Leituras 2014 – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 04:36:55 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.3 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Leituras 2014 – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 Opinião: Mar – Enciclopédia da Estória Universal, de Afonso Cruz https://branmorrighan.com/2014/12/opiniao-mar-enciclopedia-da-estoria.html https://branmorrighan.com/2014/12/opiniao-mar-enciclopedia-da-estoria.html#respond Tue, 30 Dec 2014 14:17:00 +0000

Mar – Enciclopédia da Estória Universal

Afonso Cruz

Editora: Alfaguara (Penguin Random House)

Sinopse: Mais uma vez, Afonso Cruz volta a desafiar os géneros e escreve um volume de Enciclopédia que, afinal, é um romance em várias entradas: um conjunto de histórias interligadas, todas elas sobre o MAR, o seu apelo, o seu fascínio. Histórias encantatórias a que não faltam personagens inesquecíveis, como a do homem que tem o céu tatuado na pele ou o músico que lança cartas de amor ao mar. O último romance de Afonso Cruz, Para onde vão os guardachuvas, venceu, este ano, o Prémio SPA – Sociedade Portuguesa de Autores, e foi ainda finalista dos Prémios APE – Associação Portuguesa de Escritores e Fernando Namora.

Opinião: Não podia deixar terminar 2014 com a opinião deste livro pendente. É que ler Afonso Cruz é querer ficar inquieto, é não suportar a monotonia, é querer ir mais longe e desafiarmo-nos a mergulhar em baús – do passado, do presente e ainda tentar espreitar para o futuro. Não conheço nenhum outro escritor que de forma tão simples, como uma frase curta, consiga causar tão grande impacto. Falo de sentenças como esta, por exemplo – “Dizem que cada homem é uma ilha, mas, para ser preciso, cada homem é um náufrago.

Existe esta diferença entre os romances de Afonso Cruz e as suas Enciclopédias – enquanto nos primeiros temos um mesmo universo explorado de forma intensa e brutal, estas últimas trazem até nós, de maneiras tão diferentes, tantas personagens, vidas, acontecimentos e temáticas que mergulhar num destes livros é mesmo como tentar nadar ao longo de um vasto mar, tocando em diferentes povoações a cada toque de terra. Cada uma tem o seu tema e o de 2014 foi precisamente esse – o Mar. De tantos elementos que temos na natureza, sem dúvida que este, pela sua vastidão e profundidade, pela sua volatilidade e ao mesmo tempo consistência, consegue ser o reflexo de várias emoções humanas. 

É apelando aos vários sentidos, começando pelo olfacto e acabando no tacto, que tomamos contacto com uma imagética marítima forte e nos deixarmos prender nas várias estórias que nos são contadas. Como só Afonso Cruz consegue fazer de forma exímia, existe um entrelaçamento, uma ligação intrínseca entre cada uma delas, que deslumbra o leitor, ao mesmo tempo que o abana e, por vezes, o choca. Existe uma inevitabilidade e uma consequência em cada acção que é exposta nestes contos, ao mesmo tempo que se viaja pela infância e por um tempo adulto perdido. 

Mar – Enciclopédia da Estória Universal, é uma obra para se ir lendo, para se ir consultando. Não existe pressa em percorrê-lo do início ao fim, qual maratona, porque cada letra, componente, conto, frase, aforismo, o que for, merece ser lido, vivido e digerido como deve ser antes de se avançar para o próximo. Não é novidade que estamos perante um dos grandes autores do século XXI, mas eu arrisco-me, sem medos, a dizer que estamos perante um dos melhores autores portugueses de sempre. Pode-se estranhar ao início, o estilo diferente, a forma muito própria e contemporânea com que aborda os seus enredos, mas quando se entranha, já não se consegue passar muito tempo sem ler ou reler algo seu.

PS: Fica uma nota para a capa e a sua concepção estética, que à primeira vista perguntei-me o que será que lhe tinha acontecido, mas que no fundo é como que um manuscrito vindo dentro de uma garrafa (que grande garrafa esta), com marcas da salinidade, bem ao jeito do que encontraríamos se encontrássemos um desses papiros perdidos pelo mar.  

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Opinião: A Cidade do Fogo Celestial (Caçadores de Sombras #6), de Cassandra Clare https://branmorrighan.com/2014/12/opiniao-cidade-do-fogo-celestial.html https://branmorrighan.com/2014/12/opiniao-cidade-do-fogo-celestial.html#respond Wed, 24 Dec 2014 00:16:00 +0000

A Cidade do Fogo Celestial (Caçadores de Sombras #6)

Cassandra Clare

Editora: Grupo Planeta

Sinopse: Clary e os amigos enfrentam a mais terrível expressão do Mal que alguma vez tiveram de combater: o irmão de Clary. Sebastian Morgenstern está ao ataque e volta Caçador de Sombras contra Caçador de Sombras. Com a ajuda da Taça Infernal, transforma Nefelins em criaturas saídas de um pesadelo, separando famílias e amantes enquanto engrossa as fileiras dos seus Ensombrados. 

Acossados, os Caçadores de Sombras refugiam-se em Idris… mas nem os poderes demoníacos de Alicante conseguem manter Sebastian à distância. E com os Nefelins encurralados em Idris, quem protegerá o mundo contra os demónios?

Quando é desmascarada uma das maiores traições de toda a história dos Caçadores de Sombras, Clary, Jace, Isabelle, Simon e Alec são obrigados a fugir – ainda que a sua viagem os leve até ao coração dos reinos demoníacos, onde nunca nenhum Caçador de Sombras fora e de onde nenhum ser humano alguma vez regressara. 

Opinião: Existem alturas em que damos conta que o tempo passa depressa, se passa! Quando peguei em A Cidade do Fogo Celestial dei conta que já tinham passado quatro anos desde que tive o primeiro contacto com o mundo dos Caçadores de Sombras e mais, que não só já tinha lido todos desta série como também a trilogia As Origens, que tantas saudades me deixou. Foi então como um baque, o sentimento de que, não havendo previsão de publicação de mais nenhum livro deste universo, iria ser este o fim da jornada. 

Por este ser um último volume de uma saga, o tom de balanço é inevitável e engraçado será lembrar que quando li o primeiro livro impliquei com Clare e Jace até mais não. Fui lendo com entusiasmo os volumes seguintes, cada vez melhores, mais complexos e viciantes e, nos entretantos, porque foram sendo publicados alternadamente, fui lendo a outra série, Anjo Mecânico, Príncipe MecânicoPrincesa Mecânica. Tenho para mim que esta trilogia foi das melhores que já li (mais uma vez com um crescendo no gosto de livro para livro), e foi com um grande sorriso nos lábios que vi as duas histórias a convergirem. E é por isso que não continuo esta opinião sem vos aconselhar a lerem aqueles três livros antes de lerem este desfecho. Tudo terá outra beleza! 

Ainda assim, esta leitura teve sentimentos mistos. Se por um lado foi bom ver os ciclos convergidos e fechados, apesar de achar que a autora deixou a história suficientemente em aberto para voltar a ela quando quiser, com outras gerações, a verdade é que o livro foi um pouco longo. Dei por mim, algumas vezes, a quase querer saltar páginas. Ansiedade de ver como tudo iria acabar? Sem dúvida, mas penso que houve uma insistência excessiva em por vezes martelar alguns ciclos viciosos, já promovidos nos livros anteriores. Se por um lado as relações são super intensas e existe aquela necessidade sôfrega de que tudo corra bem e que os pares fiquem juntos, a forma como acabam por ser exploradas nem sempre é a mais saudável. 

O rumo da trama foi aquele que se podia esperar. Entre altos e baixos, algumas mortes de personagens potencialmente queridas e novas personagens para nos agarrarem a atenção, tudo fica bem quando acaba minimamente bem e é aqui que eu gostava que Cassandra Clare tivesse tomado mais riscos. Não que os nossos protagonistas não passem por perigos de suster a respiração, mas antes porque as apostas em termos de sacrifícios foram seguras. Não me senti particularmente abalada com elas, por não estar muito ligada a essas personagens, e acho que o livro também precisava disso.

Resumindo, Os Instrumentos Mortais, todos os seis livros, trazem até nós um mundo onde as sombras contêm segredos, em que nem tudo o que parece é e em que o sobrenatural é uma realidade. Gostei da parte mitológica, onde todos os universos se cruzam – anjos, vampiros, lobisomens, demónios, fadas, fantasmas, entre outros. Foram muito bem cruzados, com personagens apaixonantes, momentos que ficarão sempre guardados e muitas lições que se podem tirar. 

Quero recomendar esta série, mas a quem tenha um espírito aberto, que goste de fantasia e que a veja como entretenimento. Penso que a grande questão quando vamos crescendo e lendo outras coisas é mesmo esta – para se ler e poder apreciar alguns livros é preciso irmos sem estigmas e com uma imaginação que nos leve sem amarras para onde queremos ir. Caçadores de Sombras é uma dessa sagas que só faz sentido ser lida se não houver qualquer tipo de preconceito e se se gostar de sofrer do coração com histórias de amor e lealdade muito intensas.

Outras opiniões:

A Cidade dos Ossoshttp://www.branmorrighan.com/2010/08/opiniao-cidade-dos-ossos-os.html

A Cidade das Cinzashttp://www.branmorrighan.com/2012/02/opiniao-cidade-das-cinzas-cacadores-de.html

A Cidade de Vidrohttp://www.branmorrighan.com/2012/02/opiniao-cidade-de-vidro-cacadores-de.html

A Cidade dos Anjos Caídoshttp://www.branmorrighan.com/2012/04/opiniao-cidade-dos-anjos-caidos.html

A Cidade das Almas Perdidas: http://www.branmorrighan.com/2012/10/opiniao-cidade-das-almas-perdidas.html

A Cidade do Fogo Celestial: http://www.branmorrighan.com/2014/12/opiniao-cidade-do-fogo-celestial.html

Anjo Mecânicohttp://www.branmorrighan.com/2013/07/opiniao-anjo-mecanico-cacadores-de.html

Príncipe Mecânicohttp://www.branmorrighan.com/2013/09/opiniao-principe-mecanicoclockwork.html

Princesa Mecânicahttp://www.branmorrighan.com/2014/01/opiniao-princesa-mecanicaclockwork.html

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Opinião: Gata Branca (The Curse Workers #1), de Holy Black https://branmorrighan.com/2014/12/opiniao-gata-branca-curse-workers-1-de.html https://branmorrighan.com/2014/12/opiniao-gata-branca-curse-workers-1-de.html#respond Sun, 21 Dec 2014 13:18:00 +0000

Gata Branca

Holy Black

Editora: Editorial Presença

Sinopse: Cassel Sharpe é um jovem de dezassete anos que deseja ter uma vida normal. Mas quando se nasce numa família com uma forte tradição em manipulação de maldições a normalidade não é algo fácil de alcançar. Cassel vive ensombrado pela ameaça de, a qualquer momento, os poderes maléficos que correm na sua família se manifestarem também em si. Por diversas vezes, a sua vida é posta em risco quando, em sucessivos episódios de sonambulismo, passeia pelos telhados do colégio interno que frequenta. De volta a casa, torna-se cada vez mais claro para Cassel que um tenebroso segredo familiar ameaça destruí-lo. Desejoso de perceber quem realmente é, o jovem inicia uma cruzada de autodescoberta que o leva a enfrentar perigos cada vez maiores. Holly Black traz-nos uma narrativa fascinante que abre um novo capítulo neste género literário, o thriller noire.

Opinião: Apesar de Holy Black já ter várias obras publicadas no nosso país, inclusive em parceria com a nossa conhecida Cassandra Clare, foi a primeira vez que li um livro seu. Gata Branca, literatura fantástica para jovens-adultos, reflectiu essa estreia e trouxe com ele um universo de magia, com personagens bem construídas, uma boa dose de questões morais e toda uma aura mais negra, de mistério, traições, maldições e muitas “manipulações”. 

Manipulador, é esse o conceito base de toda a obra, que dita a importância de cada um numa espécie de cadeia, regida por uma família, e que consoante o talento do manipulador, tanto o eleva como rebaixa nessa sociedade. Temos manipuladores da sorte, das emoções, da morte, da memória, dos sonhos, entre outros, mas são os que têm a capacidade de transformar – manipuladores de transformação – que são os mais raros e, por isso, os mais desejados. É neste universo, em que quando se é tocado pela mão de um manipulador, sem luvas, tudo pode mudar, que nos é apresentado Cassel Sharpe, o único membro da sua família que não tem conhecimento de possuir algum tipo de manipulação. 

Cassel Sharpe, o mais novo de três irmãos e membro de uma família em que todos são manipuladores, menos ele, aparentemente, tenta viver uma vida o mais ordinária possível. A mãe está presa, os irmãos parecem não se preocupar muito com ele e é num colégio que ele encontra o seu refúgio. Até ao dia em que acorda no telhado, prestes a cair, sem saber como foi lá parar. Algo de muito errado se passou, mas é a memória de uma gata branca que não lhe sai da cabeça. E é a partir daqui que a verdadeira acção começa, principalmente quando Cassel liga a imagem da gata à sua paixão de infância – Lila. 

A narrativa começa por se desenvolver de forma lenta, sem que os conceitos do enredo estejam totalmente claros, mas assim que os primeiros pontos se unem, a velocidade da leitura aumenta muito consideravelmente. Porque é que Cassel haveria de ter matado Lila, sem se lembrar de como o fez, e ter apenas a memória de estar com uma faca ensanguentada nas mãos e de sorriso nos lábios? E qual a relação da gata branca com o seu sonambulismo e posterior enevoamento de memória? Perguntas e mais perguntas, mistérios atrás de mistérios, fazem com que o nosso protagonista parta numa espécie de demanda pela descoberta da verdade e é no seio da sua própria família que encontra as mais aterradoras respostas. 

Apesar do ambiente juvenil, esta é uma obra que também poderá agradar ao público mais adulto que goste de uma mistura entre a fantasia, o crime e o suspense. A escrita é fluída, com uma imagética que nos transporta facilmente para os cenários descritos e os diálogos têm tanto de divertido somo de sinistros. Não tendo um carácter complexo nem um enredo demasiado intrincado, proporciona uma leitura descontraída e dinâmica, óptima para relaxar e sair do que nos rodeia por umas horas em boa companhia. 

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Opinião: Um Caso Perdido (Hopeless), de Colleen Hoover https://branmorrighan.com/2014/12/opiniao-um-caso-perdido-hopeless-de.html https://branmorrighan.com/2014/12/opiniao-um-caso-perdido-hopeless-de.html#respond Thu, 18 Dec 2014 16:38:00 +0000

Um Caso Perdido (Hopeless)

Colleen Hoover

Editora: TOPSELLER

Sinopse: Quando Sky conhece Dean Holder no liceu, um rapaz com uma reputação tão duvidosa quanto a dela, sente-se aterrorizada, mas também cativada. Há algo naquela figura que lhe traz memórias do seu passado mais profundo e perturbador. Um passado que ela tentou por tudo enterrar dentro da sua mente.

Ainda que Sky esteja determinada a afastar-se de Holder, a perseguição cerrada que ele lhe dedica, bem como o seu sorriso enigmático, fazem-na baixar as defesas, e a intensidade da relação entre os dois cresce a cada dia. Mas o misterioso Holder também guarda os seus segredos, e, quando os revela a Sky, ela vê-se confrontada com uma verdade tão terrível que pode mudá-la para sempre. Será Sky quem ela pensa que é? E será que os dois conseguirão sarar as suas feridas emocionais e encontrar um modo de viver e amar sem limites?

Opinião: Recebi este livro no início de Setembro e, confesso, estava um pouco céptica em pegar nele. Não pela falta de incentivo, pois as opiniões iam saindo e eram todas bastante positivas, mas antes porque a sinopse não me tinha prendido. Pareceu-me ser mais um romance jovem-adulto, com respectivos dramas, que me ia saber bem ler quando quisesse descontrair e esvaziar um bocado a cabeça. Foi então, com esse sentido, que peguei, há quatro dias, em Um Caso Perdido. Deu-se, então, o choque – cheguei a um ponto da história em que não mais larguei o livro até o terminar. Pausei o trabalho, pausei tudo o que estava a fazer e dei por mim a lê-lo ao pequeno-almoço, a lê-lo ao almoço, a pousá-lo, por fim, depois da sobremesa. Isto não acontece sempre, pois não? Comigo não, por isso posso afirmar com toda a certeza que este é um grande livro. 

O primeiro capítulo coloca-nos num espaço temporal futuro, em relação àquele que logo de seguida passamos a acompanhar, e ficamos logo de sobreaviso – vai chegar uma altura em que as coisas vão ficar feias. Mas porque será? Uma discussão dramática entre namorados? Pois, foi isso o que eu pensei na altura. Não podia estar mais enganada. Se pela capa e pela primeira centena de página ficamos intensamente envolvidos na dinâmica de Sky e Holder, enquanto um casal de adolescentes, existe um ponto de viragem em que tanto o enredo como o leitor não mais podem ficar suspensos e a acção torna-se vertiginosa. 

Os melhores livros são aqueles que nos deixam sem palavras, mas que ao mesmo tempo nos fazem querer dizer um mundo sobre eles. É assim que me sinto neste momento, com tanto por expressar, mas ao mesmo tempo com uma incapacidade genuína de o fazer devidamente. Há emoções que muitas vezes sentimos a ler que não queremos expor, cuja fragilidade, choque e reconhecimento, nos deixam para lá das conjugações de letras. São abordados temas muito fortes, introduzidos, por vezes, de forma tão inesperada quanto expectável, mas que não queremos que seja real, que os nossos protagonistas estejam realmente a passar por aquilo. 

É caso para dizer que nunca antes um romance entre adolescentes tinha mexido tanto comigo. Colleen Hoover foi tão mestre, tão talentosa, na criação das personagens, no seu desenvolvimento, nas relações entre as mesmas e nos cenários que as envolviam que, de repente, é tudo demasiado intenso. Não é só o Holder que é intenso, como tantas vezes diz Sky, toda a narrativa se torna viciante, desoladora, mas forte ao mesmo tempo. 

Como eu costumo dizer, sou uma pessoa bastante emocional no que toca às artes. Para eu gostar de um livro ou de um disco, por exemplo, o essencial é que estes mexam com as minhas emoções, que eu me sinta diferente depois de ter tido contacto com eles, saber que de alguma maneira o impacto que causaram, pela sua brutalidade e/ou beleza, irá ficar marcado como uma peça única. Hopeless tornou-se numa obra ímpar para mim. O que se iniciou como uma viagem pelos meandros da adolescência, em que a protagonista tem uma insensibilidade notável a tudo o que é rapazes e paixonetas, tornou-se numa corrida febril pelos meandros mais sombrios, mais complexos e mais aterradores das consequências que um único acto pode ter na vida de tantas pessoas. 

Deixando os dramas de lado, nunca ignorando o quão reais as problemáticas retratadas são, é impossível não admirar a capacidade da escritora em misturar o romance com o drama, a descoberta sexual com os eventos traumáticos, de colocar isto tudo num ambiente a oscilar entre a alegria juvenil e a obscuridade do passado, e ainda assim nos fazer sorrir no final. Recomendo, muito sinceramente, este livro. Mas aviso-vos, não há preparação que vos amenize o sentimento de arrebatamento que, mais tarde ou mais cedo, irão sentir. Para o bem e para mal, para os sorrisos e para as lágrimas, é uma obra que vale a pena ler. 

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Opinião: A Primeira Regra dos Feiticeiros – Parte II, de Terry Goodkind https://branmorrighan.com/2014/12/opiniao-primeira-regra-dos-feiticeiros.html https://branmorrighan.com/2014/12/opiniao-primeira-regra-dos-feiticeiros.html#respond Mon, 15 Dec 2014 15:00:00 +0000

A Primeira Regra dos Feiticeiros – Parte II

Terry Goodkind

Editora: Porto Editora

Sinopse: Esta é a primeira regra dos feiticeiros: as pessoas são estúpidas e acreditam no que querem acreditar.

Richard e Kahlan têm uma missão: encontrar as caixas de Orden e frustrar os planos de Darken Rahl, cuja sede de vingança tem conduzido os seus mundos ao infortúnio e ao mais profundo dos abismos: se o malévolo governante conseguir o que deseja, a vida, tal como é conhecida, extinguir-se-á.

Mas o caminho que conduz à verdade, pavimentado com alianças inesperadas, segredos indescritíveis, traição e dor, não é certamente fácil… Em tempos sombrios, o seeker e a Madre Confessora serão obrigados a lutar contra os seus próprios sentimentos, contra aquilo que julgam conhecer e contra a sua própria natureza por forma a garantirem o futuro da humanidade.

Opinião: Em Setembro, ficámos suspensos na estória de Richard, Zedd e Kahlan quando a Parte I terminou. Eis que agora, com a Parte II, nos é revelada a verdadeira acção e adrenalina da trama. Compreendo a decisão da editora ao dividir esta obra em dois volumes, afinal cada um dos livros ficou com um volume e peso consideráveis, e a própria informação que é fornecida ao leitor acabaria por se tornar deveras densa. Se com o final da primeira parte sentimos que apenas houve espaço para conhecer bem o universo existente e as suas personagens, nesta segunda parte existe um verdadeiro desenvolvimento do enredo e um avanço considerável na concretização das premissas iniciais. 

Retomamos a narrativa com cada um deles em sérias dificuldades. A demanda na luta pela justiça e pela verdade parece cada vez mais assombrada por desafios tenebrosos, que exigem sacrifícios, que os colocam à prova a todo o momento. Conhecemos personagens novas que assumem um protagonismo temporário e que com as suas acções tanto ajudam como demonstram os extremos opostos da capacidade humana – o amar e o odiar de forma cega. 

Temos a pequena Rachel, cujo caminho paralelo só mais tarde se vem a cruzar com o nosso trio, mas que nos conquista o coração desde o início. Alvo dos caprichos de Violeta, filha da rainha Milena que se encontra em posse de uma das caixas de Orden, é obrigada a dormir num baú, a mandar vir com a criados, a dormir ao relento se faz algo que aborreça a princesa… Tudo aquilo que vai contra os princípios da bondade e da compaixão. No extremo oposto, e em destaque, conhecemos Denna, um símbolo das Mord-sith, que não são mais que mulheres escolhidas em crianças, as mais bondosas, quebradas pela via da violência física e psicológica. Quando quebradas, passam elas a infligir essa mesma violência às suas vítimas com um instrumento chamado agiel, que provoca dores atrozes. Os sentimentos em relação a esta, rapidamente se tornaram contraditórios. 

Existe sempre este contraste, da inocência com a crueldade, da entrega voluntária com o retirar forçado. Os personagens são obrigados a superarem-se constantemente, a atingirem limites que nunca antes pensaram. Também na escrita do autor nos vemos perante uma dualidade que nem sempre me agradou – o discurso perto do infantil com cenas de violência explícita que parecem desenquadradas com a restante narrativa. É certo que o nível de violência vai aumentando, mas a forma como vão sendo descritas não nos prepara para a mudança brusca. Não que a mudança seja má, pelo contrário, se toda a obra tivesse este discurso mais agressivo certamente perderia o tom infanto-juvenil que, maioritariamente, o caracteriza, mas neste caso, para o público mais infantil poderá causar impressão. 

Para terminar, o fim deixa-nos a querer saber mais. Tudo o que diz respeito ao Darken Rahl e à sua ligação com Richard ficou num estado suspenso, à espera de ser continuado e desvendado. Também no que toca à nossa Confessora e ao Seeker, ficam algumas perguntas no ar. Várias profecias foram sendo abordadas ao longo do obra que prevêem um possível futuro cinzento, caberá a Zedd desvendá-las? Bem versus Mal, o que é que significa cada um quando colocados sob diferentes perspectivas? Fico à espera do próximo volume de Terry Goodkind, esperando com ele também alguma evolução na sua escrita e no retrato das personagens. Gosto da estrutura da estória e dos temas abordados (mesmo que envoltos na aura fantástica), implico um pouco com a escrita do autor, mas também por isso mesmo estou curiosa com a continuação. 

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Opinião: O Cavalheiro Inglês, de Carla M. Soares https://branmorrighan.com/2014/12/opiniao-o-cavalheiro-ingles-de-carla-m.html https://branmorrighan.com/2014/12/opiniao-o-cavalheiro-ingles-de-carla-m.html#respond Sun, 14 Dec 2014 14:09:00 +0000

O Cavalheiro Inglês

Carla M. Soares

Editora: Marcador

Sinopse: PORTUGAL. 1892. Na sequência do Ultimato inglês e da crise económica na Europa e em Portugal, os governos sucedem-se, os grupos republicanos e anarquistas crescem em número e importância e em Portugal já se vislumbra a decadência da nobreza e o fim da monarquia. 

Os ingleses que ainda permanecem em Portugal não são amados. O visconde Silva Andrade está falido, em resultado de maus investimentos em África e no Brasil, e necessita com urgência de casar a sua filha, para garantir o investimento na sua fábrica.

Uma história empolgante que nos transporta para Portugal na transição do século XIX para o século XX numa narrativa recheada de momentos históricos e encadeada com as emoções e a vida de uma família portuguesa.

Opinião: Acompanho a carreira da nossa escritora Carla M. Soares desde o seu início, na Porto Editora, com o Alma Rebelde. Foi um início tímido, no primeiro semestre de 2012, mas que conquistou uma boa base de leitores fiéis. A qualidade da sua escrita demonstrou-se inegável, reflectindo ainda uma maior expressividade em A Chama ao Vento, o seu segundo menino editado digitalmente pela Coolbooks. Foi um livro mais complexo, de uma trama intrincada cujos meandros exigiam atenção. Tive muita pena que não tivesse uma edição física, embora leia digital, ainda sou completamente fã de ter o livro nas mãos e folheá-lo, e eis que surge O Cavalheiro Inglês, novamente com uma edição física belíssima, desta vez pela Marcador Editora, na colecção Livros RTP. 

É quase ingrato escrever sobre este livro, pois fui eu quem fez a sua apresentação na Bertrand Picoas Plaza e, para quem esteve lá, certamente nada do que direi será novidade. Uma das primeira coisas que me veio à cabeça quando terminei esta leitura foi que este era, até agora, o melhor livro da Carla. Embora tenha adorado o A Chama ao Vento, achei que neste O Cavalheiro Inglês a nossa escritora encontrou o ritmo certo, a dose equilibrada de cada um dos seus ingredientes já característicos – os factos históricos, o romance, o drama e a acção. O início começa logo por levantar algum mistério, por deixar a curiosidade do leitor em alerta para o rumo da história. Quem será este cavalheiro inglês? De que forma é que a sua vida se irá cruzar com a de Sofia?

E eis que tocamos noutro ponto sensível – Sofia. A personagem feminina que faltava na bibliografia da autora. Tem sido um crescendo nas suas obras, a força e determinação dada às mulheres das suas histórias, e Sofia acaba por ter uma evolução notável ao longo da obra, mesmo com as suas fragilidades de menina proveniente de família rica. Ainda assim mostra-se destemida, disposta a desafiar os preconceitos da sociedade para lutar pelo bem da sua família e por aquilo que acha certo. Passa por uma série de provações e, mesmo estando com uma imagem desfeita perante os seus pares, não se coíbe de fazer o que acha que deve fazer. 

Também Sebastião, irmão de Sofia, acaba por ser um protagonista desta trama. Um romântico incurável, mas ao mesmo tempo um rebelde por natureza. Se no começo as suas acções são contidas, com o tempo envolve-se em actividades revolucionárias com anarquistas, deixando Sofia num alvoroço, influenciando também o rumo da sua vida. 

É impossível não referir o maldito duque e todo o mal que foi provocando. Sofia foi-lhe prometida, mas o que inicialmente pareciam rosas, rapidamente se tornaram espinhos. E é quando esta tormenta atinge o seu pico máximo que também a leitura acelera, estamos perante um virar de acontecimentos que torna impossível não querer ler mais uma página, percorrer mais algumas ruas de Lisboa ou até apanhar o comboio para o Porto. 

Desnecessário será dizer que toda esta envolvente viciante à volta d’O Cavalheiro Inglês se deve à escrita de imagética extremamente forte de Carla M. Soares. Conseguimos visualizar cada objectivo, cada pormenor. Somos transportados para aquele tempo, tão bem descrito e desenvolvido. Nota-se um grande trabalho de pesquisa, um cuidado nos pormenores, que acaba por distinguir esta obra de outras do mesmo género. Sem dúvida, o meu livro preferido da Carla até agora. 

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Opinião: Mustang Branco, de Filipa Martins https://branmorrighan.com/2014/11/opiniao-mustang-branco-de-filipa-martins.html https://branmorrighan.com/2014/11/opiniao-mustang-branco-de-filipa-martins.html#respond Sat, 29 Nov 2014 22:02:00 +0000

Mustang Branco

Filipa Martins

Editora: Quetzal Editores

Sinopse: Uma mulher cresce protegida pela austeridade do pai – um Coronel – que, para além do bem-estar da família, tem como paixão um Ford Mustang branco titânio a rolar nas estradas da cidade da Beira, em Moçambique. Alheada da guerra civil que domina a ex-colónia portuguesa, apaixona-se pela pele curtida de um guerrilheiro. Vinte anos mais tarde, no seu apartamento, numas minúsculas águas-furtadas em Saint-Germain-des-Près, ela continua marcada pelas lembranças que tem deste catanador de chissamba – Caju, de seu nome, tal como o fruto.

Quando um conjunto de acasos a leva ao septuagésimo nono andar da Torre Montparnasse, reencontra o seu velho amor no ambiente cosmopolita de Paris, apertado pelos fatos cintados da alta-costura e de braço dado com o dinheiro. De imediato, é enredada numa teia de negociatas de contornos densos, misteriosos e devassos que a conduzem à prisão – e ao passado.

Opinião: “Nunca estamos no dia a que chamamos o dia de hoje.” É este o remate do terceiro romance de Filipa Martins. E tal como a citação, todo o romance acaba por ser um conjunto de encontros e desencontros, tanto emocionais como pessoais, numa dança inconstante e instável sobre o desejo e a vontade, o dever e a obrigação, o que nos move e o que nos detém. Atravessando paisagens como a Beira e Paris, passando por Londres, Mustang Branco traz-nos a história de uma jovem, que narra na primeira pessoa, que de uma infância opressiva e reprimida, passou para um liberalismo sedento de significado, sempre na busca da satisfação e da superação de si mesma. 

Começamos por um presente tumultuoso para, repetidamente, visitarmos o passado que o justifica. Temos uma protagonista feminina que vai falando connosco, dando-nos a conhecer as suas forças e as suas fraquezas, tornando-a tão humana e banal que qualquer mulher poderia ter vivido algo assim. A imagética é forte, os cenários estão bem descritos e por vezes é como se estivéssemos a assistir a uma tela a preto e branco, com o presente a cores, um misto de evolução de carácter, mas também de obsessões. 

Foi uma leitura que tanto me surpreendeu, e acelerou a leitura, como em certas alturas pareceu demorar-se demasiado a passar. Talvez seja assim a nossa própria vida, umas vezes parece que o tempo não é suficiente para nada e outras vezes permanecemos num limbo que nunca mais acaba. Estava a pensar no nome da personagem e não me conseguia lembrar, só da alcunha que Caju lhe tinha dado – Sardenta. Esta é outra característica na escrita da autora que acaba por se sobrepor muitas vezes à grande tela a que assistimos, os pormenores fazem a diferença. Por vezes, toda. 

Existe um caminho, enquanto mulher, que todas nós percorremos. Os dramas da infância, as inseguranças da adolescência, as paixões perdidas para as irmãs mais velhas ou para as melhores amigas, o chegar a adultas e o termos tudo isso em baús que com um vento mais forte se abrem e libertam as recordações mais mordazes. Não sei classificar este livro em categorias ou secções, sei que é um livro muito humano, com recortes dos tempos de guerra em Moçambique, com cruzamentos de vidas e personalidades reais. Esse Mustang Branco, qual símbolo de supremacia e controlo, acaba por ser a maior testemunha e consequência das vontades do homem. 

A escrita está bem estruturada, a leitura dá-se de forma fluída e natural e foi um prazer descobrir mais uma escritora portuguesa. Foi uma daquelas obras que ao ler senti que só podia ter sido escrita por um português. Existe essa particularidade e capacidade em descrever certas emoções que só nós, detentores únicos da palavra saudade, conseguimos. Fica a curiosidade para ler mais obras da autora. 

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Opinião: Maze Runner – A Cura Mortal (Maze Runner #3), de James Dashner https://branmorrighan.com/2014/11/opiniao-maze-runner-cura-mortal-maze.html https://branmorrighan.com/2014/11/opiniao-maze-runner-cura-mortal-maze.html#comments Sun, 23 Nov 2014 19:13:00 +0000

Maze Runner – A Cura Mortal (Maze Runner #3)

James Dashner

Editora: Editorial Presença

Sinopse: Thomas atravessou o Labirinto; sobreviveu à Terra Queimada. A CRUEL roubou-lhe a vida, as memórias, e até mesmo os amigos. Mas agora as Experiências acabaram, e a CRUEL planeia devolver as memórias aos sobreviventes e completar assim a cura para o Fulgor. Só que Thomas recuperou ao longo do tempo muito mais memórias do que os membros da CRUEL julgam, o suficiente para saber que não pode confiar numa única palavra do que dizem. Conseguirá ele sobreviver à cura? 

Opinião: Eis que chega o tão aguardado final da trilogia Maze Runner. Se há pouco tempo saiu o primeiro filme para nos avivar a memória do que já ficou para trás, com a leitura deste último volume ficamos um pouco desamparados. As perguntas que se levantam ao longo de toda a leitura são sempre mais do que as respostas que obtemos. As hipóteses possíveis para cada momento da acção parecem infinitas. Depois de tantas provações, de testes e mais testes, memórias traiçoeiras e lutas incessantes, Thomas tem um novo rio de decisões para tomar. 

Um quarto branco e uma sensação de que algo está errado. É assim que Thomas começa a testemunhar aquele que é o início do fim da sua ligação à CRUEL. Ou será que esta alguma vez desaparecerá? Sim, as questões começam logo de início, mas quando vemos o Homem Rato a dizer que as experiências acabaram, os alarmes disparam e a cada linha que ia lendo, a desconfiança era a palavra de ordem em total sintonia com a mente do nosso protagonista. Querem-lhes restituir as memórias. Que a partir desse momento tudo se tornará claro e a cooperação um desejo, mais do que uma obrigação. 

O mundo de Maze Runner é assustador na medida em que não é difícil de imaginar um cenário real em que partes governamentais decidem lançar um vírus para controlo de população e isso corre mal. As experiências, por exemplo, já são uma realidade, mesmo que muito bem calada e disfarçada. É toda esta envolvente realista, narrada através de uma distopia, que nos faz ficar presos à leitura. A acção em si, nesta contagem decrescente, foi sendo um pouco previsível, por vezes, pareceu-me, forçada. Percebi que o autor queria causar impacto em certos momentos, mas dado todo o historial das personagens, estava à espera de algo mais fluido, mais… forte. Não obstante, segui a bom ritmo e com grande intensidade.

A violência é uma das componentes viu reforçadas as descrições, com uma imagética muito forte, transportando-nos para a pele dos personagens, entranhando-nos as suas emoções na nossa mente. Este é um ponto muito forte na escrita da Dashner. O fim, em si, podia ser mais um começo, é daqueles pontos finais que mais parecem reticências e que antecipam uma continuação. Não havendo esse volume póstumo, ficam as conjecturas, as interpretações próprias. Acho que é uma trilogia que vale a pena ler pelas várias razões que fui enumerando ao longo destas três opiniões. Se há quem ache que o género Fantástico é um género menor, eu sou da opinião que existem obras deste género que dão demasiado que pensar, que mexem muitas vezes com o subconsciente de cada um. Maze Runner é uma dessas obras. 

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Opinião: Até Que Sejas Minha, de Samantha Hayes https://branmorrighan.com/2014/11/opiniao-ate-que-sejas-minha-de-samantha.html https://branmorrighan.com/2014/11/opiniao-ate-que-sejas-minha-de-samantha.html#respond Sat, 15 Nov 2014 14:19:00 +0000

Até Que Sejas Minha

Samantha Hayes

Editora: TOPSELLER

Sinopse: Ela tem algo que outra pessoa quer. A qualquer custo? 

Claudia parece ter a vida perfeita. Está grávida, vai ter um bebé muito desejado, tem um marido que a ama, embora ausente, e uma casa maravilhosa. 

Depois, Zoe entra na vida dela. Zoe foi contratada para a ajudar quando o bebé nascer, e parece a pessoa certa para o cargo. Mas há qualquer coisa nela de que Claudia não gosta e que a faz desconfiar. 

Quando encontra Zoe no seu próprio quarto, a remexer nos seus bens pessoais, a ansiedade de Claudia torna-se um medo bem real?

Opinião: No meio da azáfama que é o meu dia-a-dia, começar um livro e terminá-lo rapidamente é, quase sempre, uma missão impossível. Qual não foi o meu espanto quando dei por mim a terminar Até Que Sejas Minha nuns meros três dias – acreditem, tenho demorado no mínimo uma semana a ler uma obra completa. Acho que o factor determinante para que tivesse vontade de roubar horas de sono ao meu dia ou até ocupar cada intervalo a ler, foi o início intenso, com um crescendo de adrenalina que me deixou em estado de alerta. Foi, sem dúvida, um início que me surpreendeu muito pela positiva. 

A narrativa é na primeira pessoa, mesmo nos diferentes capítulos com diferentes protagonistas. Vamos oscilando entre as perspectiva de Zoe e de Cláudia, e as emoções são tão vincadas, a aura de perigo e desconfiança é tão evidente, que o virar de página se torna incessante. Os alertas da desconfiança pairam sobre Zoe desde o derradeiro primeiro momento em que tomamos contacto com ela. Tudo o que ela pensa, tudo sobre o qual vai divagando, deixa o leitor de pé atrás. Parece fácil ganharmos aquela repulsa pelas suas motivações ao mesmo tempo que ganhamos um sentimento de protecção em relação a Cláudia. 

Também temos o olhar de Lorraine, a polícia que investiga as mortes de mães cujos bebés lhes foram arrancados do ventre a sangue frio. Conhecemos a sua vida, a partilha da mesma profissão com o marido e assistimos ao cruzamento de coincidências infeliz em relação aos casos que investiga e a sua condição matrimonial. Só muito mais à frente é que nos damos conta de quão o mundo pode ser pequenino e de como as pessoas com quem nos cruzamos podem ter tão mais impacto nas nossas vidas do que aquilo que damos conta. 

Se o início teve um grande impacto em mim, o segundo terço do livro arrefeceu um pouco o entusiasmo. A autora optou por uma exploração maior das personagens, enriquecendo-as é certo, mas abdicando de uma maior diversidade de acontecimentos, fazendo com que o ritmo esmorecesse. Tal é compensado nos últimos capítulos em que, confesso, tive de voltar atrás para ter a certeza de que era mesmo aquilo que estava a ler e que não tinha havido um engano qualquer nos nomes das personagens. Não que fosse uma grande surpresa, mas porque talvez esperasse algo diferente.

Gostei da escrita da autora, tem uma imagética bastante forte e, querendo, consegue deixar o leitor num alvoroço. Tem muito potencial, sabe como misturar o thriller psicológico aos dramas da vida, em que o toque de mestre consistiu nos pormenores. Cláudia, por exemplo, ser uma assistente social, com a sua atitude apaixonada e benevolente acaba por conduzir o leitor para uma linha de pensamento muito mais positiva. Zoe, sendo algo que nunca percebemos muito bem até ao final, em que parece já ter tido experiência como ama, mas a que certa altura sabemos que não o foi, conduz-nos para outra linha de pensamento completamente diferente. Um bom jogo de personalidades e intenções que tornou a leitura muito cativante. Gostei. 

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Opinião: Endgame: A Chamada, de James Frey & Nils Johnson-Shelton https://branmorrighan.com/2014/11/opiniao-endgame-chamada-de-james-frey.html https://branmorrighan.com/2014/11/opiniao-endgame-chamada-de-james-frey.html#comments Sat, 08 Nov 2014 15:24:00 +0000

Endgame: A Chamada

James Frey & Nils Johnson-Shelton

Editora: Editorial Presença

Colecção: Via Láctea

Sinopse: Eles chegaram à Terra há 12 mil anos. Vieram dos céus e criaram a humanidade. Quando se foram embora deixaram um aviso: um dia iriam voltar… E quando voltassem, teria início o grande jogo, o Endgame. Ao longo de dez mil anos, as doze linhagens originais existiram em segredo, mantendo sempre, cada uma delas, um jogador preparado para entrar em ação a qualquer momento. O Endgame era sempre uma possibilidade, mas agora que eles voltaram, tornou-se uma realidade, e os doze jovens jogadores estão a postos para entrarem no grande jogo que decidirá o futuro do planeta e da humanidade. Só um pode vencer. Só a linhagem do vencedor será salva. Vence quem encontrar primeiro as três chaves escondidas algures na Terra. E é sobre a busca da primeira chave que se centra este primeiro livro da série.

Opinião: A Literatura Fantástica é todo um universo com infinitas possibilidades de ser explorado. Apesar das modas, há uns anos vampíricas, actualmente distópicas, há certas obras que se vão destacando e tornando-se referências à escala mundial. Uma dessas obras, por exemplo, foi a trilogia Os Jogos da Fome, de Suzanne Collins, que provavelmente inspirou outros quantos autores a arriscarem no género. Se já há quem associe essa trilogia a Battle Royale, não associar Endgame Os Jogos da Fome é praticamente impossível. A não ser que nunca se tenha lido nenhuma das obras que mencionei. 

Temos doze linhagens, doze Jogadores que têm de lutar pela continuação do seu povo, em que só um pode sair vencedor e escolher quem vive e quem morre. Os humanos, aqui, são vistos como meros brinquedos das Entidades, à espera que o Acontecimento chegue, o momento em que milhões morrerão e só o mais forte prevalecerá. São precisas descobrir três chaves para se ser vencedor, são vários os obstáculos e enigmas por resolver, e apenas uma certeza lhes está bem presente na cabeça – é matar ou morrer e tudo o que sejam alianças serão apenas até ao momento final. 

É neste universo de desconfiança que vamos conhecendo os vários jogadores das diferentes linhagens. Alguns, mal queriam acreditar que aquilo lhes estava a acontecer na geração deles, outros tomaram o sinal como se não tivesse feito sentido viver sem tal objectivo. Quando a violência aperta, é nos locais mais improváveis que encontram o seu par. Sempre juntos ou com encontros esporádicos, estas parcerias ajudam-nos a sobreviver e os isolados vão perecendo de forma sanguinária. 

A narrativa tem um ritmo intenso. A panóplia de protagonistas é tão diversificada que é sempre um desafio tentar prever os passos de cada. As motivações são facilmente desvendadas, mas nem sempre as suas acções. A linguagem é simples, mas crua, não poupa o leitor a pormenores, porém também não exagera. O que mais gostei, sem dúvida, foi o mistério que se foi condensando e a incerteza dos acontecimentos. Também as diferentes perspectivas sobre como salvar o mundo, as interpretações tenras do que é o amor – afinal todos são adolescente entre 13 e os 18 anos (sim, tal e qual Os Jogos da Fome) – foram interessantes. 

Endgame: A Chamada marca então o ponto de partida para uma trilogia que desafia o leitor a tomar partido de um Jogador, a mentalmente tentar decifrar se poderá existir uma solução em que possa haver mais do que um sobrevivente. Abordam-se vários locais míticos, como o Stonehenge, entre outros, justificando a sua existência como obra dos seres superiores. Não sendo um livro extraordinariamente original, é uma obra que se lê bastante bem, de forma corrida e com entusiasmo. Estas comparações com Os Jogos da Fome não são necessariamente positivas ou negativas, até porque tocando-se em certas particularidades, são estórias completamente diferentes. Cá fico a aguardar pelos próximos dois volumes. 

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