Filipa Martins – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 05:55:38 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.3 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Filipa Martins – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 Opinião: Na Memória dos Roxinóis, de Filipa Martins https://branmorrighan.com/2018/04/opiniao-na-memoria-dos-roxinois-de.html https://branmorrighan.com/2018/04/opiniao-na-memoria-dos-roxinois-de.html#respond Fri, 20 Apr 2018 16:11:00 +0000

Na Memória dos Roxinóis

Filipa Martins

Editora: Quetzal

Sinopse: «Jorge Rousinol nem sempre foi Jorge Rousinol. Até 5 de agosto de 1945, era o Sete, um número primo.» É assim que começa a história da vida de Jorge Rousinol, um matemático galego que sempre defendeu o poder do esquecimento como o melhor instrumento para a tomada de decisões. Porém – estranha decisão para quem nunca quis recordar –, no final da  vida encomenda uma biografia para perpetuar as suas descobertas, as suas desilusões e as suas pequenas glórias. O biógrafo escolhido acaba por ser alguém com quem privara décadas antes e que se vê, ele próprio, envolvido em memórias que hão de surpreender o leitor. Um romance em três tempos (o do passado do biografado, o do passado do biógrafo e o do presente que os une) que confirma a escrita fantástica, inesperada e inovadora de Filipa Martins com a leveza e a rara sensualidade que atravessa a vida destas personagens.

OPINIÃO: Na Memória dos Rouxinóis é o quarto romance de Filipa Martins, mas apenas o segundo que me passa pelas mãos. Lembro-me perfeitamente de sensação com que acabei Mustang Branco – uma espécie de assombro e admiração. Ao entrar nesta sua mais recente obra, já tinha em mente que Filipa Martins “é um caso sério” da literatura portuguesa e este romance reforçou essa mesma impressão. Desde o seu início que o livro nos toma de assalto. Seja pela teoria base, em que o esquecimento é tido como a melhor arma para tomar decisões, seja por termos um casal homossexual na trama principal, característica que não tem sido assim tão explorada na nossa literatura. Forte e carismática, a narrativa de Na Memória dos Rouxinóis deixa ecos e debates no nosso interior que permanecem bem vivos semanas após termos terminado a leitura.

Sempre que iniciamos uma leitura, à partida já sabemos se foi escrito por uma mulher ou por um homem através do nome do autor, que podemos ou não reconhecer. Mesmo que não soubéssemos, quem é que nunca sentiu que certo livro só poderia ter sido escrito por um ou homem ou por uma mulher? Já se perguntaram que marcadores é que acabam por distinguir as duas narrativas? Pergunto isto porque se me apresentassem este livro sem identificação de quem o escreveu, eu provavelmente não saberia dizer se teria sido homem ou mulher. Talvez pendesse os 51% para o lado masculino e é este 1% que acaba por distinguir, pelo menos na minha opinião, Filipa Martins. Na Memória dos Rouxinóis não é um romance convencional, mas toca em vários aspectos do quotidiano comum. A vida em casal, a vida em juventude, em velhice, a vida pessoal, a vida profissional, as escolhas que fazemos e as que deixamos por fazer. Mistura teorias científicas, matemática, computação e condição humana. Riqueza e diversidade de interesses é coisa que não falta neste romance.

Não sendo o mais fácil dos romances, é uma obra em que vale a pena mergulhar e navegar com a devida calma para não se perder nenhum pormenor. É contada em três saltos temporais, sendo necessária alguma concentração para nos enquadrarmos no devido tempo e cenário. Mas toda esta “exigência” vale a pena e é compensada com uma linguagem eloquente, directa e provocadora. Resumindo, e relançando o mote, o que é que leva uma pessoa que sempre defendeu a teoria do esquecimento a querer, de repente, a sua biografia registada e publicada? Em que momento das nossas vidas é que o medo de sermos esquecidos nos invade? E porquê? Será que temos noção que muitas das decisões que tomamos no dia-a-dia é porque, pelo menos por momentos, esquecemos que certas coisas já nos aconteceram? Como referi no início desta opinião, são vários os ecos que esta obra deixa em nós e estas perguntas são perguntas que hoje em dia chego a discutir com colegas. Sendo eu das ciências informáticas, existem modelos de aprendizagem e de simulação que se baseiam puramente no presente e, no máximo, na iteração anterior. Ou seja, baseiam-se no esquecimento do passado para aprenderem o melhor passo seguinte. Curioso, não? Obrigada, Filipa Martins, por este contributo tão especial e único para a literatura portuguesa. 

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[DESTAQUE] Renascença com novo espaço – A Biblioteca de… https://branmorrighan.com/2018/02/destaque-renascenca-com-novo-espaco.html https://branmorrighan.com/2018/02/destaque-renascenca-com-novo-espaco.html#respond Tue, 13 Feb 2018 16:11:00 +0000


A Biblioteca de… é um novo espaço de entrevista e leitura na Renascença. Na Edição da Noite, sempre às quartas-feiras, depois das 23h00. Tem a duração de 15 minutos e é da responsabilidade do editor Rui Couceiro e da escritora Filipa Martins.

Unidos pelo amor aos livros os dois juntam-se na Renascença para visitar as Bibliotecas de leitores de renome e desafiam o convidado de cada edição a ler alguns excertos do seu livro preferido.

Filipa Martins é jornalista e escritora. Colaborou no Diário de Notícias, Notícias Magazine, Evasões, LER e Jornal i. Foi assessora de comunicação da secretaria de Estado da Cultura. Recebeu o prémio Revelação em 2004, na categoria Ficção, atribuído pela APE (Associação Portuguesa de Escritores). Tem 3 romances publicados.

Rui Couceiro é editor e coordenador cultural do maior grupo editorial português. Foi jornalista, com um percurso de oito anos de rádio e passagens pela imprensa e pela televisão, e assessor de comunicação. 

A identidade sonora do novo espaço da Renascença A Biblioteca de … é da autoria de Rodrigo Leão.

A primeira edição vai para o ar, na Edição da Noite desta quarta-feira, 14 de fevereiro, e o convidado é o Prof. Eduardo Lourenço.

Outros nomes já convidados para as próximas edições são Aldina Duarte, Rui Veloso e Rita Rato.

A Biblioteca de… estará disponível em podcast e pretende-se que seja um espaço de partilha.

A BIBLIOTECA DE…

EDIÇÃO DA NOITE

SEMPRE ÀS 4ªS, DEPOIS DAS 23H00

RENASCENÇA , A PAR COM O MUNDO

Mais informações em www.rr.pt

Mais informações:

Direcção de Marketing e Comunicação

Maria da Paz Ruivo- maria.ruivo@rmultimedia.pt

T: 213 239 451 | M: 963 238 642

Letícia Pinheiro- leticia.pinheiro@rmultimedia.pt

T: 213 239 465

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Opinião: Mustang Branco, de Filipa Martins https://branmorrighan.com/2014/11/opiniao-mustang-branco-de-filipa-martins.html https://branmorrighan.com/2014/11/opiniao-mustang-branco-de-filipa-martins.html#respond Sat, 29 Nov 2014 22:02:00 +0000

Mustang Branco

Filipa Martins

Editora: Quetzal Editores

Sinopse: Uma mulher cresce protegida pela austeridade do pai – um Coronel – que, para além do bem-estar da família, tem como paixão um Ford Mustang branco titânio a rolar nas estradas da cidade da Beira, em Moçambique. Alheada da guerra civil que domina a ex-colónia portuguesa, apaixona-se pela pele curtida de um guerrilheiro. Vinte anos mais tarde, no seu apartamento, numas minúsculas águas-furtadas em Saint-Germain-des-Près, ela continua marcada pelas lembranças que tem deste catanador de chissamba – Caju, de seu nome, tal como o fruto.

Quando um conjunto de acasos a leva ao septuagésimo nono andar da Torre Montparnasse, reencontra o seu velho amor no ambiente cosmopolita de Paris, apertado pelos fatos cintados da alta-costura e de braço dado com o dinheiro. De imediato, é enredada numa teia de negociatas de contornos densos, misteriosos e devassos que a conduzem à prisão – e ao passado.

Opinião: “Nunca estamos no dia a que chamamos o dia de hoje.” É este o remate do terceiro romance de Filipa Martins. E tal como a citação, todo o romance acaba por ser um conjunto de encontros e desencontros, tanto emocionais como pessoais, numa dança inconstante e instável sobre o desejo e a vontade, o dever e a obrigação, o que nos move e o que nos detém. Atravessando paisagens como a Beira e Paris, passando por Londres, Mustang Branco traz-nos a história de uma jovem, que narra na primeira pessoa, que de uma infância opressiva e reprimida, passou para um liberalismo sedento de significado, sempre na busca da satisfação e da superação de si mesma. 

Começamos por um presente tumultuoso para, repetidamente, visitarmos o passado que o justifica. Temos uma protagonista feminina que vai falando connosco, dando-nos a conhecer as suas forças e as suas fraquezas, tornando-a tão humana e banal que qualquer mulher poderia ter vivido algo assim. A imagética é forte, os cenários estão bem descritos e por vezes é como se estivéssemos a assistir a uma tela a preto e branco, com o presente a cores, um misto de evolução de carácter, mas também de obsessões. 

Foi uma leitura que tanto me surpreendeu, e acelerou a leitura, como em certas alturas pareceu demorar-se demasiado a passar. Talvez seja assim a nossa própria vida, umas vezes parece que o tempo não é suficiente para nada e outras vezes permanecemos num limbo que nunca mais acaba. Estava a pensar no nome da personagem e não me conseguia lembrar, só da alcunha que Caju lhe tinha dado – Sardenta. Esta é outra característica na escrita da autora que acaba por se sobrepor muitas vezes à grande tela a que assistimos, os pormenores fazem a diferença. Por vezes, toda. 

Existe um caminho, enquanto mulher, que todas nós percorremos. Os dramas da infância, as inseguranças da adolescência, as paixões perdidas para as irmãs mais velhas ou para as melhores amigas, o chegar a adultas e o termos tudo isso em baús que com um vento mais forte se abrem e libertam as recordações mais mordazes. Não sei classificar este livro em categorias ou secções, sei que é um livro muito humano, com recortes dos tempos de guerra em Moçambique, com cruzamentos de vidas e personalidades reais. Esse Mustang Branco, qual símbolo de supremacia e controlo, acaba por ser a maior testemunha e consequência das vontades do homem. 

A escrita está bem estruturada, a leitura dá-se de forma fluída e natural e foi um prazer descobrir mais uma escritora portuguesa. Foi uma daquelas obras que ao ler senti que só podia ter sido escrita por um português. Existe essa particularidade e capacidade em descrever certas emoções que só nós, detentores únicos da palavra saudade, conseguimos. Fica a curiosidade para ler mais obras da autora. 

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