Lista de Sugestões – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Fri, 29 Jan 2021 10:09:53 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.9 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Lista de Sugestões – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 Sugestões de livros internacionais para o confinamento, pela Carina Pereira https://branmorrighan.com/2021/01/sugestoes-de-livros-internacionais-para-o-confinamento-pela-carina-pereira.html https://branmorrighan.com/2021/01/sugestoes-de-livros-internacionais-para-o-confinamento-pela-carina-pereira.html#respond Thu, 28 Jan 2021 17:06:57 +0000 https://branmorrighan.com/?p=24961
Carina Pereira

Sugestões de livros internacionais para o confinamento, pela Carina Pereira

Quando a Sofia me desafiou a escrever uma lista de recomendação de leituras internacionais, duas coisas aconteceram: primeiro, esqueci todos e quaisquer livros que tinha lido até ao momento; segundo, quando me voltei a lembrar dos livros, descobri logo que a lista ia acabar com cem títulos, a não ser que a Sofia me colocasse um número máximo.

Dez livros, foi o que ela me pediu e, depois de alguns dias a reescrever a lista, espero ter conseguido encontrar algum equilibro naquele que é o meu objectivo ao partilhar estas leituras: que sejam diversas e inclusivas, que nos transportem para outros lugares, enquanto nos ensinam algo novo. Que nos expandam os horizontes e que consigamos, através delas, alcançar o outro, entendê-lo e ganhar empatia por ele. Enfim, que estas leituras sejam um abrir de olhos para o que ainda é preciso fazer no mundo para que tenhamos todos oportunidades iguais, uma motivação para ter um papel activo na criação de uma sociedade igualitária e justa. 

Espero que encontrem aqui leituras que vos entretenham, mas sobretudo, que vos transformem, mesmo sem vocês darem conta. 

Ficção:
Afterlife
The Death Of Vivek Oji
Cantoras
The House In The Cerulean Sea
The Vanishing Half 

Não ficção:
Disability Visibility
The Turnaway Study
So You want To Talk About Race
Know My Name
Braiding Sweetgrass

PS (da Sofia): A Carina Pereira é uma leitora portuguesa que vive no estrangeiro, escreve para o Book Riot e ainda tem um projecto que admiro muito A Story of Sorts. Começou por ser um podcast e agora estende-se também para uma zine online. Conheci-a por causa do BranMorrighan, mas tenho aprendido muito com ela e todas as discussões sobre leituras são sempre mais do que interessantes. Dada a diversidade da sua leitura, achei que era o momento ideal para a convidar a sugerir alguns livros. Qualquer um dos títulos pode ser comprado na Amazon (link afiliado) ou noutras lojas online como a Better World Books.

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[Iniciativa Diversidade] Sugestões Literárias – Parte I https://branmorrighan.com/2020/07/iniciativa-diversidade-sugestoes.html https://branmorrighan.com/2020/07/iniciativa-diversidade-sugestoes.html#respond Sun, 05 Jul 2020 16:28:00 +0000

Apresento-vos a Iniciativa Diversidade que me levou a contactar editoras e agentes literários para recolher sugestões que possam criar uma maior consciência em termos de racismo, homofobia, minorias, todos aqueles assuntos sensíveis que tanto têm dominado a actualidade, mas que pouco parece ter verdadeiro impacto para promover uma verdadeira mudança de paradigma e de mentalidades. 

Sou da opinião que no centro de todos estes temas há algo verdadeiramente básica que não está a ser respeitado: os direitos humanos. Independentemente da cor da nossa pele, da nossa preferência sexual e do nosso estatuto social, existem princípios básicos que deviam fazer parte da educação de qualquer ser humano: compreensão, solidariedade, empatia. E como ter um blogue com alguma visibilidade e milhares de leitores espalhados nas várias redes sociais não é só para “inglês ver”, nesta altura em que o mundo parece estar cada vez mais virado de pernas para o ar, acho fundamental usar estes meios para partilhar convosco a tentativa de uma maior consciencialização em relação a estes temas. 

Estes cinco livros são sugestões que abordam temas como Racismo e LGBTQ. Deixo-vos com as sinopses e com a informação que vou lançar passatempos para cada um destes livros brevemente! Fiquem atentos 🙂 

Se Esta Rua Falasse, de James Baldwin

Se esta rua falasse, esta seria a história que contaria: Tish, 19 anos, apaixona-se por Fonny, que conhece desde criança. Fazem juras de amor e conjuram sonhos para a vida a dois. Mas Fonny é atirado para a prisão, falsamente acusado de um crime horrível. Quando Tish descobre que está grávida de Fonny, as duas famílias lutam por encontrar provas que ilibem o rapaz do crime que não cometeu. Separados por uma fria parede de vidro, Tish e Fonny esperam e desesperam, transportados dia após dia após dia por um amor que procura transcender a desesperança, a injustiça, o racismo, o ódio. Entre o pulsante bairro de Harlem, onde Fonny sonha tornar-se escultor, e a ilha de Porto Rico, onde talvez se encontre a prova da sua inocência, desenrola-se uma corrida contra o tempo, pautada pelo crescimento da barriga de Tish. Sensual, violento e profundamente comovente, este romance é uma bela canção de blues, de toada doce-amarga, com notas de raiva e ainda assim cheia de esperança. Publicado pela primeira vez em 1974, Se esta rua falasse é o quinto romance de James Baldwin, um dos nomes maiores da literatura americana do século XX e uma das vozes mais influentes do activismo pelos direitos civis. Um romance-manifesto contra a injustiça da justiça e uma história de amor intemporal, é hoje tão pertinente e tão comovente quanto no dia da sua publicação.


O Quarto de Giovanni, de James Baldwin
David, um jovem nova-iorquino, vive ao sabor dos dias em Paris, cidade onde procura tomas rédeas da vida enquanto a noiva passa uma temporada em Espanha. Numa noite de farra num bar clandestino, David conhece Giovanni, um barman italiano, luminoso, sedutor, impertinente, e sente-se irremediavelmente atraído. Os dois homens entregam-se a uma relação intensa, confinada ao quarto de Giovanni, com a nuvem do retorno iminente de Hella a pairar sobre os amantes.

Um postal anuncia o inevitável: a noiva estará de volta a Paris. O regresso exige que David escolha entre a normalidade de uma vida segura com Hella e a incerteza de um futuro ao lado de Giovanni, todo ele coração, força e instinto. A decisão do americano culminará numa tragédia inimaginável.

Impregnada de paixão, arrependimento e desejo, esta é a história de um trágico triângulo amoroso. E uma obra de culto merecido, que questiona a identidade de vários ângulos. Ao publicá-la em 1956, Baldwin quebrou mais do que um tabu: era um escritor negro a escrever sobre o amor entre dois homens brancos. O seu editor aconselhou-o a queimar o manuscrito, mas volvido este tempo O quarto de Giovanni é uma das obras mais célebres de Baldwin.

Se o disseres na montanha, de James Baldwin

Se o Disseres na Montanha, publicado em 1953, é o romance que revelou ao mundo o génio de James Baldwin. Romance inaugural da sua obra de ficção, constituiu-se desde logo como marco para muitos outros escritores, ao mesmo tempo que foi conquistando o lugar de clássico da literatura americana.

Neste seu primeiro romance, Baldwin dá voz a John Grimes, um rapaz de catorze anos posto perante um dilema num sábado de Março de 1935, no Harlem nova-iorquino. Prestes a fazer catorze anos, na véspera de um sermão na montanha, John está numa encruzilhada que tanto pode ser uma crise como uma epifania. John quer para si um destino diferente daquele que a família e a comunidade lhe reservaram: o de seguir os passos do padrasto, ministro da Igreja Pentecostal. Mas, numa comunidade discriminada, a liberdade de escolher pode não estar nas suas mãos. Ou pode condená-lo a uma segregação ainda mais profunda, dentro de si e entre os seus semelhantes.

Com uma precisão lírica e um poderoso simbolismo, com fúria e compaixão, Baldwin espelha em John a luta que ele próprio travou pela autodeterminação — emocional, moral e sexual —, transformando a sua história individual na odisseia colectivade um povo marcado pela segregação. Ao escrever Se o disseres na montanha, James Baldwin não só criou novas possibilidades para a literatura americana como permitiu aos americanos despertar para uma nova forma de se verem a si mesmos.

A Estrada Subterrânea, de Colson Whitehead

Cora é escrava numa plantação de algodão no Estado sulista da Geórgia. A vida é um inferno para todos os escravos, mas particularmente difícil para Cora. Abandonada pela mãe, ela cresce no meio da mais difícil solidão, a dos que são marginalizados pelos seus iguais. Quando Caesar, um jovem escravo acaba de chegar do Estado vizinho da Virgínia, lhe fala da estrada subterrânea, os dois decidem correr um risco fatal e fogem da plantação, rumo ao Norte e à Liberdade. Nessa madrugada de mau presságio, inicia-se uma fuga sangrenta, uma odisseia de esperança e de desilusão.

A Cor Púrpura, de Alice Walker

Vencedor do prémio Pulitzer e o National Book Award, A Cor Púrpura foi adaptado ao cinema em 1985 por Steven Spielberg e nomeado para 11 óscares.

A Cor Púrpura aborda temas como a violência doméstica a que estavam sujeitas as mulheres negras no início do século XX, a relação dos negros com o seu passado de escravatura, e a busca do espiritual num mundo cruel e sem sentido. 

Um livro extremamente atual e que nos faz refletir sobre as relações de amor, ódio e poder, em uma sociedade ainda marcada pelas desigualdades de gêneros, etnias e classes sociais.

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Sugestões de Natal, por João Morales: Verões Felizes Vol 1, de Zidrou e Jordi Laferebre https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales_22.html https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales_22.html#respond Sun, 22 Dec 2019 22:21:00 +0000

Verões Felizes Vol 1

Zidrou (pseudónimo de Benoît Drousie; argumento) e Jordi Laferebre (desenhos)

Arte de Autor

112 págs

21,50 euros

Com um pretexto simples, demonstrando que, tantas vezes, a diferença está na forma como se fazem as coisas e o sentimento que lhes preside, este livro avança pelo território da emoção recorrendo a pequenos pormenores que, mesmo quando não são apreendidos (ou accionados) de forma consciente, desencadeiam a nossa afinidade. Qualquer um se identifica com o enredo e é impossível não partilhar destes Verões Felizes.

Para terminar a longa aventura que foi publicar diariamente, ao longo de quatro semanas, uma sugestão diária sobre um livro que merece ser oferecido neste Natal (pode consultar o trabalho completo em http://www.branmorrighan.com/search/label/Jo%C3%A3o%20Morales), escolhi o álbum de que venceu o Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora – Amadora BD deste ano como Melhor Obra Estrangeira de BD em Português, um volume que reúne os primeiros dois (Rumo ao Sul e A Calheta) da série de cinco originalmente publicados.

Cada aventura assenta numa viagem de férias, rumo ao Sul, ao bom tempo, ao descanso, ao recolhimento em família. Pierre, desenhador de BD, e Madô, a mulher, mais os três filhos, são os Faldérault, o grupo que protagoniza o quotidiano reconhecível de um núcleo similar, com as pequenas anedotas e loucuras que só fazem sentido nesta configuração (em família, entenda-se), incluindo Tchouki, o monstro imaginário companheiro do garoto mais novo, que há muito foi adoptado no imaginário de todos. Ou os pacotes de batatas fritas, “obrigatórios” quando se passa a fronteira belga. Aliás, a acção está munida de diversos pormenores que remetem imediatamente para o imaginário e a memória colectiva belga, incluindo comentários como “estes belgas são loucos”.

Aos mas atentos, esta última frase é a deixa perfeita para realçar as diversas “piscadelas de olho” ao próprio universo da BD e clássicos como Tintin ou o cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra: “– Acho que precisa de ficar sozinha”, confessa o pai; “Como o Lucky Luke no final das histórias?”, responde ternamente o filho.

O desenho é característico de uma determinada época, o que acentua ainda mais todo o zeitgeist que paira sobre estas figuras e a sua evolução em conjunto. A paleta cromática define com rigor a alternância entre noite e dia, dois panos de fundo que ajudam a integrar diferentes passagens icónicas do seu sentimento (a reconciliação dos pais, o acordar da família em plena horta estranha)

A amizade com diversas outras figuras ao longo das viagens, a forma descomplexada como em família assistimos às mais banais situações que nesse contexto ganham contornos hilariantes (como a preocupação da filha adolescente em esconder-se completamente ao urinar no mato ou o ritual de mostrarem todos o rabo ao mar na despedida) acentuam a identificação e o sorriso fácil que este livro desperta imediatamente.

Naturalmente, num livro que é um hino à vida (logo no início, lemos como o Tchouki tinha razão e “quando chegamos ao cimo do pinheiro a vista é tão bonita!”, frase que só fará todo o sentido mais adiante) teria de estar presente um óbito (irmã ou cunhada de Pierre). “Porque é que as pessoas morrem? Talvez para nos recordar que estamos vivos”. Um livro extremamente bem conseguido, com a aparente simplicidade que só as coisas mais profundas conseguem alcançar.

João Morales

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Sugestões de Natal, por João Morales: Nova Antologia Pessoal, de Jorge Luis Borges https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales_19.html https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales_19.html#respond Thu, 19 Dec 2019 22:14:00 +0000

Nova Antologia Pessoal

Jorge Luis Borges (traduções de Fernando Pinto de Amaral, José Colaço Barreiros, José Bento e António Alçada Baptista)

Quetzal

312 págs

17,70 euros

Um poema adequado para tempo de balanços.

«Onde estarão os séculos, onde o sonho

Das espadas que os tártaros sonharam

Onde os sólidos muros que aplanaram,

Onde a árvore de Adão e o outro Lenho?

O presente está só. Mas a memória

Constrói o tempo. Sucessão e engano

É a rotina do relógio. O ano

Nunca é menos vão do que a vão história.

Entre a aurora e a noite há um abismo

De agonias, de luzes, de cuidados,

O rosto que se vê nos desgastados

Espelhos da noite já não é o mesmo.

O hoje fugaz é ténue e eterno;

Não esperes outro Céu nem outro Inferno.»

Já tinha avisado que nem todas as sugestões desta extensa lista seriam livros acabadinhos de publicar. No entanto, há apenas dois anos, saiu entre nós uma nova edição (e num formato bastante convidativo) do livro que escolhi para ser a penúltima proposta de oferta em 2019. “Nova Antologia Pessoal”, de Jorge Luis Borges, como disse, reeditado pela Quetzal, no âmbito do excelente trabalho que a editora tem vindo a fazer ao colocar de novo ao nosso dispor as obras deste escritor obrigatório (coloco aqui uma cunha para recordar que ainda falta O Fazedor).

O livro reúne textos de formatos distintos e pode funcionar tão bem para um leitor conhecedor do trabalho do argentino como numa iniciação ao universo peculiar mas carismático que o define. Entre poemas (como o transcrito “O Instante”, “Xadrez”, “As coisas” ou “James Joyce”), prosa dispersa, contos (“A aproximação a Almotasim”, “O Imortal”) e ensaios (“A flor de Coleridge”, “O sonho de Coleridge”).

Pessoalmente, é um dos livros que mais me marcaram em toda a extensa e valiosa obra deste autor argentino, mestre na ironia, no recurso ao Fantástico, exploração da parábola e da simbologia, questionamento das condicionantes imutáveis em que Humanidade se desenvolveu desde sempre, hábil conhecedor da natureza ludibriosa da imaginação e da memória, amplo cartógrafo de certezas intemporais e outras caraterísticas que o talham como um dos mais originais e influentes escritores de sempre.

Gostava também de destacar a importância da reedição destes livros, porque quando a dimensão de um autor assim o justifica (e há vários outros exemplos que poderia dar), os editores devem ter em consideração que a cada 10 / 15 anos temos uma nova geração de leitores, tantas vezes desconhecedora – como é natural – dos maiores sucessos de vendas e de leitura durante a geração que a antecedeu. Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Boris Vian, Jean-Paul Sartre, Ernest Hemingway, Italo Calvino, Philip K. Dick, Jorge de Sena, Ruy Belo, José de Almada Negreiros, Moebius, José Carlos Fernandes, Alberto Manguel, Mário Cesariny de Vasconcelos, e tantos, tantos outros, devem estar sempre disponíveis nas livrarias.

Além de todos os argumentos, este livro traz consigo “O Jardim dos caminhos que se birfurcam”, essa peça de ourivesaria literária, que nos questiona profundamente sobre o acaso e os limites da nossa capacidade de livre arbítrio, ao expor tempos díspares, num mapa de possibilidades que ultrapassa a observação humana: «Ao contrário de Newton e de Schopenhauer, o seu antepassado não acreditava num tempo uniforme e absoluto. Acreditava em infinitas séries de tempos, numa rede crescente e vertiginosa de tempos divergentes, convergentes e paralelos. Esta trama de tempos que se aproximam, se bifurca, e se cortam, ou que secularmente se ignoram, abrange todas as possibilidades. Nós não existimos na maior parte desses tempos, nalguns deles existe você e eu não; noutros eu e não nós, noutros ainda, existimos os dois. Neste, que um favorável acaso me proporciona, você chegou a minha casa; noutro, você, ao atravessar o jardim, deu comigo morto; e noutro, eu digo estas mesmas palavras, mas sou um erro, um fantasma».

João Morales

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Sugestões de Natal, por João Morales: Ou, de Alejandro Pedregosa https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales-ou.html https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales-ou.html#respond Wed, 18 Dec 2019 16:22:00 +0000

Ou
Alejandro Pedregosa (tradução de Elisabete Ramos)
faktoria
80 págs
12,50

A morte é uma figura bem presente nestes magníficos contos, que deixam no ar diversos sentimentos, entre um condão falsamente moral, um apuradíssimo sentido crítico, a consistência das crónicas de costumes transformadas em narrativa oral e passadas à revelia da fixação académica ou uma enorme ironia, justamente sobre a Academia, as fábulas, a narrativa ancestral e simbólica.

Logo no primeiro conto, o desenlace surpreendente tem um vago sabor a Jorge Luis Borges, mas, acima de tudo, alerta-nos para a violência na América Latina, marca de escritores tão distintos como Roberto Bolaño ou Pedro Juan Gutiérrez. Aliás, a segunda narrativa confirma isso mesmo, pela voz de um cadáver mexicano, recorrendo a uma voz narrativa assumidamente revolucionária: «Conhecemo-nos na Guatemala e atravessámos juntas o México todinho.

Dizem que é um país ling«do, lindo, e até pode ser verdade. Nós só tivemos tempo de conhecer a extorsão, a pancada, os abusos… curiosamente as mesmas barbaridades que deixei lá em El Salvador, e é por isso que digo que se poderiam evitar as fronteiras e os vistos pois, ao fim e ao cabo, a polícia maltrata em todo o lado por igual».

Em “Manbrú foi para a guerra ou O patriotismo” a honra supera a realidade e a memória é reinventada. “A morte de Sócrates ou A luta armada” traça um paralelismo entre a morte do filósofo e uma outra entrega voluntária, em contexto contemporâneo, com uma organização secreta em pano de fundo.

As histórias tradicionais voltam a estar no centro da inspiração, quando nos deparamos com “A casinha de chocolate Ou A Escravidão”. Aqui, o labirinto não é uma floresta, mas sim um bordel, onde os ciúmes e a lei do mais forte vão traçar armas. O humor, cortante, contundente, castigador, é uma constante nestas narrativas, disperso em diferentes cambiantes. Um exemplo da utilização sagaz desse artifício narrativo é, sem dúvida, “Dom Camilo e Don Peppone Ou As mamas italianas”, uma história pícara, divertida e descomplexada.

Os dois episódios finais são um pouco mais longos. “O complexo de Electra ou A pornografia”, serve-se inteligentemente do termo que usa no título para lançar pistas sobre o enredo, mimetizar nomes da Filosofia em registo de paródia e até mesmo uma lista de engenhosas designações, estratégia toponímica presente em outras narrativas do livro, como a última “Os exemplos de Patrónio ou A monarquia”.

Em duma, um conjunto de histórias bem arquitectadas, contadas com a vantagem malévola de quem sabe surpreender o leitor, avançando por territórios mais ou menos simbólicos, dilemas, circunstâncias e… surpresas!!!

João Morales

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Sugestões de Natal, por João Morales: I’m Your Man – A Vida de Leonard Cohen, de Sylvie Simmons https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales-im.html https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales-im.html#respond Tue, 17 Dec 2019 21:39:00 +0000

I’m Your Man – A Vida de Leonard Cohen

Sylvie Simmons (tradução de Paulo Faria)

Tinta-da-China

634 págs

27,90 euros

Leonard Cohen (1934-2016) conseguiu implantar o seu nome e reconhecimento de uma forma transversal a várias gerações, como poucos. Apesar de começar a publicar música nos anos 60 (e embora já tivesse um percurso anterior como poeta e novelista), a sua obra ultrapassou em muito todo o movimento hippie e a contracultura que enformou esses dias.

Mesclou a rebeldia com a espiritualidade, o romantismo com a exaltação do desejo, o recolhimento com a sagração pública, acabando por espelhar um artista reconhecido até ao fim, sem nunca fazer concessões, mantendo uma voz acima das modas e tendências, fruto de uma honestidade interior de que nunca abdicou e assumindo um papel de trovador místico, anunciador de reinos intemporais, pregador de um epicurismo que não se esgota na matéria, poeta sensível e deslumbrado perante a grandiosidade da vida.

«O Big Bang de Leonard, o momento em que a poesia, a música, o sexo e os anseios espirituais colidiram e se fundiram nele pela primeira vez, teve lugar em 1950, entre os seus décimo quinto e décimo sexto aniversários. Leonard estava parado diante de um alfarrabista, a remexer nos expositores em busca de algum livro que lhe interessasse, quando deparou com Poemas Escolhidos de Federico Garcia Lorca. Ao folhear aquelas páginas, deparou com “Gacela del mercado matutino”. O poema arrepiou-lhe os cabelos da nuca. Leonard já antes experimentar aquela sensação, ao escutar a energia e a beleza dos versículos lidos em voz alta na sinagoga – um outro repositório de segredos», lemos no mais recente livro dedicado ao homem e sua vida. Anos mais tarde, um dos filhos que teve com Suzanne (a sua mais famosa musa), cujo nome originou a canção homónima, foi a pequena Lorca, em homenagem ao poeta espanhol.

I’m Your Man – A Vida de Leonard Cohen revela-se um repositório de memórias, um baú de entendimentos, uma conjugação de caminhos para entender o homem que fez de Suzanne ou Marianne nomes simbólicos da devoção amorosa. Aliás, as mulheres marcaram presença axial na existência deste cantor e poeta, aspecto devidamente documentado no livro de Sylvie Simmons. Bem como outras histórias paralelas, em torno de figuras Nico ou Joni Mitchel, em que descobrimos o galã Jimi Hendrix cuja perícia no galanteio parece rivalizar com a mestria no dedilhar das seis cordas que afamaram.

«I’m Your Man teve o condão de dar a Leonard uma nova imagem, principalmente entre os fãs mais jovens, em vez de poeta sombrio, torturado, passou a ser visto como oficialmente cheio de estilo». No fundo, encontramos um homem com várias vidas, encarnadas num percurso só, que poderá parecer divergente, mas que conta com a coerência que o ar de cada tempo lhe transmite, como se as circunstâncias fossem apenas uma velha gabardine, mas o homem que ela protege permanecesse fiel aos mais humanos instintos e vontades. Da alma e, principalmente, do corpo.

João Morales

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Sugestões de Natal, por João Morales: Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, de Natália Correia https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales_16.html https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales_16.html#respond Mon, 16 Dec 2019 14:36:00 +0000

Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica

Natália Correia (selecção, prefácio e notas)

Ponto de Fuga

528 págs

24,40 euros

O Natal de 1965 trazia consigo um presente destinado a leitores de mente aberta, livro de tal maneira controverso que levou a sua organizadora, a escritora Natália Correia, a responder em Tribunal pela afronta aos bons costumes. Em 2019 vimos chegar às livrarias uma nova edição de um dos livros mais citados na bibliografia pícara portuguesa, a Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, um trabalho monumental que reúne textos desde o séc. XIII para nos demonstrar como o sexo, o humor, a sátira e a verve afiada, devidamente espaldada num conhecimento profundo das possibilidades linguísticas lusitanas, são elementos ancestrais na nossa formação e na nossa cultura.

«Menina, este vosso favor,/ favor é que não agradeço/ porque algum dano encobre/ pores-me o mel pelos beiços: Se para a Cera do Favo/ quereis pavio, eu prometo/ dare-vos um tão bom pavio/ que vos dure sempre aceso», escrevia Frei António das Chagas (1631-1682), iniciando o seu poema “Romance”.

Já António Lobo de carvalho (1730-1787) lamentava-se em soneto: «Este que vês aqui, formosa dama,/ entre moles testículos pendentes,/ já foi em outro tempo raio ardente,/ hoje é pavio que não solta chama».

Esta edição, que por debaixo da sobrecapa nos remete para a original, da pioneira editora Afrodite, de Fernando Ribeiro de Mello, comporta uma parte inicial composta por vasta documentação, incluindo cartas trocadas com autores e material oficial do processo que abanou a intelectualidade, envolvendo Ernesto M. de Melo e Castro, Luiz Pacheco e David Mourão-Ferreira. A lista de autores é extensa, envolvendo criadores canónicos como Antero de Quental, Camilo Castelo Branco, Eugénio de Castro, Guerra Junqueiro ou Fernando Pessoa, ou textos atribuídos a autores anónimos, lado a lado com os provocadores Manuel Maria Barbosa du Bocage, Mário Cesariny de Vasconcelos ou um desempoeirado Carlos Queirós (1907-1949), com o hilariante “A partida do Leitão”:

O Leitão da Renascença,

o profeta da batata,

vai ao Brasil na fragata…

porra! Com sua licença.

O Leitão vai ao Brasil

para demonstrar aos di lá

como se pode ser cá

tão ilustre e imbecil

Leva na mala o chapéu

de plumas (ai, o sacana!)

e um bider de porcelana

que o Júlio Dantas lhe deu.

Leva um penico de prata

com a marca do Leitão

ourives – que é seu irmão

de leite – com muita nata.

E leva um irrigador

com o pipo cor-de-rosa

presente do Pais de Sousa

pois tem o cu dessa cor.

Leva mais: leva na peida

A Ceia dos Cardeais,

obra que jura ser mais

importante que a Eneida.

E leva também do Júlio

Dantas em sua bagagem

esta discreta mensagem

para entregar ao Gertúlio:

“Em missão sentimental

aí vai esse bandalho

que é portador de um caralho

de fabrico especial

capaz de fazer ganir

de gozo bruto ou dor bruta

o grande filho da puta

que di lá o mandou ir”.

João Morales

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Sugestões de Natal, por João Morales: O Zen e a Arte da Escrita, de Ray Bradbury https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales-o_9.html https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales-o_9.html#respond Mon, 09 Dec 2019 16:06:00 +0000

O Zen e a Arte da Escrita

Ray Bradbury

Cavalo de Ferro

160 páginas

14,30 euros

Há uma linha de continuidade, uma nota positiva constante, um incentivo através do exemplo pessoal, elementos que cruzam estes textos escritos ao longo de trinta anos. A postura de Ray Bradbury não se acantona numa pedagogia literária nem na utilização do seu sucesso para promover a ideia da glória literária. O objectivo das suas palavras passa pelo assumir de como aquilo que foi inventando, já fazia parte do seu universo pessoal, das suas memórias, dos seus receios e ambições, justificando a escrita a utilização destes elementos.

«Se estão a escrever sem entusiasmo, sem prazer, sem amor à escrita, sem se divertirem, estão a ser escritores pela metade. Ou seja, estão preocupados com o que vende ou de tal maneira dependentes do que pensa a capelinha avant-garde que não estão a ser vocês mesmos. Tão pouco sabem quem são, na verdade. Porque, antes de tudo o mais, um escritor deve ser entusiástico. Deve ser de febres repentinas e deve empolgar-se com as coisas. Faltando-lhe esse vigor, mais vale que se dedique à apanha do pêssego ou a cavar: sabe Deus que lhe fará melhor à saúde», escreve Bradbury no texto “A alegria de escrever”.

Partilhando connosco algumas memórias e aspectos que desencadearam textos hoje famosos, reflete ainda sobre a condição da Ficção Científica, parente pobre da Literatura há muito, género visto com desconfiança pela comunidade académica, o que tem consequências na sua difusão perante novas gerações de leitores. «Afinal nas décadas de 1020 e 1930, nem um programa escolar no mundo incluía livros de ficção científica (…) O que encontraria alguém quem em 1932, 1945 ou 1953, atravessasse a América de carro e fosse entrando nas bibliotecas públicas? Nada de Edgar Rice Burroughs. Nada de L. Frank Baum; Oz, nem vê-lo. Em 1958 ou 1962, tão-pouco teria encontrado Asimov, Henlein, Van Gogt ou (cof! cof!) Bradbury».

Em contacto com as histórias que rodeiam a sua criação literária, percebemos de forma inequívoca como Bradbury – autor de livros obrigatórios, como Fahrenheit 451 ou Crónicas Marcianas – não é um escritor de Ficção Científica, mas sim, antes de tudo o mais, um Escritor. Uma das mais tocantes narrativas deste livro é a reconstituição da criação do seu mais famoso trabalho, Fahrenheit 451, escrito em máquinas de aluguer, na Biblioteca da Universidade da Califórnia. «Entre inserir na ranhura as moedas de dez cêntimos, ficar de cabeça perdida de cada vez que a máquina encravava (porque lá se ia o precioso tempo!) e pôr e tirar as folhas da máquina, de vez em quando ia lá acima. E punha-me a deambular pela biblioteca, perdido de amores – passeava pelos corredores, entre as estantes, tocava neste e naquele livro, puxava um ou outro da prateleira, folheava-os e depois devolvia-os ao lugar, mergulhado no tesouro que é a essência de qualquer biblioteca. Não podia ter escolhido melhor lugar para escrever um romance sobre um futuro em que os livros são queimados, não vos parece?»

João Morales

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Sugestões de Natal, por João Morales: Estamos Todos na Sarjeta, de Maurice Sendak https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales_5.html https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales_5.html#respond Thu, 05 Dec 2019 21:24:00 +0000

Estamos Todos na Sarjeta

Maurice Sendak (tradução de Carla Maia de Almeida)

Kalandraka

56 págs

17 euros

Catalogar este livro como sendo para crianças, é limitar de forma impensável a absurda a evidente amplitude do trabalho de Maurice Sendak, cuja dureza destas extraordinárias ilustrações o confirma como um dos mais inventivos criadores de monstros… mesmo quando eles se assemelham aos humanos. Aproveitemos ainda para louvar o trabalho da Kalandraka que, após o sucesso do mediático Onde se Escondem os Monstros, prosseguiu em Portugal a publicação de trabalhos deste artista norte-americano, sempre a desafiar a linha ténue entre a ilustração para crianças e adultos, o que nos permite, muitas vezes, a obliteração dessa linha.

O livro parte de duas narrativas tradicionais, as chamadas Rimas de Berço – “In the Dumps” e “Jack and Guy” – contando a história de uma criança sem-abrigo, levada por ratazanas gigantes e que se defronta com uma dupla – João e Rui – onde ecoam memórias da dupla que assedia Pinóquio, a raposa e o gato matreiros. O ambiente conseguido por Sendak evoca uma genealogia que agrega William Blake, Shaun Tan, Will Eisner mas também Bordalo Pinheiro ou Quentin Blake, o ilustrador que trabalhou em dupla com Roald Dahl.

Maurice Bernard Sendak (1928 – 2012) nasceu em Brooklin, filho de judeus polacos. Viu muitos dos seus familiares serem devorados pelo Holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial, o que haveria de ajudar a definir a sua personalidade e a sua arte para sempre.

Há um lado severo nas descrições das criaturas, mas que parece coexistir com uma condenação, uma apreciação dúbia digna de um quadro de Hieronymus Bosch, entre a denúncia e a exaltação. “Recuso-me a mentir às crianças”, lançava ele na sua última entrevista, publicada no The Guardian, em 2011.

O dinheiro, a solidariedade, a intrínseca maldade humana, o desespero, as grandes opções da Humanidade que ditaram uma moral colectiva que desvaloriza a dimensão humana para relevar uma sobrevivência cega e feroz, de tudo isto é feito este livro perturbador, tão actual como os temas que sobrevoa (foi lançado inicialmente em 1993). Na já referida entrevista confessava: “Sou totalmente louco, eu sei disso. Não digo isto para parecer um espertalhão, mas sei que essa é a essência do que torna o meu trabalho bom. E sei que o meu trabalho é bom. Nem toda a gente gosta, tudo bem. Não o faço para todos. Ou para ninguém. Faço porque não posso deixar de fazê-lo. “

João Morales

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Sugestões de Natal, por João Morales: Manual do Bom Fascista, de Rui Zink https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales.html https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales.html#respond Wed, 04 Dec 2019 22:49:00 +0000

Manual do Bom Fascista

Rui Zink

Ideias de ler

176 págs

15,50 euros

Poder-se-ia dizer que se trata de uma sátira, construída formalmente como um guia de ajuda, tendo em conta o humor e a compreensão como ferramentas para a canalização de um texto suficientemente acessível. Mas seria redutor.

Rui Zink aproveita para denunciar o irrazoável que habita em cada um de nós, tantas vezes acantonado nas mais profundas certezas, das quais não abdicamos, pelas mais nobres razões, é bom de ver.

O alinhamento do discurso deixa-nos a ponderar como, apesar da bondade das intenções de cada um (e já sabemos que, quando mundo se divide em justos e injustos, são os primeiros a fazer a divisão) existem pequenas intransigências que, quando exacerbadas, levam à discriminação, a um sentimento de plena posse da razão, a uma incapacidade de lidar com a diferença – de ideias, posturas, hábitos, crenças, gostos…

Há exercícios propostos, pequenos testes que convidam à reflexão, relatos apoiados no mais evidente e ingenuamente real quotidiano, até mesmo algumas alfinetadas em torno da polémica questão do Acordo Orográfico. Ou ainda da bem contemporânea questão de Género: «no fundo, as mulheres sempre tiveram imenso poder; não era preciso o voto para nada».

Ao convidar-nos a questionar algumas das perguntas ou exclamações mais típicas dos nossos dias, Rui Zink estende o pano de fundo que serve de cenário para a sua encenação, demonstrando como, no limite, não há categorias puras de seres impolutos e libertos de qualquer forma de fascismo – isto, encarando o termo no seu sentido mais amplo, muito para além da suas da sua definição histórica académica, e que é, justamente, um dos argumentos para isentar derivações dessa mesma prepotência endémica.

Há que ter cautela com livros desta natureza e não permitir que sejam lidos para além do seu carácter meramente lúdico, caso contrário, ainda poderiam desencadear algum tipo de raciocínio mais flexível e liberto de espartilhos prévios face à catalogação dos movimentos s tendências ideológicas. No Ensino, por exemplo. «E todos sabemos que a escola não é para meter ideias. A escola é para ensinar», como escreve o autor, ele mesmo professor durante toda a sua vida profissional.

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