MagaFest – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 05:34:49 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.2 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png MagaFest – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 Entrevista a Simão Palmeirim Costa, Músico Português https://branmorrighan.com/2015/09/entrevista-simao-palmeirim-costa-musico.html https://branmorrighan.com/2015/09/entrevista-simao-palmeirim-costa-musico.html#respond Wed, 02 Sep 2015 18:10:00 +0000 Cheguei até ao Simão através da promoção desta 2ª edição do Magafest, mas já antes havia ouvido falar de outros projectos seus, o mais recente em power-trio com não simão. Enquanto que esse trio actuou no Magafest do 2014, este ano Simão apresenta-se sozinho, com canções adaptadas à sua interpretação pessoal com a guitarra como sua companheira. Estivemos à conversa n’A Vizinha na Bica e eis o resultado.

Sendo a primeira vez que falamos para o blogue, conta-nos um bocadinho sobre ti. Como é que a música entrou na tua vida?

O meu percurso é nas Belas Artes. Eu fiz Escultura nas Belas Artes e fui-me dedicando sempre às Artes Plásticas e depois fui fazer o Mestrado lá fora (Londres) e ainda estou a fazer um Doutoramento nas Belas Artes, em Ciências da Pintura Portuguesa Antiga. Mas a música foi sempre sendo um paralelo inevitável. Comecei com os amigos, como quase toda a gente. Jantaradas, copos, música brasileira, muita Bossa Nova, e depois quis aprender a tocar guitarra, porque eu gostava muito de cantar as bossinhas. Então fui aprendendo a tocar guitarra para poder acompanhar e depois comecei a perceber que a guitarra me dava a possibilidade de fazer coisas novas, de compor. Então comecei a fazer as minhas músicas muito num registo de cantautor e depois fui tendo vontade de explorar aquilo de maneiras diferentes. Tive alguns projectos, mas tudo num registo bastante acústico com os amigos. Depois quis lançar aquilo para uma postura um bocadinho mais Rock, ter assim uma bateria e umas guitarradas. Fiz-me acompanhar do José Anjo, na bateria, do Pedro Fernandes no baixo e temos não simão (trio) que se estreou no MagaFest 2014 e que tem tido alguma projecção. Temos tido muitos concertos aqui em Lisboa, num ano já demos uma pancada de concertos, um ou dois festivais – o Festival do Silêncio e o Festival Trampolim – e tem corrido tudo muito bem. Queremos gravar agora, talvez até ao fim do ano, e enquanto isto está a acontecer, tive este desafio da Inês para mostrar as minhas canções a solo que é bocadinho como voltar às raízes.

Começando pelo trio não simão, o que é que as pessoas podem esperar desse teu projecto?

Podem esperar um power trio, portanto Rock, mas com raízes de cantautor. São canções transformadas em power trio, são canções que agora têm um som bastante diferente e nós tentamos bastante puxar por esse som. Não temos raízes experimentais, também não vamos buscar ao Jazz, temos laivos de Funk, muito por causa do baixista e temos laivos de tudo aquilo que nos é mais querido. Se quiseres, podes ouvir ali bocadinho que parecem Ornatos Violeta, depois ali bocadinhos que parecem Jorge Palma ou José Mário. Eu costumo dizer que as nossas canções andam ali a dançar entre o intimismo e o optimismo.

As músicas são todas compostas por ti ou fazem-no em conjunto? O que é que influencia na composição?

As canções levo normalmente já feitas, isto é, tens a melodia, tens a letra, tens a sequência de acordes e depois, claro, nós exploramos aquilo. É inevitável quando queres trabalhar com outras pessoas dares esse espaço para trabalhar, senão também não tem interesse nenhum. Isso é uma das coisas que na música mais me atrai, é precisamente trocar informações e brincar. Nunca discutimos muito sobre “Ah! Faz uma linha de baixo! Ah! Red Hot Chilli Peppers! Ou faz aquele ritmo de bateria do não sei quê!” Não estamos preocupados com isso, estamos preocupados em respeitar o máximo a vontade da própria canção e enaltecê-la da melhor maneira dentro daquele grupo. Agora começamos a compor também coisas já os três, às vezes mesmo sem letra. Eu dou muita importância à palavra, mas como estou com eles e, às vezes, apetece-nos explorar um instrumental, exploramos e eu também gosto. As nossas influências não são claras no sentido de tentarmos mimetizar nada. Não estamos muito preocupados com isso. Por isso, também às vezes é difícil definir o som, porque é orgânico, é o que for saindo.

Dada essa importância que dás às letras, o é que gostas de explorar? Que temas é que gostas de abordar?

As letras são, na grande maioria, narrativas. São pequenas histórias que eu construo. Algumas são super literais, algumas são tiradas ponto a ponto de experiências minhas. Basta sair e descer a rua que há alguma coisa que acontece e que inspire a fazer, seja o que for, ou uma viagem de barco, ou o amor, claro, os desencontros. Acho que muitas as letras têm a ver com o desencontro e aí não é só no sentido amoroso, é também no sentido de falta de comunicação ou compreensão… Portanto, muitas são, literalmente, tiradas da minha vida e colocadas no papel e muitas são histórias simplesmente inventadas. Tu vês uma velhinha à janela e apetece-te fazer uma canção sobre uma velhinha à janela e vais por aí a fora. Desde que consigas transformar aquilo num poema, numa mensagem que é interessante, acho que vale tudo a pena e vale tudo, ponto.

A título de curiosidade, lês muito? Também gostas de ir beber à literatura e à poesia? Ou o escrever é uma actividade isolada dessas tuas experiências?

É. Eu escrevo, claro, mas escrevo em segredo, isto é, eu não mostro nada do que escrevo (risos), porque não tenho confiança para isso. O que escrevo para as músicas, escrevo com as próprias músicas, o processo criativo normalmente é… Gostas de um acorde ou vês uma cara ou vês um objecto e encontras o som certo para aquele objecto e depois vais para o acorde seguinte e aquilo traz-te uma palavra diferente. Depois vais construindo a partir daí. O que escrevo é mais seco, é mais íntimo e fica nos cardeninhos que estão nas prateleiras. (risos)

Mas tens referências de escritores ou autores que te tenham marcado?

Tenho com certeza. Temos todos, mas não posso dizer que tenha para a música. Há bocadinhos imaginários kafkianos ou pessoanos, mas acho perigoso fazer esse paralelismo. Como te disse, as canções são feitas de forma quase espontânea do ponto de vista da letra e de uma forma que quer autonomia. Quero-me dedicar só àquela história ou só aquela ideia. Às vezes pode vir até de uma pintura. Temos uma música que saiu agora nos Novos Talentos Fnac 2015 que se chama Sendo Dados que é uma peça do Marcelo Gouchan e aquilo é uma descrição, se quiseres, a letra daquela música é a descrição de como uma pessoa experiencia aquela obra. Agora dizer que isso tem um fundo literário evidente, é difícil.

E sem ser para a música, a título pessoal? Sabes que por aqui no Morrighan existe sempre essa curiosidade em saber o que é que os artistas lêem nos tempos livres.

Tenho, claro. Gosto muitos dos russos, Dostoiévski, já falei em Kafka, li Nietzsche com o maior prazer. Portugueses tens Fernando Pessoa, sou absoluto fã de Herberto Helder, até mais da prosa do que a poesia, se é que não é muito arriscado dizer isto. Infelizmente também por causa do academismo tenho que ler muito, mas nada literário. (risos) Vou lendo, sempre que posso, autores portugueses, mas também gosto muito dos americanos, o Steinbeck é uma das referências mais interessantes, o Hemingway também, leio de tudo, acho eu.

Voltando à música e às MagaSessions, a razão do Magafest existir, como é que foi a experiência com não simão nessa MagaSession?

Foi uma experiência interessante até porque tivemos que mudar um bocadinho o registo. A bateria não era um set completo, o baixo não usava distorções, a própria guitarra, eu estava a usar uma guitarra acústica e não eléctrica. Portanto fizemos uma adaptação para apartamento. Foi muito interessante e, entretanto, já fizemos dois ou três concertos nesse registo no Jardim da Estrela e no Festival Trampolim e é muito interessante, mas também gostamos muito de tocar no Music Box e no Sabotage, como já fizemos, para explorar o som.

Em relação ao teu projecto pessoal – Simão – o que é que estar sozinho com a guitarra te permite explorar que em trio não é possível?

Permite-me ser muito mais pausado. Permite-me explorar os tempos das canções de forma muito mais autónoma e muito mais minha. Posso perfeitamente arrastar indeterminadamente um tempo ou uma linha de voz ou uma coisa qualquer e depois recuperar… As canções tornam-se um bocadinho mais plásticas, no sentido do tempo que elas têm e permite-me também cantar de uma forma mais tranquila. Não é tranquila no sentido de estar mais à vontade, é mais baixo, num registo mais grave. Quando estás a projectar por cima de uma bateria tens tendência a subir uma oitava e a gritar e a ir para a frente. Quando estás sozinho com uma guitarra tens tendência a falar em sussurro. Então as coisas tornam-se todas mais suaves, muito mais leves. Ao mesmo tempo, no ponto de vista do alinhamento e da selecção de músicas vai ser uma coisa mais triste assumidamente, mais intimista, mais calma. Nós temos umas canções que são claramente de gozo e quase de piada que aqui vão desaparecer e vão ficar só as coisas mais intimas.

Fotografia Graça Ezequiel

Quem for ao MagaFest, o que é que pode esperar do teu concerto?

Pode esperar a voz… Quero explorar a voz ao máximo. Tenho uma pequena loop station onde faço harmonizações de voz à medida que vou construindo a canção. Portanto, pode esperar refrões que de repente tem várias vozes, momentos quase só de voz e uma guitarra que tenta humildemente ir dando cor às letras.

E o futuro, o que é que reserva? A nível financeiro, achas que te poderá dar algum conforto?

O futuro é incerto, e ainda bem. Vou acabar o doutoramento agora, mas a bolsa já acabou, portanto, estou desempregado, sem dinheiro, como todos nós ou quase… Não faço a mínima ideia o que é que o futuro reserva. O que eu quero é, como disse, gravar. Essa é uma das prioridades com não simão. Com Simão começar dar concertos, sim, sem dúvida e ver o que é que aí advém em termos financeiros, mas olha que acho que daí não advirá nada. (risos) Vou ter que arranjar um trabalho e ponto final e, se calhar, ter um doutoramento e ter que servir à mesa! (risos) Não faço ideia! Quero dar concertos e tocar, tocar, tocar! O lançamento do disco de não simão poderá ajudar nisso. Pode, claro. E irmos tocar aí por Portugal a fora, nós já demos muitos concertos, mas só em Lisboa e ainda só temos um ano de vida. Ainda temos muito por explorar e queremos ir tocar por todo o lado.

E de ti, Simão? Também queres gravar ou vais só andar, para já, a tocar?

Vamos devagar. Isto vai ser o primeiro concerto a solo com alguma projecção. Portanto, outros virão, espero que sim. Acho que é o tipo de coisa que vai ser interessante gravar, eventualmente sim, mas, se calhar, quase sem ser em estúdio, só em lives, só em concertos, só em experiências assim íntimas e calmas. Gostava de gravar assim num registo bastante diferente como não simão, acho eu, vamos ver.

Facebook não simão:

https://www.facebook.com/naosimao

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À conversa com Inês Magalhães sobre a 2ª Edição do Magafest https://branmorrighan.com/2015/08/a-conversa-com-ines-magalhaes-sobre-2.html https://branmorrighan.com/2015/08/a-conversa-com-ines-magalhaes-sobre-2.html#respond Mon, 31 Aug 2015 15:22:00 +0000 É já no próximo fim-de-semana que decorre a 2ª edição do Magafest, evento anual resultante das MagaSessions organizadas pela Inês Magalhães na sua própria casa. São vários os Domingos por ano em que muitos talentos nacionais, por vezes ainda pouco falados, dão a conhecer a sua música. À semelhança do que fiz o ano passado, estive à conversa com a Inês e com alguns dos artistas presentes no cartaz deste ano. Em tom de balanço do primeiro Magafest, do impacto que teve nas MagaSessions e quais os próximos artistas, fiquem com a nossa conversa n’A Vizinha, um bar bem simpático na Bica. 


Fotografia para Eugénio Ribeiro

Depois da conversa feita o ano passado, com a introdução ao conceito e à motivação das MagaSessions, comecei por perguntar à Inês qual o balanço da primeira edição do Magafest.

Já me perguntaram “Então? O que mudou em relação ao ano passado?” e eu respondo “Felizmente, pouco”. Porque no ano passado correu muito bem e foi um sucesso tanto da parte dos músicos como da minha. Depois de ter falado com eles o feedback foi muito bom. As experiências das MagaSessions continuaram na Casa Independente e eu, apesar de ser uma casa e de ser tudo muito parecido, tinha medo que se perdesse a proximidade e o à vontade que existe nelas, mas não aconteceu. O dia com os músicos, toda a parte, as montagens e os sound checks, correu muito bem. E não sei se chegaste a saber, mas naquele dia caiu uma carga de água tropical e eu tinha concertos agendados para o terraço. No dia antes, comprei uma lona, fui até Almada… Pá, trinta por uma linha, estive a montar a lona por cima da videira que eles têm com um amigo meu… Ficou impecável, mas houve só uma parte da lona que não ficou bem esticada. Bom, essa parte, quando começa a chover, foi tipo à filme. Começa a chover torrencialmente, os amplificadores todos por baixo, e a criar uma bolsa de água, mas uma bolsa de água para aí com 500 kg imagino, e a videira está presa por aqueles cabos de aço, mesmo à filme. Começámos a ouvir os cabos tipo “peum-peum-peum” a despegarem-se da parede, toda a gente em pânico… isto a uma hora para começar o festival. 

E como é que se lida com uma situação assim?

Eu em automático, as minhas emoções tinham que estar off, porque senão vou para um quarto escuro, sento-me e choro (risos). Então, tiramos tudo, ficou foi o palco principal, como não tinha o bar na Casa Independente, pusemos no outro lado e foi fixe porque deu para continuar com os músicos ao mesmo nível das pessoas, sem os músicos estarem no palco, portanto, isso foi fixe. Tirámos tudo… Bem, quando cortámos a bolsa… juro, estiveram dois minutos a cair água, só para tu veres o peso e a quantidade de água. 

Como tem sido a preparação deste Magafest? 

Este ano, felizmente, pouco mudou – a parte da organização e da forma como faço o festival e a razão pela qual faço o festival – mas na produção as coisas estão bem mais suaves. Porque já fiz um, porque já tenho os contactos, já tenho imensas coisas feitas agora que, como não tenho uma equipa, já estão precavidas. Por exemplo, a parte toda do design que é uma coisa que as pessoas estão a pedir “Agora precisamos de um banner! Agora precisamos do cartaz! Agora para o passatempo não-sei-quê!” Mesmo no site, sou eu que estou a tratar do site. Este ano já tinha uma check list… “OK, ainda há tempo… Não faz mal… Faço já!” Então, fiz uma data de coisas antes, portanto, este ano, tudo muito mais suave, mas a qualidade e a sinceridade com que o projecto é feito mantém-se. Acho que isso é o mais importante.

No ano passado o concerto começava às 15h, mas este ano vai começar às 18h, mas o número de artistas é mais ou menos o mesmo. Qual é a grande mudança aí pelo meio?

No ano passado, havia uma hora e tal de intervalo que era para as pessoas jantarem e não sei quê. Este ano, não há intervalo nenhum, é tudo seguido. Felizmente, no ano passado, fiz com uma hora de intervalo, porque com esta coisa das lonas, dos sound checks e o não sei quê, acabou por não haver intervalo nenhum e foi tudo seguido. Portanto, este ano também não pode chover! Nenhum concerto coincide de propósito, para caso haja algum problema, as coisas correrem exactamente da mesma forma, só que em vez de ser no terraço, acontecem todas no palco ou, como no ano passado, o concerto do João Lobo na bateria aconteceu na cozinha deles e foi incrível. Como foi cedo, eram 16h, salvo erro, ainda estava pouca gente, como deves calcular – aquilo é um espaço que não dá para mais de 100 pessoas… Mesmo assim, como ainda não estava muita gente, deu para toda a gente ver… e, pronto, é uma experiência como acontece lá em casa. Por isso, este ano, espero que o terraço aconteça, espero mesmo, porque tenho visto que vai estar um sol abrasador. Falei com o São Pedro, claro! A ver se me dá uma ajuda! Se ele quer que dia 6 chova, tudo bem, mas que me reserve o dia 5. Mas a ideia é começarem os concertos no terraço, que é quando está menos gente, e começarem às 18h porque uma coisa é estares em Paredes de Coura ou num festival que estás ao ar livre e sentes menos que estás num espaço fechado e onde tens mais espaço para vaguear – apesar das pessoas terem pulseiras e poderem sair, ir a casa e voltar, se não lhes apetecer ouvir aquela banda ou não gastar dinheiro e então vão comer noutro lado – outra coisa é estares com grandes intervalos ali dentro. A ideia é dois concertos acontecem lá fora e depois começam lá dentro. Ainda há um que é Garcia da Selva que é um som mais ambiente, e é o último lá fora, depois são todos lá dentro no palco até porque conto que a casa esteja bastante cheia e não há espaço para estar a ocupar o terraço. Mas são estas as grandes diferenças porque o importante no MagaFest é perceber que o festival não começou festival, começou por aquelas sessões e o festival acontece como uma celebração de elogio à música, ponto. Portanto, o que realmente interessa são as MagaSessions que é um trabalho que acontece quase diariamente durante o ano todo. Nisso mantém-se o mesmo do ano passado.


Tal como no passado, tens no cartaz nomes que não foram às MagaSessions. Fala-nos dessas escolhas.

Sim, tenho. Jibóia não foi, mas esteve no ano passado em Noz ao quadrado no MagaFest. Mas dizes muito bem, Lula Pena não foi, Filho da Mãe não foi… Lula Pena já conheço há alguns anos, já foi a várias MagaSessions e já havia à vontade. O ano passado eu já lhe tinha proposto e ela disse “Sim, sim. Quero muito ir.” Depois acaba por não poder, as nossas datas de disponibilidade não coincidiram e não deu. Fiquei com essa pedra no sapato e tipo “Não, isto tem que acontecer!” Este ano, quando propus à Lula foi óptimo “Claro que sim! Claro que vou! Adoro o projecto! Adoro a ideia! Conta comigo!” A única pessoa que, realmente, não conheço, porque os outros conheço até de amizade ou de estar,  é o Filho da Mãe. Eu não tinha contacto antes, mas ele é amigo do Norberto, é amigo de várias pessoas que estão à volta e é muito chegado à Casa Independente. Por isso, já conhecia as MagaSessions, já conhecia o projecto e quando lhe propus o projecto também foi “Claro que sim! Quero muito!” e até porque com o budget que eu tenho para os músicos, ou eles percebem o projecto e o contexto e de onde é que veio o MagaFest ou então é “Tu só podes estar a brincar comigo!” Até porque não dá ainda. Apesar de não ser para fazer dinheiro com o festival e, por isso, se eu pudesse dar mais aos músicos, dava, mas não podendo, também eles aceitam sabendo perfeitamente de onde é que vem o projecto, onde o trabalho está o ano todo e, por isso, depois quando acontece o festival, até os músicos que não foram às MagaSessions ou que não conhecia tão bem como o Filho da Mãe, conhecendo o projecto aceitam ir.

Em relação às MagaSessions, achas que desde que aconteceu o MagaFest, houve mais adesão? Houve alguma diferença?

O primeiro concerto a seguir ao MagaFest, no ano passado, foi a Selma Uamusse, tenho quase a certeza que foram para aí 250 pessoas. Claro que em casa entraram 80 ou 90 e depois as outras, infelizmente, tens de dizer “Está esgotado. Não pode ser.” E já não sou eu, já é outra pessoa. Entretanto, já tenho uma pessoa para a entrada, já tenho uma pessoa para o bar… Mas agora o que acontece é isso está “Esgotado!” e as pessoas, mesmo assim, vêm aquilo e não querem saber. Sobem e dizem “Vá lá… Deixa-me entrar…” Portanto, para as MagaSessions pouco mudou, mas o que acontece é que realmente há mais pessoas a saberem das MagaSessions. Ainda assim, muita gente que foi ao MagaFest não faz mínima ideia das MagaSessions e é algo que me põe um pouco triste. Este ano, tanto no press release ou mesmo no cartaz, fiz questão colocar MagaSessions para ver se as pessoas associam… Porque festivais, toda a gente é capaz de fazer um festival e os festivais acontecem. Tens dinheiro, fazes um festival, chamas aquelas pessoas e tudo acontece. As MagaSessions é um projecto mais social e eu acho que é isso… As MagaFest são uma celebração. Não sabendo das MagaSessions, fica um pouco de vazio todo aquele dia.

Fotografia Vera Marmelo

E é engraçado porque muitos projectos que apresentas nas MagaSessions acabam por ter mais visibilidade com o Magafest. Aliás, muitos projectos, se procurarmos por eles, o material encontrado é quase todo das MagaSessions…

Sim, se pesquisarem um pouco… Bom… Mas tu também estás muito dentro do meio e és uma pessoa bastante curiosa. Fazes… bom… não digo trabalho, mas tens essa curiosidade inata em ti, mas a maior parte das pessoas não o faz. Felizmente o arquivo VIMEO das MagaSessions está a crescer e a verdade é que é engraçado. Eu ponho um nome de um artista qualquer na internet que já foi e “Oh!” e aparece lá as MagaSessions.

Imagina agora que as MagaSessions continuam a crescer e a chamar mais gente. Se já tens a casa lotada, como é que vais fazer?

A capacidade não pode crescer, não é? Porque a casa tem algum espaço, mas não amplia. Eu acho que apesar das pessoas passarem a ter conhecimento das MagaSessions através do MagaFest, a verdade é que as pessoas que se propõem a ir a casa de alguém para ver um concerto também não são todas e acaba por ser um público muito especial. Eu acho que a coisa acaba por ter um balanço próprio, um equilíbrio que é entre a vontade de ver concertos e as pessoas que se propõem a ver um concerto num sítio diferente, a um Domingo… Enquanto houver esse equilíbrio, as coisas continuam na mesma, porque a minha ideia é continuar sempre na mesma. Se as pessoas querem mesmo ver, cheguem mais cedo.

Há algum nome que queiras anunciar para a próxima MagaSession depois do Magafest?

Já tenho agenda até Janeiro, mas não te posso dizer muito. A próxima vai ser a 11 de Outubro – Zorra. Já ouviste?

Ainda não.

É super fixe, mas vê primeiro ao vivo. O Simão foi dar um concerto ao Sabotage e fazia a primeira parte de Zorra e o Simão já me tinha dito “Ah, este CD! Ouve! Curti bué!” e eu ouvi e achei que era um pouco repetitivo. Mas como ia ver o Simão, vi Zorra e acabei a adorar. A verdade é que na dinâmica em estúdio os músicos também tentam fazer tudo certinho, que quando estejam a tocar que esteja tudo a tempo e certinho, o que perde um bocado o brilho do improviso e da naturalidade. No caso deles a diferença é notória e ao vivo supera em muito o disco. Tu vais a um concerto e vês que é realmente bom. É uma sonoridade paisagística quase. É muito bom.

Facebook:

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MAGAFEST 2015 ▲▼◆ from MAGASESSIONS on Vimeo.

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Passatempo – Ganha 1 Bilhete para o Magafest! https://branmorrighan.com/2015/08/passatempo-ganha-1-bilhete-para-o.html https://branmorrighan.com/2015/08/passatempo-ganha-1-bilhete-para-o.html#respond Thu, 27 Aug 2015 20:36:00 +0000

Em parceria com o Magafest tenho um bilhete para oferecer! O evento acontece dia 5 de Setembro, a partir das 18h e é 100% de música nacional, com nomes já bastantes conhecidos e outros prontos a passarem a sê-lo também. Participar é simples, basta seguirem as seguintes regras:

– O passatempo termina às 23h59 do dia 3 de Setembro

– Têm de fazer like na página das MagaSessions.

– Têm de fazer like na página do BranMorrighan

– Partilhar este passatempo na tua página facebook

– Preencher correctamente o formulário

Boa Sorte!

FORMULÁRIO DESACTIVADO – FIM DE PASSATEMPO

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Magafest chega já no dia 5 de Setembro – Cartaz Completo https://branmorrighan.com/2015/08/magafest-chega-ja-no-dia-4-de-setembro.html https://branmorrighan.com/2015/08/magafest-chega-ja-no-dia-4-de-setembro.html#respond Wed, 26 Aug 2015 15:12:00 +0000

A segunda edição do MAGAFEST está aí! Um festival bem português que depois do sucesso da primeira edição volta a ocupar a Casa Independente, dia 5 de setembro das 18h às 2h.

Este ano, o MAGAFEST 2015 volta a confirmar-se como um dos mais importantes festivais de música alternativa de Lisboa trazendo Norberto Lobo, Carlos Bica, Filho da Mãe, Lula Pena, Silence Is a Boy, Minta & The Brook Trout, Garcia da Selva, Simão e Jibóia.

O festival é a celebração das MagaSessions, sessões musicais que acontecem no Saldanha na casa de Inês Magalhães desde 2012. Um espaço invulgar de concertos únicos e íntimos, onde se divulga e promove músicos já estabelecidos no panorama musical português, bem como novos talentos que fazem a sua estreia na casa, por onde já passaram mais de 40 espectáculos ao longo de 3 anos, apresentando aos convidados as mais diversas experimentações sonoras.

A segunda edição aparece depois do êxito da primeira em 2014. Dia 5 de Setembro das 18h às 2h o MAGAFEST volta à Casa Independente, estabelecendo-se como um dos mais importantes momentos de elogio à música. 

Os bilhetes custam 15 euros, estão à venda nas plataformas MagaSessions e Casa Independente.

Brevemente algumas entrevistas tanto com a Inês como com alguns dos convidados! 

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2ª Edição do MagaFest já tem nomes: Filho da Mãe e Silence Is A Boy https://branmorrighan.com/2015/06/2-edicao-do-magafest-ja-tem-nomes-filho.html https://branmorrighan.com/2015/06/2-edicao-do-magafest-ja-tem-nomes-filho.html#respond Wed, 24 Jun 2015 13:01:00 +0000

2ª edição MAGAFEST

5 de Setembro, das 18h00m às 02h00m, na Casa da Independente

A segunda edição do MAGAFEST está ai. Um festival bem português que ocupa a Casa Independente  – Dia 5 de Setembro das 18h às 2h. Filho da Mãe e Silence is a Boy são os dois primeiros nomes do cartaz a ser divulgados.

Filho da Mãe, nome de Palco de Rui Carvalho, lançou o seu segundo álbum “Cabeça” em Novembro de 2013, ‘um disco instrumental, acústico, feito mais com a emoção do que com a razão’, irá entrar no mundo Maga em Setembro, mostrando-nos com a sua mestria sobre a guitarra o seu imaginário e o resultado de dois anos de concertos e colaborações de onde resultou o seu ultimo álbum.

Silence is a Boy, os Paladinos insuperáveis e propagadores temerários do “cylon folk”, género maior da chanson ligeira. Silence is a Boy a.k.a. SIAB, vê-se como a banda que bate mais porque gosta de ti. A banda que sabe que o tempo não esperou por ti. SIAB é a banda que sabe como era avassalador o fraquinho que tinhas pelo Francisco no sexto ano. SIAB toca o rock dos abandonados, o pop dos estragados e o punk dos reformados. SIAB é a banda secreta da tua vida alternativa.

O MagaFest é a celebração das MagaSessions, sessões musicais que acontecem no Saldanha na casa de Inês Magalhães desde 2012. Um espaço invulgar de concertos únicos e íntimos, onde se divulga e promove músicos já estabelecidos no panorama musical português, bem como novos talentos que fazem a sua estreia na casa.

A segunda edição aparece depois do êxito da primeira em 2014, que contou com nomes como Bruno Pernadas, Memória de Peixe, JPsimões e outros artistas que estão a fazer a diferença na música portuguesa.

Dia 5 de Setembro, das 18h às 2h, o MAGAFEST volta à Casa Independente, estabelecendo-se como um dos mais importantes momentos de elogio à música.

Faltar é perder!

Os bilhetes custam 15€ e estão à venda nas plataformas MagaSessions e Casa Independente.

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Entrevista a Bruno Pernadas, Músico Português https://branmorrighan.com/2014/11/entrevista-bruno-pernadas-musico.html https://branmorrighan.com/2014/11/entrevista-bruno-pernadas-musico.html#respond Sun, 02 Nov 2014 19:04:00 +0000 Foi apenas em Março deste ano, 2014, que descobri este fantástico músico. Bruno Pernadas lançou o seu primeiro álbum – How can we be joyful in a world full of knowledge – por essa altura e desde então que sigo atentamente o seu percurso. Aproveitando a sua passagem pelo MAGAFEST, festival organizado pela Inês Magalhães, estivemos à conversa não só sobre o seu disco como também sobre o seu outro trabalho –  L’appartement – que iria fazer parte da sua actuação no festival. O meu muito obrigada à Inês por ter disponibilizado a sua sala, base das MagaSessions, para estas sessões de entrevistas. Fiquem então com a entrevista ao nosso grande Bruno Pernadas.

Fotografia por Vera Marmelo

«E! Olha que vai demorar… (risos)» Foi neste tom bem disposto que a entrevista começou depois de lhe pedir que me contasse como é que se tinha dado a sua entrada no mundo da música. «Vou tentar ser rápido! Aos 13 anos comecei a estudar guitarra clássica numa escola em Lisboa, em que cheguei ao 5º/6º grau; depois fui para o Hot Club e estudei Análise e Técnicas de Composição de Música Clássica e, por fim, fui para a Escola Superior de Música de Lisboa onde tirei a Licenciatura na vertente de Jazz.» Fora este meio académico, o primeiro contacto musical deu-se através da irmã: «A minha irmã ouvia muita música, os amigos dela ouviam sempre imensos vinis lá em casa e eu acabava por ouvir os mesmos discos que eles ouviam.»

L’appartement, o projecto musical que Bruno Pernadas apresentou no MAGAFEST, não está editado e a cada actuação acaba por se reinventar um pouco. «Esse projecto era uma coisa que eu queria fazer e, em 2008, um amigo meu, o Pedro Lopes, que tinha um programa na Rádio Zero convidou-me para ir lá e foi lá que o apresentei pela primeira vez. Depois disso fui tocando-o esporadicamente. É algo que gosto de fazer, mas não de estar sempre a fazer.» O projecto em si consiste em paisagens sonoras nas quais o ambiente puxa o folk, misturado com algum jazz e música improvisada. «É uma música tonal que vive da forma como os acontecimentos vão surgindo uns a seguir aos outros. Se existe uma manta sonora em determinado momento em que uso discursos de pessoas por cima, isso vai desencadear noutra coisa. O processo é um bocadinho assim – umas coisas encadeiam nas outras. Não se trata de eu ter quatro ou cinco músicas e depois encadeio-as, não, aquilo é uma coisa que mesmo quando estou a fazer as músicas é sempre a improvisar que eu chego a uma conclusão. Só quando chego ao fim é que me tendo lembrar do que é que aconteceu! (risos)» A ideia surge da vontade de fazer algo a solo, algo criativo, baseado em teclados e guitarras: «É um desafio!»

Foi em 2008 que L’appartement surgiu, mas só em 2014 é que Bruno Pernadas voltou a emergir com algo em nome próprio.  «Eu em 2009 gravei um disco de Jazz, de música improvisada, mas que não foi editado. Este disco que gravei, o último, é o resultado de montes de músicas que eu tinha em casa, gravadas, e foi dar vida a essas músicas.» A apresentação de How can we be joyful in a world full of knowledge, contou com a participação de vários outros artistas o que levantou a questão se tudo o que foi mostrado ao vivo já tinha sido gravado pelo Bruno: «A maior parte das coisas sim, as outras estavam escritas. Eu não sei tocar sopros e o disco tem arranjos de sopros. Não gravei, mas escrevi e sabia mais ou menos como ia soar quando convidei as pessoas para gravar.» A grande apresentação deu-se no Teatro Maria Matos em Lisboa, que reuniu outros onze músicos e outra aconteceu nos Jardins Efémeros onde participaram nove. Levar todos os músicos numa só actuação nem sempre é fácil: «É possível fazer com menos músicos, fica diferente, mas quando não há mais dinheiro… Neste projecto existe um mínimo que quero oferecer aos músicos, é o que acho justo pelo que fazem nos concertos e por isso nunca baixo esse valor.Só me apercebi do quão complicado poderia ser ao vivo já depois de ter tudo idealizado. Quando cheguei ao Maria Matos tive de adaptar tudo e houve coisas que tirei, outras que pus, mas no fim foi muito giro.»

Em relação ao título do disco, Bruno Pernadas prefere não falar sobre ele: «É melhor não… (risos) O disco traz um livrinho, tem uma capa, tem a frase, as pessoas ouvem e pensam naquilo que quiserem pensar. Posso dizer que há pessoas que tiram a conclusão que a música é a resposta à pergunta. Há outras pessoas que acham que está relacionada com a internet, mas se a internet não existisse eu continuaria a fazer a pergunta na mesma. Não é nada disso, eu não sou um profeta. Aquilo não é uma pergunta à espera de uma resposta de interpretação. A música serve apenas como pano de fundo para as pessoas pensarem sobre isso. É uma questão física, emocional, do mundo! (risos) Acho eu…» 

Virando novamente o foco para o seu trabalho musical ao longo dos últimos anos, tendo em conta todas as colaborações que têm sido feitas, Bruno Pernadas falou-nos um pouco sobre o porquê do Jazz como o seu género de eleição: «O Jazz tem imensas ferramentas importantíssimas na música. Para mim permite desenvolver campos musicais que os outros géneros não permitem e nem sequer existem no mesmo sítio. O Jazz tem a componente da harmonia que pode ser expandida, a componente melódica que é muito forte, a improvisão livre, a estrutura, a não-estrutura… Eu acho que o Jazz abre muitas portas para outros estilos de música e para a criação.» Entre a estrutura e o improvisação, não existe preferência, mas facto é que se o Jazz não existisse «toda a música no mundo seria diferente».  A nível de influências artísticas, a relação da música com o cinema é algo que apraz Bruno Pernadas: «Cassavetes, James Gray, Paul Thomas Anderson, entre outros, são realizadores que me agradam.»

Em relação a outros projectos de Jazz que fazem parte dos gostos de Bruno Pernadas, este falou-nos da Andromeda Mega Express Orchestra: «Gosto muito do compositor, ele tem essa orquestra com músicos de todo o mundo e, por exemplo, em Portugal aquilo seria impossível. Os membros acreditam mesmo no compositor, eles são muito amigos, mas a música é super complexa, mega difícil de executar. Eles fazem coisas muito giras, como terem drones durante os seus concertos. Também são curadores de um festival de música, dentro de umas piscinas que já não são usadas. É muito giro. Normalmente as pessoas pensam que quando vão a um festival de música improvisada que é só música improvisada, mas ali não, tens música improvisa, peças preparadas, reportório de música contemporânea… É uma mistura de vários género, mas que não limita a criação.»

A nível de projectos futuros, promover o disco é algo ainda em mente, mas dadas as limitações financeiras, muitas vezes, dos espaços, não é fácil levar todos os músicos para fazer um espectáculo completo. «Com o dinheiro que têm de dar para este projecto, para terem os onze músicos, se calhar preferem levar quatro ou cinco projectos de duas ou três pessoas… Acho que é essa condição que pesa na decisão dos programadores. Mas como eu não tinha expectativas nenhumas em tocar o disco ao vivo, ter feito dois espectáculos já foi bom. Também houve outros festivais que mostraram interesse, mas quando ficou pronto já estava demasiado próximo das datas. Quem sabe para o ano.» E no estrangeiro? «Tens que ter um booker lá fora. Se lhes quiseres enviar um mail, eles recebem às toneladas deles, só de manhã. E muitos são de coisas horríveis. Tens que ter um contacto que te possa dar essa ligação. Outra coisa é que quando tentas ir lá para fora, pedem-te citações de imprensa do estrangeiro. Eu cá tenho, felizmente, mas lá fora não tenho. E eles vão pedir reviews da Europa. É difícil. Principalmente por ser um tão grande número de pessoas.» 

Bruno Pernadas:

http://www.brunopernadas.com/

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Entrevista aos Nome Comum, Banda Portuguesa https://branmorrighan.com/2014/10/entrevista-aos-nome-comum-banda.html https://branmorrighan.com/2014/10/entrevista-aos-nome-comum-banda.html#respond Wed, 01 Oct 2014 14:47:00 +0000 Nome Comum, banda portuguesa fundada pelos irmãos Palmeirim, foi uma das recentes actuações no MAGAFEST, organizado pela Inês Magalhães. Também eles foram protagonistas numa das Maga Sessions e nos últimos meses têm-se dedicado à promoção do seu primeiro álbum de longa duração – Cuco. Depois de um primeiro EP já com a participação de Gonçalo Castro, é neste último trabalho que o quarteto fica completo com a entrada de Nuno Morão. Conhecidos pelo seu som experimental dentro dos géneros bossa, folk e rock, foi com muito gosto que estive à conversa com a Madalena e com o Bernardo.

A memória principal do início dos Nome Comum tem origem numa noite em casa da avó da Madalena e do Bernardo, em que fizeram uma noitada musical, com músicas escritas pela e também interpretadas pelo Bernardo: «Foi aí que começámos a juntar uma série de canções. Decidimos trabalhar mais na composição das músicas e mais tarde ainda demos dois ou três concertos só nós os dois. Na altura as músicas eram talvez um pouco diferentes, mais intimistas. Depois a banda foi evoluindo, eu (Bernardo) já conhecia o Gonçalo, que é o baixista actual, e convidámo-lo para se juntar a nós e mais tarde veio também o Nuno Morão que se juntou na percussão. A estrutura é basicamente esta: nós os dois cantamos, ele (Bernardo) mais na guitarra, eu (Madalena) vou variando entre piano, percussões, acordeão, o que aparecer, o Nuno Morão na percussão e o Gonçalo no baixo. A premissa da banda sempre foi ter um formato muito portátil em que não precisássemos de muito para conseguir tocar, daí que acabámos por ficar com um som mais acústico.»

A música foi sempre uma presença constante na vida destes dois irmãos e muito por tradição da própria família. Desde os grandes serões familiares ao método auto-didacta, todas as contribuições foram importantes para chegarem ao som que hoje em dia os caracteriza. Muitas vezes incluídos nas categorias world music e folk, perguntei-lhes se se identificavam com as mesmas: «Acho que é mais difícil para nós categorizarmo-nos do que para quem está de fora. Para nós sai-nos de uma forma natural – temos isso dentro de nós, um bocadinho de Bossa Nova, um bocadinho de música portuguesa, clássica, jazz, um pouco de tudo. Quando estamos a compor isso vai saindo de forma natural. Mesmo essa categorização quase tem de ser feita música a música pois cada uma lembra coisas diferentes. Misturamos mesmo bastantes coisas e o último disco é prova disso.»

Já o nome da banda “Nome Comum”, vem precisamente pelo nome que Madalena e Bernardo partilham, mas também pelos instrumentos com que começaram: «Temos um apelido comum, mas depois também era a ideia dos objectos pequeninos do quotidiano que muitas vezes usávamos para tocar. Foi uma espécie de homenagem a essas coisas pequeninas e também ao facto de sermos irmãos.»

Entre o lançamento do EP e do LP, passaram dois anos e o grupo também aumentou. A maior diferença, a nível sonoro, dá-se graças à entrada do Nuno Morão: «Com a entrada do Nuno passámos a ter essa parte de percussão que ele desenvolve de forma muito rica. Isso também nos abriu muito mais espaço para podermos fazer outras coisas, nomeadamente o piano. O tempo que se passou entre os dois trabalhos também contribuiu para essa mudança, começámos a ouvir outras coisas e naturalmente iremos continuar a evoluir. Estas primeiras canções surgiram principalmente entre mim e o Bernardo que depois apresentámos ao Gonçalo e ao Nuno e eles juntaram as duas ideias. Agora que já temos esta dinâmica formada o que queremos é mesmo compor os quatro, logo irá sempre ser uma coisa diferente.»

O pico da promoção de Cuco deu-se neste último Verão e a banda está muito contente com a receptividade do público português: «A recepção tem sido muito boa, estamos contentes. O facto de termos a Raquel Lains a tratar da promoção permite-nos falar e apresentar o nosso trabalho também a pessoas que à partida não o fariam, a par disso também o poder ir tocar de norte a sul em sítios diferentes com pessoas diferentes tem sido importante.»

Dado terem andado na estrada recentemente, perguntei-lhes qual foi o concerto mais insólito que já deram. «Mais insólito? Ihhh, somos muito certinhos (risos). Eu (Madalena) diria que este último no Bons Sons foi muito especial… Não só pelo facto de estarmos num festival, mas por termos tido, em palco, a companhia de muitas moscas (risos). Foi um desafio estar a cantar de boca aberta com as moscas a passearem a ver se entravam ou não. (risos).»

Em relação à composição das letras e da música, as influências são muitas e difíceis de numerar: «É tudo muito difuso. A nível instrumental há tanta coisa! Tudo o que gostamos e ouvimos acaba por nos moldar. A dar uma referência directa, passando ao lado de imensos nomes, por causa da língua portuguesa, sem dúvida Chico Buarque. Ele é o rei. (risos) Admiramo-lo bastante porque consegue uma excelente harmonia entre a letra e a música. É incrível. Mais do que outros, é algo que ele tem ali, uma ironia, uma ironia muito grande, que é uma coisa que às vezes sai um bocado na nossa escrita.»

Dada toda esta versatilidade musical e instrumental, lancei-lhes o desafio de escolherem um músico, português ou estrangeiro, que achassem que encaixaria bem com eles para uma colaboração: «Nunca pensámos nisso, realmente… Talvez alguém que não toque nada daquilo que nós já tocamos… Um nome, hum… Talvez seja uma resposta demasiado fácil, mas há pouco tempo gravámos uma versão de uma música do Sérgio Godinho e seria um desafio tocar com ele. Já um instrumentista, talvez o João Lobo, por causa da bateria, se calhar esse contraste seria interessante. Estando a pensar em amigos e malta que vai tocar no Magafest, o Tiago Sousa se calhar a tocar piano também era giro. Sim, são duas boas referências o João Lobo e o Tiago Sousa. De dois mundos completamente diferentes, mas seria uma fusão interessante. Por vezes penso (Bernardo) como seria uma certa música tocada por outras pessoas, para ver o que têm para oferecer.»

Quanto à internacionalização e palcos estrangeiros, é algo que ainda lhes passa pouco pela cabeça: «Não pensamos muito nisso. Ainda estamos ocupados a conquistar o nosso espaço por cá, principalmente porque as canções são em português. Talvez sim, faça sentido, mais tarde, levarmos isto para a América do Sul, Brasil… Acho que nos ia fazer muito bem. É um sítio para explorar, há cada vez mais esse fascínio. Não há é dinheiro (risos).»

Em relação ao Magafest, o sentimento é de família, de se sentirem em casa: «Temos muita pica para tocar lá. Até emocionalmente é muito bonito para nós porque acaba por reunir uma série de pessoas que vieram tocar aqui, a esta sala, e que já dura há muito tempo fruto do esforço da Inês e do irmão. Desde o início que gostamos muito desta iniciativa. É raro alguém abrir a sua própria casa e convidar músicos para tocar. O festival é a consagração de mais de dois anos em que a Inês abriu as suas portas e agora pode finalmente passar para um outro espaço e mostrar que isto cresceu, com um espírito festivo e de amizade. É muito bom.»

Para um futuro próximo, a ambição é gravar um novo álbum, desta vez com os quatro elementos para ver que surpresas podem surgir, dado que até agora eram só os dois, essencialmente, a compor. Já têm material para gravar, mas a parte financeira tem sempre o seu peso e seria bom se houvessem mais apoios: «É uma questão de tempo e… dinheiro (risos). Ver depois como é que se consegue apresentar – se um objectivo físico ou virtual. Não havendo dinheiro iremos fazer na mesma, talvez demore mais tempo, mas é questão de vermos o molde em que o fazemos. Felizmente, no primeiro disco tivemos o apoio da GDA. A cada ano eles dão 20 apoios a 20 artistas. Se houvesse um espaço, com estúdio, em que as pessoas pudessem ir para lá gravar por um preço mais simbólico, que estivessem ligadas à GDA, era uma boa ajuda. A questão da produção do objecto, há várias maneiras de contornar isso, a edição online é uma delas. Há sempre formas alternativas de mostrares o teu trabalho.»

Nome Comumhttps://www.facebook.com/nomecomum

O meu muito obrigada aos simpáticos Madalena e Bernardo. Descubram Nome Comum, não se vão arrepender. 

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Entrevista ao João Lobo, Músico Português https://branmorrighan.com/2014/09/entrevista-ao-joao-lobo-musico-portugues.html https://branmorrighan.com/2014/09/entrevista-ao-joao-lobo-musico-portugues.html#respond Mon, 22 Sep 2014 22:48:00 +0000 Quem anda nos meandros do Jazz certamente reconhecerá este nome – João Lobo. Português de nascença, mas agora residente em Bruxelas, o nosso músico tem dado que falar nos vários circuitos internacionais como alguém extraordinariamente talentoso na bateria. Recentemente, esteve presente no MAGAFEST e foi um dos músicos presentes durante as Maga Sessions de 2013. Outros músicos, como Scott Fields, Norberto Lobo, Giovanni Guidi, Júlio Resende, Giovanni Di Domenico ou Riccardo Luppi, têm requisitado os serviços do baterista e, para mim, foi uma honra poder sentar-me com ele e saber mais sobre o seu trabalho.

Fotografia por Vera Marmelo

Desde os primórdios“, é assim que João Lobo começa por responder quando lhe pergunto sobre o início da sua relação com a música: «Cresci numa casa onde se ouvia muita música, o meu pai sempre foi muito melómano, tinha muitos discos em casa, a minha mãe tocava um bocado guitarra – não era música -, mas também gostava muito de música. Muito cedo comecei a tocar e a interessar-me pela bateria, em fazer a minha própria bateria com objectos de casa, e quando tinha 11 ou 12 anos deram-me a minha primeira bateria. Desde então, sempre toquei esse instrumento. Na adolescência comecei a tocar em grupos e só no fim desta é que comecei a ter treino académico. Inscrevi-me no Hot Club e estive lá dois anos. Entretanto tinha começado alguns grupos cá em Portugal, como Norman, com o Norberto e o Manuel, mas depois fui para a Holanda estudar num conservatório.» Após este percurso inicial, Holanda, Bélgica e Itália foram países por onde João passou e onde foi conhecendo músicos com os quais foi tocando ao longo deste tempo, mas foi em Bruxelas que se estabeleceu: «Estou a viver em Bruxelas, a tocar em toda a Europa, mas principalmente divido-me em projectos entre Holanda, Portugal e Itália.»

Mais de 20 discos, é a ordem de grandeza dos trabalhos que têm o toque de João Lobo. Um feito notável que merece ser reconhecido, e que também contribuiu para que a sua bagagem aumentasse e seja, hoje em dia, o conjunto dessas experiências todas. Perguntei-lhe qual é que o tinha marcado mais: «Os primeiros marcam sempre muito, ou seja, Norman, que foi o meu primeiro grupo de originais, digamos, e que continua a existir, embora adormecido. Todas as colaborações foram enriquecedoras, para o bem e para o mal. Desses 20 discos que dizes, se calhar há dois ou três que eu acho mesmo bons (risos).» Como disco preferido, elege o “Mure Mure”, com Riccardo Luppi. «Quando saí do concerto pensava que tinha corrido muito mal, mas depois ao ouvir o disco achei – Uau! Belo disco.»

Tocar com muitas pessoas ajudou-o não só a perceber que gosta de tocar muitas coisas diferentes como a adaptar-se a várias situações: «Foi a melhor escola possível.»

O Jazz é o género predominante nas obras musicais de João Lobo, mas este também gosta de tocar coisas diferentes, mesmo que possam estar sempre relacionadas de alguma maneira com o Jazz: «Mesmo a improvisação total normalmente é com músicos que vêm da linguagem do Jazz. Mas tenho outras coisas mais rock, diferentes, mas quase tudo o que faço tem grande parte de improvisação e influência Jazz.»

Não é só em grupo que toca, mas também a título individual. Questionei-o sobre quais são, para si, as maiores diferenças, enquanto artista, entre tocar numa banda ou tocar sozinho: «Eu sinto que há uma liberdade em relação a uma coisa – eu posso começar quando me apetecer. (risos) Ou seja, a tocar sozinho nada começa enquanto eu não começar. Sobretudo em concertos de improvisação, raramente há aquele silêncio antes de começar, há sempre alguém que começa. Isso foi uma coisa que reparei da primeira vez que toquei a solo aqui (Maga Sessions) e achei isso fantástico. Eu podia estar ali à espera, e só quando fosse o momento é que eu ia começar a tocar. Depois há o outro lado, a bateria não é um instrumento que se preze muito a tocar a solo, por isso tem que ser uma situação bastante específica, para mim, para poder tocar a solo. Não posso ir para um palco fazer um concerto a solo. Tem que ser entre as pessoas, num ambiente fechado… Nunca poderia estar num bar a dar concertos a solo, é bastante diferente.»

Fotografia por Fred_NS

Em termos da mensagem que a sua música possa passar, João Lobo explica-nos que não existe tanto uma ideia propriamente dita, mas antes uma postura que é a dele em tudo o que faz: «Uma pessoa tem sempre uma persona política e há sempre certos valores que defendes e tens, e isso também se transmite através da música. Depois há toda uma coisa inconsciente que acaba por se transmitir, mas que é difícil de se explicar. O facto de tocar perto das pessoas é porque quero que vejam o que eu estou a fazer, que possam ver tudo e que ao mesmo tempo possam ter os olhos fechados e estar próximos dessa maneira. É isso que quero transmitir através do solo da bateria, essa riqueza que muitas vezes só acontece em acústico. No solo podes ouvir outras coisas que quando amplificado o instrumento não consegues.»

Quando começou a solo, a sua ideia era fazer uma sucessão de peças baseadas em várias ideias que foi tendo ao longo do tempo: «A ideia é que cada peça seja independente uma da outra e que vá a vários sítios. Houve três ou quatro ideias que tive e que fiz peças a partir daí – fosse de som, de ritmo, uma melodia qualquer.»

Todos estes processos são encaixados muitas vezes na música experimental. Haverá abertura do público português para este experimentalismo? «Sem dúvida. Até mais do que noutros países. Acho que, por exemplo, em Itália, a comparar com Portugal, o público é muito mais envelhecido. Em Portugal há pessoas mais novas interessadas no Jazz, talvez porque cá houve outra evolução do Jazz, mais livre, está mais na moda, de certa maneira (risos). A nível de público, não acho que haja grandes diferenças entre o português e os restantes. Não acho que Portugal esteja atrasado nem estranhe este tipo de música. Muito do que se passa na Bélgica, onde vivo, também se passa por cá.»

João Lobo esteve no MAGAFEST e, na entrevista antes do mesmo, partilhou connosco o quão especial era estar ali presente, pois a primeira vez que tocou a solo foi precisamente numa Maga Session: «É maravilhoso, ainda por cima porque essa primeira experiência foi super importante para mim e por várias razões. Primeiro porque era a primeira vez e era uma coisa que eu queria fazer há muito tempo. Depois porque quando perguntei se podia fazer eles foram super simpáticos e disseram logo que sim, ‘bora fazer isso. Foi muito especial, a casa estava cheia e as pessoas estavam completamente dentro da coisa, em silêncio. Às vezes eu olhava para as pessoas à minha volta e elas estavam super atentas, às tantas o irmão da Inês começou a dançar… Aconteceram muitas coisas especiais nesse dia. E pronto, foi graças aos Maga que eu comecei a tocar a solo.»

No futuro, e a solo, a ideia é gravar um disco. Já sabe com quem é que vai gravar, quem é que vai gravar, só não sabe como e em que formato. Dos nomes com quem costuma colaborar, em Portugal e em Novembro, vai sair o novo trabalho com o Norberto Lobo e outros músicos belgas, que será apresentado em Dezembro.

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Entrevista a Tiago Sousa, Músico Português https://branmorrighan.com/2014/09/entrevista-tiago-sousa-musico-portugues_9.html https://branmorrighan.com/2014/09/entrevista-tiago-sousa-musico-portugues_9.html#respond Wed, 17 Sep 2014 10:51:00 +0000 Já passaram algumas semanas desde que tive o prazer de entrevistar o Tiago, mas só hoje consegui sentar-me com tempo e disposição para a transcrever. Gostava de ter conseguido fazê-lo logo na altura, mas andei algumas semanas doente e este é um trabalho que também requer concentração e disponibilidade mental. O que é certo é que desde então esta é uma entrevista que me “assombra” porque o Tiago Sousa é daqueles artistas interessantíssimos, com uma obra musical que transcende a própria música e que abraça também a literatura e outras artes. A entrevista surgiu através do Magafest, que se realizou no dia 6 de Setembro e chega então agora até vós. 

Fotografia Vera Marmelo

A aventura do Tiago no mundo da música já traz consigo uma longa história, começando pela sua infância e pela sua avó que dá aulas de piano: «O piano é um instrumento que me acompanha há bastante tempo, deve ter sido das minhas primeiras brincadeiras de miúdo – improvisar ao piano. Ainda tive aulas até aos 8 ou 10 anos, mas depois entrou aquela fase mais parva, da pré-adolescência, e os teus interesses começam a ser outros. (risos) Desliguei-me um pouco do piano, que é um instrumento muito rígido e com uma disciplina muito marcada, mas sempre mantive uma ligação à música – comecei a tocar guitarra, entrei em bandas de rock… Aquelas coisas normais (risos), aquela rebeldia de tentar sair das saias da minha mãe e da minha avó. Passei por essas fases todas até chegar a uma altura em que senti uma espécie de crise de identidade – que o que estava a fazer não era particularmente diferente do que o que os outros já faziam. Foi então que o piano surgiu novamente como uma espécie de desbloqueio criativo, precisamente porque havia uma ligação muito anterior e um bocado emocional. Eu não queria seguir um procedimento muito académico, não queria ter aulas, não queria nada disso. Queria mesmo pegar no instrumento e tentar descobrir por mim o que é que conseguia fazer com ele. E nos últimos seis anos a minha dedicação tem sido precisamente essa.»

O primeiro trabalho do Tiago, Crepúsculo, data do ano de 2006. Desde então, vários foram os discos lançados, e com eles veio a particularidade de, ao contrário do que é habitual, as suas músicas se manifestarem como uma longa-metragem, ultrapassando, em tempo, o período habitual de três ou quatro minutos. Essa escolha, disse-me o Tiago, foi um pouco acidental: «Aquilo que se começou a tornar cada vez mais claro para mim foi que eu gostava, de facto, da música dita erudita – é precisamente um certo comprometimento com a obra estética e não só a forma como atinge o público, mas também todas as questões filosóficas, sociológicas, antropológicas e políticas que possam surgir no simples acto de criador. Isso interessa-me muito e eu acho que é isso que faz com que a minha música ganhe alguma densidade e que torne difícil ter um princípio, meio e fim num curto espaço de tempo. Mas isso não é um cânone para mim, se olhares para um disco como, por exemplo, o Insónia, e mesmo um disco que estou a preparar agora para sair, já são discos de faixas curtas. Às vezes quando estou a trabalhar num disco como o Crepúsculo, o Samsara ou o Walden Pond’s Monk, de facto há uma ideia muito mais cinematográfica de construir um disco, de haver uma narrativa que conduz o ouvinte ao longo de trinta minutos, o que seja. Mas não é sempre assim, depende sempre do tema que estou a tratar. Há discos que têm uma narrativa e uma ligação conceptual muito próprias, que faz sentido aprofundar e olhar para eles como uma peça inteira e não como uma série de canções. Já o Insónia, por exemplo, não é nada disso, é muito mais inconsequente nesse sentido. e é simplesmente eu a tentar fazer algo de música com o piano. Não existe nada assim adquirido, na realidade. (risos)»

Seja qual for o disco, existe sempre esta imagética cuidada e pensada que também bebe muito da mitologia. Sendo fascinada pelas várias mitologias, não resisti e perguntei-lhe o porquê dessa referência: «Como te disse, a música erudita tem sido um foco meu. Não é tanto o lado virtuosístico ou o lado mais académico, mas sim esse lado que eu acho que ascende mais à origem da própria prática musical, que tem uma ligação muito forte com a religião cristã, e penso que isso tem repercussões em todos os músicos que surgiram ao longo dos séculos. Existe um comprometimento muito forte entre o autor e a obra que está a criar, não é de ânimo leve e muitas das vezes consegues até pressentir a pessoa que está por trás da música que faz. Eu acho que aí é que a coisa é mesmo importante e mágica – é a ligação a metáforas e outras imagens que possam surgir e que é muito importante para mim porque revelam esse lado mais profundo da música que não se esgota na simples audição, mas antes que desperta o ouvinte numa descoberta, ele próprio, em torno daquilo que estou a tentar aludir. Cada um ouvirá coisas diferentes nos meus discos e acho que isso também é interessante. Não quero limitar a experiência de quem ouve e por isso vou deixando umas pistas ou no nome do disco, ou no texto que o acompanha, mas que terá sempre interpretações diferentes e eu gosto disso, acho que enriquece a obra.»

As referências são muitas, e algumas vão mesmo até à literatura: «No Walden Pond’s Monk, a principal influência é o Henry David Thoreau, escritor americano do séc. XIX, que passou dois anos junto ao lago Walden a tentar perceber qual era a essência da vida, tentar ir ao mais profundo âmago da vida, ou seja, viveu praticamente sem materialismo nenhum, construiu a sua própria casa, vivia daquilo que conseguia plantar, basicamente tentava viver numa espécie de auto-subsistência super reduzida. A forma como ele explica isso no livro é absolutamente mágica e também está cheia de referências de mitologia clássica, referências dos pensadores orientais, e é delicioso também por isso mesmo, porque tu estás a aceder a um ensaio filosófico de uma profundidade incrível. Foi isso que me inspirou na altura a fazer esse disco, precisamente por haver uma interligação muito forte entre aquilo que eram os meus ideais e a minha forma de fazer a música e aquilo que ele estava a transmitir por palavras. Houve uma identificação imediata que aconteceu nos valores e na ética de fazer as coisas, que transportou depois para a música e a tornou tão natural, que a homenagem quase se tornou inevitável. No caso do Samsara já foi um bocadinho diferente, já foi mais ponderado, é um disco que tem uma narrativa mais densa, penso eu. Tem uma ligação bastante forte com o termo hindu que significa precisamente o ciclo de repetição do nascimento, da vida, da morte e do renascimento. No fundo é esta constante passagem de estados, um fluxo perpétuo que se prolonga pela existência, as coisas nunca são estanques. Essa ideia interessou-me muito, não tanto pela questão religiosa, mas muito mais pela ideia desse fluxo contínuo que surge e que eu identifico não só ao nível individual, porque isso também acaba por ser uma forma filosófica de resolvermos o problema da morte e da finitude, mas muito mais de olharmos para isto como um todo. Sociologicamente, se olharmos para a civilização e percebermos como ela evolui é porque existe uma interligação cultural, das diferentes gerações, que vai perpetuando uma série de valores e de princípios, alterando também, com o curso do tempo, através da radicalização do pensamento, de transformação de formas de estar, e foi sobre isso que eu quis falar. Ou seja, como é que construindo opostos consegues encontrar uma linha harmónica que consegue equilibrar isto tornando-o tão mágico. (risos)»

Para o processo criativo, estabelecidas as bases, todas as influências acabam por contar, inclusive as colaborações com outros músicos. Uma delas aconteceu no álbum Walden Pond’s Monk, em que participaram Ricardo Ribeiro e Baltazar Molina: «Começou comigo a mostrar inicialmente ao Ricardo, e depois ao Baltazar, a peça que eu tinha, e eles construíram em cima disso. Foi uma construção em conjunto e não eu a escrever a parte deles. Foi dada total criatividade, tanto a um como a outro, para interpretarem a peça como melhor entendessem. Às vezes há alturas em que, por imposições de prazos ou outras razões, me vejo obrigado a ser mais objectivo e a escrever as partes dos outros músicos. Mas mesmo quando o faço tento ao máximo ter a sensibilidade de perceber como é que o músico olha para aquilo que lhe estou a mostrar. Quando mostro uma pauta a um músico existem muitas imprecisões e gosto de trabalhá-las com eles, por isso estas experiências com músicos têm sido bastante enriquecedoras, precisamente porque eles têm outras visões que eu não tenho e que trazem uma profundidade que às vezes eu não consigo. Mas todas as relações, mesmo no quotidiano, acabam por me influenciar. Não há um Tiago Sousa músico e um Tiago Sousa outra coisa qualquer, as coisas estão todas interligadas. Eu tento ser uma pessoa o mais honesta e sincera possível e tento transportar isso na minha música como no dia-a-dia. No fundo é tentar ser consequente com aquilo que faço e que não sejam demasiado estanques.»

Uma das coisas que caracteriza muitas vezes o mundo da música são os vários circuitos que existem consoante o género. Apesar de a música de Tiago Sousa beber muito da música erudita e das referências que tal apela, Tiago não considera que a música que faz seja erudita, nem que haja propriamente um circuito a que possa pertencer: «Eu não vou fazer os circuitos dos festivais de Verão, por acaso este ano tive a oportunidade de tocar no festival Bons Sons e foi uma experiência muito enriquecedora, mas foi muito particular porque toquei num auditório, ou seja, não é música que tu possas trazer para um espaço exterior e fazer aquilo funcionar. Não existe um circuito muito claro ao qual eu possa pertencer, acabo por ir gravitando à volta de uma série de pessoas que muito generosamente vão apreciando aquilo que faço e que me vão convidando e dando apoio, como o caso da Inês (Magafest). E é assim que as coisas têm acontecido comigo, são pessoas que vão descobrindo a minha música e vão ficando interessadas, por qualquer razão que seja, e que me vão dando essas oportunidades. Mesmo quando vou tocar lá fora, tem sido um bocado assim. Tento sempre é que exista esse respeito porque de facto é uma música que tem um espaço muito particular e é necessário que esse espaço lhe seja dado para poder ser devidamente apreciada.»

Qual será a maior diferença ao tocar este tipo de música em Portugal, que é um país de massas e mais comercial, e no estrangeiro? «O que tenho sentido quando vou tocar lá fora é que as pessoas estão muito predispostas a ouvir. Que é uma coisa que aqui, às vezes, tenho dificuldade em sentir. Tem acontecido menos porque vais ganhando algum reconhecimento e as pessoas ficam mais atentas, mas em Portugal as pessoas vão aos concertos mais para estarem umas com outras e não tanto para usufruir do concerto. O que é um pouco estranho e paradoxal, estamos a viver uma das fases em que mais festivais e concertos existem, a oferta é imensa, e depois vais ver as experiências que as pessoas trazem deles e são, muitas vezes, superficiais. Lá fora, parece-me, e não é exclusivo, em Portugal também acontece, é que existe um hábito muito maior de perceber a complexidade das coisas e de estar predisposto a ouvir e a respeitar. Mesmo que depois no fim cheguem à conclusão que não gostaram. E isso tem também a ver com o contacto com a tal música erudita. Qualquer puto de Paris já foi pelo menos uma vez à Ópera, ou ver a Orquestra Sinfónica, ou um solista tocar. Em Portugal, se fores perguntar à maior parte dos teus amigos, se calhar ainda nenhum viu um concerto de música acústica (risos). A sensibilidade também é uma coisa que se cultiva, tem de haver uma certa prática. E acho que essa é a maior diferença.»

Fotografia Vera Marmelo

Quanto ao concerto mais intenso, e por ser péssimo em questões de algibeira, Tiago Sousa elegeu o último no Bons Sons: «Foi um concerto onde tudo funcionou bem, consegui eliminar uma série de preocupações e de abstrair-me de tudo à minha volta. Consegui ser mais objectivo com aquilo que estava a fazer. Durante muitos anos andei a recusar o academismo, e depois cheguei à conclusão que precisava de uma série de preceitos e de uma série de métodos que esse academismo transporta. Portanto, fui eu próprio estudar, sem um professor, porque eu tenho um bocado essa necessidade de correr pela minha própria vontade. Fui então pesquisar e desenvolver algum conhecimento sobre como é afinal tocar piano! (risos) Porque afinal é uma coisa bastante complexa, requer uma boa coordenação motora e uma grande capacidade de concentração. E de facto, neste concerto, correu tudo muito bem, ao ponto de que quando comecei o concerto tinha uma sala simpática à minha frente e, de repente, quando estava a terminar, olhei para a frente e tinha a sala completamente cheia e nem sequer me apercebi de nenhuma daquelas pessoas ter entrado na sala. Consegui mesmo estar naquele momento presente. Foi uma coisa mesmo especial para mim, principalmente porque tem todo um processo atrás, de alguma dor e sofrimento (risos), quando aquilo aconteceu foi mesmo – bolas! – agora é só continuar e prosseguir que assim as coisas conseguem ser muito mais valiosas para mim e para o público.»

Na calha já estão mais dois álbuns, um deles com voz para sair no início de 2015, mas o foco vai estando em apresentar os trabalhos mais antigos. Da minha parte, que tenho ouvido os seus discos com frequência enquanto trabalho no meu doutoramento, só posso aconselhar a que ouçam e a que vão ver o Tiago assim que possam. Deixo-vos os links principais para o seguirem e ao seu trabalho:

Facebookhttps://www.facebook.com/tiagomsousa

Site Oficialhttp://www.tiagosousa.org/

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Vencedor do Passatempo: Ganha 1 Entrada para o Festival MAGAFEST https://branmorrighan.com/2014/09/vencedor-do-passatempo-ganha-1-entrada.html https://branmorrighan.com/2014/09/vencedor-do-passatempo-ganha-1-entrada.html#respond Fri, 05 Sep 2014 08:00:00 +0000

Viva! Hoje temos mais um vencedor, desta vez para 1 Entrada para o Festival MAGAFEST. Este passatempo contou com 12 participações e o vencedor escolhido através do random.org foi:

Marisa de Jesus Pitaça Luna Vinagre, 2

Parabéns Marisa! Só tens que dar o teu nome à entrada e dizeres que ganhaste no passatempo do blogue Morrighan. Obrigada a todos mais uma vez e em breve mais passatempos!

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