Fantástico – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Sun, 10 Jan 2021 10:35:03 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.2 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Fantástico – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 Opinião: A Jaula do Rei, de Victoria Aveyard https://branmorrighan.com/2019/09/opiniao-jaula-do-rei-de-victoria-aveyard.html https://branmorrighan.com/2019/09/opiniao-jaula-do-rei-de-victoria-aveyard.html#respond Wed, 04 Sep 2019 10:03:00 +0000

A Jaula do Rei

Victoria Aveyard

Editora: Edições Saída de Emergência

Sinopse: Quando a faísca da rapariga-relâmpago se apaga, quem ilumina o caminho para a rebelião? Mare Barrow foi capturada e está impotente sem o seu poder, vivendo atormentada pelos erros do passado. Ela está à mercê do rapaz por quem um dia se apaixonou, um jovem dissimulado que a enganou e traiu. Agora rei, Maven continua com os planos da sua mãe, fazendo de tudo para manter o controlo de Norta — e de sua prisioneira. Enquanto Mare tenta aguentar o peso sufocante da Pedra Silenciosa, a Guarda Escarlate organiza-se, deixando de agir nas sombras e preparando-se para a guerra. Entre os guerreiros está Cal, o príncipe exilado, que no meio das dúvidas tem apenas uma certeza: ele não vai descansar enquanto não trouxer Mare de volta. Sangue vermelho e prateado correrá pelas ruas. A guerra está a chegar…

OPINIÃO: Mare, Maven e Cal. Bem, mas que trio mais… desconcertante! Não há maneira de eu me ligar completamente a qualquer um deles. O que não é necessariamente mau. Passo a explicar. A Jaula do Rei é o terceiro livro da série Rainha Vermelha. O primeiro livro surpreendeu-me e foi com enorme avidez que o li. O segundo livro também li com um ritmo bastante grande, porém, confesso, aborreceu-me. Na altura justifiquei: a escrita da autora é bastante boa, mas Mare é um tiro no escuro. A forma como as personagens têm vindo a ser construídas tem tanto de momentos altos como de momentos vazios de significado. 

No início de A Jaula do Rei, eu tinha a esperança que, de alguma maneira, o enredo voltasse a ser vibrante, intrigante e, de preferência, o mais imprevisível possível. As expectativas saíram um pouco ao lado, embora ache que houve uma evolução mais consistente neste volume do que no anterior. Do trio que mencionei inicialmente, Maven tornou-se o protagonista com mais potencial, claramente. Tenho acompanhado algumas discussões online entre #teammaven e #teamcal, mas a forma como Victoria Aveyard tem conduzido a trama não me deixou margens para sentir qualquer compaixão por Cal ou sequer Mare. Portanto, aqui estou eu, #teammaven – não no sentido amoroso, porque o romance em si tem sido um dos pontos mais fracos, mas no sentido que para mim é o mais interessante e promissor. 

Perdoem-me esta divagação, mas esta dualidade permanente – em que simpatizo com o universo criado, mas não simpatizo assim tanto com os protagonistas, em que até acho que existe um enorme potencial, mas não o vejo a ser concretizado – faz-me reflectir sobre quando é que a balança pende para sentirmos que estamos perante uma série que só pode ser ou muito boa ou muito má. No meu caso, vou esperar pelo desfecho para perceber o meu sentimento final. Existem personagens muito boas, que ainda se encontram nas sombras, e que pode ser que tomem comando no que falta da história. 

Resumindo e concluindo: desculpem não falar sobre os desenvolvimentos neste volume, mas dado isto ser uma série, não me faz sentido expor acontecimentos que possam eventualmente causar spoilers a quem ainda não leu os anteriores; vou ler esta série até ao fim porque todas estas alianças e “desalianças” dão-me esperança que o fim possa vir a ser épico, mesmo que não acabe bem. Na verdade, para mim, acho que a única forma de eu ficar impressionada com o final desta trama é com os protagonistas a não terem, necessariamente, um final feliz, mesmo que a sociedade encontre o seu caminho para a paz. Veremos o que acontece! 

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Opinião: Rainha Vermelha, de Victoria Aveyard https://branmorrighan.com/2019/02/opiniao-rainha-vermelha-de-victoria.html https://branmorrighan.com/2019/02/opiniao-rainha-vermelha-de-victoria.html#respond Sun, 24 Feb 2019 17:08:00 +0000

Rainha Vermelha

Victoria Aveyard

Editora: Saída de Emergência

Sinopse: O mundo de Mare, uma rapariga de dezassete anos, divide-se pelo sangue: os plebeus de sangue vermelho e a elite de sangue prateado, dotados de capacidades sobrenaturais. Mare faz parte da plebe, os Vermelhos, sobrevivendo como ladra numa aldeia pobre, até que o destino a atraiçoa na própria corte Prateada. Perante o rei, os príncipes e nobres, Mare descobre que tem um poder impensável, somente acessível aos Prateados. Para não avivar os ânimos e desencadear revoltas, o rei força-a a desempenhar o papel de uma princesa Prateada perdida pelo destino, prometendo-a como noiva a um dos seus filhos. À medida que Mare vai mergulhando no mundo inacessível dos Prateados, arrisca tudo e usa a sua nova posição para auxiliar a Guarda Escarlate – uma rebelião dos Vermelhos – mesmo que o seu coração dite um rumo diferente. A sua morte está sempre ao virar da esquina, mas neste perigoso jogo, a única certeza é a traição num palácio cheio de intrigas. Será que o poder de Mare a salva… ou condena?

OPINIÃO: No final da minha leitura anterior, Destemida, constava o início de Rainha Vermelha. Pensei: porque não? Já tinha o livro há algum tempo e queria combater aquela fase em que andava há algum tempo em que ler fantástico não me estava a atrair (acho que quase todos já passámos por fases em que há certos géneros de leitura que naquele momento não nos entusiasmam). Fiquei agradavelmente surpreendida. Não vou dizer que é o melhor livro de Fantástico que já li, porque acho que a história acaba por ter vários elementos de outros livros do género, mas a forma como está montado, o estilo de escrita e o tipo de narrativa proporcionou-me uma bela leitura e deixou-me curiosa pelos livros seguintes. 

Como mencionei, apesar da trama não ser propriamente uma novidade, acho que todo o livro foi inteligentemente montado. Logo de partida, a imagem da capa é apelativa. Quando iniciamos depois a leitura, o título mantém-se sempre presente na nossa cabeça porque queremos chegar ao momento em que fazemos a ponte entre a história e o mesmo. Confesso que grande parte do meu impulso para avançar o mais rapidamente possível deveu-se a isso. 

Outro factor que ultimamente me tem surpreendido é que há cada vez mais romances distópicos a terem personagens femininas. Já não é como no passado em que era necessário encontrarmos uma Juliet Marillier ou uma Marion Zimmer Bradley para encontrarmos protagonistas femininas fortes. Desde os Jogos da Fome e de Divergente, toda uma nova panóplia de protagonistas surgiu e a tendência parece continuar. Neste caso conhecemos Mare Barrow, uma vermelha sem qualquer estatuto ou emprego que passa a maior parte do seu tempo a roubar para que a sua família sobreviva o melhor possível. Até ao dia em que se cruza com um desconhecido e no dia seguinte está entre Prateados e prestes a iniciar uma vida que lhe trará os maiores desafios e sofrimento. 

O que raramente falta numa distopia é a parte do romance amoroso que irá motivar e ser fonte de coragem para que as mais difíceis decisões sejam tomadas. E o que gostei em Rainha Vermelha é que o romance aqui é algo instável e pouco certo – toda a gente pode trair toda a gente. Não achei as reviravoltas muito imprevisíveis, mas gostei do facto de a autora não tornar a vida fácil a ninguém. 

Em relação ao universo, ao mistério e à evolução das personagens e da história, a autora foi bastante directa ao assunto, impondo um ritmo considerável aos acontecimentos. No entanto, houve algo que me desapontou um pouco. Dada a diferença que se descobre em Mare, nem vermelha nem prateada, mas algo mais, achei que a evolução dos seus poderes ficou aquém do esperado. Para quem ler, e isto não é um grande spoiler, para compreenderem o que digo falo do facto de ela ser capaz de criar electricidade em vez de só usar os elementos disponíveis como todos os outros prateados. 

Resumindo: Rainha Vermelha é um bom primeiro livro, cheio de intriga e violência, onde a linha entre o bem e o mal é tudo menos clara. Somos confrontados com o facto de que a forma como crescemos e somos educados pode condicionar a visão que temos do mundo e como esta pode ser diferente de uns para os outros, dependendo dos privilégios ou do estatuto que se tem. Depois do caos em que terminou este primeiro volume, estou muito curiosa por ler o próximo. 

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Opinião: Destemida, de Lesley Livingston (A Gladiadora #1) https://branmorrighan.com/2019/02/opiniao-destemida-de-lesley-livingston.html https://branmorrighan.com/2019/02/opiniao-destemida-de-lesley-livingston.html#respond Sat, 16 Feb 2019 20:46:00 +0000

Destemida

Lesley Livingston

Chancela: Saida de Emergência

Saga/Série: A Gladiadora  Nº: 1

Sinopse: Fallon é a filha mais nova de um orgulhoso rei celta e sempre viveu na sombra da lendária reputação da guerreira de Sorcha, a sua irmã mais velha, que morreu em combate quando os exércitos de Júlio César invadiram a ilha da Bretanha. Na véspera do seu 17.º aniversário, Fallon está ansiosa por seguir os passos da irmã e conquistar o seu legítimo lugar entre os guerreiros reais. Mas ela nunca terá essa oportunidade, já que é capturada e vendida a uma escola de elite que treina mulheres gladiadoras — e cujo patrono é o próprio Júlio César. Numa cruel reviravolta do destino, o homem que destruiu a família da jovem poderá ser a sua única hipótese de sobrevivência. Agora, Fallon terá de ultrapassar rivalidades perversas e combates mortais — dentro e fora da arena. E talvez a maior ameaça de todas: os seus sentimentos proibidos, porém irresistíveis, por Cai, um jovem soldado romano.

OPINIÃO: A vantagem de quando se está a viajar e temos longas horas de espera e de vôos é que podemos usar esse tempo como desculpa para ler. Com o ritmo de vida a que tenho andado, ler um romance do principio ao fim tem sido impossível. Metem-se as leituras académicas, os manuais das disciplinas que tenho que leccionar, etc., e sempre que pego num romance fico com aquele sentimento de culpa de que provavelmente devia estar era a trabalhar… Estando entre vôos e dentro do avião, libertei-me desse sentimento de culpa e mergulhei em Destemida. Foi o único romance que levei comigo para a Polónia (fora o calhamaço Comportamento) e foi o melhor que podia ter levado. 

Há muito tempo que estou fora dos romances históricos/fantásticos/místicos e Destemida foi muito mais do que esperava. Logo de início reacendeu uma chama inesperada de entusiasmo ao puxar-me para um imaginário celta em que, ainda para mais, a personagem principal tinha como sua deusa de eleição a Morrighan. Eu sei, no livro escrevem Morrigan, mas é-me difícil escrever sem ser com o h. Eheh. Parece que lhe falta ali qualquer coisa! Mas voltemos ao livro. A protagonista do livro chama-se Fallon, é filha de um rei celta e um dos seus objectivos de vida é ser uma guerreira. Aliás, conhecêmo-la precisamente enquanto ela pratica o “vôo de Morrighan”, uma manobra que muito poucos conseguem executar e que acarreta um elevado risco para o executor. 

De um ambiente seguro, com Fallon a descobrir o seu primeiro amor e prestes a tornar-se numa das guerreiras do seu pai, passamos rapidamente para um ambiente de perigo e de imprevisibilidade. Lesley Livingston conseguiu de forma brilhante aquilo que queria – um mundo sem magia, mas absolutamente deslumbrante e com uma energia tão própria que quase parece impregnado dela. De foragida a gladiadora, o crescimento de Fallon enquanto personagem foi algo que me agradou. Teve de passar a criança a mulher, mas não foi daquelas transições repentinas. A autora sobe como explorar toda a estrutura de personagens secundárias para conduzir Fallon ao ritmo certo ao ponto necessário para ser a heroína que revela. 

Mesmo que os leitores saibam muito pouco de história, em Destemida conseguem ter uma excelente noção do que foi a invasão da Britânia pelos romanos e ainda como todo o mecanismo político, muito baseado também em guerras de bastidores, funcionava. A violência enquanto entretenimento provem do aborrecimento de quando as guerras acalmam. É preciso reavivar as memórias, reconstruir glórias passadas… E assim surgem também as gladiadoras. Só uma mulher poderia escrever de forma tão apurada e aguçada sobre um grupo de mulheres e todas as suas dinâmicas de confiança e traição.

O ritmo da narrativa não nos dá hipótese. Não queremos largar, nem por um segundo, Fallon e as suas companheiras. Há demasiadas intrigas escondidas, demasiados passos em falso que podem ser dados! E, claro, aquela componente que não podia faltar e que fico grata que não tenha sido exagerada… o romance! Dou os parabéns a Lesley Livingston por ter construído personagens femininas tão fortes e tão capazes que, mesmo não abdicando do seu lado emocional, mantém-se firmes nas suas convicções. Claro que ajuda quando os personagens-chave masculinos são também eles estruturados refletindo interacções que podiam ter acontecido na realidade. Isto é, lemos o livro e não dizemos “só mesmo em livro é que isto podia acontecer!”. Se por um lado por vezes adoramos perdermo-nos em fantasias, este foi um romance inspirador em que agradeci ter pouco de fantasioso. 

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Opinião: O Poder, de Naomi Alderman https://branmorrighan.com/2018/08/opiniao-o-poder-de-naomi-alderman.html https://branmorrighan.com/2018/08/opiniao-o-poder-de-naomi-alderman.html#respond Wed, 22 Aug 2018 14:45:00 +0000

O Poder

Naomi Alderman

Editora: Edições Saída de Emergência

Sinopse: Quando as raparigas ganham o poder de causar sofrimento e morte, quais serão as consequências? E se, um dia, as raparigas ganhassem subitamente o estranho poder de infligir dor excruciante e morte? De magoar, torturar e matar? Quando o mundo se depara com esse estranho fenómeno, a sociedade tal como a conhecemos desmorona e os papéis são invertidos. Ser mulher torna-se sinónimo de poder e força, ao passo que os homens passam a ter medo de andar na rua, sozinhos à noite. Ao narrar as histórias de várias protagonistas, de múltiplas origens e estatutos diferentes, Naomi Alderman constrói um romance extraordinário que explora os efeitos devastadores desta reviravolta da natureza, o seu impacto na sociedade e a forma como expõe as desigualdades do mundo contemporâneo.

OPINIÃO: Aqui está um livro que tem tudo para ser polémico e interpretado de inúmeras maneiras diferentes. Nem sempre foi uma leitura fácil. Ao início prendeu-me muito, pelo meio houve algum desânimo no entusiasmo, e para o fim já só conseguia interrogar-me sobre qual seria a verdadeira intenção da autora com esta obra. Pode haver quem considere O Poder uma distopia feminista, mas na verdade eu acho que é muito mais do que isso. 

Já imaginaram uma “The Men Writers Association”? Nos dias de hoje parece-nos muito mais credível, até provável, virmos  conhecer uma associação dedicada a mulheres escritoras. Porém, é com este facto que começamos a entrar neste universo. Um hipotético escritor, pertencente à associação para homens escritores, envia o seu manuscrito a uma mulher, Naomi Alderman, agradecendo-lhe caridosamente pelo seu tempo e disponibilidade. O seu receio pelo conteúdo do manuscrito é evidente. No fundo escreve contra o mundo em que agora vive, um mundo dominado por mulheres. No seu manuscrito, o que nos descreve é assombroso. Através de quatro protagonistas, três mulheres e um homem, conhecemos o avanço dos tempos em diferentes pontos do globo, que eventualmente convergem para um único evento. 

Uma sociedade em que haja o domínio de qualquer um dos géneros nunca será uma sociedade equilibrada. Talvez o equilíbrio nunca se atinja, mas o que Naomi Alderman consegue alcançar com este romance é portentoso. Se da nossa história, passada e actual, fazem parte relatos de abusos, mutilações e violações maioritariamente ao sexo feminino, em que se vive(u) num medo constante do que poderá acontecer a qualquer momento, em O Poder conhecemos o reverso da medalha. 

As mulheres, devido a uma nova componente biológica, ganharam o poder das enguias eléctricas, mas numa dimensão muito maior. Consegue provocar desde pequenos choques eléctricos à electrocussão letal. À medida que o poder escala, temos abordagens diferentes. Em alguns pontos do mundo criam-se escolas para se aprender a controlar o poder, noutros os motins são a ordem da casa e são os homens que fogem, são os homens que são violados, mal tratados, mutilados, que vivem num medo constante.  

Se por um lado estamos habituados à imagem da mulher como o género mais sensível, neste livro encontramos a evidência que um poder desmesurado pode deturpar qualquer mente quando o que se tem dentro está podre. As cenas descritas conseguem ser arrepiantes. Os nós no estômago sucedem-se e não são poucas as vezes em que se abrem feridas do passado. Se por um lado esta brutalidade parece impossível quando perpetuada por uma mulher, a verdade é que a maioria foi e é pelo homem. 

No entanto, como disse no início, não é apenas à supremacia feminina que devemos estar atentos, mas antes apercebermo-nos que, tal como a autora escreve em certa parte do romance (mais coisa menos coisa que não tenho aqui o livro comigo) “o problema não são os homens ou as mulheres, são os humanos”. E isto reflecte-se nos vários quadros apresentados: sejam políticos, religiosos ou sociais. 

Margaret Atwood, Karen Joy Fowler e Ursula Le Guin são três autoras a quem Naomi Alderman agradece no fim. Até neste triunvirato conseguimos perceber que toda a intenção de O Poder é inquietar, interrogar. Quer no final se fique deslumbrado quer não, como disse houve partes da narrativa que quase me aborreceram, no seu todo estamos perante uma obra que vale a pena ser lida. 

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Opinião: O Livro do Pó, de Philip Pullman (La Belle Sauvage #1) https://branmorrighan.com/2018/03/opiniao-o-livro-do-po-de-philip-pullman.html https://branmorrighan.com/2018/03/opiniao-o-livro-do-po-de-philip-pullman.html#respond Sat, 10 Mar 2018 22:28:00 +0000

O LIVRO DO PÓ

Volume 1 – La Belle Sauvage

Philip Pullman

Editora: Editorial Presença

Sinopse: Malcolm Polstead tem onze anos. Os pais gerem A Truta, uma estalagem muito frequentada nas margens do rio Tamisa, perto de Oxford. Malcolm é muito atento a tudo o que o rodeia, mas sem chamar a atenção dos outros . Talvez por isso, fosse inevitável vir a tornar-se num espião. É na estalagem que ele, juntamente com o seu génio Asta, descobre uma intrigante mensagem secreta sobre uma substância perigosa chamada Pó. Quando o espião, a quem a mensagem era dirigida, lhe pede que preste redobrada atenção ao que por ali se passa, o rapaz começa a ver suspeitos em todo o lado: o explorador Lorde Asriel; os agentes do Magisterium; Coram, o cigano; a bela mulher cujo génio é um macaco malicioso… Todos querem descobrir o paradeiro de Lyra, uma menina, ainda bebé, que parece atrair toda a gente como se fosse um íman. Malcolm está disposto a enfrentar todos os perigos para a encontrar…

OPINIÃO: Há muito que Philip Pullman se tornou numa referência da literatura fantástica. Depois da série Mundos Paralelos, que tanto conquistou por todo o mundo, eis que agora o escritor regressa ao mesmo universo através de O Livro do Pó, o primeiro livro de uma nova série La Belle Sauvage. Se, por um lado, não me lembro de muitos pormenores de Mundos Paralelos (afinal já passaram mais de dez anos desde que ingressei nesse universo), facto é que me lembro bastante bem da forma calorosa com que me vi envolvida na narrativa. Não sendo necessária qualquer leitura prévia desse universo, O Livro do Pó mostrou-se uma leitura encantadora. La Belle Sauvage, que dá título a este regresso de Pullman, é o nome do barco de Malcolm, no qual vive uma das aventuras mais aterrorizantes e corajosas. O nosso belo protagonista irá dar-nos a conhecer uma Lyra pequenina e indefesa, mas já muito curiosa e perspicaz. Num tom e ritmo sempre crescentes, estamos por uma obra que provavelmente só se ama ou odeia. No meu caso foi amor à primeira vista.

Algo que sempre achei fascinante no universo Pullman é a forma como entrelaça ciência, filosofia, fantasia, política, inocência e maldade. Existe um magnetismo muito grande à volta dos mistérios em que vamos tropeçando ao longo da narrativa, precisamente pelo quão interessante e chocante podem ser as perspectivas e as concretizações. Cada pessoa tem o seu génio, como uma extensão de si mesmo em representação da sua alma. Conhecemos também a possibilidade de encontrarmos respostas através de um objecto mecânico que usa símbolos passíveis de serem interpretados, em várias camadas, e que revelam uma assertividade assombrosa. Apenas com estes dois factos, muito vamos deduzindo das personagens que se movem nesta teia.

Tudo começa quando Malcolm observa um comportamento estranho para a partir daí entrarmos num mundo de encruzilhadas, de intrigas, mas também de muita coragem. De uma forma sublime, vamos atravessando um mundo que está a sofrer algumas transformações e onde a repressão de ideias próprias ou contra o sistema é cada vez mais forte. Ao mesmo tempo, a bebé Lyra é deixada com as freiras, vendo-se envolvida logo no centro de uma trama que envolve uma série de personalidades diferentes, umas com mais integridade que outras. Quando as coisas se complicam e uma tempestade se abate sobre Oxford, Malcolm encontra em Alice, que trabalha para os seus pais mostrando sempre um grande mau feitio, uma companheira inesperada e inigualável. Ambos estão dispostos a lutar o que for preciso para proteger a pequena Lyra.

Não consigo esquecer um dos grandes vilões deste enredo. Bonneville é a personificação das duplas faces, do ser visceralmente maligno, mas com aparência de ser uma pessoa extremamente simpática.  E é aqui que o contraste entre humano e génio mais se faz sentir. Vamos vivendo a duas dimensões, interpretando sempre o personagem em causa, ao mesmo tempo que estamos ansiosos pela descrição da postura/acção do seu génio. Pullman é tão magnífico a transportar-nos para os seus cenários e universo que é impossível ficar indiferente. Resumindo: qualquer pessoa pode ler este livro sem ter lido nenhum outro, tendo como garantida uma viagem que dará que pensar, mas que, acima de tudo, será certamente emocionante. 

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Opinião: O Diabo, o Relojoeiro e a Máquina dos Sacrifícios, de Michael Marshal Smith https://branmorrighan.com/2017/12/opiniao-o-diabo-o-relojoeiro-e-maquina.html https://branmorrighan.com/2017/12/opiniao-o-diabo-o-relojoeiro-e-maquina.html#respond Sun, 10 Dec 2017 14:33:00 +0000

O Diabo, o Relojoeiro e a Máquina dos Sacrifícios

Michael Marshal Smith

Editora: Topseller

Sinopse: Imagine, caro leitor, a oficina de um relojoeiro. Imagine ainda que esta história se passa num mundo banal e que o relojoeiro é, também ele, um homem normal… com um talento extraordinário. Até ao dia em que alguém entra na oficina com o mais invulgar dos pedidos: uma máquina para converter a maldade do mundo em energia. Quem (pergunta-se o leitor) quererá esta bizarra extravagância? Ora, ninguém mais do que o próprio Diabo… Que, como se sabe, tem formas muito persuasivas de obter o que deseja. Passaram-se séculos, e o Diabo e a sua máquina estão a ter problemas. É então que, acidentalmente (embora se suspeite de uma certa influência maligna), a pequena e ingénua Hannah Green é arrastada para uma tenebrosa aventura maquinada pelo Diabo. Preste bem atenção, estimado leitor, pois aqui começará também a sua história, num mundo onde as aparências enganam e as coincidências não existem.

OPINIÃO: Se há uns anos lia toneladas de literatura fantástica, a verdade é que nos últimos três/quatro anos me tem dado para explorar o romance e a não-ficção. Não o romance romântico, mas aqueles mais estranhos, que quase não sei como classificar. Será da idade? Não faço ideia. Do que eu também não fazia ideia é que o bichinho pelo fantástico/ficção científica podia ser encontrado num livro que me chega de surpresa, mas que boa surpresa! O Diabo, o Relojoeiro e a Máquina dos Sacrifícios, de Michael Marshal Smith, editado pela Topseller, ganha logo uma série de pontos pela capa. Eu sei, não devemos julgar um livro pela sua cara porque o interior pode ser sempre uma surpresa, para o bem ou para o mal. Aqui a questão é que estamos perante o “casamento” perfeito. O título, um pouco distante da tradução literal do original, é está muito bem conseguido, a capa aguça o suficiente a curiosidade e a história vai fazendo as delícias de quem lê.

Estamos perante um livro que consegue tocar em várias estéticas literárias e ainda consegue explorar várias texturas, desde cénicas às personalidades dos seus protagonistas. Em cada personagem encontramos características únicas que nos dão diferentes perspectivas sobre as mesmas situações. Nunca tinha lido nada deste autor, mas gostei do ritmo que impôs à narrativa, da forma cénica com que foi descrevendo cada momento e acima de tudo gostei do equilíbrio no confronto entre a perspectiva mais inocente de Hannah com a suposta malevolência do Diabo. 

Os primeiros capítulos foram fundamentais para me prender a esta leitura. O mistério crescente, a tentativa de associar quem era quem até tal nos ser revelado, viram depois em Hannah o momento de revelação. Esta pequena adolescente vive num ambiente familiar delicado, com os pais a separarem-se. É precisamente esse atrito e o facto de o pai se ver algo perdido – o pai é um escritor de séries que não atravessa uma boa fase na sua carreira – que Hannah é “recambiada” para passar algum tempo com o avô. Hannah, que sempre gostou muito dele, aceita de pronto e é aqui que a verdadeira aventura começa. É difícil escolher uma personagem preferido. Consigo dizer que o pentáculo que mais me agradou foi Hannah, o avô, o Diabo, o demónio Vaneclaw e a tia Zoe. Estes dois últimos acabarão por desempenhar papéis bastante cruciais em certos pontos da trama, provocando em nós sentimentos de grande empatia. 

Hannah é a verdadeira aventureira, capaz de fazer tudo pelos pais. O que não estava bem à espera era de vir a ter uma relação especial com o Diabo e até de vir a ter um papel preponderante no desfecho da Máquina dos Sacrifícios. Até lá, terá de viver inúmeras aventuras que servirão para expor medos e fragilidades do ser humano, e também de nos fazer questionar porque é que o mal existe e em que medida é necessário para haver equilíbrio no universo. Este livro, mais do que passarmos um bom tempo a ler, serve para nos levar um pouco ao tempo em que éramos mais inocentes, ao mesmo tempo que nos incita a olharmos para o mundo com um renovado fascínio. Gostei. 

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Edições Saída de Emergência na Comic Con com Andrzej Sapkowski e Claire North https://branmorrighan.com/2017/12/edicoes-saida-de-emergencia-na-comic-con.html https://branmorrighan.com/2017/12/edicoes-saida-de-emergencia-na-comic-con.html#respond Sun, 03 Dec 2017 13:31:00 +0000

A Comic Con está a chegar. Dias 14, 15, 16 e 17 de Dezembro, na Exponor, em Matosinhos

Este ano a Saída de Emergência vai contar com a presença de dois grandes nomes da literatura na área da fantasia.

Andrzej Sapkowski autor da famosa série The Witcher que inspirou o popular jogo (com o mesmo nome) vai estar numa sessão de apresentação das suas obras no dia 16 de Dezembro, às 14h30 no auditório C. Às 16h00, teremos a sessão de autógrafos no Stand da SDE.

Vamos ter também presente na Comic Con,  Claire North autora de As Primeiras Quinze Vidas de Harry August ​ e de A Súbita Aparição de Hope Arden que ganhou o World Fantasy Award para melhor romance.

O talento de Claire North é reconhecido e aclamado mundialmente. A capacidade de criar mundos ficcionais distintos reflete-se nos diferentes géneros literários das suas obras. Em 2004 e 2006, Claire North foi nomeada para o prestigiado Carnegie Medal, que reconhece anualmente um livro infantil excecional, por Timekeepers e The Extraordinary and Unusual Adventures of Horatio Lyle, respetivamente. O livro As Primeiras Quinze Vidas de Harry August foi nomeado para o BSFA Award para Melhor Romance (2014) e para o Arthur C. Clarke Award para Melhor Romance de Ficção Científica (2015) e ganhou o John Campbell Memorial Award para Melhor Romance de Ficção Científica de 2015.

A autora vai estar presente numa sessão com o leitores no dia 17 de Dezembro às 15h00 no auditório de Bd e Literatura. Às 16h30, será a sessão de autógrafos no Stand da SDE

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[DESTAQUE] FÓRUM FANTÁSTICO – de 29 de Setembro e 1 de Outubro na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro https://branmorrighan.com/2017/09/destaque-forum-fantastico-de-29-de.html https://branmorrighan.com/2017/09/destaque-forum-fantastico-de-29-de.html#respond Wed, 27 Sep 2017 10:11:00 +0000

Fantásticos e Fantásticas,

Entre 29 de Setembro e 1 de Outubro a Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, em Telheiras, acolhe a 11ª edição do Fórum Fantástico. Durante três dias, este vai ser o epicentro intergaláctico da Fantasia, Ficção Científica, Terror, Steampunk e outras manifestações de ousadia.

Literatura, Banda Desenhada, Cinema, Ilustração, Artes performativas e crafts, Videojogos, Música, Impressão em 3D e outras tecnologias, todos estes temas serão cobertos em lançamentos, debates, exposições e workshops para todas as idades, com muitas, muitas outras surpresas.

Pontos a destacar incluem o convidado britânico Mike Carey, que acaba de ser escolhido como argumentista do relançamento de Barbarella, o ícone mundial da Ficção Científica que Jane Fonda imortalizou no cinema, também o renascimento da EuroSteamCon Portugal, com diversas actividades no universo steampunk e o lançamento do Almanaque Steampunk 2017, e debates sobre a pertinência da FC e Fantástico no debate político ou a centralidade que a Inteligência Artificial alcançou recentemente na discussão do nosso futuro como Sociedade.

Programação completa em  https://forumfantastico.wordpress.com/programa-ff-2017/

Podem ainda visualizar o vídeo promocional do evento:

Página de facebook: https://www.facebook.com/ForumFantasticoPT/

De 29 de Setembro a 1 de Outubro, venham mergulhar no Fantástico!

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Opinião: O Covil dos Lobos (Blackthorn & Grim #3), de Juliet Marillier https://branmorrighan.com/2017/08/opiniao-o-covil-dos-lobos-blackthorn.html https://branmorrighan.com/2017/08/opiniao-o-covil-dos-lobos-blackthorn.html#respond Wed, 09 Aug 2017 19:02:00 +0000

O Covil dos Lobos (Blackthorn & Grim #3)
Juliet Marillier

Editora: Planeta

OPINIÃO: Já todos sabem que adoro Juliet Marillier. Aliás, os mais atentos e os que seguem o blogue há mais tempo (daqui a quatro meses já faz nove aninhos) sabem que o Bran, do BranMorrighan, muito se deve ao seu livro O Filho das Sombras (o segundo da trilogia de Sevenwaters). Uma conjugação enorme de factores e simbologias levaram a que desse o nome que dei ao blogue, mas anterior a isso era a minha admiração pela escrita da autora. Confesso, depois da Trilogia de Sevenwaters (muito antes de ter passado a saga com seis livros), cada livro que li seu foi sempre numa expectativa meia ofegante.

Quando temos um livro, ou uma série de livros, que nos marca profundamente, estamos sempre à espera que venha um próximo ou, quem sabe, um melhor ainda. Os livros de Blackthorn & Grim não tiveram em mim o mesmo impacto que os de Sevenwaters, mas uma coisa é certa, prenderam-me do início ao fim e encantaram-me de uma forma  ímpar que já se tornou característica de Juliet Marillier. 

O Covil dos Lobos vem fechar as histórias dos protagonistas Blackthorn e Grim, ou assim parece. Foram longas jornadas de aventuras, de corações apertados, alguns sorrisos no rosto, muito desespero, mas acima de tudo muita esperança. A arte de contar histórias de uma forma forte e aveludada ao mesmo tempo não é para todos, mas a escritora australiana já nos habituou à sua capacidade, literalmente, fantástica de nos conquistar com os os universos tão mágicos e as emoções tão reais que se fazem sentir ao longo de cada capítulo. Gostei muito de Blackthorn desde o primeiro livro, mas penso que concordarão comigo quando digo que o percurso de Grim também foi, todo ele, extraordinário.

As personagens femininas de Juliet Marillier são sempre admiráveis e pontos de referência, mas as personagens masculinas que escolhe destacar têm sempre algo de diferente ao que estamos habituados e fazem com que o fascínio se instale. Existe sempre um equilíbrio muito bonito entre o feminino e o masculino nas suas obras. Aqui, em especial, estamos perante dois parceiros que, ao contrário de séries anteriores da autora, têm um peso adicional.

A sua faixa etária e tudo o que passaram/tiveram, atribui-lhes uma maturidade e uma noção do que o que lhes rodeia um pouco mais real, mais dura. Não se descobre que a vida pode ser dura, partimos do princípio que existe um nível de maldade acima do imaginável e o caminho agora é em direcção a algum apaziguamento.

De forma semelhante ao que aconteceu nos dois livros anteriores, para além destes nosso dois protagonistas tão queridos, conhecemos outros protagonistas paralelos, Cara e Bardán, que estão envoltos num mistério indecifrável, mas também ele cheio de sofrimento e de amor. As histórias dos quatro acabam por se entrelaçar num grande puzzle. O puzzle não foi difícil de resolver e penso que muitos leitores chegarão às conclusões certas muito antes de elas serem dadas como certas, mas nem isso tira a vontade de continuar a ler. Pelo contrário, ficamos na ânsia de confirmar as nossas expectativas. 

Antes de me despedir não posso não deambular um pouco pelas emoções que esta trilogia, mas especialmente este livro, me fez sentir. Blackthorn é uma fonte de inspiração para qualquer mulher. Viu a sua família ser assassinada, foi violada, agredida e humilhada, ficou cega de vingança, arriscou-se mil vezes, mas finalmente, também graças a Grim, voltou a ter um vislumbre de alguma paz e de uma possibilidade de um futuro minimamente feliz.

E depois tivemos Grim, sempre descrito de forma a o imaginarmos quase como um pequeno gigante desajeitado, enquanto só me dava vontade de o abraçar constantemente. Também ele tem um passado duro, também ele foi acorrentado e maltratado, humilhado ao ponto de não mais conseguir voltar a dormir uma noite que fosse, até partilhar a pequena cabana na Floresta dos Sonhos, com Blackthorn.

A forma como se foram complementando, como cresceram juntos ao longo destes três livros e como por fim conseguem encontrar alguma rendição deixou-me de lágrima no olho. Todas as histórias paralelas também estiveram carregadas de emoções fortes, enigmas sobrenaturais, um combate constante entre o dever e o querer. Gostei particularmente deste Bardán, o homem selvagem. Senti uma empatia imediata com ele. Fico a torcer para que as suas vidas (Bardán e Cara) tenham o desfecho que merecem. 

Não sei porquê, tinha a ideia de que iam ser sete livros, talvez por causa da maldição dos sete anos, e não apenas três. Não sei se a autora vai voltar a escrever sobre este universo, mas se voltar é mais do que bem-vindo. Confesso que achei o fim um pouco apressado, todo o desfecho com o vilão algo limpinho demais, mas foi o que foi. É sempre bom poder sair deste universo durante uns dias, são sempre viagens maravilhosas. 

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Opinião: Filhos do Vento e do Mar, de Sandra Carvalho (Crónicas da Terra e do Mar – Livro II) https://branmorrighan.com/2017/04/opiniao-filhos-do-vento-e-do-mar-de.html https://branmorrighan.com/2017/04/opiniao-filhos-do-vento-e-do-mar-de.html#respond Mon, 24 Apr 2017 15:57:00 +0000

Filhos do Vento e do Mar (Crónicas da Terra e do Mar II)

Sandra Carvalho

Editora: Editorial Presença

Sinopse: Forçadas a fugir de Águas Santas para escapar à fúria de Tomás Rebelo, Leonor e Guida chegam ao porto de Lisboa e confrontam-se com Corvo, o famoso pirata sobre o qual se contam tantas lendas. Horrorizada com a descoberta de que é filha de Diogo, o Açor, Leonor decide disfarçar-se de rapaz quando Corvo a obriga a embarcar no seu navio, protegendo-se assim dos impulsos masculinos. Inconformada com o seu destino, Leonor resolve fazer tudo para escapar aos piratas. Porém, com o passar do tempo, sente a herança do Açor a despertar dentro dela. O segredo que ensombra o passado de Corvo começa a inflamar a sua curiosidade , enquanto estabelece amizade com os homens que tanto temia. Conseguirá ela regressar a Águas Santas e desmascarar a perversidade de Tomás Rebelo, ou o apelo da liberdade e da aventura, conjugado com a vontade de conhecer o seu verdadeiro pai, tornar-se-á irresistível?

OPINIÃO: O Olhar do Açor marcou o início de uma nova epopeia histórica e fantástica de Sandra Carvalho. Misturando história de Portugal com um misticismo delicioso, esse primeiro volume de Crónicas da Terra e do Mar apresentou-nos Leonor e a sua história cheia de segredos por revelar, envolta em muito amor, porém terrivelmente assombrado e manchado por Tomás Rebelo. Os acontecimentos finais deixaram-me com um aperto no peito, mas ao mesmo tempo com uma bela dose de esperança. Não resisti em reler esse primeiro capítulo do início ao fim e, logo de seguida, peguei avidamente neste Filhos do Vento e do Mar. 

Para quem ainda não leu, preparem-se, as vidas de Leonor e Guida estarão tudo menos facilitadas no início deste segundo volume. Depois dos terríveis eventos que marcaram para sempre as suas vidas, mudando-as irremediavelmente, ambas terão de percorrer caminhos muito diferentes, aceitando ou rebelando-se contra o inevitável. Sandra Carvalho fez um excelente trabalho de narrativa no desenvolvimento das personagens, tanto destas duas protagonistas, como dos restantes piratas. Apesar de nos vermos confrontados com uma quantidade considerável de novos companheiros nesta aventura, cada capítulo está minuciosamente cuidado na forma como introduz e dá forma, gradualmente, a cada um deles, sem que assim nos sintamos perdidos ou enfadados. Também a teia que os une e a forma como interagem uns com os outros, faz com que se crie uma ligação muito próxima com o leitor, pois cada um deles, uns mais do que outros, vai ter um papel importante na história.

Também o decurso da trama se desenvolve a um bom ritmo, havendo espaço para se explorar não só vários dos mistérios pendentes do livro anterior, como para obtermos novas curiosidades sobre a relação entre a descoberta dos Açores e a história de Corvo. Mas não se enganem, enquanto que em O Olhar do Açor nos foi dada uma visão bastante realista de como é que a sociedade na altura funcionava no que toca a estatutos, famílias e descendências, em Filhos do Vento e do Mar é-nos dada toda uma outra visão mais intrépida, pelos piratas. E se no início deste segundo volume só me apetecia esbofetear Leonor, foi com grado que assisti a uma mudança gradual na sua personalidade, mais uma vez calculada de forma muito inteligente pela autora, que, mesmo disfarçada de rapaz, entre a impertinência e a resignação, vai criando uma ligação cada vez maior com Corvo. É nesta expectativa também crescente que vamos devorando página após página até ao desfecho final. Adorei Corvo, um homem que tem tanto de frágil como de forte, dois extremos que arranjam equilíbrio numa capa tão dura quanto delicada e com um legado que tanto é uma benção como um fardo pesado. 

Estou muito curiosa com o próximo, e último, volume, pois ainda existem muitas perguntas por responder e, claro, espero ansiosamente pelo encontro entre Leonor e o Açor. Sandra Carvalho mostra mais uma vez porque é que é a grande rainha do fantástico em Portugal, pois os seus livros são sempre muito mais do que a soma dos seus capítulos, são sempre pequenos tesouros que nos enternecem, comovem, enfurecem e redimem. Existe espaço para tudo: para a bondade, para a benevolência, para o amor, para a paixão, mas também para a violência, para o ódio, para a vingança, para a luta incessante pela justiça. Com sorte, um pouco de redenção. São sempre narrativas envolventes e mágicas que nos fazem sair deste universo por uns instantes. É claro que recomendo. 

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