Erik Axl Sund – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 04:29:13 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.9 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Erik Axl Sund – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 Opinião: As Instruções da Pitonisa (As Faces de Victoria Bergman III), de Erik Axl Sund https://branmorrighan.com/2015/05/opiniao-as-instrucoes-da-pitonisa-as.html https://branmorrighan.com/2015/05/opiniao-as-instrucoes-da-pitonisa-as.html#respond Sun, 10 May 2015 16:16:00 +0000

As Instruções da Pitonisa

Erix Axl Sund

Editora: Bertrand

Sinopse: A arrebatadora conclusão da trilogia que explora os recantos mais negros da mente humana.

Prémio Especial da Academia Sueca de Escritores de Crime.

Um carro é devorado pelas chamas em Tantoberget. No interior, estão os corpos carbonizados de duas mulheres, as principais suspeitas dos homicídios em série das antigas alunas do internato de Sigtuna que Victoria Bergman frequentou.

Na posse de uma delas, a polícia encontrou várias polaroides das vítimas rodeadas por túlipas amarelas. A detetive Jeanette Kihlberg compreende que, sob a aparência de suicídio, a febre da morte prossegue o seu caminho.

Sofia Zetterlund mantém as sessões de autoterapia para tentar, finalmente, compreender quem realmente é, ao passo que Victoria Bergman se recusa a ser dominada e ameaça continuar.

Entretanto Madeleine pensa na sua próxima vítima. É tempo de pagar.

Opinião: Consigo afirmar com um bom intervalo de confiança que a trilogia As Faces de Victoria Bergman tocou, de uma maneira muito particular, todas as pessoas que a leram. Se com A Rapariga-Corvo fomos iniciados num mundo onde a violência e a dissociação imperam, em Fome de Fogo fomos confrontados com cenários tão brutais, de uma intensidade tão avassaladora que o ler o rumo final das personagens que fomos acompanhando se tornou imperioso. Chegamos então a As Instruções da Pitonisa e rapidamente começamos a devorar cada página, queremos mais e mais, mas não foi assim tanto que obtivemos.

Quando a certa altura a fasquia de uma história sobe muito é inevitável criar expectativas. Confrontos, perdas, uma boa dose de loucura e risco, ingredientes a que fomos habituados nos volumes anteriores. Neste último volume pareceu-me haver uma certa estagnação, uma certa anestesia tanto na acção como no próprio enredo. Não que esteja mau, de longe algum destes livros pode ser considerado medíocre, mas principalmente o fim deixa-nos com aquela sensação de saber a pouco, de inconclusão. Quase como se houvesse ainda todo um outro universo para começar a ser explorado. 

Há certas peças que se vão encaixando nos sítios certos que ao início pensei estarem noutro contexto. À medida que nos vai sendo apresentado o passado completo de Victoria Bergman e revelados novos dados sobre as suas consequências, começamos por fim a compreender alguns dos registos de que fomos sendo testemunhas em volumes anteriores. Ao mesmo tempo, acompanhamos a transformação de Sofia, a desconstrução gradual para uma reunião com a sua personalidade inicial com tudo o que isso acarreta.

Quem está cada vez mais perdida é Jeanette, uma protagonista empática por quem é fácil compadecermo-nos e que tem um verdadeiro fogo de convicção dentro de si. Não baixa os braços, até tem bons instintos, mas parece-me que foi a personagem mais injustiçada com este final. Aliás, houve dois momentos pelos quais estive o terceiro livro à espera e que nunca chegaram. Penso que quem tiver lido os livros saberá do que estou a falar, mas não vou revelar mais para não cair na tentação de vos encher de spoilers

No final, o que interessa realmente constatar é que esta trilogia é de uma mestria única. Mesmo este terceiro livro tendo sido o que menos me cativou (e reafirmo que isso deve-se ao desfecho que os autores decidiram dar), os outros dois compensam completamente. Estão todos muito bem escritos, num bom compasso entre acção e interlúdios – que nos contextualizam com as devidas personagens – e, tal como disse numa opinião anterior, se quiserem mergulhar neste mundo da dupla Erik Axl Sund preparem bons protectores de estômago. Existem cenários que desafiam toda e qualquer tipo de lógica. 

]]>
https://branmorrighan.com/2015/05/opiniao-as-instrucoes-da-pitonisa-as.html/feed 0
Opinião: Fome de Fogo, As Faces de Victoria Bergman II, da dupla Erik Axl Sund https://branmorrighan.com/2015/03/opiniao-fome-de-fogo-as-faces-de.html https://branmorrighan.com/2015/03/opiniao-fome-de-fogo-as-faces-de.html#respond Thu, 12 Mar 2015 20:40:00 +0000

Fome de Fogo

Erik Axl Sund

Editora: Bertrand

Sinopse: Os esforços de Jeanette Kihlberg para solucionar os casos dos meninos mortos são cerceados quando um homem de negócios é assassinado em Estocolmo, naquilo que parece ser uma morte ritualística. Alguns pormenores sugerem um ato de vingança. Mas vingança de quê? 

Entretanto, Jeanette continua à procura da desaparecida Victoria Bergman e as suas investigações levam-na a um colégio interno de elite, bem como à Dinamarca e a acontecimentos do seu próprio passado. Por seu turno, a psicoterapeuta Sofia Zetterlund tenta encontrar-se a si própria. À semelhança do primeiro livro desta trilogia, somos confrontados com voltas e reviravoltas e um final absolutamente inesperado.

Sinopse: É preciso estar-se preparado para tudo, até para leituras que nos devoram e nos mastigam, cuspindo-nos de volta à realidade intactos fisicamente, mas com um calo psicológico difícil de digerir. Não é novidade que a dupla Erik Axl Sund tem a capacidade de revirar estômagos, de nos dar chapadas de luva branca e de provocar alguns terramotos nos nossos alicerces. Em Fome de Fogo temos tudo isso e ainda um intrincar do enredo com novas mortes, novas personagens, todo um novo estado de alerta para o que ainda está para vir. 

O primeiro livro, A Rapariga-Corvo, foi sem dúvida uma experiência única. Não só pela qualidade da narrativa, pela crueza dos factos e a adrenalina constante, mas também pela capacidade de surpreender o leitor de forma tão intensa como aterradora. Esta segunda obra vem com a mesma receita, mas o leitor já está muito mais cauteloso e, pensa ele, pronto para as surpresas. Para o que nunca se está mesmo preparado é para o depois. Depois de lermos certas descrições, não mais somos os mesmos. Fome de Fogo traz com ela uma torrente de emoções imparáveis, uma oscilação entre a realidade e alienação, entre o querer acreditar e o não ver realmente o que se tem à frente. 

Existe também um sentido de compreensão ao longo do decorrer de cada página, as múltiplas personagens que desfilam pela nossa mente começam a tomar a forma de peças de puzzle que finalmente ocupam o devido lugar. É fascinante a forma como os autores exploram a psique humana, como com um enredo tão complexo expõem elementos de forma tão clara, tão forte. Refiro-me a conflitos familiares, como de Jeanette com o seu ex-marido e com o seu filho, refugiando-se numa mulher que não conhece assim tão bem, com comportamentos instáveis, mas que ainda assim lhe causa um fascínio e na qual ela decide confiar com tudo; refiro-me, principalmente, ao novelo que se vai desenrolando no que toca à protecção que cada um arranja para ultrapassar os mais horríveis traumas ao longo da vida; entre tantos outros.

Na componente de crime e suspense, o ritmo imposto dá ao leitor a oportunidade de descansar um pouco das viagens ao passado. Cada uma tem uma carga tão imensa que acompanharmos apenas a investigação dos crimes é quase um alívio. Ainda não li o último livro, mas até agora esta trilogia tem tudo o que se pode esperar de um thriller nórdico e ainda mais: um fascínio pela brutalidade, mas ao mesmo tempo um sentido de respeito pela coragem em abordar temas tão sensíveis. Se quem lê fica transtornado, como ficará quem realmente interage com estes casos? Aplausos e vénias para Erik Axl Sund, a pontuação máxima será sempre um eufemismo. 

]]>
https://branmorrighan.com/2015/03/opiniao-fome-de-fogo-as-faces-de.html/feed 0
Opinião: A Rapariga-Corvo de Erik Axl Sund https://branmorrighan.com/2014/05/opiniao-rapariga-corvo-de-erik-axl-sund.html https://branmorrighan.com/2014/05/opiniao-rapariga-corvo-de-erik-axl-sund.html#respond Tue, 27 May 2014 21:35:00 +0000

A Rapariga-Corvo 

Erik Axl Sund

Editora: Bertrand

Sinopse: Jeanette Kihlberg está a investigar uma série de homicídios macabros que há meses se sucedem em Estocolmo. O caso é complexo, uma vez que as vítimas são meninos estrangeiros não identificados, e a polícia está a ter muitas dificuldades em fazer avançar a investigação.

Sofia Zetterlund foi psicoterapeuta de uma das vítimas, um menino-soldado da Serra Leoa, e, por isso, é chamada a ajudar. Mas Sofia tem outra paciente a absorver a sua atenção: Victoria Bergman, uma mulher fascinante que sofre de distúrbio dissociativo da personalidade e tenta enfrentar os fantasmas de uma infância muito dolorosa.

À medida que as duas mulheres se vão aproximando cada vez mais uma da outra e dos casos que têm em mãos, os segredos, ameaças e dificuldades não param de crescer à sua volta. Parece que alguém muito poderoso tem interesse em parar a investigação de Jeanette. E Sofia tem vindo a mergulhar cada vez mais profundamente na sua história pessoal, recuperando memórias e experiências há muito escondidas e silenciadas dentro de si. As duas protagonistas unem forças para perseguir um assassino cruel, mas, pelo caminho, vão ser obrigadas a enfrentar-se a elas próprias e aos seus segredos mais negros.

Opinião: Não são assim tão poucos os livros que mexem com os leitores, mas são menos aqueles que nos provocam um desassossego tal que por vezes temos mesmo de pausar a leitura. Suspender um pouco, retirar as imagens da nossa cabeça depois de absorver o impacto provocado pelas mesmas. A Rapariga-Corvo, o livro de abertura da trilogia As Faces de Victoria Bergman, é uma destas obras que fazem o estômago contorcer-se, que nos fazem questionar o que está por trás de cada rosto que encontramos na rua, de que material é que realmente as pessoas são feitas.

O enredo está muito bem construído. As personagens vão-se tornando cada vez mais sólidas ao longo da narrativa e o fio condutor adensa-se à medida que avançamos. Por vezes é como se houvesse muita informação por processar, o cérebro não para de trabalhar, de tentar fazer associações, de descortinar o início do rastilho que irá provocar o êxtase final. É uma obra carregada de tensão, de uma violência psicológica por vezes esmagadora, mas genialmente bem escrito. 

O leitor é confrontado com temas como tráfico de crianças, abuso infantil, pedofilia, a distorção da personalidade na tentativa de adaptação e sobrevivência à realidade imposta e ainda ao quotidiano de um casal que, com o passar do tempo, se transforma mais num daqueles rotineiros em que pequenas atitudes acabam por ter consequências futuras maiores do que poderiam imaginar. É com uma grande cautela que caminhamos através dos pormenores, muitas vezes macabros, ao mesmo tempo que, incrédulos, juntamos as peças e tememos pelo futuro de algumas personagens.

A capacidade de escrita e de projecção psicológica desta dupla sueca deixou-me rendida. Abordando o que de pior o ser humano tem, escavando às profundezas da maldade e perversidade humanas, de uma forma tão aberta e real, acabam por criar uma espécie de alerta em quem os lê. A forma intrincada como tecem o destino de cada personagem, os jogos mentais e os sinais que só o leitor vê, mas que anseia que a protagonista também se aperceba, criam um ciclo vicioso de leitura. 

Estamos perante dois mestres, que se dão pelo nome de Erik Axl Sund, do thriller/terror psicológico. Dos melhores livros que já li, salvaguardando a necessidade de por vezes respirar fundo antes de continuar. Para as mentes sensíveis, um alerta – este livro não é facilmente digerível e provoca emoções fortes. O fim, bem, esse só nos deixa em perplexo estado de alerta para o próximo volume que anseio vorazmente. 

]]>
https://branmorrighan.com/2014/05/opiniao-rapariga-corvo-de-erik-axl-sund.html/feed 0