de olhos fechados, porque sei onde termina o chão e começa a estante. Aqui, ainda estou em processo de conhecer a casa, de selar um acordo com ela. Já tentei descer as escadas sem a luz ligada, num daqueles momentos em que interrompo a escrita abruptamente para ir à cozinha e voltar a subir outra vez sem ter feito especificamente nada, para além de subir e descer escadas; é que por vezes tenho de largar tudo o que estou a fazer e sair, inclusive, do espaço em que estou a criar, nem que seja por um minuto, para voltar outra vez e pegar no texto de forma diferente. Claro que não consegui descer as escadas sem luz, tive de a ligar, ou corria o risco de cair. Mas estou a adaptar-me à nova casa. O facto de ser da família ajuda.

É curioso que, mais do que o espaço físico, tem sido o espaço sonoro que me traz mais desafios. Cada casa tem uma respiração distinta, um som, assim como um cheiro. Aqui a casa cheira a Outono, um misto de terra com feno molhado. Os sons que vêm do exterior não os ouço, além da chuva e do vento. E ainda bem, já que sou hipersensível ao som, preciso ou de silêncio ou da música apropriada. Mas os ruídos da casa têm-se manifestado. A madeira a estalar, o frigorífico, o relógio. No início, por eu não estar familiarizado com eles, entrava de imediato em estado de alerta, tentando entender qual a sua origem. Mas agora quase nem dou conta, posso dizer que a nova casa já me acolheu. Julgo que já me observa, curiosa, perguntando-se quem é e o que faz esta figura bizarra que lhe entrou portas adentro.

Pinheiro (Carregal do Sal), 10 de Janeiro de 2016 – 00h12m

Samuel Pimenta

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