Livros do Brasil – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Tue, 26 Jan 2021 14:01:12 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.3 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Livros do Brasil – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 Opinião: A Morte Feliz, de Albert Camus https://branmorrighan.com/2019/03/opiniao-morte-feliz-de-albert-camus.html https://branmorrighan.com/2019/03/opiniao-morte-feliz-de-albert-camus.html#respond Fri, 15 Mar 2019 11:39:00 +0000
A Morte Feliz

A Morte Feliz
Albert Camus

Editora: Livros do Brasil

OPINIÃO: Ler Albert Camus é sempre uma experiência intensa. Sempre que o li fiquei com aquela sensação agridoce que nasce do confronto a que o autor nos obriga a ter com a nossa percepção da vida, da felicidade e de como atingi-la. A Morte Feliz é um pequeno livro resgatado dos apontamentos do autor. Foi editado já após a sua morte e, por isso, não contém uma linha narrativa muito sólida. No entanto, os fragmentos que se conseguiram alinhar são suficientes para se dissertar eternamente sobre a obra.

As primeiras páginas deixaram-me logo em sentido de alerta. Tomando consciência que estes fragmentos foram escritos em tão tenra idade leva-nos ao reforço da constatação que Camus não era um ser humano comum. Abordando a morte e a felicidade com um pragmatismo estonteante, chega a ser quase cruel a forma como A Morte Feliz quebra certas ilusões.

Claro que tudo o que está relacionado com existencialismo é sempre subjectivo, mas a verdade é que Camus, através do errante Patrice Mersault, esfrega-nos na cara a dura verdade da pescadinhas de rabo na boca: para se ser feliz é preciso ter tempo -> para se ter tempo é preciso ter dinheiro -> para se ter dinheiro é preciso trabalhar -> trabalhar para ganhar dinheiro suficiente para ter tempo ocupa-nos o tempo todo. Aqui o ciclo fecha-se e a felicidade parece impossível para aqueles que têm de se matar a trabalhar para ter o tal dinheiro que pode nunca chegar e por isso o tempo para se ser feliz parece também ele uma miragem. 

Outro ponto muito importante abordado neste livro, é a importância de estarmos conscientes de nós mesmos, do que queremos para nós, em vez de nos agarrarmos ao que é superficial. Dividido em duas partes – Morte Natural e Morte Consciente – o autor leva-nos por um caminho em que passamos de uma certa alienação para a consciência do que nos rodeia e da nossa própria solidão enquanto veículo de tomada dessa mesma consciência.

Não obstante o caminho sinuoso traçado ao longo destas páginas, entre o apego desinteressado e a urgência de significado, o protagonista acaba satisfeito com a vida que levou. Confesso que não consigo imaginar uma vida em que alguém encontra paz depois do que aconteceu entre Mersault e Zagreus (o personagem impulsionador de toda esta história), e portanto nem sempre me senti alinhada com algumas das atitudes e pensamentos de Mersault. 

Não tirando qualquer mérito desta narrativa, devo alertar quem decidir ler este livro que por vezes a leitura pode tornar-se um pouco arenosa. Mas vale a pena prosseguir e fazer o caminho completo. Nutro uma profunda admiração por este autor e sou da opinião que qualquer amante literário deveria ler pelo menos uma das suas obras. Talvez esta não seja perfeita para começar, mas é sem dúvida uma leitura fundamental na contribuição da discussão sobre a existência humana. 

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Em Novembro, pela Livros do Brasil: A Morte Feliz, de Albert Camus https://branmorrighan.com/2018/11/em-novembro-pela-livros-do-brasil-morte.html https://branmorrighan.com/2018/11/em-novembro-pela-livros-do-brasil-morte.html#respond Sun, 18 Nov 2018 19:15:00 +0000

A Morte Feliz

Albert Camus

Tradução: José Carlos González

N.º de Páginas: 128

PVP: 14,40 €

Coleção: Dois Mundos

Esgotado há décadas, A Morte Feliz regressou às livrarias a 15 de novembro

LIVRO

Escrito quando o autor tinha vinte e poucos anos, mas apenas revelado após a sua morte, em 1971, o texto de A Morte Feliz é, em certa medida, a base a partir da qual se construiu a obra maior de Albert Camus, O Estrangeiro. Este romance de juventude de Camus chega às livrarias a 15 de novembro,  ela chancela Livros do Brasil, e conta-nos a história de Patrice Mersault, um operário franco-argelino, cujos passos acompanhamos até à casa da sua vítima e daí, em fuga, pelo exílio que impôs a si mesmo. O mar, o sol, as mulheres, a busca pela felicidade e a aceitação da morte constituem linhas-mestras neste texto que é um estudo sobre a luta do ser contra os grilhões da sua existência, mas também uma espantosa janela sobre a imaginação de um jovem autor, que se viria a revelar um dos maiores da literatura mundial do século XX.

AUTOR

Albert Camus nasceu em Mondovi, naArgélia, a 7 de novembro de 1913. Licenciado em Filosofia, participou na Resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial e foi então um dos fundadores do jornal de esquerda Combat. Em 1957 foi consagrado com o Prémio Nobel da Literatura pelo conjunto de uma obra que o afirmou como um dos grandes pensadores do século XX. Dos seus títulos ensaísticos destacam-se O Mito de Sísifo (1942) e O Homem Revoltado (1951); na ficção, são incontornáveis O Estrangeiro (1942), A Peste (1947) e A Queda (1956). A 4 de janeiro de 1960, Camus morreu num acidente de viação perto de Sens. Já publicados na Livros do Brasil: A Peste, O Mito de Sísifo, O Estrangeiro, O Primeiro Homem, A Queda

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[DESTAQUE] Em Fevereiro, pela Livros do Brasil; Obra de culto “Sexus”, de Henry Miller https://branmorrighan.com/2018/02/destaque-em-fevereiro-pela-livros-do.html https://branmorrighan.com/2018/02/destaque-em-fevereiro-pela-livros-do.html#respond Thu, 01 Feb 2018 10:50:00 +0000

Sexus

Henry Miller

Tradução: Adelino dos Santos Rodrigues

N.º de Páginas: 544

PVP: 19,90 €

Coleção: Dois Mundos

Henry Miller na Livros do Brasil com Sexus

Primeiro livro da trilogia autobiográfica do escritor americano foi um dos mais famosos textos proibidos da história da edição

LIVRO

Sexus é a obra de referência da literatura norte-americana que a Livros do Brasil lança a 8 de fevereiro e com a qual inicia a publicação da trilogia Rosa-Crucificação, do escritor Henry Miller. Publicada pela primeira vez em 1949, em França, esta autobiografia ficcionada apresenta-nos uma história de risco, de provocação, uma prosa vibrante, plena de carne e espírito, um relato de aventuras sexuais e literárias que se estenderão de Brooklyn até à boémia Paris dos anos de 1930. Durante anos, este livro de culto circulou clandestinamente por grande parte do mundo, onde foi proibido por imoralidade. Nas palavras de João Palma-Ferreira, prefaciador da edição portuguesa, estamos perante «uma obra prima de todas as épocas». Um texto magistral de um autor que é um agitador de consciências, «um indisciplinador desejoso de que o homem se descubra finalmente, sem reticências e sem pactuações com o indiferentismo meramente formal».

AUTOR

Henry Miller nasceu em Brooklyn, nos Estados Unidos da América, a 26 de dezembro de 1891. Em 1930, respondendo a um espírito aventureiro e ao desejo de se dedicar à escrita, partiu para a Europa e fixou-se em Paris. Foi aí que, em 1934, publicou o seu primeiro romance autobiográfico, Trópico de Caranguejo, a que se seguiu, em 1939, Trópico de Capricórnio, ambos banidos durante quase três décadas nos Estados Unidos. Em 1942, pouco após se instalar definitivamente na Califórnia, iniciou a  edação da trilogia Rosa-Crucificação, Sexus, Plexus, Nexus, considerada uma das suas obras maiores, onde conjuga reflexão metafísica com um erotismo explícito. Miller foi um dos mais marcantes autores americanos do século xx, cuja insubmissão, quer na vida, quer na literatura, viria a influenciar fortemente a chamada beat generation. Faleceu em casa a 7 de junho de 1980.

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Opinião: Novela de Xadrez, de Stefan Zweig https://branmorrighan.com/2017/06/opiniao-novela-de-xadrez-de-stefan-zweig.html https://branmorrighan.com/2017/06/opiniao-novela-de-xadrez-de-stefan-zweig.html#respond Mon, 12 Jun 2017 10:04:00 +0000

Novela de Xadrez

Stefan Zweig

Editora: Livros do Brasil

Sinopse: Os passageiros de um navio que parte de Nova Iorque com destino a Buenos Aires descobrem que a bordo segue com eles o campeão do mundo de xadrez, um homem arrogante e pouco amigável. Rapidamente se forma um grupo que procura testar os seus conhecimentos de xadrez jogando com o campeão, apenas para conhecer uma clamorosa derrota. É então que um misterioso passageiro avança para os aconselhar, e o rumo dos acontecimentos se altera. Onde adquiriu ele este domínio magistral do jogo do xadrez, e a que custo? Nesta extraordinária novela psicológica o autor oscila, com inigualável mestria, entre um enorme suspense e uma reflexão pungente sobre o nazismo.

OPINIÃO: Não é fácil começar a escrever sobre algo que esteja relacionado com Stefan Zweig. Basta entrar em contacto com a sua história pessoal ou com qualquer uma das suas obras, nem que seja por uma vez, para este nos ficar entranhado. A primeira vez que ouvi falar de Zweig foi em 2014, quando li Mendel dos Livros, publicado pela Assírio e Alvim, chancela Porto Editora. Ao procurar pelo autor e ao constatar que nasceu em 1881 e se suicidou em 1942, pergunto-me como é que só naquela altura cheguei até ele. Porém, não deixo de achas fascinante, mesmo que de forma um pouco mórbida, os timings em que estas conjunções acontecem. Eu sei, ainda não estou a falar do livro, mas quero apelar à vossa curiosidade literária para saberem mais sobre o autor. Tanto em Mendel dos Livros, como agora em Novela de Xadrez, as editoras fizeram um excelente trabalho de contextualização sobre obra e autor, nos respectivos prefácios, o que acaba por resultar num complemento perfeito.


Novela de Xadrez é considerada, por boa parte da crítica, a derradeira obra de Zweig, talvez também por ter sido o último escrito registado antes do seu suicídio. Ao relembrar-me de Mendel dos Livros, e ao ler agora este livro, aperta-me um pouco o coração ao constatar tantos paralelismos entre o autor e os seus protagonistas. Criações fictícias da minha cabeça ou não, a verdade é que me parece inevitável não imaginar todas as provações psicológicas pelas quais Zweig terá passado e de que forma as terá exorcizado nas suas obras. Novela de Xadrez começa por nos apresentar um campeão de xadrez que não tem qualquer tipo de capacidade intelectual para nada a não ser para o xadrez. É já no navio, quando este aceita jogar uma partida de xadrez contra um tripulante muito entusiasmado por o conhecer, que começamos a mergulhar mais profundamente na história do passageiro misterioso, Dr. B, que decide intervir e aconselhar as jogadas contra o campeão. 

A forma como este passageiro nos é apresentado, e a estrutura e o enlace que lhe é dado, faz com que o leitor seja transportado para níveis da psique humana, tão tortuosos quanto terrificante fascinantes, que poucos autores conseguem atingir no registo escrito. O contexto histórico é essencial para que o terror e a paranóia sejam compreendidos. Se são leitores emotivos como eu, esta pode não ser a leitura mais fácil, mas é muito esclarecedora dos tempos que já se viveram. Ainda assim, não podemos esquecer que independentemente do tempo em que estamos, sob determinadas condições, a mente humana consegue cair em lugares comuns onde de um momento para o outro parece ser fácil deixarmo-nos escorregar, passar para “o outro lado”. Lado esse onde damos por nós sem nos sentirmos em completa posse das nossas emoções e acções. O que começa como um entretenimento pode facilmente tornar-se numa obsessão, num vício. E por muito inofensivo que o vício possa parecer, há sempre algo que se perde no processo. O xadrez é aqui usado de forma magistral, através de alegorias curtas, intensas e marcantes. Zweig tem sido particularmente astucioso a descrever obsessões. Talvez por ele também as ter vivido, não sei. O que sei é que este ser humano que nos deixou como património os seus escritos, sabe como tocar e arrebatar quem o lê.

Foi uma bela companhia durante a minha viagem do Porto para Lisboa, mas não consigo deixar de anotar que há sempre um período de ressaca. Sempre que leio sobre Zweig quero mais, quero saber mais, quero escrutinar tudo o que viveu e que o possa ter motivado a escrever as coisas que escreveu, a ter terminado a sua vida de forma tão deliberada e, poder-se-á dizer sem abusar, esclarecida. Um autor que passa ao lado de muitos leitores que tenho a certeza que encontrarão nele o mesmo fascínio que eu. Mas cuidado, não nos tornemos todos num Dr. B 🙂 

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[Livros do Brasil] Novo título da coleção Miniatura – Novela de Xadrez, de Stefan Zweig https://branmorrighan.com/2017/04/livros-do-brasil-novo-titulo-da-colecao.html https://branmorrighan.com/2017/04/livros-do-brasil-novo-titulo-da-colecao.html#respond Thu, 20 Apr 2017 08:50:00 +0000

Novela de Xadrez

Stefan Zweig

Tradução: Álvaro Gonçalves

N.º de Páginas: 104

PVP: 8,80 €

Derradeiro livro do escritor austríaco tem agora nova edição na Livros do Brasil. Novela de Xadrez junta-se assim a esta renovada coleção onde estão já incluídos os livros A Louca da Casa, de Rosa Montero, Soldados de Salamina, de Javier Cercas, e A Um Deus Desconhecido, de John Steinbeck.

LIVRO

Os passageiros de um navio que parte de Nova Iorque com destino a Buenos Aires descobrem que a bordo segue com eles o campeão do mundo de xadrez, um homem arrogante e pouco amigável. Rapidamente se forma um grupo que procura testar os seus conhecimentos de xadrez jogando com o campeão, apenas para conhecer uma clamorosa derrota. É então que um misterioso passageiro avança para os aconselhar, e o rumo dos acontecimentos se altera. Onde adquiriu ele este domínio magistral do jogo do xadrez, e a que custo? Nesta extraordinária novela psicológica o autor oscila, com inigualável mestria, entre um enorme suspense e uma reflexão pungente sobre o nazismo.

AUTOR

Stefan Zweig nasceu a 28 de novembro de 1881 em Viena e éum dos mais importantes autores europeus da primeira metade do século XX. Dedicou-se a quase todas as atividades literárias: foi poeta, ensaísta, dramaturgo, novelista, contista, historiador e biógrafo. De ascendência judaica, empreendeu em 1934 um exílio voluntário da Áustria, então sob domínio do regime fascista de Dollfuss (austrofascismo), e viveu na Inglaterra, nos Estados Unidos da América e no Brasil, onde se viria a suicidar em 1942. Da sua extensa obra, destacam-se as novelas Amok (1922) e Confusão de Sentimentos (1927), a biografia Magalhães, o Homem e o seu Feito (1937), o ensaio Brasil, País do Futuro (1941) e a autobiografia O Mundo de Ontem (1942). Suicidou-se no Brasil a 22 de fevereiro de 1942.

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Opinião: A Um Deus Desconhecido, de John Steinbeck https://branmorrighan.com/2017/02/opiniao-um-deus-desconhecido-de-john.html https://branmorrighan.com/2017/02/opiniao-um-deus-desconhecido-de-john.html#respond Mon, 06 Feb 2017 15:09:00 +0000

A Um Deus Desconhecido
John Steinbeck

Editora: Livros do Brasil

Sinopse: As antigas crenças pagãs, as grandes epopeias gregas e os relatos da Bíblia servem de base a este romance extraordinário, que Steinbeck demorou cinco longos anos a escrever. Cumprindo a promessa feita ao pai antes da sua morte, Joseph Wayne parte para o Oeste com o desejo de criar uma quinta próspera na Califórnia. Aí encontra uma bela e imponente árvore e acredita estar nela incorporado o espírito do pai. Os irmãos e respetivas famílias, que foram viver com ele, beneficiam dos êxitos e da prosperidade de Joseph, e a quinta cresce — até um dos irmãos, assustado pelas suas crenças pagãs, decidir cortar a árvore, fazendo com que a doença e a fome se abatam de súbito sobre todos eles. A Um Deus Desconhecido é um romance quase místico, que tem por tema central o modo como os homens tentam controlar as forças da natureza e ao mesmo tempo compreender a sua relação com Deus e com o inconsciente.

OPINIÃO: Li Steinbeck pela primeira vez apenas em 2013. Ofereceram-me Ratos e Homens no meu aniversário desse ano e foi por aí que me iniciei na sua literatura. Olhando para o que escrevi na altura sobre o livro, apercebo-me do quão perturbada fiquei, pois o texto pouco ou nada diz sobre o livro, a não ser precisamente que me marcou. Talvez o facto de ter ficado este tempo todo sem pegar noutra obra de Steinbeck tenha a ver com isso, com a forma como os seus protagonistas passam a habitar as nossas mentes e a fazer parte de nós.

A Um Deus Desconhecido, nesta belíssima edição da Coleção Miniatura da Livros do Brasil, chegou até mim no início de Janeiro e foi como um chamamento. Tenho lido tão pouco, comparando com anos anteriores, que já não sou eu que escolho os livros, são eles que me escolhem a mim. E nisso posso considerar-me uma sortuda, pois mais uma vez fiquei completamente maravilhada.

A Um Deus Desconhecido é tudo aquilo que foi, que é, que será. Joseph Wayne, o protagonista, é a personificação de tudo aquilo que passou a ser temido e ignorado. Desde o início da narrativa que prevemos haver mais para além daquilo que o olho é capaz de testemunhar. A escrita descritiva de Steinbeck é perfeita neste contexto, dá-nos uma profundidade paisagista que suporta a estranheza de algumas das suas personagens.

A família Wayne é rica em contrastes de personalidades, de estímulos, de entendimentos. Joseph não é o mais velho, mas é o mais respeitado. Um respeito que algumas vezes se transforma em temor. Tanto pelos seus irmãos como pelas respectivas mulheres e sobrinhos. E este temor vem precisamente da relação que Joseph desenvolve com o que o rodeia. Apesar de sentir que a morte do pai se aproxima, sente também que está na altura de cumprir o seu papel na vida, a chamada lenda pessoal.

Não só o pai respeita essa vontade, como compreende, como lhe promete ir ter com ele. Quando Joseph se instala na Califórnia, sente que a bela árvore que encontra tem um pouco do espírito do seu pai. A verdade é que rapidamente se instala e ganha o carinho dos que o ajudam a montar a sua propriedade, que mais tarde é alargada com a chegada dos irmãos. 

A forma como Joseph lida com a natureza e os animais é instintiva, primitiva, natural. Nem ele sabe muito bem porque é que faz as coisas que faz e como faz, mas sente que deve ser assim. E a natureza e os animais vão respondendo com abundância e saúde. Até que a incompreensão de um dos seus irmãos, protestante e obcecado com a religião, cresce para uma maldade quase inconsciente, mas que culmina num acto que ditará o destino não só da propriedade como do próprio Joseph.

Falar sobre este livro e estas relações não me é muito fácil, pois eu identifico-me demasiado com muito do que é transmitido. Existe esta troca entre nós, humanos, e a natureza que é pouco respeitada ou até ignorada por muitos. E depois existem estes pequenos actos de troca que conseguem ser vistos, por mentes menos esclarecidas, como actos pagãos de bruxaria ou adjacentes. 

Sempre mantive para mim que a ignorância e a incompreensão serão sempre os maiores causadores de desgraças e de guerras. Este livro, nas suas nuances e na sua beleza bucólica é de um euforia e tristeza constantes. O final é de uma intensidade que certamente fará com que nenhum leitor se esqueça daquilo que acabou de ler. E fica a revolta dos tempos, a entrega sincera e desprovida de interesse, a agonia da impotência face a forças e acções que fogem ao nosso controlo. A Um Deus Desconhecido é uma das lições mais intemporais que poderemos encontrar na literatura. 

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Opinião: A Louca da Casa, de Rosa Montero https://branmorrighan.com/2017/01/opiniao-louca-da-casa-de-rosa-montero.html https://branmorrighan.com/2017/01/opiniao-louca-da-casa-de-rosa-montero.html#respond Tue, 24 Jan 2017 10:51:00 +0000
A Louca da Casa

A Louca da Casa
Rosa Montero

Editora: Livros do Brasil / Coleção Miniatura

OPINIÃO: Primeiro livro terminado em 2017. Uma espécie de record no que toca ao término da primeira leitura num qualquer ano. Mas a culpa não é d’A Louca da Casa, pelo contrário, este foi o único livro, de vários que experimentei na primeira semana de Janeiro, a prender realmente a minha atenção.

Já em 2015 havia iniciado o ano com uma leitura de Rosa Montero – A ridícula ideia de não voltar a ver-te – e isto tem o seu quê de catártico, começar o ano a absorver tantas emoções familiares que raros escritores têm a capacidade de transmitir com essa proximidade. Desta vez não tive meios para registar muitas das passagens que me marcaram, como fiz com a anterior obra da escritora, mas antes de explorar muito mais este livro é fácil dizer: LEIAM-NO!

“A imaginação é a louca da casa” é um frase de Santa Teresa de Jesus. E a imaginação pode ser inquietante. Toda esta obra de Rosa Montero é um hino à fronteira entre o real e o imaginário, que por vezes é tão ténue que deixamos de conseguir distinguir uma da outra. E esta fragilidade, ou força, humana, é explorada através de uma viagem literária recheada de nomes de referência e ainda com vários relatos pessoais. Penso que existem várias formas de olhar para esta obra, daí a mesma não se encaixar em nenhum género específico, o que adoro.

Recentemente descobri que é este tipo de obra literária que mais me desperta a atenção e mais me prende. Existe de tudo um pouco, ficção, biografia, romance, ensaio, fantasia… Existe principalmente uma grande projecção de uma ideia que se quer explorar. Em A Louca da Casa, a ideia é a da escrita e de como a escrita pode ser libertadora e asfixiante ao mesmo tempo. 

Li algumas entrevistas da autora sobre este livro, portanto sei que muito do que o que está lá não é real, mas honestamente não quero saber o quê. Podia esquadrinhar a vida da autora e perceber se os dados pessoais que apresenta são reais, podia ir tentar verificar tantas outras coisas, mas não quero. Não quero porque a narrativa em si foi um acontecimento por si mesmo. Quem é que nunca sentiu que tinha tantas emoções a transbordarem, em que nos sentimos a roçar a loucura, em que o único alívio possível parece ser pegar num caderno ou num teclado e começar a escrever?

A escrita tem este poder, de exorcizar demónio, reais, imaginados, sonhados. Claro que achei super interessante o relato sobre vários escritores e como a sua afirmação na crítica se tornou uma obsessão. Revi muitos escritores amigos meus em muitas passagens sobre as frustrações, os altos e baixos durante a escrita de uma nova obra, ou até nas crises do antes e do depois. 

No entanto, foi na personalidade de Rosa Montero que mais me apeguei. Não que seja uma espécie de voyeurismo, mas antes porque revejo muito na personalidade da autora. Na sua independência, nas suas inseguranças e nas suas certezas (reais ou aparentes). Cada obra é tão real para um leitor quanto a sua experiência pessoal. Digam o que disserem, esta é a minha opinião. Todas as nossas vivências vão sempre influenciar a forma como olhamos para qualquer obra de arte. Acho que este livro também é sobre isso. Seja como for, A Louca da Casa fica mais do que recomendado. 

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Em Janeiro, pela Livros do Brasil – O regresso da Miniatura – «As Grandes Obras em Pequenos Volumes» https://branmorrighan.com/2017/01/em-janeiro-pela-livros-do-brasil-o.html https://branmorrighan.com/2017/01/em-janeiro-pela-livros-do-brasil-o.html#respond Sun, 15 Jan 2017 16:16:00 +0000 O regresso da Miniatura

Livros do Brasil começa 2017 com o relançamento da histórica coleção de bolso.

Grande literatura em tamanho – e preço – reduzido

Chegam a 19 de janeiro às livrarias os primeiros três livros da renovada coleção Miniatura, da Livros do Brasil. Criada nos anos 50, e com o slogan As Grandes Obras em Pequenos Volumes, esta foi uma das principais coleções de livros de bolso em Portugal e contou com 170 números. Nesta nova série, os livros serão igualmente em tamanho e preço reduzido (8,80 €), numerados e com uma linha editorial que se regerá pela qualidade literária, onde constarão autores contemporâneos e clássicos.

A Louca da Casa, de Rosa Montero, Soldados de Salamina, de Javier Cercas, e A Um Deus Desconhecido, de John Steinbeck são os títulos que inauguram a nova vida da Miniatura, três livros essenciais na obra de cada um dos seus autores. Depois do relançamento das coleções Dois Mundos e Vampiro, ambas muito bem recebidas pelos leitores portugueses, esta é a nova aposta da chancela.

A Louca da Casa

Rosa Montero

Tradução: Helena Pitta

N.º de Páginas: 224

PVP: 8,80 €

LIVRO

Um romance? Um ensaio? Uma autobiografia? A Louca da Casa é, em qualquer dos casos, a obra mais pessoal de Rosa Montero: uma viagem através do misterioso universo da fantasia, da criação artística e das recordações mais secretas da própria autora, que neste livro empreende uma viagem ao mais profundo do seu ser através de um jogo narrativo pleno de surpresas, onde literatura e vida se misturam num cocktail afrodisíaco de biografias alheias e de autobiografia romanceada. E assim descobrimos, por exemplo, que Goethe adulava os poderosos, que Tolstoi era um energúmeno, que Rosa, ela própria, em criança, se julgava anã, e que, com vinte e três anos, manteve um extravagante e arrebatador romance com um ator famoso. Todavia, não devemos fiar-nos por completo em tudo o que a autora conta sobre si mesma: as recordações não são sempre o que parecem.

Soldados de Salamina

Javier Cercas

Tradução: Helena Pitta

N.º de Páginas: 216

PVP: 8,80 €

LIVRO

Ao ser publicado, em 2001, Soldados de Salamina inaugurava uma nova época no romance espanhol e rapidamente se transformava num ruidoso bestseller, com mais de um milhão de exemplares vendidos e traduções em numerosos países. Num recente inquérito do jornal El País, um painel de 50 críticos colocou-o entre os dez melhores livros da literatura de língua espanhola, ao lado de obras de Bolaño, Vargas Llosa, Javier Marías, Vila-Matas ou Marsé. Cercas criava uma nova forma de abordar a Guerra Civil de Espanha, construindo o seu relato sem apriorismos ideológicos. Um soldado republicano pôde matar um militar fascista, mas não o fez. Cercas transforma esse soldado que teve um gesto de piedade num herói. Os leitores fizeram o mesmo.

A Um Deus Desconhecido

John Steinbeck

Tradução: Samuel Soares

N.º de Páginas: 280

PVP: 8,80 €

LIVRO

As antigas crenças pagãs, as grandes epopeias gregas e os relatos da Bíblia servem de base a este romance extraordinário, que Steinbeck demorou cinco longos anos a escrever. Cumprindo a promessa feita ao pai antes da sua morte, Joseph Wayne parte para o Oeste com o desejo de criar uma quinta próspera na Califórnia. Aí encontra uma bela e imponente árvore e acredita estar nela incorporado o espírito do pai. Os irmãos e respetivas famílias, que foram viver com ele, beneficiam dos êxitos e da prosperidade de Joseph, e a quinta cresce — até um dos irmãos, assustado pelas suas crenças pagãs, decidir cortar a árvore, fazendo com que a doença e a fome se abatam de súbito sobre todos eles. A Um Deus Desconhecido é um romance quase místico, que tem por tema central o modo como os homens tentam controlar as forças da natureza e ao mesmo tempo compreender a sua relação com Deus e com o inconsciente.

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Em Janeiro, pela Livros do Brasil: A Morte da Canária – Novo livro de S. S. Van Dine na colecção Vampiro https://branmorrighan.com/2017/01/em-janeiro-pela-livros-do-brasil-morte.html https://branmorrighan.com/2017/01/em-janeiro-pela-livros-do-brasil-morte.html#respond Mon, 09 Jan 2017 17:07:00 +0000

A Morte da Canária

S.S. Van Dine

Tradução: Darcy Azambuja

N.º de Páginas: 288

PVP: 7,70 €

Colecção: Vampiro 

A Livros do Brasil acaba de lançar um novo livro de S. S. Van Dine na coleção Vampiro, um nome fundamental da literatura policial norte-americana dos anos 20 e 30. Desta vez, trata-se de A Morte da Canária, a segunda investigação do detective amador, mas genial, Philo Vance. A Livros do Brasil havia já publicado, do mesmo autor, Os Crimes do Bispo, livro que inaugurou a renovada Vampiro. A Morte da Canária é já o oitavo título desta colecção que continua a seduzir os leitores portugueses.

LIVRO 

A bela Margaret Odell, famosa artista da Broadway conhecida como a «Canária», é encontrada morta em casa. Estrangulada cerca das 11 horas da noite, apartamento saqueado, joias roubadas. À primeira vista, tudo leva a crer que se trata de um assalto com desfecho fatal, mas depois de examinar o local do crime Philo Vance não tem dúvidas de que grande parte do que ali está não passa de encenação. Se não foi um qualquer ladrão violento – quem terá atacado a formosa Odell? Da classe mais elevada aos meios mais obscuros, eram vários os homens com quem convivia e na noite em que morreu sabe-se que foi visitada por mais do que um, todos eles porém com argumentos para serem excluídos da lista de suspeitos. Crime tão subtil como inteligentemente perpetrado, apenas o exímio processo analítico do detetive amador Vance permitirá desvendar o mistério d’A Morte da Canária.

AUTOR

S. S. Van Dine (pseudónimo de Willard Huntington Wright) nasceu a 15 de Outubro de 1888, em Charlottesville, EUA. Aluno brilhante, estudou em Harvard antes de partir para Paris e Munique, onde prosseguiu a sua formação em artes e letras e iniciou carreira como editor e crítico de arte. Em 1923, na convalescença de uma tuberculose, lê uma série de romances policiais e fica fascinado pelo género. Três anos mais tarde, lança o seu primeiro romance com assinatura S. S. van Dine, O Caso Benson, que se revela um best-seller imediato. Este será o primeiro de uma série de romances protagonizados por Philo Vance, um detective amador algo arrogante que privilegia os indícios psicológicos dos casos a que se dedica. Com várias adaptações de obras suas ao cinema, Van Dine torna-se um nome fundamental da literatura policial norte-americana dos anos 20 e 30. Morre a 11 de Abril de 1939 em Nova Iorque.

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[DESTAQUE] Em Setembro, pela Livros do Brasil: Batalha Incerta, de John Steinbeck https://branmorrighan.com/2016/09/destaque-em-setembro-pela-livros-do.html https://branmorrighan.com/2016/09/destaque-em-setembro-pela-livros-do.html#respond Tue, 27 Sep 2016 16:12:00 +0000

Batalha Incerta

John Steinbeck

Tradução: Fernanda Pinto

Rodrigues

N.º de Páginas: 328

PVP: 16,60 €

Coleção: Dois Mundos

Batalha Incerta foi um dos primeiros romances do escritor americano

A Livros do Brasil publica a 29 de setembro Batalha Incerta, de John Steinbeck, um romance empolgante que é ao mesmo tempo um olhar sobre a agitação social e política e a história de um jovem que procura definir a sua identidade. Batalha Incerta foi um dos primeiros títulos escritos por John Steinbeck – lançado em 1936 – e desde logo revelador de alguns dos temas que mais marcariam a sua obra: o comportamento de grupo, a luta de classes, a injustiça social e a falta de solidariedade entre os homens.

LIVRO

Nos campos de Torgas Valley, na Califórnia, os apanhadores de maçãs estão decididos a pôr fim às práticas gananciosas impostas pelo pequeno grupo de proprietários rurais e a greve é declarada. No meio da insurreição, Jim Nolan, rapaz solitário desesperado por dar um sentido à sua existência, rapidamente se vê à frente das operações. Mas à medida que a luta cresce, a violência impõe-se de um modo implacável e a defesa pelo reconhecimento dos direitos fundamentais dos trabalhadores transforma-se num fanatismo cego, que ameaça esmagar a vida daqueles que se entregaram ao seu serviço.  

AUTOR

John Steinbeck nasceu em Salinas, na Califórnia, em 1902, numa família de parcos haveres. Chegou a frequentar a Universidade de Stanford, sem concluir nenhuma licenciatura. Em 1925 foi para Nova Iorque, onde tentou uma carreira de escritor, cedo regressando à Califórnia sem ter obtido qualquer sucesso. Alcançou o seu primeiro êxito em 1935, com O Milagre de São Francisco (Tortilla Flat na edição original), confirmado depois, em 1937, com a novela Ratos e Homens. Em 1939, publicaria aquela que, por muitos, é considerada a sua obra-prima, As Vinhas da Ira. Entre os seus livros, destacam-se ainda os romances A Leste do Paraíso e O Inverno do Nosso Descontentamento, bem como Viagens com o Charley, em que relata uma viagem de três meses por quarenta Estados norte- americanos. Recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1962. Faleceu em Nova Iorque, a 20 de dezembro de 1968. Na Livros do Brasil foram já publicados os livros As Vinhas da Ira, A Pérola, O Inverno do Nosso Descontentamento, A Taça de Ouro e Viagens com o Charley.

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