Delphine de Vigan – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 05:59:39 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.2 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Delphine de Vigan – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 Roman Polanski adapta ao cinema «A Partir de Uma História Verdadeira», de Delphine de Vigan https://branmorrighan.com/2016/07/roman-polanski-adapta-ao-cinema-partir.html https://branmorrighan.com/2016/07/roman-polanski-adapta-ao-cinema-partir.html#respond Tue, 26 Jul 2016 14:59:00 +0000

O realizador Roman Polanski vai adaptar ao cinema o mais recente romance da escritora francesa — e também realizadora — Delphine de Vigan, A Partir de Uma História Verdadeira, publicado em Portugal pela Quetzal Editores, em maio de 2016. Olivier Assayas será o argumentista e estima-se que o filme chegue às salas de cinema em 2018. 

Esta não é a primeira obra de Delphine de Vigan a ser adaptada ao grande ecrã. Obras anteriores como No et Moi ou À Coup Sûr são exemplo disso. 

A Partir de Uma História Verdadeira conta a inquietante história – que se suspeita que seja autobiográfica – da luta de uma escritora em começar um novo livro e a relação perigosa que mantém com uma fã obcecada. 

“Sim L. entrou na minha vida e perturbou-a profunda, lenta, segura e insidiosamente. L. entrou na minha vida como num palco de teatro, a meio da representação, como se um encenador se tivesse esforçado por esbater tudo à sua volta para lhe dar destaque, como se L. fosse planeada para revelar a sua importância, para que naquele preciso momento o espectador e as outras personagens presentes na cena (eu, neste caso) só tivessem olhos para ela, para que tudo, à nossa volta, ficasse em suspenso, e que a voz dela se ouvisse no fundo da sala, enfim para que ela pudesse sobressair.» 

A Partir de Uma História Verdadeira foi galardoado com os prémios Renaudot 2015 e Goncourt des Lycéens 2015 e encontra-se disponível para compra nas livrarias portuguesas bem como online.

A Sinopse e Opinião desta obra podem ser lidas aqui: 

http://www.branmorrighan.com/2016/07/opiniao-partir-de-uma-historia.html

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Opinião: A Partir de Uma História Verdadeira, de Delphine de Vigan https://branmorrighan.com/2016/07/opiniao-partir-de-uma-historia.html https://branmorrighan.com/2016/07/opiniao-partir-de-uma-historia.html#respond Sun, 24 Jul 2016 17:04:00 +0000

A Partir de Uma História Verdadeira

Delphine de Vigan

Editora: Quetzal Editores

Sinopse: A história é contada na primeira pessoa, com Delphine, a narradora, como uma das duas personagens. Todos os nomes são de pessoas reais: o da autora/narradora, o dos filhos, do namorado… A história é aparentemente autobiográfica e, no entanto, torna-se a certa altura um jogo de espelhos, em que é difícil discernir entre realidade e ficção. Nada previsível, cheio de surpresas, com um suspense crescente (chega a ser atemorizante), mantém o leitor literalmente agarrado até ao fim(*). Delphine crê que a sua incapacidade de escrever terá coincidido com a entrada de L. na sua vida. L. é a mulher perfeita que Delphine gostaria de ser: muito bonita, impecavelmente cuidada, de uma grande sofisticação e inteligência. L. está também ligada à escrita – é escritora-fantasma. L. insinua-se lenta mas inexoravelmente na vida de Delphine: lê-lhe os pensamentos, adivinha-lhe os desejos e necessidades, termina-lhe as frases, torna-se totalmente indispensável – é a amiga ideal. Mas, aos poucos, sabemos que ela conseguiu isolar Delphine (afastando toda a gente), que lhe lê os diários, a correspondência, que se faz passar por ela! E quer demover Delphine de escrever o livro que esta está a preparar, obrigando-a a escrever a obra que ela (L.) quer: Introduz-se, assim, na vida da amiga de forma insidiosa, permanente, por fim violenta, controlando tudo. É aqui que há um volte-face na intriga – até aí muito perto do real – e uma possibilidade autobiográfica. O fim é maravilhosamente surpreendente. O seu livro anterior, Rien ne s’oppose à la nuit, em que conta a história da mãe, vendeu cerca de um milhão de exemplares em França e teve vendas na casa das dezenas de milhares em Espanha.

Opinião: Ora aqui está uma bela surpresa. Peguei no livro, devo confessar, sem grandes expectativas, mas à medida que fui avançando, linha após linha, fui-me sentindo cada vez mais envolvida na história e a leitura acabou por ser rápida e intensa. A sinopse fala por si, talvez até um pouco demais, e por isso não vou desenvolver muito mais sobre o enredo, mas antes realçar alguns pontos e desenvolvimentos que acho essenciais para o êxito deste livro – pelo menos para quem se deixar fascinar pelas possibilidades do comportamento e da psique humana em que a realidade e a ficção se misturam de tal maneira que não conseguimos dizer onde acaba uma e começa a outra. E é precisamente este o ponto forte de A Partir de Uma História Verdadeira, a semente da dúvida está presente desde o início ao fim e nunca desaparece.

Tenho pena que este seja o primeiro livro que leio da autora, pois fiquei demasiado curiosa pelas suas outras obras e talvez me tivesse dado um pouco de ajuda ao início ter lido pelo menos a anterior. Esta é constantemente referida – é a mesma na vida real e neste romance (se é que lhe podemos chamar romance, mas essa é uma discussão para os versados nos géneros literários) – e cujo impacto na vida da autora é óbvio e imediato. Chega-se ao fim de A Partir de Uma História Verdadeira e não se percebe bem o que é que aconteceu com a mãe de Delphine, e talvez essa história nos explique de alguma maneira como esta se tornou tão susceptível, tão ávida de algo que até aqui não conhecia, como a relação com L., tão diferente de todas as suas outras relações de amizade, e de como se deixou arrastar para um ponto de dependência em que chega a estar disposta a ceder a sua identidade. 

Gostei da forma como toda a dinâmica de obsessão e dependência foi ilustrada. Chega a ser doentio como o jogo de manipulação se desenvolve, mas não deixa de sugerir um certo fascínio aterrador de reconhecimento, pois sabemos que realmente esta criação tem um fio de verdade, se não na vida real de Delphine, na vida de outras pessoas. A usurpação de identidade ou a aproximação por interesse para apropriação indevida de propriedade, física ou intelectual, é algo que suscita sempre inúmeras questões em relação à vítima. Como é que esta se deixa enganar? O que é que pode levar uma pessoa a perder-se de si mesma e a deixar que outrem assuma por si o que lhe pertence? E por outro lado, o que pode motivar o agressor a querer ser outro, que motivações podem haver para não se construir a própria identidade, mas antes viver nas entrelinhas dos outros? 

É, sem dúvida, uma leitura que recomendo. Seja pelo seu toque de thriller, seja por todos estes ingredientes que em termos de psicologia são, para mim, desafios à compreensão. A escrita da autora tem a intensidade emocional certa e o fim deixa em aberto inúmeras possibilidades de interpretação, sendo que pode inclusive por em causa tudo o que se leu para trás. Claro que a curiosidade agora está cá e vou querer encontrar a restante obra da autora e explorá-la, quem escreve um livro como este tem potencial para muito mais. Fiquem atentos! 

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Citações Aleatórias #49 – Delphine de Vigan https://branmorrighan.com/2016/07/citacoes-aleatorias-49-delphine-de-vigan.html https://branmorrighan.com/2016/07/citacoes-aleatorias-49-delphine-de-vigan.html#respond Sat, 16 Jul 2016 10:58:00 +0000


– Sei o que estás a pensar. Enganas-te. Existe uma grande diferença entre aquilo que sentes, a forma como te vês e a imagem que transmites de ti. Todos trazemos a marca da forma como olharam para nós quando éramos crianças ou adolescentes. Trazemo-la, sim, como uma nódoa que apenas alguns podem ver. Quando olho para ti, vejo tatuada na tua pele a marca do sarcasmo e da troça. Vejo a forma como olhavam para ti. Um olhar de ódio e desconfiança. Corrosivo e sem complacência. Um olhar com o qual é difícil construirmo-nos. Sim, consigo vê-lo e sei de onde vem. Mas, acredita, poucas pessoas se apercebem dele. Poucas pessoas são capazes de adivinhá-lo. Porque sabes disfarçá-lo muito bem, Delphine, bem melhor do que pensas.

Delphine de Vigan, A Partir de Uma História Verdadeira

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