Entrevistas Musicais – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Sat, 09 Jan 2021 19:12:47 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.9 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Entrevistas Musicais – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 A Divisão Do Poder – Entrevista a Sérgio Godinho por João Morales https://branmorrighan.com/2019/05/entrevista-sergio-godinho-divisao-do.html https://branmorrighan.com/2019/05/entrevista-sergio-godinho-divisao-do.html#respond Sat, 11 May 2019 15:18:00 +0000

A DIVISÃO DO PODER

Chama-se Estocolmo, o novo romance de Sérgio Godinho e é protagonizado por uma dupla de personagens, Diana e Vicente. Com uma divisão da casa por cenário quase exclusivo, uma relação de poder, embora nem sempre a mais evidente.

Por João Morales

No início deste livro, o Vicente procura um quarto para alugar, que encontra em casa de Diana. O início é bem dos nossos dias…

Sim, é um início banal… entre quartos de estudantes, airbnb e alojamento local… é dos nossos dias, sim. Aliás, todo o início e o envolvimento deles é, propositadamente, banal.

Fui buscar isto porque quando se tratava de debater os teus primeiros discos, salientavas sempre que não eram panfletários, o que não invalida uma abordagem a questões sociais ou ideológicas. Podemos esperar o mesmo nos teus livros?

Não tenho esse propósito, à partida, aquilo que tenho escrito não entra muito no campo da política… quando eu falava nessa questão em relação às canções, é porque sempre tive géneros misturados, uma paleta vasta de estilos.

Essa questão está arrumada, então. Nesta narrativa, muito rapidamente nos damos conta duma atracção entre Diana e Vicente. Ela prende-o num quarto e pretende fazer dele uma espécie de amante privativo, mas privado do resto do mundo.

Não é bem nas primeiras páginas, antes disso eles envolvem-se… ela conta-lhe uma história que teria corrido mal, com um antigo namorado… até porque há todo um tempo de felicidade efémera que ele julga de grande liberdade…

E ela evoca até a homónima Deusa da Caça, Diana. Na mesma página encontramos referência Vénus e a Adónis… porquê este sublinhar das figuras clássicas naquele momento?

Essa figura da Deusa da Caça vai servir mais tarde de atractivo real… a Mitologia ensina-nos muita coisa… é impressionante o que há ali…

Há uma passagem, precisamente quando Diana lhe conta a tal história que referias, “estava a ficar realmente ciumenta. Um pouco a louca da casa. É isso que faz a imaginação, é perigosa, enlouquece-nos”. Há aqui uma forte piscadela de olho à Rosa Montero.

Exactamente, é um livro muito conhecido da Rosa Montero, A Louca da Casa, um livro riquíssimo que eu adoro. No livro ela refere que a Santa Teresa D’Ávila é “a louca da casa”, uma referência directa.

Por outro lado esta parte, a imaginação ser perigosa recordou-me o Goya, e a sua frase “o sono da razão produz monstros”…

Pode ser as duas coisas, a imaginação leva-nos muitas vezes a excessos terríveis se não sabemos jogar com ela. Não é por acaso que as drogas psicadélicas, com a alteração da consciência, nos podem levar para sítios perigosos. E isto não é uma crítica, é uma constatação.

No caso da Diana, ela é extremamente compulsiva e, a par com a imaginação, tem um lago possessivo que ela própria firma que não consegue controlar. Antes o fechar, de o raptar, ela diz “vai ter que ser”. Ela sabe que não está bem, mas tem de ser…

Parece a fábula do escorpião…

Sim, isso mesmo, é da sua natureza!

Diana é uma figura pública, uma estrela da informação televisiva. Mas ela própria protagoniza toda uma vida ocultada. A sua personagem também é simbólica nesses aspecto, uma mulher que divulga segredos e oculta tantos?

Eu achei piada jogar com uma figura pública, porque quando vemos uma pessoa credível, passa-nos uma certa seriedade, mas não sabemos exactamente o que está por trás daquela pessoa. Dá-nos uma impressão – que pode ser falsa – de que aquela pessoa é confiável. Por exemplo, as redes sociais: uma das razões invocadas por quem as usa, é dar uma outra faceta das figuras públicas. Vai de férias, envia fotos das férias, “é o meu verdadeiro eu…”. Não, é aquilo que tu escolhes mostrar e só aquilo que tu escolhes mostrar. Muitas vezes há arrependimentos, mas não se consegue apagar… é uma caixa de Pandora.

Ao Vicente, além do sexo, que com Diana vive de uma forma que nunca tinha vivido, mais intensa, fascina-o também estar na intimidade daquela mulher, que já conhecia enquanto figura pública. Muitas vezes quando estou na rua, há pessoas que me dizem, “eu conheço-o, vejo-o muitas vezes na televisão, o senhor é que não me conhece a mim”. E eu penso: “também não me conheces!”.

Fotografia Tiago Figueiredo

Nessa fase de cativeiro, com um regresso em dias sucessivos, com a promessa de uma libertação adiada, surge uma frase dita por ele, “tomorrow, darling, tomorrow”. Quase nos faz pensar em Sherazade, de forma distorcida. O controlo sobre o final da história começa a passar para o recluso?

Muito efemeramente, porque ele precisa de mais ajuda para se libertar… ele está nas mãos dela. O tema deste livro acaba por ser a dependência, o título evoca o Síndrome de Estocolmo… ele pergunta-se porque não se consegue libertar dela. Muitas vezes, ele sabe que ela não fechou a porta à chave, mas não consegue sair. Estes laços invisíveis, de que eu também falo, e que surgem tantas vezes nas relações, são grades, ou laços, ou cordas, que não se vêem, mas que existem e, muitas vezes, prolongam situações que são até conotáveis com a violência doméstica.

A dada altura ela diz: “Agora beija-me. Não sou eu que te beijo, atenção, és tu que me beijas”. Diana só concebe o amor numa equação de poder, mesmo que não seja ela a comandar?

Porque é ela que está a dar esse poder ao outro.

Logo nas primeiras páginas, lemos: “e ele nem pensava em desconfiar”. Já no romance anterior, Coração mais que perfeito, encontrávamos “mal elas sabiam”; “mal ela sabia” ou “nem eles sabiam”. Porque sublinhas a omnisciência do narrador?

É precisamente isso. Apesar de tudo, o narrador (e o leitor) sabem um bocadinho mais da história do que, pelo menos, uma das personagens. Acho interessante dar algumas pistas. Nas primeiras páginas, há três ou quatro sinais, uns dados pelo narrador, outros pela própria personagem. De certa forma, a Diana também tem necessidade, de uma maneira bastante perversa, que ele perceba o que lhe vai acontecer. Assim como tem necessidade, mais tarde, de contar para o exterior o que se está a passar. É o mesmo processo quer fez com ele, quando lhe contou a história, de forma diferida. E é por isso que ela se disfarça de outra pessoa…

Essa questão do teatro, uma postura teatral mesmo que assumida. Diana dizendo-se Scarlett Johansson, ou semelhante… já no romance anterior havia o delírio do palco, o Artur, um actor que perde a noção dos limites da representação… o que te interessa nesta relação quase doentia com o acto de representar para lá dos limites?

Não foi por acaso que escolhi então um actor. Sim… há uma espécie de over acting… no actor há uma espécie de encarnar pessoas que são diferentes de ti. É uma coisa que, se não for controlada, pode descambar. No Coração mais que Perfeito, o romance anterior, o Artur, uma das personagens principais, está a fazer uma peça a começa a transpô-la para sua pessoa. Inspirei-me um bocadinho no Quem tem Medo de Virginia Woolf?, que é paradigmático.

No fundo, remetendo à fonte, é um bocado a essência da ficção narrativa, daí eu também me pôr na pele de personagens que criei. Trata-se disso, criar pessoas que são diferentes de ti e, a certa altura, funcionares com elas como se fosse pessoas reais. Perseguir as personagens, ver como elas se estão a comportar e o que elas nos perguntam. Pode parecer um cliché literário, mas é real.

Tu começaste a escrever este livro, interrompeste para gravar o disco Nação Valente e regressaste a ele. O que encontraste na mesma e o que tinha mudado?

Enxuguei um bocado a narrativa e achei que havia uma certa confusão, no que respeita às palavras explícitas que as personagens podem dizer, mas que a narrativa não pode dizer. Era um bocadinho óbvio de mais, a questão dos palavrões e de coisas mais explícitas. Por outro lado, a personagem da mãe, que é a terceira personagem e é muito importante… achei que ela estava demasiado conivente com a filha. Ela começa por estar conivente… é uma personagem arriscada, uma mulher de 60 anos, um rapaz de 20…

A Diana foi educada com uma grande cumplicidade com a mãe e achei isso mais interessante. Ela diz bem da mãe, tal como dizia bem do pai… há uma cumplicidade interessante que dá ainda mais ambiguidade à situação.

Não deixa de ser curioso: se, para a filha, o sexo era a marca da prisão, para a mãe acaba por se identificar com a liberdade.

Sim, um outro tema do livro acaba por ser a Liberdade e os conceitos em torno da liberdade. A mãe da Diana acaba por sentir que tem de dar a liberdade… mas depois há ali uma volta…

Como se diz hoje: nada de spoilers! Também neste livro, à semelhança do anterior, arriscas algumas cenas de sexo. É difícil escrever sobre sexo?

É sempre um terreno minado e convém não pisar uma mina. E as minas, temos de as farejar. Ou as trufas, como os porcos. Não tenho de escrever sobre isso em todos os textos, mas em alguns surge… faz parte da vida. O que penso que é que há passagens que só fazem sentido em discurso directo, têm que ver com uma noção de intimidade. A questão do bom gosto ou mau gosto, isso já é mais subjectivo, depende também das pessoas que lêem.

O livro começa com uma frase que surge repetida na pág. 89, com a diferença que da primeira vez é uma frase declarativa e da segunda, uma interrogativa: “basta querer, e há sempre muita história para contar”. De onde surge o ponto de interrogação da segunda versão?

Porque esta segunda versão da frase inicia um naco de prosa com uma descrição do quotidiano dele, aparentemente banal. Esta descrição é um bocado entrarmos na segunda parte em que ele se vai dado conta que, se não fosse a clausura, quase podia passar por um quotidiano banal… só que há esse twist…

Há pouco referias-te ao Vicente referindo “quando ele se torna cativo”. Também já concordámos que ela estaria, de alguma forma, cativa, não diria dos seus vícios, mas das suas opções. Será que o Vicente poderia referir-se a esta senhora, citando Camões, como “aquela cativa que me tem cativo”?

Eu cheguei a ter essa frase nas primeiras versões do livro, mas depois achei que era demasiado, até porque eu canto essa canção muitas vezes, “Endechas a Bárbara Escrava” o poema do Camões com a música do Zeca Afonso. Mas, sim, esse duplo cativeiro também é um dos temas do livro.

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Sal Grosso apresenta-se com “Lets all just go wild and put our hands in the air a bit” https://branmorrighan.com/2018/10/sal-grosso-apresenta-se-com-lets-all.html https://branmorrighan.com/2018/10/sal-grosso-apresenta-se-com-lets-all.html#respond Wed, 10 Oct 2018 17:55:00 +0000

Sal Grosso pode ser um nome que não vos diga muito mais do que a ideia do sal de cozinha, mas se vos falar em António M. Silva, uma das pessoas mais pro-activas e dinâmicas da música independente em Portugal, com ligação de destaque à ZigurArtists e ao ZigurFest, de certeza que se vos faz alguma luz. É que ambos são o mesmo. Esta não é a sua estreia em termos de produção musical, pois integra o colectivo veabis&tubbhead, mas Sal Grosso é a sua contribuição a solo e cujo disco de estreia já se encontra disponível. 

Chama-se “Lets all just go wild and put our hands in the air a bit” e é precisamente esse caminho que vamos percorrendo ao longo das seis faixas do mesmo. Editado pela recém-fundada combustão lenta records, estamos perante um artefacto musical que nos faz mergulhar numa espécie de piscina primordial. 

Gravado em casa entre o inverno de 2017 e o verão de 2018, este disco vive nos (e dos) territórios comuns ao ambient, noise e minimalismo, e é fruto de uma série de experiências sonoras a partir de teclados obsoletos, máquinas ruidosas e vários pedais e processadores de efeitos. Captado originalmente em casa, retrabalhado no Desterro por André Teixeira e misturado por Ricardo Cabral e José Miguel Silva no Quarto Escuro (Porto), “Lets all just go wild and put our hands in a bit” está também disponível numa edição limitada de 25 cassetes.


Por entre o minimalismo e as distorções, o desafio é precisamente libertarmo-nos das amarras para nos unirmos às diversas frequências, sem resistência e sem julgamento. Enquanto ouvia o disco lembrava-me dos meus professores de yoga e como por vezes devemos deixar-nos estar a respirar, a deixar os nossos pensamentos circularem à vontade, sem julgamento, mantendo-nos apenas como observadores. O nome do disco acaba por nos remeter para uma situação semelhante, mas em que para além de observadores somos parte do todo, primitivo, selvagem, livre.

Mas chega de mim a sonhar acordada. Curiosa com este projecto, desafiei Sal Grosso a responder a quatro pequenas perguntas para conhecermos melhor este disco e o projecto. Obrigada, António!

O que é que motiva o aparecimento do projecto Sal Grosso?

Sal Grosso surge na sequência de uma residência artística desenvolvida com veabis&tubbhead (colectivo informal que existe sem periodicidade definida no tempo) durante o Museum Festum de 2017. Foi uma experiência muito interessante, onde pude aprender de perto com pessoas que são influências enormes para mim, e que acabou por me levar a encontrar uma linguagem com a qual me senti confortável e que me deixou a querer fazer algo sozinho – fora de um contexto colectivo, que me obrigasse a explorar novos sons e processos de criação. Não sou músico, nem tenho formação, por isso foram precisas algumas semanas de experiências caseiras, até ter umas gravações muito precárias de onde acabei por cortar 5 minutos que me entusiasmaram para continuar – mas nunca com um objectivo claro.

No bandcamp falas no recurso ao lo-fi em termos de uso de instrumentos. Porquê essa opção?

A questão do lo-fi é principalmente técnica, embora seja uma corrente estética com que me identifico muito e que mantenho em v&t. Mas de volta à questão: as gravações que compõe o “Lets all just go wild” são todas analógicas, feitas com recurso a um órgão e vários processadores de efeitos e microfones de contacto. Todo este equipamento já teve bastante uso até chegar a mim, e isso dá-lhes um perfil sonoro bastante distinto – todos os ruídos, distorções ou erros são únicos destes instrumentos. Gosto de pensar que há uma espécie de “fantasmas” a pairar sobre cada instrumento e que de alguma forma ajudam a influenciar a forma como uso determinado instrumento e, mais importante, como é que vai tudo soar no fim. Interessa-me bastante que as peças deste disco funcionem como um organismo: vivo, imperfeito e em constante mutação. Somando a tudo isto uma falta de conhecimentos técnicos para a gravação do disco – e que me obrigaram a recaptar tudo duas vezes em vários suportes diferentes até conseguir o som que queria -, acabei por chegar a este “lo-fi”. Estou muito feliz com o resultado, porque nunca pensei que pudesse registar este processo em boas condições, e só posso agradecer ao André Teixeira, ao Ricardo Cabral e ao José Miguel Silva por toda a ajuda.

Associado ao experimentalismo, existe algum lado emocional ou paisagístico mais específico com que os temas foram criados?

Alguns dos temas que acabaram por chegar ao disco foram efectivamente compostos sob alguma influência externa e sobre o que eu estava a sentir naquela altura – a melancolia e a nostalgia talvez sejam as emoções mais fortes, a ligação a Lamego e às pessoas que me rodeiam também – mas o que eu queria realmente quando terminei as gravações era que este fosse um disco feliz. Eu sei que a ideia de ficar feliz com um disco meio noise e mal tocado é estranha, mas gosto de pensar que este disco é mais do que uma experiencia egoista – é feito de tanta gente e tantas experiências que acho que acaba por ter um pouco disso tudo também. É que verdade que, em retrospectiva, ouço e vejo ali muitas influências (musicais, emocionais e não só), mas não posso dizer que tenha sido tudo consciente. Prefiro que estes temas se mantenham abertos na sua interpretação para que cada um veja e ouça o que quiser nesta música.

De que sonhos vive Sal Grosso?

De poder tocar mais e mais alto e de fechar o segundo disco o mais breve possível. Mas também de que o mundo possa ser um lugar mais solidário, mais compreensivo e mais empático, e de que as pessoas olhem cada vez mais umas pelas outras – precisamos de mais motivos para pôr as mãos no ar, nem que seja só um bocadinho. 

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Entrevista à organização do “Festival A Porta” https://branmorrighan.com/2018/06/entrevista-organizacao-do-festival-porta.html https://branmorrighan.com/2018/06/entrevista-organizacao-do-festival-porta.html#respond Wed, 20 Jun 2018 12:50:00 +0000

Está a decorrer, desde 16 de Junho, o magnífico Festiva A Porta em Leiria, que cruza diferentes artes e faixas etárias. Dado o seu dinamismo, tornou-se imperativo saber um pouco mais sobre a iniciativa que faz Leiria ferver de actividade, alegria e deslumbramento durante estes dias. As respostas à entrevista são da Ana João, uma das directoras artísticas do festival em conjunto com Gui Garrido, Lara Portela e o colectivo Meia Dúzia e Meia de Gatos Pingados.

Como é que surge o “Festival A Porta”? 

O festival A Porta surge da vontade de criar sinergias entre pessoas e associações que  sonham com uma Leiria diferente, com as suas portas mais abertas à arte e às pessoas. É um festival que quer abrir ao público espaços nunca antes navegados, revitalizar zonas da cidade esquecidas, incentivar a criação artística contemporânea, nas suas múltiplas disciplinas e expressões, e mostrar o que de melhor se faz na cidade, com a cidade. Leiria está cheia de gente ávida de arte e energia transformadora, que quer proteger e ao mesmo tempo potenciar o seu património cultural. É esta gente que abre A Porta aos leirienses e ao mundo.

Sendo um festival tão interdisciplinar que logística e apoios é que este requer? Tem sido fácil consegui-los? 

Requer a força de vontade de Meia Dúzia e Meia de Gatos Pingados (o coletivo que organiza o Festival), muito profissionalismo e fortes parcerias entre todos os agentes envolvidos. Ao fim de 4 anos, o festival já consegue envolver um número considerável de recursos humanos e materiais. No entanto, o financiamento e a disponibilidade da equipa de produção ainda não são suficientes.

De que forma é que o festival tem contribuído para a exposição de todo o trabalho artístico e educativo que é feito em Leiria? 

Para além de um Serviço Educativo, que este ano leva cerca de 500 alunos do 1º ciclo e 200 utentes de IPSS’s a visitar e experimentar a Casa Plástica, e que dinamiza uma série de Oficinas/workshops infantojuvenis de caráter multidisciplinar e intergeracional, o festival tem tem vindo a criar soluções concertadas e criativas para poder conquistar o público e mostrar-lhe o trabalho de artistas emergentes e em franca expansão.

A parte musical é, à primeira vista, a que chama mais à atenção. Quais é que são as vossas preocupações em termos das bandas que convidam e do tipo de concertos que darão?

A música no Festival A Porta privilegia 3 eixos: mostrar a música que se faz em Leiria e desafiar os artistas da cidade a novas experimentações, projetos e encontros; criar uma janela para a emergência da nova música portuguesa e internacional; e proporcionar festa, animação cativando um público diverso e inter-geracional com propostas para todas as idades. A região de Leiria é representada neste festival por First Breath After Coma, Nice Weather for Ducks, Koyaanisqatsi, Carollyne, Churky, 001, Coringas. A música internacional traz propostas dos Estados Unidos da América – Emperor X, Holanda- Blue Crime ou Espanha – Mohama Saz, e Portugal vibrante vem com nomes como Conan Osiris, Memória de Peixe, Filho da Mãe ou Primeira Dama. Finalmente e para todos, há Bonga. Artista sem tempo, do mundo, o grande guardião da festa nesta edição da Porta.

A maior parte dos concertos são gratuitos. O festival ainda assim consegue ser sustentável? 

Garantir a sustentabilidade do festival é um trabalho infinito que é repensado a cada nova edição. Só 3 dos cerca de 30 concertos são pagos, e isso já é um dado novo em relação a edições anteriores. À medida da definição de cada cartaz, e do projeto de cada ano vamos entendendo também as necessidades e nos ajustando ao que o festival se vai tornando. Para já, e com a expansão do festival urge profissionalizar esta estrutura, garantir-lhe condições de trabalho e possibilitar que A Porta se abra o ano todo, além desta semana de intensidade.

Fora a música temos ainda ofertas culturais como a Casa Plástica, a Portinha, os Jantares Temáticos e 1001 Portas. Ou seja, temos actividades para todos os gostos e feitios, dos mais pequeninos aos mais velhos. Conseguem dar uma espécie de sugestão de itinerário para uma experiência completa num dia no Festival? Ou seja, como seria um dia ideal no Festival A Porta?

Todos os dias são muito diferentes uns dos outros, sendo muito difícil para nós escolher apenas um deles. O ideal seria começar por ir tomar o pequeno-almoço numa esplanada da Praça Rodrigues Lobo e, com calma, estudar o desdobrável do festival. Logo descobriria que existem 4 noites de concertos pela frente, impossíveis de rejeitar. O primeiro, dos First Breath After Coma e convidados, na bela Villa Portela; o segundo, com os Dead Combo no Teatro José Lúcio da Silva. Sexta e Sábado, no Jardim Luís de Camões, com Nice Weather For Ducks e Bonga!!! Mas nem só da noite se faz este festival. No sábado, 23, o coração bate mais forte na Rua Direita e suas transversais. De manhã aconselha-se um bom passeio para conhecer os 70 corajosos que aceitaram juntar-se à Feira Bandida para mostrar as suas artes e antiguidades. Os mais novos poderão participar ao longo do dia numa das oficinas da Portinha previstas onde poderão fazer pão colorido,  um filme de animação, um tapete em tecelagem vegetal e muito mais. Aí por volta das 14h, poderia experimentar o passeio das artes e ir conhecer a Casa Plástica e as propostas de 21 artistas plásticos em exposição. De volta à Rua Direita, é deixar-se levar pela maré e ir assistindo à magia do momento que durante uma horas transforma aquele espaço numa dimensão intemporal, com concertos e 1001 portas a abrir. No domingo, para descomprimir e assimilar uma semana intensa de coisas boas, levariamos a manta até ao parque do avião, um cesto recheado para um piquenique partilhado entre família e amigos, e ainda alguma vontade para passear de canoa ou paddle pelo rio, dançar ao som dos G Combo, fazer uma cãominhada, pintar uma porta, ou simplesmente deitar de barriga para o ar, fechar os olhos, e sentir o prazer de ali estar.


Mais informações sobre o festival: http://www.branmorrighan.com/2018/06/destaque-festival-porta-de-16-24-junho.html

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Entrevista: O regresso punk dos D’Alva com “Verdade sem Consequência” https://branmorrighan.com/2018/05/entrevista-o-regresso-punk-dos-dalva.html https://branmorrighan.com/2018/05/entrevista-o-regresso-punk-dos-dalva.html#respond Mon, 28 May 2018 13:58:00 +0000 Fotografia Jorge Oliveira

Entrevista originalmente publicada no SAPO Mag: https://mag.sapo.pt/showbiz/artigos/entrevista-o-regresso-punk-dos-dalva-com-verdade-sem-consequencia

Os D’Alva estão de volta com novo single/vídeo – “Verdade Sem Consequência”. Lançado na passada Sexta-feira, na mesma tarde sentámo-nos com eles, Alex D’Alva Teixeira e Ben Monteiro, para falarmos um pouco sobre o tema, o vídeo e também sobre o interlúdio que houve entre o disco passado e o próximo disco que estará disponível nas lojas a 12 de Outubro. 

Passaram quatro anos desde o disco de estreia dos D’Alva “#batequebate” que obteve um enorme sucesso. Que razões levaram a que demorasse tanto tempo até termos notícias de um disco novo?

Nós também tivemos que esperar (risos). Demorou porque nós também tivemos que perceber o que é que íamos fazer a seguir enquanto D’Alva, em relação ao novo álbum e em relação à identidade da banda.

Se calhar no primeiro ano estávamos tranquilos, mas depois foi sempre em crescendo e ficámos expostos a mais realidades diferentes dentro do que é a música. De repente sentíamos que podíamos ir por aqui, mas também podemos ir por ali., etc. E houve uma altura, há dois anos atrás, quando queríamos começar o novo disco, em que não sabíamos se havíamos de ir para a esquerda ou para a direita. Até mesmo a nível das letras não sabíamos o que queríamos dizer às pessoas. Não íamos fazer músicas sobre nada.

Eu [Ben] li uma entrevista do Billy Corgan, os Smashing Pumpkins estão a gravar outra vez, em que ele diz que é frequente acontecer o primeiro disco ser muito fixe e depois daí para a frente ser sobre andar na estrada, estar com saudades ou ir embora. E nós não queremos fazer isso. (risos) Foi preciso viver um bocado, viajar… Não somos as pessoas que éramos há quatro anos.

Entretanto, também fomos convidados a escrever para outras pessoas que fazem música completamente diferente da nossa. E nós sempre fomos uma banda que nunca tivemos medo de experimentar e conseguimos fazer muita coisa diferente. O facto de trabalharmos com artistas mais pop fez-nos sentir que podíamos fazer música mais experimental e exploratória com os D’Alva.

Houve alturas em que estávamos a gravar e é fixe a sensação do vale tudo e não “isto tem de ser assim para passar na rádio ou para aquela pessoa gostar”. É fixe não haver a pressão de cumprir regras. D’Alva é quem nós somos. Acima de tudo foi bom perceber que isto é D’Alva, é o que eu e o Ben trazemos para cima da mesa. Se fosse o Ben com outra pessoa ia soar completamente diferente. Foi o lado mais gratificante deste processo todo. Perceber que isto é uma banda e que tem um som muito próprio. Ouvir outras coisas e perceber que nada soa como D’Alva (risos).

Verdade Sem Consequência é um tema muito diferente do que já ouvimos dos D’Alva. Foi também este processo de espera que vos tornou mais seguros e confiantes de forma a lançarem-no como carta de apresentação do próximo disco?

Sim, o termos escolhido esta ser a primeira coisa que as pessoas ouvem é a prova disso. Podíamos ter começado com coisas mais seguras. Sabemos que foi arriscado porque é diferente daquilo que fizemos para trás e é arriscado porque não é uma música de rádio. Mas esta música dá-nos um grande feeling.

O que é que vos motivou a compô-la?

A primeira versão, a primeira maquete, apareceu há quase dois anos e foi por causa da internet. Aconteceu qualquer coisa no Facebook. O Ben escreveu qualquer coisa e alguém interpretou mal e isso motivou-me a escrever a canção. Enviei-lhe a música logo a seguir e ele sentiu qualquer coisa quando a ouviu. Podes [Ben] ser mais detalhado (risos).

Ben – Eu penso que senti [em relação à música] o que toda a gente sente agora: isto é um bocado desconfortável, mas ao mesmo tempo… Se calhar porque choca exactamente com a imagem que as pessoas têm de nós ou com o que podemos fazer. Eu senti isso, havia qualquer coisarough nela e que nos apeteceu não polir. Há ali coisas que estão desde a primeira maquete.

Todas as canções que temos estado a trabalhar eram boas canções individualmente. Pela primeira vez tivemos canções que ficaram de fora. Foi perceber quais eram as canções que conseguiam conviver no mesmo espaço. Mais do que sonicamente, o que está a ser dito. Esta [Verdade sem Consequência] foi a primeira. Depois foi revisitada para ficar mais bem contextualizada.

Há dois anos atrás foi quando começou esta cena toda do Trump ser eleito – “Ah não, não vai ser nada”. Depois é [eleito] e existem todas estas falsas notícias e factos alternativos… Começámos a perceber que já não dá para confiar. O Facebook, por exemplo, que é uma das praças onde habitamos agora e comunicamos, não dá para confiar porque há uma lente automática e essa lente é diferente de pessoa para pessoa.

Será o tema então uma espécie de crítica ao que se lê e se julga tão levemente nas redes sociais?

Também pode ser por aí e até com a ideia da pós-verdade. Mas há mais coisas. O refrão é o grosso do que estamos a dizer e também foi revisitado. Lá está, há uma série de sintomas que todos começámos a sentir e no início não encontras as palavras certas. Agora no fim ficou mais focada. Percebemos que para esta música dizer tudo aquilo que queríamos dizer tinha de ficar gigante (risos) e decidimos “porque não dividir e irmos dizendo noutras canções aquilo que queremos dizer?”. Ou seja, este é o pontapé na porta, para arrombar (risos), e é o pontapé de saída para o nossomindset quando estávamos a fazer o disco. Esta música foi a primeira e aquela sensação desconfortável que eu senti inicialmente quando a recebi não quis que desaparecesse. Fizemos por mantê-la e acho ainda que está lá.

Em que é que estavam a pensar quando, no vosso vídeo, fizeram o plano da destruição da muralha de caixas?

Cada um de nós tinha ideias claras do que queria passar.

Alex – Para mim há várias questões. A muralha é feita de caixas e há aquela ideia de arrumares as tuas ideias em caixinhas. Por um lado, estamos a desfazer isso tudo. Mas até há também um lado político: em vez de ser “build that wall” é “break that wall”.

Ben – Havia a ideia de estarmos a tocar em frente a uma parede e essa parede ser feita de caixas onde cabem coisas. Nós organizamos em caixinhas diferentes as ideias que temos de tudo e de todos. Lembro-me de estarmos a gravar e de o Bruno (que tinha chegado no próprio dia) estar a fazer de assistente de realização e de perguntar, mas sabes como é que isto vai acabar? Porque tínhamos de gravar tudo num só plano. E eu disse, claro que sim, vamos partir tudo (risos).

A ideia era fazer um vídeo rápido, simples, barato, mas que não seja só a banda a tocar. Isso ninguém quer ver. Nós queríamos ter o elemento de tocar instrumentos, esta música pedia isso, mas queríamos dizer algo mais e surgiu a ideia das caixas.

Fotografia Jorge Oliveira

Apesar do tema misturar punk, rock e hip-hop, na comunicação do single é-nos dito que este não é o carimbo sonoro do disco. Mas então temos um carimbo em termos de narrativa? (ao contrário do último disco)

A nível sonoro não é, de todo. Em relação à narrativa, no último disco nenhuma canção era igual à outra. As pessoas puseram-nos no “D’Alva é isto”. Neste disco acontece mais ou menos a mesma coisa. Cada canção tem o seu universo, mas ao mesmo tempo todas estão na mesma dimensão. Há temas que de uma forma ou outra são recorrentes. Mas não são necessariamente uma crítica, expõem uma coisa que acho que está às claras.

Nós quisemos continuar a fazer pop sem soarmos muito pretensiosos. Mas o que nós fazemos também é arte. E o artista tem esse lado de arauto de pegar no oxigénio que está toda a gente a respirar e torná-lo em algo sólido. Pode ser uma escultura, o que for. Penso que acabámos por fazer um bocado isso com esta canção.

Acima de tudo havia uma intenção de não querermos ter certezas ou ditar uma verdade preto no branco. O disco é um bocado isso, descobrir que as coisas não são preto no branco e queríamos fazer canções que nos levantassem questões. “Verdade Sem Consequência” é uma música que coloca questões nos seus próprios versos.

O disco também é um bocado dores de crescimento. É um bocado clichê, mas acho quando ouvirem o resto das canções podem tirar as vossas ilações.

Consideram que neste caminho pop têm de alguma maneira quebrado toda uma série de preconceitos? Ou seja, apesar de todas as sonoridades e temas diferentes que têm explorado, ainda assim mostram uma grande consistência.

É difícil fazer isso. É um exercício complicado, criar uma coerência quando misturas tantos géneros ou até mesmo décadas diferentes da música. Mas às vezes eu [Alex] sinto que estamos numa posição ingrata em que às vezes não somos nem uma banda pop, nem uma banda alternativa ou eletrónica. Depende sempre da óptica de quem ouve. Consegue ser esquisito. Quando perguntam qual é o género dos D’Alva, porque há imensa gente que não nos conhece, nunca sabemos bem o que responder. (risos). Dizemos que é pop esquisita ou alternativa pop (risos).

Acham que beneficiavam em ter um género específico atribuído?

Nós sabotámos o caminho para nós mesmos logo no primeiro disco. Foi “vamos fazer isto com todas as cores que conseguirmos meter aqui”, precisamente porque se amanhã quiséssemos ir só para as cores quentes íamos para as cores quentes ou se quiséssemos ir para as cores frias íamos para as cores frias.

É nos concertos ao vivo que as pessoas melhor possam aperceber-se da verdadeira essência de D’Alva?

Sem dúvida. Nós pensamos na versão ao vivo como a experiência no seu todo. Quando estás em casa queres ouvir outros pormenores. Num festival queres sentir outras coisas.

E por falar em festivais, vem aí o NOS Alive e vocês vão actuar lá. Que novidades vamos ter?

Não vamos tocar o disco todo, não temos tempo de set para isso tudo, e também queremos tocar outras canções que as pessoas já conhecem. Vai dar para se ter uma noção do Lado A do próximo disco. (risos)

Mais alguma coisa que possam desvendar sobre o disco?

(risos)Temos algumas participações especiais, mas não fomos buscar as pessoas mega famosas da música portuguesa. Estamos tristes porque ainda não é desta que temos uma música escrita pelo [Samuel] Úria, mas não houve tempo. Resumindo: vamos ao Alive e há cenas novas antes do Alive. Como o Alive esgotou não há problema em dizer (risos) que vamos dar um concerto grátis no Arraial de Benfica no dia 22 de Junho.

Fotografia Jorge Oliveira

Já que o nosso pano de fundo é a Feira do Livro de Lisboa, este disco conta com alguma referência literária?

Ben – Quando eu fui de férias li um livro muito pequenino. Fui visitar um amigo meu, que é psicanalista, e ele apanhou assim o bolo de onde é que eu estava e de onde é que D’Alva estava e comprou-me este livro muito pequenino de Freud, que se chama “O Mau Estar na Sociedade”. O livro é de 1930 e há coisas que se calhar fazem mais sentido agora do que faziam na altura. E durante este tempo todo eu ia dando umas mordidas no livro. Aliás, durante este disco todo nós vimos, ouvimos e lemos muita coisa. Chegámos a parar o que estávamos a fazer só para ver um vídeo ou ler só sobre um autor ou uma disciplina, um conceito qualquer. Nesta música [Verdade sem Consequência] temos “se a verdade é dissonante” que está relacionada com a dissonância cognitiva. E quisemos de em vez de estar só a escrever perceber mesmo o que é que isto é, de onde é que vem e como é que isto se aplica. Voltando ao livro, é muito pequeno, mas tive que voltar atrás muitas vezes e acompanhou-me ao longo deste processo.

Resumindo e concluindo, “Verdade Sem Consequência” pode ser considerado um regresso punk, no que toca à atitude, dos D’Alva?

Isso tem piada, mas sim. Mas a nossa atitude sempre foi um bocado punk. Até a Frescobol tinha atitude punk. Naquela altura fazeres uma canção como a Frescobol e dizeres que gostamos mesmo de Pop e é o que queremos fazer, enquanto toda a gente acha que és o maior hipster da aldeia… (risos) O que é que há mais punk do que isso? É esticar o dedo do meio e fazer o que nos apetece. Seja pop ou não. Nós estamos satisfeitos com esta canção e estamos satisfeitos com o que dizemos nesta canção. Estamos super contentes com esta música e se calhar pode ser mesmo um dedo do meio levantado se calhar até para nós (risos), para ideia que tínhamos de nós mesmos, pois não queremos ofender ninguém. Mas há uma coisa interessante, pela reacção das pessoas nestas horas, há pessoas em que a música é para elas e elas não estão a perceber e partilham a dizem que é fixe. Pessoas diferentes interpretam aquilo de maneira diferente. A primeira frase do primeiro verso – “Não sentes que há algo de errado (oh não) / Quando tudo bate certo, e sentes a verdade perto / Mas nada corre como esperas?” – há pessoas em que isto é a vida delas. Nada corre bem, mas continuam na mesma cena. Se calhar isto interiorizado vai promover algum tipo de mudança. Nós conseguimos dizer aquilo que queríamos com esta música e o que não conseguimos dizer há-de estar no resto do disco. 

Mais sobre “Verdade Sem Consequência”

http://www.branmorrighan.com/2018/05/destaque-dalva-regressam-com-verdade.html

Mais sobre os D’Alva no BranMorrighan

http://www.branmorrighan.com/search/label/D%27Alva

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Entrevista a We Bless This Mess sobre “Awareness Songs and Side Stories”, o Novo Disco https://branmorrighan.com/2018/05/entrevista-we-bless-this-mess-sobre.html https://branmorrighan.com/2018/05/entrevista-we-bless-this-mess-sobre.html#respond Thu, 24 May 2018 15:45:00 +0000

Foi já há alguma tempo que tirámos a foto, mas alguma da malta é a mesma e o que é certo é que continuo a adorar todo o espírito do Nelson e de We Bless This Mess. Existe uma humanidade e uma paixão nas suas canções que nos tocam no nosso íntimo, tanto para o lado mais sensível e emocional, como para um lado mais efusivo e vibrante. 

Este ano sai novo disco, “Awareness Songs and Side Stories”, e é o primeiro em formato banda. Como recentemente saiu o primeiro single, Intentions, nada melhor do que uma entrevista de antecipação do disco. Desta vez decidimos fazer algo diferente e o Nelson respondeu às minhas cinco perguntas em vídeo! A edição ficou a cargo de Miguel Costa (https://www.facebook.com/miguelcontempla). Obrigada, Nelson e restante banda! Cá estaremos à espera desse belo disco! 

Podem acompanhar We Bless This Mess nas várias redes sociais:

Facebook – http://www.facebook.com/weblessthismess

Instagram – http://instagram.com/weblessthismess

Ouvir no Spotify 

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Entrevista a TIPO (Salvador Menezes), sobre o seu disco de estreia – Novas Ocupações https://branmorrighan.com/2018/03/entrevista-tipo-salvador-menezes-sobre.html https://branmorrighan.com/2018/03/entrevista-tipo-salvador-menezes-sobre.html#respond Mon, 19 Mar 2018 08:41:00 +0000 Fotografia Caetana Menezes

Já muitos te conhecemos pelos You Can’t Win Charlie Brown, mas agora assumes um novo alter-ego “TIPO”. Antes de mergulharmos em “Novas Ocupações”, disco que sai Sexta-feira, deixa-nos conhecer um pouco melhor o Salvador Menezes, transversal a estes dois projectos. Como é que surge a música na vida? Sei que a tua formação académica é bem diferente. 

A minha mãe sempre incentivou os filhos a ouvir música. Tínhamos várias cassetes do “Cante com a Disney”, outra dos Tiny Toons onde havia duas músicas dos They Might Be Giants (banda que adoro hoje em dia). Também me lembro de uma altura em que via todos os dias o “Jesus Christ Superstar” que tínhamos gravado também em cassete. Só comecei a tocar um instrumento pelos 14 anos, quando o Afonso, o Tomás e eu decidimos fazer uma banda. O Afonso já tocava guitarra e piano, então o primeiro a comprar uma bateria seria o baterista e o outro era o baixista. Fiquei eu o baixista. A partir daí tive várias bandas sempre com eles dois, até chegarmos aos You Can’t Win, Charlie Brown. 

Desde que iniciaste o teu percurso com os You Can’t Win Charlie Brown muito mudou na tua vida pessoal, incluindo teres sido pai. Foram todas estas mudanças que catalisaram a tua vontade de criar um projecto paralelo? 

A principal razão para ter começado TIPO foi por insatisfação pessoal e profissional. Sentia que tinha de fazer qualquer coisa nova para fugir da minha rotina diária.

Quando ouvimos este disco sentimos o seu cariz bastante pessoal que contrasta com o nome “TIPO” que escolheste para o projecto. Foi uma tentativa de te tentares distanciar do mesmo? 

Eu vejo TIPO como um projecto musical em que por acaso sou só eu que faço parte. Há vários exemplos que também o fazem como Nine Inch Nails, Aphex Twin, Atlas Sound ou Bon Iver. Em Portugal temos por exemplo Noiserv, The Legendary Tigerman, Benjamim e Monday. Talvez dê mais distância sim, é um alter ego onde podemos ser outra coisa se quisermos. 

Já com ele gravado há algum tempo, como é que te sentes em relação a este primeiro trabalho? O que é que foi mais importante para ti, explorar sonoridades novas ou apenas dar uma textura às emoções que pretendias expor? 

Ainda não sei bem o que pensar, mesmo tendo o disco pronto há alguns meses falta sair cá para fora. O meu trabalho está feito, fi-lo o melhor que consegui e estou contente com o resultado (uns dias mais que outros). Agora é perceber se há aceitação de quem ouvir a música e esta é a parte que me põe mais ansioso, porque já não depende de mim. Para mim o importante é fazer música, sem entrar em facilitismos ou fórmulas. Tento não repetir ideias que já tive, quer em TIPO ou You Can’t Win, Charlie Brown. Se o fizer é porque já não tenho nada de novo para dizer. 

Que tema te custou mais a compor e porquê?

Os que me custaram mais foram todos os temas que ficaram de fora. Porque não consegui resolvê-los e tive de os pôr de lado. Do álbum talvez tenha sido a “Acção-Reacção”, foi a primeira música que compus para o projecto e era a folha em branco, tudo era possível. Era importante que me desse algumas direcções para onde ir a seguir. 

Novos Ofícios é um tema muito especial. Fala-nos sobre ela e o seu vídeo.

Esta música é a mais pessoal de todo o álbum e tem inspiração numa situação que estava a acontecer a uma pessoa muito próxima na altura em que a escrevi. Fala principalmente sobre a maternidade e tudo o que isso implica na vida de uma mãe, aliada ao facto de estar descontente profissionalmente. O coração que se ouve é da minha filha, na segunda ecografia pedi ao médico para gravar um bocado do batimento cardíaco – a partir dessa pulsação compus toda a canção. A letra surgiu naturalmente. Os som ambiente foi gravado no dia e local onde essa pessoa decidiu demitir-se (eu acompanhei-a). 

Para o vídeo sabia que queria uma ideia simples, de execução rápida e barata. Nos meus dois singles anteriores a vídeo é bastante importante para a música e até pode distrair um bocado. Desta vez queria que a canção brilhasse. Então pedi a máquina emprestada do meu amigo Luís Costa, fui para o telhado de minha casa e filmei.  O som ambiente no vídeo é o captado na altura da filmagem, não é o mesmo do single do álbum. 

Quão importante é para ti a estética visual do disco e dos singles que vais lançando? 

É importante porque dá uma imagem daquilo que a música poderá fazer sentir. A estética visual, se for bem feita e pensada de acordo com o que o single ou o disco significa, ajuda o ouvinte a situar-se no ambiente do álbum. Como por exemplo a capa do “Carrie and Lowell” do Sufjan Stevens, retrata claramente todo o espírito do álbum.  

De Acção-Reacção para Jugoslávia nota-se uma coerência bastante grande. Intencional?

Sabia que queria manter a linguagem conceptual do primeiro vídeo mas adaptada a esta canção. Lembrei-me que podia ser interessante se estivesse virado de cabeça para baixo, mas na filmagem esse factor não fosse imediatamente perceptível. A partir daí era jogar com a gravidade “invertida”. Outra ideia conceptual determinante para o vídeo foi o facto de ser gravado num take único – com todos os defeitos e factores desconhecidos que poderiam advir dessa única tentativa. O resultado foi um vídeo caótico que mostra aquilo que a canção quer transmitir musicalmente e liricamente.

Estando o disco cá fora, já com dois concertos marcados, tens algum objectivo concreto para este trabalho?

O objectivo acho que é sempre o mesmo para todos os projectos de música. Divulgar com vários concertos pelo país e que a música chegue ao maior número de pessoas possível. Depois é compor outro álbum e voltar a fazer o mesmo. Isto em loop até já não fazer sentido.

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Mais sobre TIPO (vídeos, letras e reportagens) no blogue BranMorrighan aqui: http://www.branmorrighan.com/search/label/Tipo

Facebook: https://www.facebook.com/amusicadotipo/

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Entrevista a The Legendary Tigerman: o Início de uma Nova Etapa com MISFIT https://branmorrighan.com/2018/02/entrevista-the-legendary-tigerman-o.html https://branmorrighan.com/2018/02/entrevista-the-legendary-tigerman-o.html#respond Tue, 20 Feb 2018 14:23:00 +0000 Entrevista originalmente publicada no Música em DX: https://www.musicaemdx.pt/2018/02/20/entrevista-legendary-tigerman/

É já nesta Quinta-feira, dia 22 de Fevereiro, que The Legendary Tigerman começa a tour portuguesa de “MISFIT”, disco lançado mundialmente em Janeiro pela Sony Music. Com uma carreira a solo que leva quase duas décadas, falámos um pouco com Paulo Furtado sobre este seu mais recente trabalho que acaba por marcar uma nova fase da carreira do Lendário Homem-Tigre.

Misfit é um disco diferente do anterior por várias razões. Do conhecimento público vem o facto de pela primeira vez não teres trabalhado completamente sozinho nele, o que só de si acaba por abarcar novas experiências. Sentes que Misfit marca uma nova etapa de The Legendary Tigerman?

Sim, claramente. É muito relevante para o som do disco e para o projecto o facto de neste momento isto ser mais uma banda do que um one-man-band, e desde o início que pensei em compor para esta formação, e ter isso em conta na escolha das músicas. O facto de MISFIT ser parte de um projecto maior, que também é cinema e fotografia, também o distingue de tudo o que está para trás.

Pela primeira vez em quase vinte anos, The Legendary Tigerman entra então em estúdio para gravar acompanhado (com Paulo Sagadães e João Cabrita). O que é que te motivou a levá-los para estúdio? Desde True que tocam juntos. Essa experiência foi preponderante?

Bem, esta transformação não foi exactamente pensada, foi acontecendo. Primeiro entrou o Sega, e durante algum tempo tocámos com as duas baterias em palco e havia uma mistura do one-man-band com a bateria, e passado uns tempos o Sega estava a tocar o concerto todo, e de repente aquilo fazia sentido. O Cabrita também começou assim, como convidado em algumas canções em concertos especiais, porque ele tinha escrito arranjos para o True, e de repente havia uma linguagem musical nova e fresca, que tinha sido criada ao vivo, e para mim fazia sentido tentar compor para este formato. Foi isso que veio a acontecer no MISFIT.

Misfit, o desajustado. Não é segredo para ninguém, dado que já o disseste publicamente, que este foi um sentimento que te acompanhou ao longo do teu crescimento e até mesmo enquanto adulto. Sentes-te mais perto de ti mesmo neste disco do que nos cinco anteriores?

Sim, sempre senti isso, na realidade, desde muito novo, e de repente também me pacifiquei com esse sentimento, porque é fixe e bom ser desajustado num mundo que nem sempre é o mais correcto e interessante. É bom fazer coisas que nem toda a gente goste, não preciso que muita gente goste de mim, alguns até prefiro que não gostem!

Claro que há um preço a pagar por isso, mas na realidade, não creio que conseguisse fazer as coisas de outra maneira. Mas sempre fui muito honesto em todos os discos que fiz, sinto-me muito próximo de todos, eram exactamente os disco que queria fazer em cada um dos momentos.

Numa altura em que se discute “a morte do rock’n’roll” para outros géneros musicais, tens uma faixa que se chama “Fix of Rock’n’Roll”. É alguma espécie de statement em relação ao assunto ou mera coincidência?

Não é coincidência, claro. Como não é coincidência que o disco seja de alguma forma mais pesado que os anteriores, tive vontade de fazer um disco de rock´n´roll neste momento, e com esta formação. Em todas as décadas se fala da morte do Rock´n´Roll, mas acho que ainda não é desta. Acho que isso nunca irá acontecer, há-de sempre haver um puto a pegar numa guitarra eléctrica e a sentir esse energia, que é muito diferente de tudo o resto.

Para a escrita das letras em que é que vais buscar referências? À tua vida, às tuas experiências ou também tens, por exemplo, alguns autores literários nos quais também te inspiras?

Neste disco quis ser mais influenciado pela estrada e pelo universo que criei para o Fade into Nothing, o filme que criei com o Pedro Maia e a Rita Lino, e que no fundo foi o início de todos este processo. Tentei escrever muito pelo olhar do personagem principal do filme, a quem dou corpo, chamado MISFIT, mas claro que a experiência pessoal e a vivência acabam por estar sempre presentes na escrita das canções. E, no fundo, toda a arte com que contacto me influencia, seja um quadro, um filme, um livro. Acho que há sempre qualquer coisa que te vai abrindo portas e janelas na pessoa que és, e isso acaba por influenciar a tua arte, também.

Como disseste, Misfit foi também um trabalho que, por consequência, acabou por destacar outras paixões tuas: o cinema e a fotografia. Ao mesmo tempo que surgia “Fade Into Nothing”, nascia também a composição de “Misfit”. De que forma é que estas experiências ganharam vida e como é que se reflectem verdadeiramente no disco?

Bem, já respondi a uma parte desta questão, creio, mas de facto forcei-me a escrever por outros olhos, e tentar fazê-lo de uma maneira rápida e intuitiva, e na realidade o grosso do disco foi escrito diariamente entre Los Angeles e Death Valley, durante a rodagem do filme. Há muita coisa cruzada entre o filme e o disco, muitas ideias que muitas vezes são desenvolvidas no diário, ou podem ter uma justificação nas canções. Há muitas pistas para isso no disco e no filme, para quem as queira procurar. Para mim era importante precipitar uma escrita mais rápida e intuitiva, menos reflectida.

Gravar num estúdio em pleno deserto reforça um bocadinho a ideia do Misfit, havendo este isolamento bastante literal. Existe todo este imaginário que acaba por se tornar muito gráfico enquanto ouvimos o disco. O que é que te impulsionou a ir gravar para um estúdio no deserto (para além de, obviamente, o estúdio ser excelente)?

Por um lado, queria muito gravar no Rancho, desde que ouvi as primeiras Desert Sessions, e quando visitei o estúdio a primeira vez senti uma energia muito especial, senti que aquele era um local muito inspirador. Por outro lado, queria muito estar fora da minha zona de conforto e dos instrumentos e sons que conheço bem, e também que precisávamos desse isolamento, como músicos que pela primeira vez estavam a gravar um disco. A escolha dos instrumentos para os arranjos finais ou certas sonoridades das guitarras, por exemplo, foram decisões tomadas lá, com o que estava disponível. Creio que tudo isto era efectivamente necessário para chegarmos à sonoridade de MISFIT. E tendo escrito o disco naquela zona, e sendo o deserto uma influência tão grande neste albúm, fazia todo o sentido.

Passado todo este tempo, que distância emocional, ou até fictícia, consideras haver entre o alterego The Legendary Tigerman e a pessoa Paulo Furtado? Aliás, será que existe sequer, hoje em dia, alguma diferença entre os dois?

Creio que essa diferença se foi acentuando, ao longo dos anos, na realidade. Talvez no início não houvesse tantas diferenças assim entre mim e a persona de palco, talvez estivéssemos os dois sempre ligados e a mil. Hoje em dia crescemos, ambos, mas de maneiras muito diferentes, creio. Permitiu-me a mim viver melhor e fazer mais coisas, creio, e permitiu-me também crescer muito em palco e disco, como Tigerman.

Sentes que com o tempo fica menos difícil expressares-te e dares forma às tuas emoções através da tua música?

De certo modo acho que sim, apesar de eu fazer um grande esforço para não me repetir e tentar reformular o modo como faço música, de disco para disco. Quando chega o momento de fazer um disco ou fazer um concerto, não creio que as coisas sejam verdadeiramente mais fáceis, há uma grande exigência, sempre.

Voltando um pouco atrás no tempo, como é que alguém tímido e com esse sentimento de não pertença ganha coragem de subir ao palco e fazer deste universo – em que acabas sempre por te expor – a sua vida?

Não te sei explicar exactamente como isso aconteceu. Acho que no fundo fui recebendo mais do que perdia, no sentido que foi um modo de poder continuar a desenquadrar-me, ainda que inserido na sociedade, e consegui exprimir coisas que provavelmente não conseguiria exprimir de outro modo. E a energia que sentes ao fazer um concerto de Rock´n´roll, é algo extraordinário. Quando tudo corre bem num concerto, quando consegues ligar-te ao público e que ele se ligue a ti, naquele momento perfeito de partilha e comunhão, isso é das coisas mais bonitas que pode acontecer, para mim. Não acontece sempre, mas é uma coisa que procuro sempre, e creio que estar em palco é algo de muito, muito especial, à qual me fui afeiçoando cada vez mais e ganhando cada vez mais respeito.

Tendo sido o desenho o teu primeiro talento natural, de que forma é que este se foi mantendo presente na tua vida?

Curiosamente, hoje em dia só desenho nas férias. É a única coisa que realmente me acalma e relaxa. Desenho plantas. Talvez um dia volte a desenhar e pintar outras coisas.

Sentes que o cinema e a fotografia se vão tornar uma parte mais constante da tua vida profissional no futuro?

Sinto que já são, mas muita vezes opto por deixar isso numa segunda linha, ou passa um pouco mais despercebido do grande público.

Para além do cinema e da fotografia, recentemente também produziste aquele que será o disco a solo de Sean Riley, que vai abrir os teus concertos na tour de Misfit portuguesa. Já no ano passado também tinhas assumido a produção de “Lucifer”, disco dos The Poppers. Qual é o maior contraste entre ser músico e produtor?

No fundo continuas a ser músico, enquanto produtor. A grande diferença é que tens um olhar externo em relação às canções, consegues ter um olhar mais crítico e vislumbrar caminhos de produção mais facilmente, porque não são as tuas canções, são canções de outras pessoas, são escritas passando por processos emocionais que muitas vezes influenciam o modo como são tocadas e arranjadas. Como produtor, tenho distância em relação a isso, e consigo perceber mais facilmente o que a canção ou o disco precisam. Por mais próximo que esteja, é um olhar de fora. No cinema é a mesma coisa, quem está atrás da câmara (com todas as exceções, porque não acredito em regras e há sempre mil modos de fazer as coisas) não deve estar a montar um filme, porque há uma memória e uma ideia do dia de rodagem, por exemplo. Imagina que houve uma cena super difícil de filmar, mas que no final consegues. Alguém que não saiba disso terá um olhar muito mais pragmático em relação a ela. Voltando à música, esse olhar mais distanciado também ajuda a reconhecer as mais valias de cada um também, bem como das canções, e tentar ao máximo ajudar a maximizar tudo isso. No fundo, todas as experiências que vais tendo te vão fazendo crescer como músico e produtor.

Tendo uma estética muito própria, como é que te consegues abstrair dela quando trabalhas no papel de produtor com outros artistas?

Bem, nunca me abstraio totalmente da minha estética, creio. Qualquer autor que tenha uma assinatura e visão não pode abstrair da sua estética, e acho que isso também é claro na cabeça de quem me procura. No fundo o que acontece é que coloco a minha experiência e essa estética ao serviço de outras pessoas e de outras visões. Mas antes de qualquer trabalho desse género, ou mesmo quando faço bandas sonoras de cinema ou teatro, e faço muitas e muitas vezes, e bastante diferentes do que as pessoas esperam do ponto de vista sonoro, tento explicar tudo isto ao máximo, e perceber se faz realmente sentido trabalharmos juntos. Às vezes, pura e simplesmente, não faz. E é importante perceber isso antes.

Enquanto artista tens uma relação muito especial com França. A tour de Misfit começou precisamente por lá e as pessoas adoram-te. Como é que surge esse arrebatamento com França?

Não sei, surgiu de uma maneira natural, creio, sempre houve gente que se interessou por aquilo que faço, por lá. E creio que é um país que sempre gostou de Blues e Rock´n´Roll.

Quinta-feira começa a tour por Portugal no Lux. Nos teus concertos a temperatura costuma subir muito rapidamente. O que é que te dá mais prazer durante um concerto em relação a ti em palco e à reacção do público?

Quando num pequenino momento, parece que somos um só. É um sentimento incrível.

Agenda concertos Portugal

22 de Fevereiro – Lux Frágil – Lisboa

2 de Março – Porto – Hard Club

9 de Março – Arcos de Valdevez – Sons de Vez

10 de Março – Aveiro – Teatro Aveirense

15 de Março – Évora – Teatro Municipal Garcia de Resende

16 de Março – Castelo Branco – Teatro Avenida

17 de Março – Alcobaça – Cine-Teatro de Alcobaça João D’Oliva Monteiro

23 de Março – Tondela – ACERT

24 de Março – Braga – Theatro Circo

29 de Março – Coimbra – TAGV

Fotografia – Rita Lino | The Legendary Tigerman

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Entrevista aos Fugly, Uma Incursão a Millennial Shit https://branmorrighan.com/2018/02/entrevista-aos-fugly-uma-incursao.html https://branmorrighan.com/2018/02/entrevista-aos-fugly-uma-incursao.html#respond Thu, 08 Feb 2018 16:21:00 +0000 Fotografia André Coelho

Originalmente feita e publicada no MDX: https://www.musicaemdx.pt/2018/02/07/entrevista-aos-fugly-uma-incursao-millennial-shit/

É já nos dias 9 e de 10 de Fevereiro, no Maus Hábitos (Porto) e no Damas (Lisboa), que os Fugly começam a tour de apresentação do seu disco de estreia “Millennial Shit”. Estivemos à conversa com eles para sabermos mais sobre do que realmente fala este disco, mas também de como tudo começou e quais as suas expectativas para a tour internacional que começa já dia 13 de Março e que contará com Diários de Bordo da tour aqui no BranMorrighan. As letras das músicas de Millennial Shit também podem ser encontradas no Queres é (a) Letra! 

Antes de mais, muitos parabéns por este disco delicioso! Dado que já passaram alguns dias desde que saiu, qual o vosso sentimento em relação ao mesmo e que tal tem sido a reacção ao “Millennial Shit”?

Antes de mais, muito obrigado! Em relação à receptividade do álbum, tem sido porreira, muita malta que nunca vimos na vida a dizer que gostaram muito! Estamos ansiosos por começar a tocar de novo, afinal já estamos há 8 meses de ressaca!

O título do disco é sugestivo e susceptível a várias interpretações. Quem são estes Millennials a que vocês se referem e de que merdas estamos aqui a falar? Emocionais ou é a geração que só de si é mais frágil do que parece?

Um disco é todo uma crítica à nossa geração, do sofá, debaixo da asa dos pais, com a vida pré-definida pelo sistema sócio-económico, dependente das redes sociais. Por outro lado dá valor ao que já conseguimos alcançar no que toca a várias questões sociais e até ambientais. Mas infelizmente o sentimento é de que isto é só movido por apenas algumas pessoas e não por um colectivo que é a nossa geração, que por mais informação que tenha disponível, não procura tentar fazer algo por isso.

Pedro, sendo tu o líder declarado da banda, as músicas foram compostas só por ti ou pelos quatro?

O líder Pedro (risos) diz que parte delas, sim. Mas houve um esforço mais colectivo em criar este álbum.

Toda a sonoridade do disco remete para uma espécie de libertação, mas também de abismo passional, entre potenciais enamoramentos e uns copos. Este disco é uma espécie de purga, declaração de paixão ou de arrependimento? Ou tudo junto?

É um “cocktail” de emoções muito elaborado. Depende de cada pessoa como é óbvio. Mas há muita gente que vive esta coisa do “ah e tal eu estou bem” e depois chega a casa e chora a ver o Rei Leão. Os copos já se sabe que levam uma pessoa a agir de uma maneira mais desinibida, de repente a tua vida que há cinco minutos era uma merda, agora é fantástica. Ou às vezes o contrário.

É um disco autobiográfico?

Claro que há uma parte autobiográfica nas letras, temos que ter base um pouco nas nossas próprias experiências, mas também sentimos que é aquilo que vemos em vários amigos nossos que se perdem em saídas à noite e às vezes isso faz-lhes bem, outras vezes acaba por piorar a coisa.

Consideram o punk um dos vossos grandes alicerces? Quais são as maiores influências instrumentais e vocais?

A música punk sempre teve algo a ver connosco. A simplicidade, a sonoridade crua, sempre nos disseram muita coisa. Que não precisas de ser virtuoso a tocar, desde que tenhas o espírito dentro de ti, consegues criar algo fantástico. Juntando isto a uma voz de rebelião, contra todo um sistema que tira o poder às pessoas mantendo-as na ignorância.

Agora em relação a Fugly existem claramente influências desses ideais, se calhar não somos mesmo “true”, mas temos imenso respeito por todo o movimento. Já todos fomos a concertos na Casa Viva e andámos de skate. Em termos de influências musicais propriamente ditas, é difícil escolher porque ouvimos hoje em dia tantos géneros de música que não sabemos bem dizer o que é que nos influenciou. Podemos dizer que Clash, Ramones, Buzzcocks, Dead Kennedys são influências, bem como Beatles, Pink Floyd, Zeppelin, Nirvana, Queens of The Stone Age, Radiohead e até bandas recentes como Oh Sees, Ty Segall, Fidlar, etc etc. Mas lá está, o que tentamos mais é não ser uma dessas bandas específicas, sermos a nossa própria identidade tendo estas bandas como inspiração. O que podemos dizer que não é nada fácil !

O que é que é mais importante para vocês enquanto banda? Ou seja, o que é que vocês gostavam que quem vos ouvisse sentisse?

Que a malta apareça para nos ver, que a música lhes diga alguma coisa e que lhes inspire a tentar fazer algo por si próprias e pelos outros e não dependa sempre doutros factores familiares, sociais, etc.

Take You Home Tonight é uma das canções que vocês tocam desde sempre, mas não entrou no vosso EP passado. Por norma estas canções perdem-se na memória de quem testemunhou o início da banda, mas vocês decidiram agora colocá-la no disco. Vão continuar a tocá-la para sempre? (que é grande malha, isso sem dúvida!)

Sim, temos todo o gosto em tocá-la daí termos incluído neste álbum. Agora se vai ser uma daquelas para sempre, não fazemos a mínima ideia.

Pedro, deixa-me fazer aqui um interlúdio só para que as pessoas saibam um pouco mais sobre ti. Quem está por dentro do circuito musical conhece-te (também) por fazeres som a algumas bandas como Throes + The Shine ou First Breath After Coma. Neste salto para o palco, achas que agora te vão passar a ver de maneira diferente?

Opa sei lá, não sou o único técnico de som do mundo que também tem uma banda. Acho que a história não é nova. Tem mais piada a malta achar que os técnicos de som não têm sensibilidade musical, ou não entendem nada de música, lá porque andam sempre com ferramentas no cinto e t-shirt preta. Já assisti a casos espectaculares de técnicos a ensinarem os músicos como tocar e a deixá-los ficar mal. Acho que não é um “upgrade” ou um salto na carreira, é só algo que adoro fazer: estar envolvido no meio musical, sendo como técnico, como músico, como roadie, acaba por ser a mesma coisa.

Como é que surge Fugly? Sempre quiseste ter uma banda que vingasse? O facto de acompanhares bandas com sucesso crescente, como é o caso daquelas duas, deu-te o empurrão que precisavas?

Sim, sempre quis ter uma banda, algo que eu pudesse ter para expressar aquilo que sinto, podia ter sido qualquer outra arte, mas música era o mais acessível para mim. Claro que estando envolvido com bandas emergentes, me ajudou. Diria que Lazy Faithful foi a banda que me fez ganhar mais vontade de procurar um projecto. Já os conhecia desde a minha adolescência e quando o Rafa e o Gil entraram na banda, fiquei apaixonado por eles. E quando comecei a trabalhar como técnico deles cada vez mais esse “bichinho” de estar a tocar me incomodou mais. Os Throes + The Shine e os FBAC já estavam noutro campeonato e deram-me a entender mais como funciona a industria da música e perceber como exportar as bandas para o resto da Europa, que é algo que ambiciono também há muito tempo.

Os teus companheiros de banda têm, também eles, outra banda. Sei que ao início havia um pouco o receio de vos considerarem quase um projecto paralelo, mas a mim parece-me que Fugly tem já uma identidade e personalidade muito próprios. Também sentes isso?

Os meus companheiros de banda têm imensos projectos paralelos. Mas se estás a falar de Lazy Faithful, percebo o que dizes. Houve essa preocupação, dado que no início três quartos da banda eram eles mas nunca foi algo que condicionasse o futuro do projecto. E eventualmente aconteceu o Tommy sair, o Gil estar a meio gás e o Nuno entrar. Musicalmente claro que há algumas coisas que vêm do passado com Lazy Faithful, principalmente ali na secção rítmica (risos), mas é algo compreensível. Como também convivemos num meio completamente diferente deles, começámos a procurar a nossa própria identidade.

Brevemente vão fazer uma tour lindíssima pela Europa, juntamente com a banda leiriense Whales, com dezenas de datas. Sei que tu já andaste em tours destas a fazer som, mas agora vais enquanto músico de palco. Quais as maiores diferenças que achas que vais sentir?

Ser menos responsável (risos). Como técnico sou mais rígido, mais sério e competente. Como músico sou um palhaço muitas das vezes. Mas não estou completamente ilibado das minhas funções técnicas. Vou sempre ter aquela vontade de questionar se aquele microfone ficou bem posicionado ou se a DI está ligada.

Na banda há quem nunca tenha andado em tour. Têm falado sobre isso? Sobre expectativas?

Acima de tudo , que seja para nos divertirmos. Já sabemos que o dinheiro não vai ser muito, que vão haver concertos bons e maus, mas vamos dar o nosso melhor e no fim ter histórias para contar.

Não deve ser fácil andar na estrada tanto tempo, ainda para mais com outra banda. Existe o perigo de se fartarem uns dos outros ou já têm técnicas para evitar que isso aconteça? (ehehe)

Opa nós já todos andámos a porrada na vida, não seria a primeira vez (risos). Mas agora a sério, acho que nos vamos dar todos bem, vai passar mesmo rápido, nem vamos ter tempo para nos chatearmos.

Dia 9 começam a apresentar o vosso disco no Maus Hábitos e dia 10 vêm a Lisboa ao Damas. Já deram concertos em ambas as cidades. Sendo o Porto a vossa cidade mãe, os concertos acabam por ser mais eufóricos ou a capital também vos tem recebido com igual paixão?

Já tivemos o prazer de tocar com casa cheia no Porto e em Lisboa. Foram concertos memoráveis sem dúvida. Acho que tocando em casa , ficamos sempre mais contentes, porque não nos podemos deixar de dar valor às nossas origens. Vão lá estar amigos nossos e família quase de certeza e não podemos esquecer quem nos apoiou desde sempre. A malta de Lisboa também é muito porreira, já tivemos reações muito surpreendentes por pessoal de lx !

Já vos disse que acho que vocês são do caraças ao vivo? Onde é que vão buscar toda aquela energia e estilo?

Opa isso deixa-nos muito contentes ! O estilo é questionável, acho que temos ideias muito dispares no que toca a isso. Mas energia é algo que gostamos de soltar. Dentro de cada um de nós está um puto hiperactivo com muito açúcar nos cereais, perto de explodir, e é esse o sentimento que queremos dar a toda a gente.

Bem, resta-me desejar-vos o melhor possível e que o punk nunca morra!

Obrigado e ROCK SEMPRE.

Millennial Shit Tour 2018

9 de Fevereiro – Maus Hábitos, Porto

10 de Fevereiro – Damas, Lisboa

16 de Fevereiro – Quina das Beatas, Portalegre

17 de Fevereiro – SHE, Évora

22 de Fevereiro – Tabacaria Teatrão, Coimbra

23 de Fevereiro – Clap Your Hands and Say Fest, Leiria

24 de Fevereiro – Boreal Festival de Inverno, Vila Real

2 de Março – El Corzo, Santiago de Compostela

3 de Março – Porta Onze, Monção

9 de Março – Sé Lá Vie, Braga

10 de Março – Café Avenida, Fafe

13 de Março – Madrid (Espanha)

14 de Março – Bilbao (Espanha)

15 de Março – Capbreton (França)

16 de Março – Toulouse (França)

17 de Março – Limoges (França)

18 de Março – TBA

20 de Março – Eindhoven (Holanda)

21 de Março – Antuerpia (Bélgica)

22 de Março – Available (Alemanha/Holanda/Bélgica)

23 de Março – Leipzig (Alemanha)

24 de Março – Hannover (Alemanha)

25 de Março – Available (Alemanha)

27 de Março – Poznan (Polónia)

28 de Março – Cracovia (Polónia)

29 de Março – Bolonha (Itália)

30 de Março – Napoles (Itália)

31 de Março – Roma (Itália)

1 de Abril – Perpignan (França)

3 de Abril –  Available (Espanha)

4 de Abril – Oviedo (Espanha)

5 de Abril – Lugo (Espanha)

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Entrevista ao Luís Salgado sobre o seu O Salgado Faz Anos… Fest! https://branmorrighan.com/2018/01/entrevista-ao-luis-salgado-sobre-o-seu.html https://branmorrighan.com/2018/01/entrevista-ao-luis-salgado-sobre-o-seu.html#respond Mon, 22 Jan 2018 20:52:00 +0000
Fotografia Miguel Oliveira

O Salgado é um dos tipos mais bestiais que conheci por causa do blogue. Não me conhecia de lado nenhum, nem eu a ele, quando cometi a loucura de lhe perguntar, já em 2013, se não queria receber a festa do sexto aniversário do blogue no Maus Hábitos. Era a primeira vez que organizava festas “a sério” e quis logo fazer em Lisboa e no Porto. No Porto toda a gente me dizia que o Maus Hábitos era o melhor, mas que o Salgado podia ser difícil de convencer…

Acho que ele não se importa que eu diga aqui que, de facto, na primeira festa a coisa parecia começar cinzenta, já que ele me tinha dito abertamente que não gostava de uma das bandas que eu queria levar, mas para teimoso, teimoso e meio, e o que é certo é que dali nasceu um respeito mútuo e, pelo menos da minha parte, uma grande admiração. Fazem falta gajos como o Salgado que não deixam as coisas por dizer e cuja personalidade faz com que seja fácil confiar nele.

Não é à toa que a sua festa de anos é já um autêntico festival e sempre com o que de melhor se faz na música portuguesa. Como ainda não consegui ir ao Porto, nem no Natal!, enviei-lhe umas perguntas por mail (até meti a pata na poça numa delas) e ele lá arranjou um tempinho para me responder. A sua próxima festa é já no Sábado, dia 27 de Janeiro! Vemo-nos por lá? 🙂 

Afinal quem é o Salgado? Mito ou realidade?

Acho que nos primeiros 2 anos era um bocado mito, agora já toda a gente sabe que existe uma pessoa real.

É impossível não te associar ao Maus Hábitos. Para quem está no circuito és, claramente, a sua cara. Qual é a história por trás desta associação? Quando é que começaste a fazer curadoria? Foi sempre no Maus Hábitos?

O Maus Hábitos nasceu há 18 anos, como espaço de mostra de um colectivo artístico e ao longo dos anos foi evoluindo para bar, sala de concertos e mais recentemente também restaurante. Eu entrei há cerca de 4 anos como consequência precisamente de fazer cá a festa de anos. Eles acharam que conseguia fazer o mesmo todos os fins de semana. Não está a correr mal!

Talvez não seja do conhecimento de toda a gente, mas tu também és músico e também integras/integraste algumas bandas. Fala-nos desse teu percurso.

Eu comecei aos 14 com uma banda punk, nem me lembro do nome. Depois foram uma data de anos a experimentar coisas em algumas bandas. Neste momento tenho uma banda chamada Stereoboy que tem estado parada mas espero que em 2018 isso mude.

O que é que gostas mais, de produzir ou de tocar? (Eu realmente queria dizer programar, mas as perguntas foram por mail, portanto, erro meu!)

Imagino que com produzir estejas a falar de produção de eventos. Já não faço produção há alguns anos, neste momento faço programação, curadoria e criação de projectos, como por exemplo a digressão Super Nova. Trabalho com uma série de produtores excelentes e claro que faço o acompanhamento de produção. Gosto muito mais de tocar, mas infelizmente em Portugal e se fazes música um bocadinho menos pateta, não consegues pagar as tuas contas só a tocar.

Quando é que o facto de fazeres anos se tornou numa espécie de instituição, dando origem ao mítico O Salgado Faz Anos Fest!?

Isto foi num jantar com amigos quando fazia um numero redondo de anos, e desafiaram-me em tom de gozo a fazer “um festival”… correu-lhes mal a brincadeira!

Fotografia Wandson Lisboa

Que critérios é que usas para escolher bandas para o teu aniversário e no que é que esses critério diferem quando estás a fazer a curadoria normal do Maus Hábitos?

As bandas escolhidas para o meus anos são bandas que gostei de ver ao vivo no ano anterior ou de alguma maneira me despertaram interesse pela sua criatividade ou bandas que gosto muito. No Maus escolho bandas que sejam interessantes e gerem interesse independentemente do meu gosto pessoal. Têm de obedecer a esses dois critérios.

Agora num tom um pouco mais sério, enquanto curador o que é que achas mais importante para bandas mais jovens, ou em início de carreira, se apresentarem de forma apelativa e conseguirem conquistar o seu espaço?

Tentarem ter uma linguagem própria e não ir atrás de modas ou que está a dar em algum momento. Depois se o que criarem for efectivamente bom o restante acontece.

Para terminar_ no próximo Sábado temos mais uma edição do teu aniversário. O que é que esperas dessa noite? Ouvi dizer que quem vai pode eventualmente perder peças de roupa ou sentido de orientação. (ahahah)

Costuma ser incrível! Acho que todos sentem que estão na própria festa de anos e não na festa de um gajo qualquer. E é isso que faz a diferença.

Cartaz completo e horários:

Palco Salgado

22h30 – Surma

23h30 – Ermo

00h30 – First Breath After Coma

01h30 – KILLIMANJARO

02h30 – Lovers & Lollypops Soundsystem 

03h30 – Cumbadélica (Igor Ribeiro e Marie Lopes + VJ Pudeur)

04h30 – Nuno Dias

05h30 – BENT

Palco Super Bock

22h00 – Peltzer 

22h45 – Galo CantÀs Duas

23h30 – Putas Bêbadas

00h15 – Scúru Fitchádu

01h00 – Stone Dead

02h00 – The Twist Connection

21h30 – Paulo Cunha Martins

03h00 – Sérgio Hydalgo (ZDB)

04h00 – Alfredo (RUC, Sensible Soccers)

05h00 – DJ Lynce (Pedro Salvado Santos)

Mupi Gallery:

22H00 – OTROTORTO

Palco Stockhausen

22h00 – Well (João Sarnadas e Inês Castanheira)

22h45 – Violeta Azevedo

23h30 – Gustavo Costa

00h15 – Krake

01h00 – Um gajo que não posso dizer o nome

01h45 – Paisiel

02h30 – @C (Pedro Tudela e Miguel Carvalhais)

03h15 – Tanz Arbeiter (José Alberto Gomes e André Covas)

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NOISERV: Dezoito é o novo single – 00:00:00 é agora editado em vinil (Pequena Entrevista Incluída) https://branmorrighan.com/2017/10/noiserv-dezoito-e-o-novo-single-000000.html https://branmorrighan.com/2017/10/noiserv-dezoito-e-o-novo-single-000000.html#respond Mon, 16 Oct 2017 16:08:00 +0000

Chegou o momento da novidade que o noiserv me revelou há uns tempos, mas que deixei para publicar aquando a concretização desta. Depois de o convidar para a Playlist da Quinzena, lembrei-me que já não conversávamos, em concreto aqui para o blogue, sobre o seu trabalho há algum tempo. Quando o último disco saiu, escrevi sobre o mesmo e tive a oportunidade de falar directamente com o David várias vezes sobre ele, pois fomo-nos encontrando na estrada. Mas que adianta eu saber de pequenos pormenores artísticos, se não os partilhar convosco que também gostam de o ouvir? DEZOITO foi o último single/vídeo lançado e o disco 00:00:00 vê agora o seu formato em vinil. Coisas bonitas por parte de alguém que pensa como eu em relação aos objectos físicos. Fiquem com esta pequena conversa e com o vídeo no final. 

Estive a remexer nos arquivos do blogue e já não conversávamos desde 2014, enquanto comemoravas os teus 10 anos de “carreira”. Daqui a pouco estás nos 15! Entretanto, depois de A.V.O lançaste um disco, todo ele em piano, o 00:00:00. O que é que levou o homem orquestra mais famoso de Portugal a dedicar-se quase exclusivamente a este instrumento? 

Na verdade, fazer um disco em piano era algo que sempre esteve nos meus planos. E quando comecei a trabalhar em músicas novas, senti que era agora o momento para o primeiro. O disco anterior estava ainda muito presente no meu imaginário criativo e senti a necessidade de uma mudança para não me repetir em “formulas”.

Cada música acaba por ter vários pianos e, ainda por cima, sobrepostos. É fácil levar essas músicas para o palco? 

Ao vivo acabam por se comportar com as minhas outras músicas, ou seja, com recurso a um loopstation consigo ao vivo “tocá-los” todos ao mm tempo :)!

Que balanço é que fazes deste disco? Que feedback é que tiveste dos teus fãs? 

O balanço é muito positivo. Tinha muito receio que as pessoas pudessem não entender a mudança, e pior que isso, não gostar ficando desiludidas. Mas tenho sentido o contrário e isso deixa-me muito feliz.

A tua aposta no merchandising é cada vez mais um sucesso, sendo que normalmente tudo esgota muito rapidamente. O que é que te motiva a desenvolver estas peças? 

Vivemos numa época em que corremos o risco de tudo se tornar vertiginosamente digital, as nossas prateleiras ficarão vazias e as salas com computadores novos e antigos. Acredito que a felicidade vem precisamente do contrário, dos objectos que coleccionamos e das cores que escolhemos para as coisas. Sempre que tenho uma ideia/conceito para algo que se relacione com a minha música faz-me todo o sentido que exista, criando uma memória física em quem a queira ter.

Para além do teu projecto noiserv e ainda da banda YCWCB, também chegaste a fazer alguns concertos com os First Breath After Coma. Como é que foi andares na estrada e em palco, agora com uma banda de post-rock? 

Foi muito bom, eles são muito bons. É um género musical que me diz muito, talvez daqueles com que mais me identifico. Foi uma óptima experiência que espero que continuemos a repetir.

Todas estas tuas novas experiências significam que poderá vir um próximo disco ainda mais diferente do que o último? 

Não te sei responder…ando neste momento a trabalhar em ideias novas, músicas novas mas só o tempo e o amadurecimento dessas ideias me deixarão perceber o que será o próximo disco, ainda é muito cedo.

Que novidades tuas é que os teus fãs poderão ter brevemente? 

A próxima novidade é a edição em vinil deste meu último disco 00:00:00:00.


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