Desabafos – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 25 Aug 2025 09:46:34 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.2 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Desabafos – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 BranMorrighan – O Virar de Mais uma Página https://branmorrighan.com/2025/08/branmorrighan-o-virar-de-mais-uma-pagina.html https://branmorrighan.com/2025/08/branmorrighan-o-virar-de-mais-uma-pagina.html#respond Mon, 25 Aug 2025 09:46:32 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25584

Há quase 17 anos, criei o BranMorrighan. Tinha começado a minha vida adulta não há muito tempo e, durante uma década, partilhei convosco algumas das montanhas-russas que fui vivendo. Partilhei leituras, música, pensamentos aleatórios, comentários, uma variedade de conteúdos que, durante uns bons anos, teve um sentido de comunidade, de carinho e de interação com leitores maioritariamente portugueses.

A certa altura, fui viver para os Estados Unidos, afastei-me mais das redes sociais, e essa relação arrefeceu. O que é perfeitamente normal. Quando voltei para Portugal, com novas responsabilidades e nova carreira, numa altura pós-Covid (que nos mudou a todos e à forma de nos relacionarmos uns com os outros), não consegui retomar a atividade no blogue como teria gostado.

A verdade é que os anos passam, as experiências que vivemos também nos mudam, e não será surpreendente dizer que a pessoa que eu era há 17 anos, há 6 anos (pré-Covid e EUA), não é a mesma pessoa que sou atualmente. Para aqueles que me seguem no IG, sabem que entretanto já não estou em Portugal, mas novamente fora – desta vez no Reino Unido, em Londres.

Já faz um ano que me mudei para as terras de Sua Majestade e, para já, não há data de nova mudança. O que não quer dizer que, na verdade, ande parada. Devido à minha nova posição académica, acabo a viajar praticamente todos os meses para vários pontos do globo para dar palestras, fazer retiros de investigação, participar em conferências, etc.

O núcleo de quem sou, na verdade, não mudou assim tanto. Ou seja, todo o entusiasmo de comunicar e partilhar opiniões é claramente evidente na forma como vivo o ambiente académico, mas o público mudou. Ainda discuto literatura e música com colegas, apenas não tenho escrito mais sobre os mesmos. Existe um Substack algures para o blogue, em que escrevi maioritariamente em inglês, mas foi sol de pouca dura.

Escrevo-vos hoje aqui também graças ao João Morales, que foi ao Jazz em Agosto e ainda viu o BranMorrighan como uma casa de partilha. E então fez-me pensar: será que devo fechar este ciclo? Fechar o BranMorrighan para sempre? A verdade é que não consigo. Talvez por ter tanto de mim aqui, tantas transformações que já teve, ambições de podcasts, edições de livros, etc., cheguei à conclusão de que, se calhar, podemos continuar neste espaço, mas transitando novamente para um formato que faça mais sentido com o meu presente.

Dito isto, apesar de o inglês não ser a minha primeira língua, é possível que, de vez em quando, venha aqui escrever tanto numa língua como noutra. Talvez possa haver um recomeço em que, em vez de apagar o quadro todo, apenas viro a página. Na vida, às vezes gostaríamos de começar do zero, mas, no fundo, a única coisa que podemos fazer é iniciar um novo capítulo, virar a página. Tudo o que vivemos para trás será sempre parte de nós, e hoje não seríamos quem somos sem essas experiências – boas ou menos boas. Retemos o bom, aprendemos com o doloroso.

E, enquanto termino este post, ouço os corvos lá fora. É verdade, onde vivo tem imensos corvos e confesso que me consola quando os ouço. Recentemente também criei o meu primeiro grupo científico: BRAN Lab – https://andreiasofiateixeira.com/branlab/. Não estamos surpreendidos, certo? Mas vou deixar essa partilha para um novo post. Este já vai longo.

No fundo, só quero agradecer a quem me continua a visitar aqui (as estatísticas mostram um fluxo bastante consistente, mesmo sem novo conteúdo). Com o novo formato de pesquisa, em que as ferramentas de inteligência artificial fazem resumos sobre tudo e mais alguma coisa, em que existe uma utilização cada vez maior do ChatGPT (deixem-me dizer-vos que tenho pensamentos muito fortes em relação a isto…), fico surpreendida que ainda haja quem leia blogues.

Se houver algum tema ou alguma coisa que vocês gostassem de ler de mim, deixem comentários. Aqui ou no IG. Um abraço, e espero que vocês estejam todos bem.

Sofia

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Estamos no Threads! https://branmorrighan.com/2023/12/estamos-no-threads.html https://branmorrighan.com/2023/12/estamos-no-threads.html#comments Tue, 19 Dec 2023 20:22:27 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25496 Por o blogue ter atravessado tantas fases diferentes da minha vida, acabei por fazer uma separação do que é a (Andreia) Sofia Teixeira a nível profissional e a Sofia Teixeira do BranMorrighan. A criação de páginas e perfis no Facebook, Twitter e Instagram, sempre me deixaram meia dividida sobre que rede social serviria que propósito para qual persona. Não sei se vai durar muito tempo, mas decidi dar uma oportunidade à app Threads onde vou tentar juntar as diversas facetas do meu dia-a-dia.

Por vezes os posts vão estar em Português, outras vezes em inglês. Umas vezes postarei coisas pessoais, outras profissionais, outras do blogue. Talvez seja uma péssima ideia, talvez venha a mostrar resultados interessantes. Vamos experimentar? Se tiverem conta no Threads, sigam-me em sofiateixeira_branmorrighan! Entretanto brevemente coloquei um post a sinalizar os 15 anos do BranMorrighan :)) Até já!

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[Diário de Bordo] As voltas que a vida dá https://branmorrighan.com/2023/11/diario-de-bordo-as-voltas-que-a-vida-da.html https://branmorrighan.com/2023/11/diario-de-bordo-as-voltas-que-a-vida-da.html#respond Sat, 18 Nov 2023 17:44:03 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25476

Queridos leitores,

Bem sei que o tempo está cinzento lá fora (pelo menos aqui no distrito de Lisboa), mas decidi ilustrar este post com uma fotografia de um dos últimos dias de Agosto que me deu muito em que pensar. A verdade é que desde então a vida já me trocou as voltas umas quantas vezes. Tive momentos de muita felicidade e momentos de muita dor e luto. Ainda assim, lembro-me que quando tirei esta selfie numa das minhas viagens sentia esperança. Apesar de tudo o que aconteceu desde então, finalmente alguma luz e esperança voltam a habitar deste lado e por isso cá estou eu a tentar partilhá-las um pouco convosco.

Há muito tempo que queria voltar ao blogue, mas confesso que tenho tido uma relação meia complicada com os computadores. Como a maioria de vocês sabe, sou engenheira informática, investigadora em ciência das redes e sistemas complexos, professora do departamento de informática da FCUL e, como devem imaginar, o tempo que passo ao computador é mais do que aquele que por vezes desejaria. Devido a algumas questões de saúde e ao excesso de trabalho, acabo por só conseguir estar ao computador para trabalhar e depois o que quero é desligar… Tem sido um exercício arranjar um novo balanço para aqui voltar.

E, por agora, vou tentar! Dei-me conta esta semana que o blogue BranMorrighan vai completar 15 anos em Dezembro. 15 anos!! Lembro-me de quando se tornou adolescente e agora começa a contagem decrescente para se tornar um blogue “adulto”. Mas é curioso que a facilidade com que eu partilhava posts há 10 e 15 anos atrás, está longe de ser a facilidade que sinto agora. Há quem possa dizer — é normal, cresceste, és adulta, a tua vida é outra, etc. etc. etc. E em parte é verdade, mas outra parte está relacionada com a responsabilidade que sinto agora em todos os cargos profissionais que ocupo.

Dito isto, não garantindo o regresso como antigamente, quero dizer-vos que como parte deste caminho em tentar arranjar um maior equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal irei tentar voltar a partilhar convosco mais sobre as minhas leituras e também escrever sobre concertos e novos projectos musicais que tenho ouvido. Esta semana saí da toca para ir ver o André Henriques e foi tão bonito que sou capaz de vir a escrever sobre o mesmo. No outro dia, por mero acaso, também me cruzei com o projecto Ela Jaguar e foi uma delícia de ver e ouvir.

Se estão curiosos com o que ando a ler, posso adiantar que estou com estes dois livros em mãos: The Way Things Are Kindle Edition (Lama Ole Nydahl) e Neverwhere (Neil Gaiman). Sempre tive bastante curiosidade sobre o budismo (já li o livro Why Buddhism is True e achei muito interessante) e confesso que já tinha saudades de ler fantástico, portanto optei pela versão revista de Neverwhere que foi publicada pelas Edições Saída de Emergência há um par de anos, se não estou engana.

O post já vai longo, mas deixo-vos um raiozinho de sol de esperança. Agarrem-se às coisas boas. Se sofrem de ansiedade, burnout, depressão ou desordens/doenças associadas, não estão sozinhos. E refiro isto porque nunca antes vi uma prevalência tão grande destas condições e é verdade que a próxima pandemia já cá está e é uma pandemia de saúde mental. Cá estarei para tentar também trazer alguma luz a estes assuntos, quando possível. Abraço grande e tenham um bom fim-de-semana!

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[Diário de Bordo] Um passo de cada vez https://branmorrighan.com/2023/01/diario-de-bordo-um-passo-de-cada-vez.html https://branmorrighan.com/2023/01/diario-de-bordo-um-passo-de-cada-vez.html#comments Sun, 08 Jan 2023 17:42:20 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25412
[Diário de Bordo] Um passo de cada vez

Queridos leitores,

Já passaram alguns meses desde que vos escrevi. O blogue chegou a comemorar 14 anos e pela primeira vez desde a sua existência, não os sinalizei. No entanto, houve pelo menos uma leitora que no próprio dia (13 de Dezembro) me enviou uma mensagem pelo Instagram a desejar os parabéns ao blogue. Desde então que não paro de pensar que realmente este sempre foi um espaço muito especial para mim e que talvez devesse voltar.

Então decidi que em vez de pensar demasiado no assunto, iria escrever só um curto Diário de Bordo para vos desejar um excelente 2023 e mais umas coisas! O meu ano começou isolada (com covid-19 e ainda a recuperar!) e com uma série de desafios (quase de certeza que vou acabar a desabafar com vocês sobre uma série deles), mas também com boas notícias que ajudam a manter a motivação. A ansiedade generalizada continua a ser algo com que tenho de lidar diariamente, mas felizmente um bom terapeuta, uma boa rede de família e amigos e o melhor cão do mundo (os nossos são sempre os melhores do mundo), ajudam a que tudo vá acontecendo um passo de cada vez.

Por falar no Bran, este lindão já está com cinco anos e é realmente uma benção!

Em relação a 2023, não tenho uma lista muito extensa de objectivos. 2022 apanhou-me na curva em muitas coisas — boas e menos boas — e então estou a decidir levar 2023, imaginem, um passo de cada vez, como quem diz, um dia de cada vez. E ao escrever aqui no blogue, estou a dar um desses passos. Confesso que já não me sai tão naturalmente como saía antes. Mas penso que seja normal… A vida por vezes acontece a ritmos alucinantes e a verdade é que desde 2018 que a minha vida parece ter tomado velocidade cruzeiro e algumas coisas ficaram para trás, incluindo ter-me afastado do blogue.

Ainda assim, o meu gosto pelos livros, pela música, pela arte e pela partilha não desapareceram. Tenho o modesto objectivo de ler 24 livros este ano. Dois por mês. Boa parte talvez venha a ser de não-ficção, mas espero que sejam interessantes para vós também. Neste momento, encontro-me a ler A Ordem do Tempo, de Carlo Rovelli e está a ser super interessante. Não quero adiantar muito do que depois vou escrever no texto de opinião, mas acho super interessante a perspectiva (baseada em ciências físicas) que temos do tempo e como vemos passado, presente e futuro e porque é que pode existir condicionamento no processo.

Em termos musicais, por causa do covid-19 falhei provavelmente um dos concertos mais bonitos de Dezembro de 2022 — Indignu, a apresentar o seu novo disco Adeus. Deixo-vos o link para ouvirem no final deste post. Não vou falar muito sobre o mesmo aqui, a não ser que é uma autêntica viagem lindíssima, por vezes triste, mas que vale a pena ser experienciada. É outro dos passos para 2023, voltar a escrever sobre música!

Entretanto, o texto já vai longo! Obrigada pela vossa paciência :)) Se tiverem um tempinho, deixem nos comentários quais os vossos objectivos de leitura e o que estão a ler neste momento! Sabe bem estar de volta. A ver se é desta! Divirtam-se, dediquem-se e amem muito em 2023! Até breve 🙂

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O prazer em conhecer Rosa Montero https://branmorrighan.com/2022/09/o-prazer-em-conhecer-rosa-montero.html https://branmorrighan.com/2022/09/o-prazer-em-conhecer-rosa-montero.html#comments Fri, 02 Sep 2022 16:33:47 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25399
Rosa Montero, Feira do Livro Lisboa 2022, Fotografia da Maria João Covas

Desde que há uns anos li A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te que guardo um fascínio e um carinho enormes por Rosa Montero. Nunca a tinha conhecido pessoalmente até ao fim-de-semana passado, no Domingo na Feira do Livro de Lisboa. Se visitarem a tag Rosa Montero aqui no blogue, rapidamente se apercebem do porquê desse meu fascínio. Nos dois livros que li da autora, encontrei uma empatia e uma ressonância que é tão fascinante como um pouco aterrorizadora.

A autora, imiscuindo a sua vida com a de outras personalidades ou personagens criadas por si aborda temas como a dor, a loucura, o luto, a solidão, o amor, a criatividade, entre outros. Tanto no A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te como no A Louca da Casa, Rosa Montero construiu duas obras literárias que nos trazem conforto e segurança pelo simples facto de nos transmitirem – não estás sozinha!

Mal a vi no Domingo o meu sorriso abriu-se! Estava acompanhada da querida Maria João Covas, que nos tirou a foto deste post, e partilhava com ela o meu absoluto fascínio pela escritora espanhola. Quando chegou a minha vez de assinar os dois livros, juro-vos que parecia uma adolescente em frente a um ídolo quase que meia a gaguejar do entusiasmo e algum embaraço de me sentir tão fangirl naquele momento. E Rosa Montero não desiludiu, pelo contrário! Tanto que trouxe o Boa Sorte comigo e que quero ler até ao final do ano. Foi uma querida, agradeceu as minhas palavras e ainda assinou com uma dedicatória com grande carinho.

Já antes neste blogue falei de Saúde Mental. E a verdade é que há tanta subtileza na expressão destes assuntos nos livros de Rosa Montero, principalmente no que diz respeito às emoções fortes, ansiedade e ataques de pânico, que juro-vos que é um conforto abrir os meus livros, todos sublinhados, e encontrar lá escrito aquilo que eu nunca conseguiria colocar tão bem em palavras. Dito isto, é claro que só posso recomendar que leiam a autora. Confesso que não li mais da autora porque gostei tanto, tanto destes livros, que tenho receio que os outros não acompanhem! Eheh, mas até ao final do ano vai haver mais uma opinião quase de certeza! Fiquem desse lado 🙂

Se já leram a autora, por favor deixem nos comentários a vossa experiência! Estou curiosa se é um sentimento generalizado ou se na verdade é algo mais pessoal.

PS: Faço parte do programa de Afiliados Wook. Como funciona? Se fizerem compras através deste link –  https://www.wook.pt?a_aid=4ff9b52ae36d3 – recebo um pequeno vale em compras Wook, o que ajuda a alimentar as leituras do blogue. Muito obrigada por contribuíres! 🙂

WOOK - www.wook.pt

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[Diário de Bordo] O dia em que me tornei num cyborg https://branmorrighan.com/2022/08/diario-de-bordo-o-dia-em-que-me-tornei-num-cyborg.html https://branmorrighan.com/2022/08/diario-de-bordo-o-dia-em-que-me-tornei-num-cyborg.html#comments Fri, 12 Aug 2022 18:58:39 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25252
Uma foto do Bran quando me veio fazer companhia a seguir à cirurgia 🙂 Aposto que já tinham saudades dele!

Queridos leitores,

Faz 6 meses que me tornei num cyborg. Tudo começou no dia a seguir a’O dia em que assinei a escritura (parte 1 e 2). Imaginem o seguinte cenário. Chegam a casa, felizes da vida porque finalmente conseguiram comprar um apartamento. A semana foi cansativa. Imensos projectos e avaliações de alunos, mas a coisa fez-se. Algumas dores nos braços e nas costas, mas nada de absurdamente doloroso. Vão dormir. Acordam na manhã seguinte e sentem dores tão viscerais que mal conseguem mexer o tronco, ou o pescoço, ou os braços. A dor é tal que as lágrimas correm sem controlo. Precisam de ajuda até para saírem da cama.

Não foi a primeira vez que isto me aconteceu. Durante o meu doutoramento tive algumas crises destas. Das três ou quatro vezes em que fiquei assim, a rotina foi sempre a mesma: ligar para a Saúde 24, entrar pelas urgências, levar injecções, ser mandada para casa com drogas tão fortes como Tramadol, Diazepam, Brufen/Voltaren, etc… Nunca nenhum médico das urgências me mandou fazer qualquer exame. Até agora. E abençoada médica — de quem a senhora da recepção se queixava que estava a atrasar as urgências por passar demasiado tempo com os pacientes (???????). Enfim.

A verdade é que quando a médica me mandou fazer uma TAC, eu não fiquei demasiado alarmada. Depois de umas quantas rodadas desta rotina, a minha esperança é que dali a umas semanas (por norma nunca ficava bem em menos de pelo menos duas a três semanas) a coisa estaria normal novamente. Então não fiquei preocupada quando não tive logo vaga. Acabei a ter o resultado da TAC umas duas semanas depois. Ao ler o relatório, houve partes que me pareceram chinês. Então enviei para dois amigos meus médicos. A recomendação para ir a um neurocirurgião foi imediata. Um deles disse-me mesmo de frente que eu teria de ser operada e que me devia apressar.

Estarei sempre grata ao conjunto de pessoas que me ajudou a ter as consultas e os exames de forma tão célere. Consegui consulta para o neurocirurgião recomendado no dia seguinte. Primeiro ele mostrou-se optimista, depois de ver as imagens, cautelosamente, mandou-me fazer uma ressonância magnética “com alguma urgência” (estilo amanhã). Em dois ou três dias tínhamos os resultados e o optimismo do neurocirurgião já não existia. Ele deixou sempre a decisão do meu lado, mas afirmou que era a sua opinião de que eu precisava de cirurgia, para ONTEM.

Afinal o que é que eu tinha? Uma hérnia na cervical a comprimir a medula de tal forma que com um impacto, uma travagem de um carro, etc., podia ficar tetraplégica. A hérnia era tão grande que para além da compressão tradicional dos nervos, foi também para cima da medula que estava encostada num terço de canal disponível. Agora imaginem o que é num dia estarem a fazer planos disto e daquilo e no outro dizerem que correm este tipo de risco. A solução seria uma astroplastia cervical com remoção do disco e inserção de uma prótese de titânio, um disco artificial.

Parece fácil, sério? Fazer um corte pela frente do pescoço, afastar a carótida, a traqueia, as cordas vocais, etc. etc., remover um disco e colocar outro de titânio. E libertar a medula pelo meio! A cirurgia correu minimamente bem, e não vou entrar em muitos pormenores em relação ao pós-operatório porque foi mais doloroso do que previsto. A certa altura comecei a fazer fisioterapia e as coisas começaram a melhorar. Estarei eternamente grata ao fisioterapeuta do Curry Cabral que me acompanhou durante três séries de fisioterapia.

Hoje em dia tento fazer vida minimamente normal, mas há ainda uns quantos pormenores em que só posso ter esperança que convirjam para um estado de não dor e mobilidade suficiente. Imagino que se estejam a perguntar se agora apito nos aeroportos? Ahah, não! Sendo a prótese de titânio, não há cá alarmes a disparar em lado nenhum. A cicatriz também já mal se nota, o cirurgião foi um autêntico artista.

Resumindo e concluindo (que na verdade comecei a escrever este post há um par de meses atrás) — estou muito grata que esteja a correr tudo minimamente bem, que tenho movimento nos meus braços e nas minhas pernas e que tenho tido um conjunto de pessoas fundamental apoiando-me neste trajecto! Nos próximos Diários de Bordo vou tentar partilhar convosco algumas das experiências mais incríveis deste Verão! Entretanto, prestem atenção ao que o vosso corpo vos comunica e não deixem tudo para a última hora. Sejam gentis e pacientes e cuidem-se!

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[Diário de Bordo] Já ninguém lê blogues https://branmorrighan.com/2022/08/diario-de-bordo-ja-ninguem-le-blogues.html https://branmorrighan.com/2022/08/diario-de-bordo-ja-ninguem-le-blogues.html#comments Fri, 12 Aug 2022 09:43:51 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25348
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Queridos leitores,

Sei que na última entrada vos disse que ia escrever sobre o dia em que me tornei um cyborg, mas entretanto a vida aconteceu e decidi focar-me na minha recuperação e em tentar voltar a um estilo de vida minimamente normal. Felizmente, mesmo com altos e baixos, as coisas vão melhorando. Num post do instagram coloquei então em cima da mesa voltar a escrever com frequência aqui no blogue. E disseram-me: “Sofia, já ninguém lê blogues”.

Como assim, já ninguém lê blogues? Claro que na verdade esta reacção não me espanta. Afinal eu própria testemunhei o shift para o Instagram no mundo da blogosfera dos livros e imagino que tenha acontecido no geral. Não tenho conta no Tik Tok, mas sei que também é uma das principais fontes de influencers. Com o BranMorrighan quase a comemorar 14 anos de existência, quase que me dá vontade de rir que um dia fui considerada uma “influencer” literária e musical. Se tivesse começado o BranMorrighan nos últimos cinco anos, certamente nunca atingiria esse estatuto.

Confesso-vos, acho que sou demasiado old school a nível de conteúdos. O que não é bom nem é mau, é o que é. Não tenho muito jeito para desenvolver conteúdo multimedia e ainda sou daquelas pessoas que procura textos de opinião em blogues e sites em vez de ir ver vídeos no youtube, IG ou Tik Tok. Mas compreendo e aceito que os tempos tenham mudado e que, o que já foi público alvo do blogue, consuma agora informação de forma bastante diferente do que há mais de 10 anos atrás.

Há, no entanto, um pormenor. É que o BranMorrighan sempre existiu de forma um pouco egoísta, pelo meu prazer de partilha de tantas coisas diferentes com as quais me ia cruzando. Portanto, tentando manter este post mais curto, o que vos quero dizer é que vou voltar a escrever por aqui. Vou tentar partilhar um snapshot dos posts no IG e no Twitter, e depois com as estatísticas do blogue poderei ver se já ninguém lê blogues! A verdade é que mesmo sem escrever com frequência, o blogue continua a ter em média mais de 2500 visualizações por mês, o que não acho mesmo nada mau.

Dito isto, obrigada a todos os que ainda me visitam e se me quiserem ler com frequência, guardem o link nos favoritos! :)) Até já!

PS: Entretanto criei conta no Substack e as newsletters vão começar a ser produzidas lá! Subscrevam 🙂

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[Diário de Bordo] O dia em que assinei a escritura – Parte II https://branmorrighan.com/2022/03/diario-de-bordo-o-dia-em-que-assinei-a-escritura-parte-ii.html https://branmorrighan.com/2022/03/diario-de-bordo-o-dia-em-que-assinei-a-escritura-parte-ii.html#respond Sat, 26 Mar 2022 10:27:11 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25251
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O dia em que assinei a escritura foi o dia de véspera de ir parar às urgências, que veio a tornar-se o início da caminhada para me tornar num cyborg. Mas isto vocês já sabem dado que já leram o [Diário de Bordo] O dia em que assinei a escritura – Parte I certo? 🙂

Ora bem, no último post terminei a declarar que a grande epopeia de conseguir um empréstimo com condições decentes para comprar o meu primeiro apartamento deu-se com a ajuda de uma equipa de mulheres! Não foi propositado, de todo, mas foi bonito ver a convergência natural das coisas.

A primeira equipa foi a do Doutor Finanças. Não sei se conhecem o site e os seus serviços — e não, não estou a fazer publicidade, a não ser gratuita, antes a partilhar uma história de sucesso — mas posso-vos dizer que não só gostei da experiência como recomendo. Quando trabalhamos a tempo inteiro é difícil arranjar intervalos a horas decentes para se percorrer infinitos balcões bancários. Mais difícil ainda é passar sempre pelo mesmo ritual de enviar a documentação, de repetir tudo e mais alguma coisa para no fim nos serem dadas dezenas de páginas com as condições que maioritariamente não são favoráveis.

Utilizei o serviço do Doutor Finanças após umas quantas tentativas de fazer sentido às propostas que nos balcões de diversos bancos me faziam. O serviço de procura do melhor crédito habitação do Doutor Finanças é gratuito. Existe um trabalho inicial de recolhermos toda a documentação necessária (recibos de vencimento, nota de liquidação do IRS, extractos bancários, etc. etc.), mas depois são eles quem negoceiam com os bancos as condições oferecidas. E nisto, meus queridos leitores, há muita coisa que não controlamos. Através do tipo de contrato que temos, do nosso vencimento, idade, etc., os bancos já têm algoritmos que calculam índices de riscos de empréstimo… E eu que até sou informática arrepio-me um pouco isto.

Depois de confirmada toda a documentação, o Doutor Finanças comunica com os bancos e volta a entrar em contacto connosco com a melhor proposta. No meu caso obtive uma proposta em menos de uma semana e foi mesmo a melhor proposta que obtive entre as minhas idas aos balcões e a proposta do Doutor Finanças. E o que eu mais gostei neste serviço é que para além da área no site em que se envia a documentação e se trocam mensagens com quem está a tomar conta do nosso processo, a comunicação via telefone também funciona maravilhosamente. Sempre que tive dúvidas telefonei e atenderam-me sempre com grande disponibilidade e paciência.

Ora, após recebermos a proposta do banco temos alguns dias para decidirmos se aceitamos ou não. Se por esta altura já estamos cansados da cavalgada que é encontrar um empréstimo com boas condições, então preparem-se que a partir daqui até à escritura… Ufa! Estou cansada só de pensar. Então, depois de aceitarmos a proposta de empréstimo é criada uma linha de comunicação com o banco. Nesse e-mail entram já as pessoas do balcão que ofereceram a proposta e até haver escritura feita também as pessoas do Doutor Finanças acompanham o processo (e, acreditem, isto é muito bom!).

No meu caso, como fiz o empréstimo noutro banco que não o meu, tive de ir criar conta, etc. etc. etc. A outra grande dor de cabeça relaciona-se com os seguros… Seguro de vida, multi-riscos etc… É preciso preencher questionários de saúde, vemos que a certa altura vamos pagar um balúrdio porque os valores dos seguros, principalmente de vida, dependem da idade e do montante que ainda se deve ao banco… Preparem-se! Felizmente a equipa, também de mulheres, do banco onde fiz o empréstimo, a CGD, também foi bastante paciente comigo.

Chegou depois a altura de pedir a avaliação do apartamento! Foi precisa imensa documentação (se insistirem muito depois nos comentários posso deixar a lista de tudo o que foi preciso) e ainda havia um pormenor – eu precisava que a casa fosse avaliada em X para conseguir o montante necessário para poder comprar o apartamento. Conseguem adivinhar onde isto está a chegar? A avaliação do apartamento (novinho em folha e com outros mais velhos à venda ao mesmo preço) veio abaixo do que eu precisava (((((:

O drama! O horror! A questão acabou por se resolver, mas no meio disto tudo nasceu o meu primeiro cabelo branco. A sério. Essa é que é essa. Ultrapassado este contratempo foi mais um anda para cá e para lá de documentação e cadernetas prediais e propriedades horizontais e trinta por uma linha, que eu é que já andava na diagonal com tanto stress. Seguiu-se o malabarismo de encontrar agenda comum entre a construtora e a agência de advogados do banco que trata das escrituras… Telefonemas telefonemas telefonemas. Como eu não tive agência imobiliária intermediária, tive de ser eu a fazer esta gestão toda.

Mais! Há uma coisa muito chata no acto da escritura, que é o montante ridículo de impostos! Sim, meus queridos, nunca façam contas apenas à entrada que têm que dar para a casa. Calculem logo o IMT e Imposto de selo que terão de pagar e contem com esse rombo! Mas o que é mesmo contraproducente neste processo é que são precisas as guias de pagamento que têm obrigatoriamente uma validade de 24h e que é suposto serem emitidas pelas finanças e que envolve dados nossos e de quem vende, etc., e eu a ver a minha vida a andar para trás que não sabia se tinha as informações certas ou até se tinha tempo de ir às finanças no dia anterior. Solução? Doutor Finanças!

A sério, malta. O dia em que assinei a escritura, apesar de ser o dia de véspera blá blá blá, acabou a ser um dia mais calmo por ter tido a ajuda deles a tratar da emissão destas guias. Guias prontas, cartão do cidadão check, novo cartão de débito prestes a ficar careca check, ansiedade gigantesca disfarçada check… É chegada a hora de sentar com a vendedora, ter a escritura lida na presença de advogado, todos os formalismos feitos (no meu caso com boa disposição, a senhora que tratou da coisa foi super boa onda), chave na mão, casa! Ahah, claro que fui só de visita que ainda não tinha nada lá dentro!

Ou seja, o dia em que assinei a escritura foi ao dia 7 de Janeiro, quase um ano depois de ter assinado o contrato de promessa compra e venda. Se por um lado eu pensava que era agora que as coisas iam animar, por outro lado acordo no dia seguinte sem me conseguir mexer como deve ser na parte superior do corpo, cheia de dores, a precisar de apoio para sequer me conseguir levantar da cama… Ou seja, o dia em que assinei a escritura foi o dia de véspera de ir parar às urgências, levar umas injecções, uma guia para fazer um TAC, que veio a tornar-se o início da caminhada para me tornar num cyborg. História para outro post!

Resumindo e concluindo, omiti muita coisa neste processo, é verdade. No entanto, se tiverem perguntas ou se quiserem saber mais pormenores e se virem que posso ajudar, escrevam nos comentários ou enviem-me e-mail. Terei todo o gosto em tentar suavizar a vossa experiência ao máximo!

Não posso também terminar esta entrada sem partilhar convosco a minha infinita felicidade por ter um apartamento de que gosto tanto. Deixem-me confessar-vos uma coisa. Quando ainda estava nos EUA tive um sonho em que me via num apartamento supostamente meu (mas o qual nunca tinha visto sequer) com uma série de características que se vieram a tornar em realidade. E mesmo que poucos dias depois eu tivesse notícias que me encaminhariam para uma nova fase da minha vida de adaptação e aceitação, a verdade é que não há nada como termos um local a que chamamos casa em todos os sentidos possíveis. Só posso desejar que vocês já tenham o vosso ou que o encontrem assim que possível 🙂

PS: Fiquem atentos, o dia em que me tornei um cyborg será publicado brevemente.

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[Diário de Bordo] O dia em que assinei a escritura – Parte I https://branmorrighan.com/2022/03/diario-de-bordo-o-dia-em-que-assinei-a-escritura-parte-i.html https://branmorrighan.com/2022/03/diario-de-bordo-o-dia-em-que-assinei-a-escritura-parte-i.html#comments Mon, 21 Mar 2022 20:41:45 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25230
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PS: Isto era para ser um post único, mas animei-me e começou a ficar longo demais…

O dia em que assinei a escritura foi o dia de véspera de ir parar às urgências, que veio a tornar-se o início da caminhada para me tornar num cyborg. Para quem me segue no Instagram, já sabem onde estou a querer chegar com isto, certo? Aquele inquérito foi só uma forma de ordenar o que vos iria contar das minhas peripécias dos últimos meses. Para minha desilusão (eheh) vocês escolheram o dia em que assinei a escritura em vez d’o dia em que me tornei um cyborg, mas a verdade é que por obra dos astros os dois acontecimentos ficarão para sempre ligados, mesmo que por mera coincidência.

Mas comecemos pelo início. O dia em que assinei a escritura foi quase um ano depois de ter assinado o contrato de promessa compra e venda. COMO ASSIM??, pensam vocês e pensam muito bem. Entre um dia e outro muita coisa aconteceu. Talvez tenha de dividir isto em duas entradas, mas deixa lá ver onde a minha boa disposição (e o copo de Rosé com tacinha de batatas doces fritas) nos leva.

Recuemos no tempo. No dia 14 de Dezembro de 2020 cheguei a Portugal, depois de uma temporada nos Estados Unidos a fazer um pós-doutoramento. Ainda tinha contrato até Agosto de 2021, mas decidi voltar mais cedo e iniciar um novo desafio em Portugal em Janeiro de 2021. Dito isto, como devem imaginar, enquanto estive nos EUA perdi o apartamento que arrendava em Portugal por apenas 360€ — um belo sétimo andar de 70m2 cujos únicos defeitos eram o frio gelado de Inverno e o calor sufocante no Verão, umas paredes que me obrigavam a estar a par da vida sexual da minha vizinha, e uma senhoria que mo tentou vender cheio de problemas de humidade já com buracos nas paredes por um preço exorbitante.

Quando chego a Portugal, ano e meio depois, os preços duplicaram, onde era barato passou a custar os olhos da cara e como sou uma sortuda do caraças, tive o privilégio de poder ir viver novamente com os meus pais. Como sou altamente desportista, ou não tivesse acabado um cyborg (faz hoje seis semanas), volta e meia dava umas longas caminhadas pela cidade. Numa dessas caminhadas encontrei um prédio em construção, já com fachada completa, e pensei porque não? Gravei o número que estava na barraquinha perto da construção e marquei uma visita. Na verdade, quem conseguiu marcar foram os meus pais, porque as vezes que telefonei não me atenderam… Engraçado como mais tarde o banco Santander, o meu banco desde os meus 17 anos, iria reagir da mesma maneira — ignorar-me por completo.

Quando visitei o apartamento, por dentro só havia paredes em cimento, as divisões já delineadas. Nada de chão posto, paredes pintadas, móveis, absolutamente nada. Eu, que agora tenho uma ilha, vi apenas as marcas no chão. E é esta a história que tenho para vos contar — apaixonei-me por paredes de betão, apaixonei-me por uns tetos mais baixos do que estava habituada, por uma pseudo vista para o rio (na diagonal, claro está, que os andares de cima já tinham sido todos vendidos). Hoje em dia é o meu lar e onde me sinto tão ridiculamente feliz. Mesmo tendo-me tornado num cyborg, o que não estava nada nos planos.

Continuando… Era o único T2 disponível, este pedaço que me viria a custar os olhos da cara. E sabem que mais? Já estava reservado. Contrato de promessa compra e venda agendado para dali a uns dias. Vocês não imaginam a minha tristeza. Tristeza essa que, no fundo, era um pouco irracional. Malta, paredes de betão. Foi isso que eu visitei. E, no entanto, fiquei desolada. Quando o fim-de-semana passa e sou contactada pela construtora a dizer que o contrato de promessa compra e venda ficou suspenso, entrei em euforia. Precisava de uma pré-aprovação de crédito, de perder amor às minhas poupanças que demoraram mais de uma década a ganhar forma, e tudo isto para ontem porque “há muita procura, quem se chegar à frente primeiro é quem fica com o apartamento”.

Mas calma… Claro que não me atirei de cabeça para o Oasis de betão! Armei-me em adulta. Pedi para visitar mais uma vez. Para ver os materiais. Para discutir as condições de entrada e do contrato. E como mulher forte e independente que sou, claro que não fui sozinha seus tolos, levei o meu pai de arrasto comigo. Queriam 20% de entrada. Ahahah conseguem imaginar? Eu, que sempre vivi de bolsa em bolsa, de contrato a prazo a contrato a prazo, 20%!!! Consegui, graças ao marido da construtora, que aceitassem 10%. Os primeiros 5% na assinatura do contrato, os outros 5% um mês depois. Estamos em Fevereiro de 2021. Estava previsto o prédio ficar pronto durante o Verão…

O dia em que assinei a escritura foi a 7 de Janeiro de 2022. Conseguem imaginar a dor? E os meus pais, santos, a aturarem todos os meus humores, a minha mudança de emprego, na sua casa. Agora, onde a emoção na verdade começou, foi em Outubro de 2021. Estou eu numa conferência em Lyon, finalmente a viver um bocadinho de vida pós-pandémica com amigos que não via há séculos, quando recebo um e-mail a dizer que a documentação da casa está pronta. Sabem o que quer isto dizer? Que finalmente há documentação suficiente para se pedir um empréstimo bancário e finalizar a escritura. Foram quase dois meses e meio de muito sofrimento. Vá, não diria sofrimento, mas talvez de muita vontade de dar chapadas a funcionários do Santander.

Até hoje, até hoje meus queridos leitores, o meu gestor de conta nunca me retornou as chamadas, nunca me respondeu ao e-mail que lhe enviei a dizer que ia avançar com a compra do apartamento, nada, niet, zero. E quando me dirigi ao meu antigo balcão físico do Santander fui recebida com desprezo. Ah, vejo que deu aqui uma má classificação a um colega online. E está tudo dito. É que esse colega, o meu gestor do balcão virtual (que ainda o é porque ainda não fechei a conta — a razão vem no post o dia em que a minha carteira desapareceu durante quase uma hora no Aldi) — fez-me perder dinheiro aquando da pré-aprovação do crédito para eu assinar o contrato de promessa compra e venda… Enfim, narrativa para outra altura.

A questão aqui é que não só fui mal atendida como recebi aquela narrativa do: Mas vai comprar sozinha? Sabe que vai precisar de fiadores… Ah não quer fiadores? Pois… Então e acha que sozinha consegue a taxa de esforço? Mas esta malta acha que sou acéfala? Posso não ser rica, mas que eu saiba não é preciso ter um doutoramento, ou sequer um mestrado ou licenciatura (por acaso tenho os três, mas isso são pormenores) para se saber fazer contas e avaliar se se pode suportar ou não uma dada dívida. E quem me dera que isto fosse conversa de apenas um misógino de um único balcão.

Estas pessoas deviam ter aulas de linguagem corporal, a sério. Ao menos podiam disfarçar a vilipendiação que lhes sai da boca. Como se soassem genuinamente preocupados, em vez de soarem apenas preocupados em humilhar quem se senta à frente deles e só quer boas condições para poder ter o seu próprio teto.

Resumindo e concluindo, os Heróis desta aventura toda são na verdade mulheres. Mulheres que trabalham no Doutor Finanças e na Caixa Geral de Depósitos. Mas hey, o post já está mesmo grande, continuo num próximo! Comentem e partilhem comigo as vossas experiências! Até já :))

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The Intersection of Art and Science with Sofia Teixeira | Nonconventional Show [EP 4] https://branmorrighan.com/2022/03/the-intersection-of-art-and-science-with-sofia-teixeira-nonconventional-show-ep-4.html https://branmorrighan.com/2022/03/the-intersection-of-art-and-science-with-sofia-teixeira-nonconventional-show-ep-4.html#respond Tue, 08 Mar 2022 20:57:45 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25227 Nonconventional

Foi em Setembro de 2021 que aceitei o convite da Ela Crain para participar no seu maravilhoso projecto Nonconventional – https://www.nonconventional.show/. Desloquei-me a Cascais e, confesso, não estava à espera de ser algo filmado. A minha sorte é que conhecia parte da equipa e eles acabaram por me dar um conforto adicional. A verdade é que Ela é uma anfitriã tão magnífica que eu, que tenho jeito zero para câmaras e que fico sempre extremamente nervosa em entrevistas, acabei por conseguir relaxar e ter uma conversa bastante agradável.

Falámos de assuntos tão importantes e tão queridos como parte da investigação que fiz relacionadas com ideação suicida, como a minha prática espiritual e de yoga, e ainda do ser mulher no mundo académico e de alguns assuntos de género. Longe de ser uma especialista em qualquer um destes assuntos, a verdade é que o que disse, disse de forma sincera e perdoem-me se ainda não tenho o vocabulário completo para falar de tudo. Ah! Falo também do que confessei num post anterior sobre Saúde Mental.

O episódio saiu precisamente quando estava prestes a ser operada. Provavelmente se a conversa tivesse sido já em 2022 ou em algumas destas semanas, muito mais haveria a dizer. Deixo-vos com o vídeo no youtube, ou se preferirem apenas ouvir (eu pessoalmente ouço mais podcasts do que vejo) fica também o leitor do Spotify.

Se quiserem deixem nos comentários os vossos pensamentos. Gostava muito de saber o que pensam dos assuntos abordados e se gostaram. E, não se esqueçam, sejam sempre Nonconventional! 🙂

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