Ermo – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 05:51:17 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.1 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Ermo – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 [DESTAQUE] “Lo-Fi Moda” é o novo disco dos Ermo https://branmorrighan.com/2017/07/destaque-lo-fi-moda-e-o-novo-disco-dos.html https://branmorrighan.com/2017/07/destaque-lo-fi-moda-e-o-novo-disco-dos.html#respond Thu, 13 Jul 2017 08:02:00 +0000

Os Ermo estão de volta com um novo disco – “Lo-Fi Moda”. Depois de dois EPs e um Longa Duração, a banda de Braga pretende que “Lo-Fi Moda” seja o álbum de afirmação e já conta com o primeiro single “Ctrl + C Ctrl + V”

Este é um disco de electrónica pop, rompedor e impactante, que adopta o modelo da canção enquanto ponto de partida para um discurso inventivo, refrescante e surpreendente.

A sua música já foi apelidada de ‘intervencionista’, descrevendo o estilo da banda como pop mergulhado em hip-hop e footwork com uma gíria pós-punk. O novo álbum retrata o comportamento humano, engolido pelo mundo digital. Feito para intrigar, apresenta 9 faixas sobre dois humanos do lado de lá do espelho. ‘Lo-fi Moda’ funciona como uma metáfora para vaidade, auto-validação e narcisismo.

Os Ermo começaram em 2012, com o lançamento do seu primeiro EP homónimo. No ano seguinte, ‘Vem por Aqui’ o seu primeiro longa duração, é editado pela NOS Discos. Bem recebido pela crítica, o álbum recebeu largos elogios pelo seu carácter inovador e desprendido de género. Com o alargamento do seu público, a banda percorreu a Europa e Brasil durante os 2 anos seguintes, lançando um novo EP ‘Amor vezes Quatro’ em 2015. Agora, com “Lo-Fi Moda”, os Ermo marcam a produção nacional e confirmam-se como magnatas do incomum.

Os Ermo no Blogue BranMorrighan: http://www.branmorrighan.com/search/label/Ermo

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[DESTAQUE c/ Opinião] Amor Vezes Quatro, novo EP da dupla Ermo https://branmorrighan.com/2015/04/destaque-c-opiniao-amor-vezes-quatro.html https://branmorrighan.com/2015/04/destaque-c-opiniao-amor-vezes-quatro.html#respond Mon, 13 Apr 2015 22:31:00 +0000

Ermo

Amor Vezes Quatro

DISCO

“Amor Vezes Quatro” é o novo EP dos Ermo, que neste registo apresentam 4 visões distintas do amor e dos seus contornos e heresias.

O que é o amor, senão uma afeição irreflectida? O novo EP da banda bracarense é assim uma consideração sobre o inconsiderável, a procura de uma definição para um sentimento sem equação. Oscila entre o cérebro e o coração. Pensa o amor, não com o cuidado de quem pensa, mas de quem ama. Não com o rigor de quem o pratica porque o quer fazer, mas com a crueza de cair em tentação. É assim, também ele, uma afeição irreflectida, cujo juízo é deixado ao critério de quem o ouvir.

Depois da noção de amor como doença, do seu conceito romântico e do autocrático, surge a sua deturpação, a definição de algo através do seu negativo. São quatro faixas que espelham este sentimento em todas as suas medidas: enquanto impulso sórdido, desassossego existencial, benquerença desmedida.

Na alvorada de um segundo longa-duração, os Ermo deixam um parêntesis digno de nota. “Amor Vezes Quatro” é a marca de uma maturação musical e, simultaneamente, um disco conceptual que se abre e fecha sobre si mesmo.

OPINIÃO

Os Ermo, a dupla portuguesa que mais profundamente mergulha na mistura entre o lirismo existencial e a música electrónica, lançaram, em 2013, Correspondência, em que o ser português e a tal portugalidade inerente a quem nasce no nosso Portugal foram explorados com mestria e assertividade, tendo como pano de fundo toda uma panóplia de sonoridades manipuladas através da maquinaria electrónica que o Bernardo tão bem domina. O António dá a voz aos textos, à mensagem. Transforma em melodia o bruto que martela na mente e no coração. E se no trabalho anterior viajámos por um país neste EP, intermédio entre trabalhos de longa duração, obtemos algo ainda mais específico, também ele inerente ao ser humano, ou assim julgamos nós – o Amor. 

O que é o Amor? É a pergunta que se impõe. Muitos têm sido os subjectivos e adjectivos usados para a caracterização deste sentimento(?), mas maioritariamente tenta-se que a visão sobre o mesmo se torne em algo positivo. Que o amor move mundos e fundos, que os maiores actos de coragem são feitos por amor, que este é o instinto primitivo de uma mãe(pai) para um filho(a), entre tantas outras coisas. Mas e quando não é nenhuma delas, mas antes uma fonte de sofrimento, de trauma, de repressão (in)consciente? Como é que se conhece o lado de um sem se ter conhecido o outro lado? Ah! O Amor, esse sentimento que provavelmente mais teclas e tinta faz correr, que mais é tema de músicas, principalmente de baladas. Estará o amor assim tão impregnado na nossa vida e nos nossos conceitos?

Pois bem, os Ermo, através destas quatro músicas, despem-se de preconceitos, derrubam barreiras e ousam ir aos locais mais sombrios deste tema. Logo na primeira canção, Amor Vezes Quatro, temos: 

Não há muito tempo eu amei, 

Fui muito, muito triste. Eu sei. 

Lágrimas, cólera, paixão, não mais. 

Dias que eu não queria que fossem reais. 

(…)

É uma força que tudo desvasta 

e corações come ao jantar. 

O sábio é louco e a santa é devassa 

e é esse o veneno de amar. 

(…) 

Mas de que nos vale a vida sem poder amar? 

Não há muito tempo eu amei, 

Fui feliz? Fui triste? Eu não sei. 

Mas faria tudo outra vez. 

Quem é que nunca teve este tipo de pensamentos? Todos eles, principalmente a dúvida existencial sobre se o amor será O que realmente vale a pena lutar por! E sim, que a lírica dos Ermo é incisiva e perfurante, já nós sabíamos, o que mais me agradou foi a forma como os sons explorados acompanharam este negrume, tão bem transmitido pela voz possante do António. O som de Ermo, está mais maduro, mais consistente e também mais lascivo. 

Continuando a viagem, Fado Teu e Súcubo estão encadeadas de forma inteligente, passando de um individualismo quase romântico para passar para uma espécie de obsessão compulsiva, num roçar dissociativo entre a pessoa que se é durante o dia e aquela que se liberta quando por fim está só. O disco termina com Recreio, uma sátira à relação entre a igreja e a pedofilia que é de conhecimento de tantos, mas que ainda mais optam por tapar os olhos, (in)voluntariamente. 

E o amor tem todos estes lados, ou a ausência deles. Fazemos tudo por amor, não é? Damos uma costela, abdicamos de nós mesmos por outros, ou então procuramos em muitos aquilo que não conseguimos encontrar em ninguém. Penso que o António e o Bernardo tiveram de ser tão audazes como corajosos ao fazerem este disco. A sonoridade evoluiu em relação ao trabalho anterior, que foi muito bem recebido, e o tema há-de ser sempre sensível. É de aplaudir e ouvir. Ah! E de aparecer no Musicbox esta Quinta-feira, parece-me que vamos ter um espectáculo daqueles.

Entrevista (2013): http://www.branmorrighan.com/2013/12/entrevista-aos-ermo-dupla-musical.html

Mais sobre os Ermohttp://www.branmorrighan.com/search/label/Ermo

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Ermo disponibiliza avanço do seu próximo disco (EP) – Súcubo https://branmorrighan.com/2015/02/ermo-disponibiliza-avanco-do-seu.html https://branmorrighan.com/2015/02/ermo-disponibiliza-avanco-do-seu.html#respond Tue, 17 Feb 2015 10:12:00 +0000 Pintura de Ana Monteiro

Durante a tarde de ontem, António Costa e Bernardo Barbosa, o duo que compõe Ermo, disponibilizaram uma das músicas do seu próximo EP. Não é um single, esse virá a seu tempo, mas antes uma prenda para quem ansiava por novos sons da banda bracarense. Chega então Súcubo, uma música, em tom poético, atrevida, ousada e despudorada. O som acompanha a voz, ou será o contrário?, em que a tormenta procura a libertação através de um dos actos mais primitivos – a masturbação. Existem muitas formas de expressão, mas sem dúvida que Ermo tem já a sua identidade bem vincada e a cada trabalho a confirmação de que estamos perante um trabalho artístico completo é cada vez mais evidente. Destaque também para a pintura da Ana Monteiro que complementa de forma perfeita tanto a letra como a sonoridade. 

Entrevista cedida ao Morrighan depois do lançamento do álbum «Vem Por Aqui»: 

http://www.branmorrighan.com/2013/12/entrevista-aos-ermo-dupla-musical.html

Dispo os meus pés. Tiro as calças. Desnudo-me totalmente em frente à minha cama e arrumo todas as peças de roupa, menos uma, para ter algo com que me limpar mais tarde.

Deito-me e toco-me, quase mecanicamente como se tivesse de o fazer para adormecer: Correm-me as imagens de seis vistos e seios imaginados e passam por mim todas as imagens recônditas da minha líbido porca e envergonhada e sinto-o e acaricio-o, como se não chegasse o que tenho e passo a mão pelo seu berço como que tentando saciar uma fome que não é minha mas que porá também um ponto final à que é.

Cada vez as imagens são menos turvas e imagino crinas… Crinas femininas, caindo-me aos ombros, varrendo a sujidade que se encrostou em mim. As caras vão mudando, os seios também e mordo o meu lábio inferior num prazer desmedido, durante o qual afasto a realidade que me morde, tentando por termo ao meu lazer.

Tremem-se-me os joelhos, arqueiam-se-me as costas e esfrego a minha nuca suada na almofada molhada e limpo a minha barriga do sémen, fruto do pecado que vos relatei.

Amanhã é um novo dia.

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Ai que ele vem aí…! [Diário de Bordo XXV] Estive no West Festival e no Muvi – Leiria a bombar! https://branmorrighan.com/2014/09/ai-que-ele-vem-ai-diario-de-bordo-xxv.html https://branmorrighan.com/2014/09/ai-que-ele-vem-ai-diario-de-bordo-xxv.html#respond Sun, 07 Sep 2014 16:16:00 +0000

Foi decidido de repente, mas por volta da hora de almoço de Sexta-feira lá me convenceram a dar um “saltinho” a Leiria, ao West Festival, para ver novamente o nosso pessoal de Leiria – First Breath After Coma, Nice Weather For Ducks e Los Atléticos – e ainda ver, pela primeira vez, os Ermo. Saímos de Lisboa pelas 19h, parámos pelo caminho para jantar e eram 21h30 quando demos por nós na Ilha, Leiria. Quando falo em nós, falo de parte daquele pessoal maravilhoso que esteve comigo em Paredes de Coura – Diogo Marçal, Francisco Pinto e Kristen Martins. 

Amantes de boa música como somos, e sem qualquer tipo de obrigatoriedade, cada um pagou o seu bilhete (sim, eu incluída porque queria divertir-me e não estar com outras preocupações), lá fomos à descoberta daquele que se mostrou ser um local fantástico para fazer um festival. Pequenos pormenores à parte, tenho pena da pouca divulgação que este festival teve, pois isso repercutiu-se na quantidade de público – pouca – que esteve lá presente. O ambiente é brutal, o espaço do palco estava original e a paisagem idílica. 

A festa começou com os First Breath After Coma, a ter o Hugo (NWFD e LCC) a substituir o Rui que não se encontra em Portugal. Apesar de serem uma banda que, na minha opinião e até na deles, funcionam melhor em espaços mais fechados e mais íntimos, deram um óptimo concerto. Eles são uns porreiraços e, no fim, ainda deu para dois dedos de conversa. Já os acompanho há tanto tempo que parece que me estou sempre a repetir – afinal, para mim, são das bandas com mais potencial nesta onda da nova música portuguesa. 

Seguiram-se os Ermo, que nunca tinha visto, que em casa até não me dava muito para ouvir – apesar de reconhecer o talento – mas que ao vê-los ai vivo – ao António e ao Bernardo – entrei de tal maneira na onda musical deles que fiquei com vontade de ir para casa ouvir novamente. Temos o Bernardo nas teclas e a tratar da parte electrónica, enquanto o António assume a componente vocal principal e toda uma performance visual muito própria. A sensação que dá é que o som entra pelo corpo do António e que ele se vai moldando aos diferentes tons, às diferentes vibrações e colocações. Fiquei muito bem impressionada. 

Chegou a vez dos Nice Weather For Ducks e animação foi coisa que não faltou. Este é outro projecto que consigo desfrutar, em que me divirto mesmo, mais ao vivo do que em casa. A dinâmica multi-instrumentalista é algo que em concerto ganha outra cor. São cinco músicos que usufruem bem do espectáculo que dão, que transmitem esse espírito e que, como tal, quando damos por nós estamos a dançar livremente ao mesmo tempo que deixamos o significado de cada música entrar em nós. 

A noite na Ilha acabou com Los Atléticos – Gil Jerónimo (LCC) e Walter Santos. Vestidos a rigor – calçãozinho curto, meias até ao joelho com riscas vermelhas e azuis na borda, fitinha na cabeça, raquetes de badminton e ainda aqueles pulsos a combinar com as meias – a música de dança aliada a clássicos do rock e outros dos anos 80/90, foram o desfecho perfeito para esta noite. 

Antes passar ao dia de ontem, quero deixar um agradecimento público ao Hugo Ferreira, da Omnichord Records, que para além do grande impulsionador do Leiria Calling, é uma pessoa espectacular, dedicada, e que me faz sentir como se fosse da família Omnichord. Tanto, que me ofereceu a t-shirt que só o pessoal das bandas tem e que é um verdadeiro mote para mim. “The Only Truth Is Music” – quando ouvimos qualquer um dos projectos musicais da Omnichord Records, não é difícil apercebermo-nos desta grande verdade. Aproveito para deixar mais um agradecimento aos FBAC, aos Ermo, aos NWFD e Los Atléticos por serem uma simpatia e por terem feito com que sentíssemos que valeu a pena chegar a casa às 6h30 da manhã, depois de 340km feitos para os ver. 

Passemos ao Muvi, mais propriamente ao Show Case dos First Breath After Coma, que foi isso que fui ver! “Outra vez arroz, Sofia?” – Não, outra vez FBAC porque não me consigo cansar (e pelos vistos o Diogo Marçal e o Francisco Pinto também não, já o Bernardo Barros apesar de fã, foi vê-los pela primeira vez) de os ver e de os apoiar. Cada concerto desta malta é diferente. Seja em termos de alinhamento, de expressões, de ambiente… Vale sempre a pena. E ali, naquela Sala Montepio do Cinema São Jorge, com um ambiente bem mais íntimo, tudo correu muito bem. A única coisa que me custou, confesso, foi ter de estar sentadinha, quietinha, com o corpo preso à cadeira quando a música exigia muito mais. O formato foi muito interessante – primeiro passaram os três vídeos da banda, ordenados cronologicamente, dando assim a possibilidade de constatar a evolução da banda também a nível estético. Aqui, fica também um grande abraço para o Nuno (Born a Lion e The Allstar Project), que tem tratado da parte técnica dos FBAC e que é incansável. Uma noite de Sábado muito, muito agradável.

Hoje, ando aqui por volta do blogue. Estes dois dias envolvida com os projectos Leirienses, lembrou-me uma conversa que tive com o Hugo Ferreira no Fusing e ainda uma vontade que tinha de falar sobre o Leiria Calling. Veremos se consigo fazê-lo ainda hoje. Acabei também de ler A Ascenção de Nove e quero escrever rapidamente a opinião – entre hoje e amanhã. De resto, tenho umas quantas novidades a palpitar que ando ansiosa por partilhar, mas hoje ainda não é o dia! Que o post vai longo e ainda tenho de ir estudar um pouco hoje também. 

Beijos e até ao próximo Diário de Bordo! 

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[Música da Morrighan] TOP 10 – Playlist for the Weekend 25/26-01-2014 https://branmorrighan.com/2014/01/musica-da-morrighan-top-10-playlist-for.html https://branmorrighan.com/2014/01/musica-da-morrighan-top-10-playlist-for.html#respond Sat, 25 Jan 2014 11:11:00 +0000

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Ermo lançam Videoclip de “Correspondência”, primeiro single do álbum “Vem por Aqui” + Tour Europeia https://branmorrighan.com/2013/12/ermo-lancam-videoclip-de.html https://branmorrighan.com/2013/12/ermo-lancam-videoclip-de.html#respond Thu, 26 Dec 2013 12:30:00 +0000

Já andavam a anunciar no seu facebook há uns dias que iriam ter uma prenda especial para os seus fãs e eis que na passada meia-noite, fomos brindados com o vídeo Correspondência, primeiro single de um dos melhores álbuns portugueses do ano “Vem por Aqui”. Para os mais distraídos, já tive a oportunidade de entrevista esta excelente dupla e essa mesma entrevista pode ser lida AQUI.

Também é hoje, dia 26, que o António e o Bernardo começam a sua tour europeia. O cartaz encontra-se depois do vídeo. Desfrutem, malta 🙂

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Entrevista aos Ermo, Dupla Musical Portuguesa https://branmorrighan.com/2013/12/entrevista-aos-ermo-dupla-musical.html https://branmorrighan.com/2013/12/entrevista-aos-ermo-dupla-musical.html#comments Tue, 03 Dec 2013 16:50:00 +0000 Descobri esta dupla há relativamente pouco tempo, mas a rendição foi imediata. Anunciei o álbum deles “Vem por Aquiaquie desde então que a minha curiosidade por saber mais sobre eles andava ansiosa por ser satisfeita. Confesso que adorei as respostas deles e não me admira nada terem alcançado, em tão pouco tempo, tanto respeito pelo seu trabalho. É completamente merecido. Conheçam melhor o António e o Bernardo, a dupla que constituí os Ermo! 

Olá, António e Bernardo! Em primeiro lugar, obrigada pela vossa disponibilidade em responderem a algumas questões. A primeira que tenho para vós, e porque sou muito curiosa, está relacionada com o nome do duo! Porquê Ermo?

Ermo é uma palavra tradicional da língua portuguesa que significa “lugar deserto ou desabitado”. Assim, pode-se dizer que se adequa ao nosso som em dois pontos simultâneos: em primeiro lugar porque somos muito influenciados pela cultura e música tradicional portuguesa, e em segundo lugar porque temos como premissa do projecto a ideia de explorar novas sonoridades e ideias – ou seja, lugares “desabitados”.

Como surgiu a ideia de se juntarem?

Demo-nos bem quando nos conhecemos e reparámos que tínhamos gostos e formas de encarar a música bastante semelhantes. Outro ponto em comum era a vontade em fazer música; a matemática foi simples a partir daí, e não demorou muito até começarmos a compor juntos. Como gostámos dos primeiros resultados, decidimos assumir um projecto comum.

Como é que caracterizam a vossa música? O que é que pretendem transmitir ou expressar com ela?

Somos sempre um pouco adversos a caracterizações musicais; não só porque a questão de géneros e etiquetas não nos parece prioritária ou sequer relevante, mas também porque no caso da música que fazemos os rótulos são difíceis de arranjar.

Somos sempre o mais sinceros possível naquilo que expressamos: depende muito do que sentimos ou daquilo que andamos a fazer ou a pensar em determinado momento. O nosso tópico mais recorrente é o de Portugal e de tudo o que isso implica (daí que seja um assunto tão vasto), mas isso não significa que nos limitemos a isso. Fazemos música sobre o que queremos e sobre o que nos faz sentido, pelo que muito simplesmente nos vamos expressando a nós mesmos.

Estão juntos desde 2011 e lançam agora o vosso primeiro Disco através da Optimus Discos. Como tem sido o vosso percurso até à edição do disco?

Tem sido um percurso positivo. Vamos seguindo o rumo habitual de qualquer primeira banda, mas sempre ao nosso ritmo e à nossa maneira. Os primeiros concertos chegaram em finais de 2011, inícios de 2012, e entretanto já pisamos vários palcos dos quais nos orgulhamos imenso: o Theatro Circo em Braga ou o Cinema São Jorge em Lisboa, por exemplo. Editámos em Outubro do ano passado o nosso primeiro EP e recebemos bons elogios da crítica, o que nos deu bastante alento; também participamos em algumas compilações muito interessantes, como a compilação bracarense “À Sombra de Deus” ou a compilação anual “Novos Talentos FNAC”. Finalmente, gravámos o álbum no final do Verão deste ano, com a ajuda do Luís Salgado dos Stereoboy.

Já ouvi o vosso álbum e posso afirmar, com grande orgulho, confesso, que este é de uma personalidade única que transborda a alma e o ser do português. Foi propositado? Que feedback é que têm recebido do público? 

Obrigado pelas palavras. Quisemos desde o início tratar o tema do Portugal degradado e em crise dos nossos dias neste álbum, e essa é uma tarefa que só funciona se tivermos em mente o que é ser português do ponto de vista histórico e sentimental; uma boa descrição não se dá apenas através daquilo que vemos e observamos, mas também através de um bom entendimento das causas por trás de tudo o que vemos e observamos. Pelo que sim, houve um esforço no sentido de imprimir no álbum essa alma portuguesa.

O feedback tem sido bastante positivo e no geral as pessoas têm gostado do disco e tecido bons elogios! E ainda temos vários concertos de apresentação e alguns meses de promoção intensa do disco pela frente, pelo que ainda esperamos novas opiniões e novos ouvintes.

Que bandas/músicos é que sentem que influenciam a vossa música?

Não encontramos maneira de responder directamente a essa questão; não somos o tipo de pessoas que compõe a partir de referências a outras bandas ou músicos. Por outro lado, admitimos que a nossa música resulta como consequência de tudo quanto ouvimos; daí que se vá conseguindo manter eclética, distinta de canção para canção, e daí que nela se possam identificar semelhanças com vários géneros musicais de diferente natureza e origem.

Por parte do público, sentem que existe mais aceitação do que resistência à música que se faz em Portugal ou o contrário? Como tem sido no vosso caso?

Cremos que cada vez mais existe um maior interesse do público pela música que se faz em Portugal. Os media também têm dado a sua ajuda (não todos, obviamente), e hoje em dia pode finalmente dizer-se que compensa cantar em português em Portugal, e que a caracterização de um projecto musical enquanto “português” perdeu aquele sentido depreciativo que há uns tempos atrás muita gente tinha o defeito de supor. 

No nosso caso, isto não se tem dado de forma diferente: agrada-nos sermos portugueses, e sentimos que o público português sente o mesmo a este respeito.

Sei que já têm datas de actuação fora de Portugal e que já actuaram no mesmo palco de outras bandas como os Unknown Mortal Orchestra. Na vossa opinião qual é a maior diferença entre o nosso mercado nacional musical e o internacional? Sentem que há mais oportunidades lá fora do que por cá?

Em Portugal é complicada a manutenção de um verdadeiro mercado musical; somos um país de 10 milhões de habitantes, e por consequência um país onde não existe assim tanta gente disposta a gastar dinheiro para ver concertos ou para comprar discos. Além disso, existe o crónico defeito de ver a cultura como uma coisa sem utilidade intrínseca, e que assim sendo não precisa de financiamento para sobreviver. A questão linguística também é complicada: o mercado internacional é dominado por artistas de origem ou tendência anglo-saxónica, permitindo escassas e pontuais excepções (Sigur Rós e El Guincho sendo bons exemplos disto).

Conseguem imaginar o que é que os vossos fãs sentem ao ouvir-vos? Já vos aconteceu dizerem que a vossa música os marcou ou que os mudou de alguma maneira?

É impossível conseguir acesso à experiência subjectiva de outra pessoa, pelo que só podemos especular acerca do que alguém pode sentir ao ouvir a nossa música. Ao longo do nosso percurso vamos encontrando algumas pessoas especialmente entusiasmadas com aquilo que temos vindo a fazer, e isso deixa-nos muito felizes: afinal, é cada vez mais complicado, numa sociedade de informação que funciona à velocidade de um clique, conseguir provocar esse sentimento de surpresa que por vezes sentimos em quem nos ouve pela primeira vez.

Em que locais gostaram mais de actuar? Há algum em específico que vos faça sentir como se estivessem a voltar a casa?

O Theatro Circo resultou numa experiência incrível; não só porque estávamos a apresentar para cerca de 900 pessoas um projecto na altura ainda muito jovem, mas também por se tratar de um lugar emblemático da cidade de Braga – faz de resto parte do imaginário de qualquer músico ou artista bracarense.

O MusicBox, em Lisboa (ao qual vamos regressar já dia 7 de Dezembro), foi outro sítio onde nos sentimos bastante bem; não só pela natureza do espaço em si, mas também pela diversidade que se sentia no público – não existe nenhum espaço nocturno capaz de transmitir de forma tão evidente o espírito multi-cultural da capital.

Finalmente, destacamos ainda o ZigurFest, festival organizado em Lamego, com o cunho da ZigurArtists, onde passamos dois dos melhores dias da nossa vida e fomos recebidos como família. Sem dúvida uma das pérolas do circuito de festivais portugueses.

Enquanto leitora não consigo desassociar a música da literatura. Quase todos os livros têm algum tipo de banda sonora e, inclusive, existem autores que só conseguem escrever a ouvir música. Que tipo de livro é que acham que a vossa música poderia inspirar?

Pergunta difícil! Mais ainda se pensarmos que as nossas canções partem sempre de conceitos perfeitamente literários… Não sabemos de todo que tipo de livro se poderia extrair da música de Ermo, mas gostaríamos imenso de o ler!

E vocês, costumam ler ou escrever? Algum livro preferido que queiram mencionar e que até vos possa ter influenciado de alguma maneira? 

Somos ambos leitores frequentes e escritores ocasionais. Entre alguns dos nossos autores de preferência encontram-se nomes como Fernando Pessoa, Franz Kafka, Jorge Luís Borges, José Régio ou Voltaire (não é em vão que temos uma música chamada “Pangloss”).

Têm algum sonho, algum objectivo, que ainda não tenham concretizado, mas que anseiem? 

O objectivo passa por continuar a construir caminho e fazer a nossa música chegar a mais pessoas dentro e fora de Portugal. Um sonho será o de poder um dia viver apenas para a música.

Que projectos têm em mente para o futuro?

Por ora pretendemos dar o nosso melhor nos concertos de apresentação do álbum e continuar a compor e a trabalhar. Planeamos ainda editar um EP já durante o próximo ano, que se encontra neste momento parcialmente composto.

Agora uma pequena pergunta da praxe que faço a todos os entrevistados: já conheciam o blog BranMorrighan? O que acham do espaço? Que mensagem podem deixar aos seus leitores?

Ainda não conhecíamos o blog. Achamos que se trata de um espaço interessante, bastante abrangente no que toca ao tipo de conteúdos. Aos leitores podemos apenas recomendar que continuem a visitar o BranMorrighan e a apoiar a cultura em Portugal.

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Só posso agradecer a simpatia e em breve farei um texto sobre o álbum! 

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[Música] Ermo lança “Vem por Aqui” + texto de Adolfo Luxúria Caníbal https://branmorrighan.com/2013/11/musica-ermo-lanca-vem-por-aqui-texto-de.html https://branmorrighan.com/2013/11/musica-ermo-lanca-vem-por-aqui-texto-de.html#respond Thu, 28 Nov 2013 10:54:00 +0000

Ermo é um duo formado em 2011 por António Costa e Bernardo Barbosa que, apesar da acentuada juventude dos seus membros, ostenta uma originalidade bem vincada, tanto mais surpreendente quanto rara nestes tempos hegemónicos em que a formatação e as imitações ditam as regras.

Os caminhos maioritariamente electrónicos que trilham são contaminados por um espírito pop de desolação que se associa a uma ideia de portugalidade que não passa apenas, bem pelo contrário, pela utilização da língua portuguesa: o recurso a sons e ambientes, a estados de espírito, que são património do nosso inconsciente colectivo e que imediatamente reconhecemos como nossos, mesmo que os não consigamos identificar ou isolar.

A música dos Ermo é exemplar na forma como uma electrónica minimalista e despojada consegue criar a suficiência sonora para uma voz projectada que deve muito ao canto popular ibérico e que ora grita ora tece malabarismos melódicos dificilmente esquecíveis – com “Correspondência”, o tema escolhido para single, a ser paradigmático desta capacidade em construir impérios melódicos a partir de quase nada.

São cantos da terra, não no sentido de música rural ou tradicional, mas no da sua acepção mística em que, a par do fogo, da água e do ar, ela surge como elemento primordial, encerrando em si grande parte dos mistérios da existência. E se é um mistério a individualização e sobrevivência de Portugal enquanto nação secular, contra todas as evidências e as lógicas mais sensatas, não deixa também de o ser a competência e a imaginação necessárias para a concepção de um bom disco – como este “Vem Por Aqui”!

Download do disco no site da Optimus Discos: http://optimusdiscos.pt/discos/artistoptimusdiscos/vem-por-aqui

A grande surpresa do quarto volume da mostra de bandas bracarenses “À Sombra de Deus” dava pelo nome de Ermo, a singela designação do duo formado em 2011 por António Costa e Bernardo Barbosa e que, apesar da acentuada juventude dos seus membros, ostentava uma originalidade já bem vincada, tanto mais surpreendente quanto rara nestes tempos hegemónicos em que a formatação e as imitações ditam as regras. Efetivamente, os caminhos maioritariamente eletrónicos que trilhavam eram contaminados por um espírito pop de desolação, muito próximo daquele com que uns This Mortal Coil ou, num universo mais marginal, uns Current 93 tinham marcado uma boa parte dos anos 1980 e que, neste novo milénio, é encarnado por uns The XX, por exemplo, mas que, no caso dos Ermo, se associava a uma ideia de portugalidade que não passava apenas, bem pelo contrário, pela utilização da língua portuguesa. Nesse volume do “À Sombra de Deus” homenageavam, com “Augusta”, a cidade que os viu nascer, encenando a presença recorrente da Igreja no seu quotidiano através de um falso canto gregoriano, que se mostrava de uma modernidade absoluta. Mas a ideia de portugalidade ainda ficou mais evidente no seu primeiro EP, editado no final desse ano de 2012, em que uma espécie de exaltação épica de Portugal a partir dos feitos dos seus egrégios avós era constantemente torpedeada e tornada risível pelo choque com o lume brando da realidade miserável em que mijotava. E, de certo modo, volta a estar bem visível neste “Vem Por Aqui”, não tanto através da envolvência temática mas mais pelo recurso a sons e ambientes, a estados de espírito, que são património do nosso inconsciente coletivo e que imediatamente reconhecemos como nossos, mesmo que os não consigamos identificar ou isolar. Mas também aqui a música é exemplar na forma como uma eletrónica minimalista e despojada consegue criar a suficiência sonora para uma voz projetada que deve muito ao canto popular ibérico e que ora grita ora tece malabarismos melódicos dificilmente esquecíveis – com “Correspondência”, o tema escolhido para single, a ser paradigmático desta capacidade em construir impérios melódicos a partir de quase nada. São cantos da terra, não no sentido de música rural ou tradicional, mas no da sua aceção mística em que, a par do fogo, da água e do ar, ela surge como elemento primordial, encerrando em si grande parte dos mistérios da existência. E se é um mistério a individualização e sobrevivência de Portugal enquanto nação secular, contra todas as evidências e as lógicas mais sensatas, não deixa também de o ser a competência e a imaginação necessárias para a conceção de um bom disco – como este “Vem Por Aqui”!

Adolfo Luxúria Canibal

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