Inês Montenegro – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 04:47:47 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.3 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Inês Montenegro – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 [Divulgação] Projecto Literário Imaginauta – «Comandante Serralves – Despojos de Guerra» https://branmorrighan.com/2014/07/divulgacao-projecto-literario.html https://branmorrighan.com/2014/07/divulgacao-projecto-literario.html#respond Fri, 18 Jul 2014 17:30:00 +0000

Há cerca de um ano, Carlos Silva lançou um desafio a 5 autores. Partindo de uma história inicial, um punhado de personagens e de uma linha temporal, construir um universo, expandindo-o em complexidade e novas perspectivas.

Vitor Frazão, Ana Ferreira, Joel Puga, Inês Montenegro e Rui Leite alinharam na aventura, criando “Comandante Serralves – Despojos de Guerra”, uma aventura espacial por um herói muito questionável.

O Sistema Solar foi invadido. “Comandante Serralves – Despojos de Guerra” não é a estória de como a Humanidade se uniu e derrotou essa ameaça, mas sobre o que veio depois.

É uma estória sobre a Aliança Humana e quem se opõe a ela. Sobre separatistas que acreditam que a Liberdade e as identidades culturais dos povos da Terra e das colónias espaciais não devem ser sacrificados perante a visão unitária e absolutista do Presidente da Aliança Humana.

Entre estes rebeldes destaca-se Serralves, o nosso guia neste mundo. Ele próprio uma relíquia de guerra, tal como a sua nave, Maria. Um simples soldados que abraçou a causa, distinguindo-se dos camaradas apenas graças a um pequeno pedaço de tecnologia roubadas aos invasores alienígenas.

Para alguns é um herói. Um símbolo da Rebelião que nunca pode ser permitido que morra. Para outros, um vilão. Um mísero criminoso que prospera no caos da Rebelião, um monstro responsável por atrocidades inarráveis.

Ou apenas um soldado, que para o bem ou para o mal, faz as suas escolhas e vive com as consequências.

Mais do que apenas um conto numa antologia, cada contributo é um episódio que complementa os restantes, na longa e sinuosa jornada à descoberta do astuto Comandante Serralves. Viagem na qual os seus autores esperam ter a companhia não só de vários leitores, como de outros artistas. Tal como “Comandante Serralves – Despojos de Guerra” nasceu da partilha de um autor, queremos ver esse mesmo espírito continuar e o universo de Serralves expandir com os contributos de todos vós.

Mais em: http://imaginauta.net/    

Brevemente entrevista à organização do Imaginauta! 

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Conto dedicado aos 5 Anos do Blogue – “O Anúncio do Corvo” (Inês Montenegro) – Fantasy & Co. https://branmorrighan.com/2014/03/conto-dedicado-aos-5-anos-do-blogue-o.html https://branmorrighan.com/2014/03/conto-dedicado-aos-5-anos-do-blogue-o.html#respond Fri, 21 Mar 2014 17:56:00 +0000

Dado o trabalho desenvolvido pelo blogue Morrighan ao longo destes 5 anos, ajudando a divulgar a literatura fantástica e os autores nacionais, o Fantasy & Co. decidiu participar nas comemorações do quinto aniversário, associando-se como parceiro, dedicando um conto à deusa que dá nome a este blogue.

Desde já o meu muito obrigada e já sabem que da minha parte estou sempre disponível para ajudar no que puder. Aqui fica o conto:

Owen deixou o líquido escorrer pela garganta numa
celebração envenenada. Naquela noite bebiam, na manhã seguinte combateriam. O
álcool emprestar-lhes-ia fulgor. Ou levá-los-ia à sua morte. Uma ou outra. O
meio-termo era algo que não existia: a sua honra não permitiria que se
rendessem, ou que se dessem como prisioneiros.

Em seu redor, os amigos urravam. À luz das
fogueiras, cada um deles assemelhava-se mais a um espírito maligno que a um
guerreiro humano. Se assim se mantivessem, e se os deuses os ajudassem…

O crocitar do corvo desviou a atenção do irlandês.
Franziu as sobrancelhas louras, baixando o braço com que segurava a caneca. Nem
aquele era um animal nocturno, nem o seu ruído teria a potência suficiente para
se fazer ouvir por entre a algazarra dos guerreiros.

Croc. Croc.

Mas repetia-se. Semicerrou os olhos e viu-o,
saltando pelas ervas, uma silhueta negra mal se distinguindo na escuridão da
noite. Os olhos pretos olhavam-no de lado, a cabeça ligeiramente torcida.

Croc. Croc.

A caneca voou na direcção do corvo, que se apressou
a levantar voo. Por muito estranho que fosse o bicho, acabava por se comportar
como todos os outros quando confrontado com aquelas arremetidas mais perigosas.
Owen riu-se, talvez já incentivado pelo álcool. A mundanidade regressou por
momentos, pouco beliscada pelo pequeno episódio.

Por minutos.

Croc. Croc.

Afastara-se para aliviar a bexiga. O corvo
observava-o de um galho. Mal o deveria distinguir, mas bem o via, a cabeça
ligeiramente inclinada, o olhar de quem troçava… Saltou novamente para as
ervas, crocitando.

“Quer que o siga” apercebeu-se. A compreensão
afastou a névoa bem-disposta da celebração – ou despedida – que antecedia a
batalha. “Um mensageiro dos deuses.” O pensamento abismava-o ao mesmo tempo que
o atemorizava. Mas nenhuma outra explicação lhe parecia plausível. O corvo não
era um animal noctívago. O corvo não se fazia visível na escuridão. Mas aquele
era-o e fazia-se.

Owen não hesitou. O corvo saltitou à sua frente,
não voltando a olhá-lo, como se convencido que, uma vez seguido, não mais
precisaria de persuadir. Estava correcto. Ave e guerreiro afastaram-se no
interior da noite, ultrapassando os limites do acampamento, e caminhando até se
ouvir o correr do ribeiro.

Croc. Croc.

Desapareceu. Owen franziu o sobrolho, desconfiado,
desfazendo-o logo de seguida. Os lábios entreabriram-se, acompanhando o único
passo de recuo. A figura crescia, adelgaçava-se, perdia penas e ganhava formas.
Os cabelos negros caíam pelas costas da mulher desnuda, que o observava com a
troça do corvo.

– Morrighan – exalou. A deusa da guerra e das
batalhas. A balança em cujas mãos estavam a vida ou morte do guerreiro. A seu
modo, uma tecedora de destinos.

– Meu bravo guerreiro. – A jocosidade subvertia as
palavras de encanto. – Que farias caso aquela caneca me tivesse ofendido?

Owen empalideceu, recordando o objecto que lhe
atirara para afugentar o corvo. A deusa riu-se, pousando-lhe a mão na face.

– Descansa. É preciso mais para me ofender. Mas –
acrescentou, o semblante entristecendo – não poderei alterar o dia de amanhã.
Uma pena. Há muito que te acompanho e protejo. Honraste-me bem em batalha,
Owen. Não tomes o teu fim como uma vingança. Não está tanto nas minhas mãos
quanto vocês o julgam.

Afastou-se, deixando-o hirto, a cabeça num
fervilhar de pensamentos. A deusa aparecera-lhe. Bela, como a diziam. Poderosa.
Tudo em seu redor se submetia à sua presença, adequando-se a ela. Que lhe
dissera? Que o seu fim não era vingança.

– Morrighan! – chamou, saindo abruptamente do seu
torpor. A deusa ignorou-o, debruçada sobre o ribeiro. O objecto nas suas mãos
rebrilhava pela Lua. Ele não precisou de se aproximar para o reconhecer, para
saber do que se tratava.

Uma pena.

Morrighan lavava a sua armadura na corrente do
ribeiro.

Há muito que
te acompanho e protejo.

Mas não no dia seguinte. Owen conhecia a lenda,
todos a conheciam. Morrighan fizera-se ver por ele, lavando-lhe a armadura.

Não está
tanto nas minhas mãos quanto vocês o julgam.

Na manhã seguinte, morreria.

– Porquê eu?

Morrighan imobilizou-se. As costas arquearam-se,
enquanto mergulhava o escudo uma última vez, antes de o pousar ao lado dos
restantes objectos. A súbita sensação de alerta tomou Owen. Ela ia desaparecer.
Deixá-lo-ia sem uma resposta, uma explicação… Atirou-se adiante, a mão
estendida para a agarrar, num gesto inútil.

O corvo esvoaçou, afastando-se. Na noite, um único
som:

Croc. Croc.

Inês Montenegro

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