Manuela Gonzaga – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 05:57:51 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.9 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Manuela Gonzaga – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 [10 Anos Blog BranMorrighan] Parábola Geométrica, de Manuela Gonzaga https://branmorrighan.com/2018/12/10-anos-blog-branmorrighan-parabola.html https://branmorrighan.com/2018/12/10-anos-blog-branmorrighan-parabola.html#respond Wed, 19 Dec 2018 16:57:00 +0000

Como prenda de aniversário ao BranMorrighan, a querida escritora Manuela Gonzaga – uma mulher que admiro profundamente – disponibilizou um pequeno conto seu. Tudo faz sentido aqui. Espero que o encontrem também. A Manuela Gonzaga tem sido uma das pessoas que mais me tem inspirado e cujos contributos, humanos e literários, têm sido fundamentais para o meu crescimento. Procurem-na, encontrem-na, leiam-na. Vale tudo a pena. Fiquem então com o seu conto Parábola Geométrica.

Era uma vez um ponto que começou a espreguiçar-se, e, ao espreguiçar-se, descobriu que se podia transformar em linha. Era tão divertido, que o ponto começou a correr e a linha em que se transformou teve a epifania das formas, cobrindo distâncias e espaços para todos os lados. Para cima, para baixo, para a esquerda, para a direita. Nessa divertida exploração, o ponto, agora linha, encontrou muitos outros pontos também em linha, os quais lhe ensinaram o passo seguinte. E a linha, exultante, dobrou-se, entrelaçou-se, circulou em seu redor, e, da clave de sol ao círculo, do círculo à espiral, da espiral aos ângulos de todos graus, foi acedendo ao infinito mar da reformulação do traço. 


Com outras linhas, o pequeno ponto na sua linearidade crescente, aprendeu a brincar às corridas do sem-fim. Fez amizades paralelas. Fez amizades novelos. Estabeleceu ligações cruzadas, angulosas, ogivais, perdeu-se no meio de muitos fios, encontrou o seu caminho novamente e… descobriu a forma que preside às letras de todos os alfabetos inventados e por inventar e a forma de todos os números que sustentam os pilares de todas as formas conhecidas e por conhecer, no infinito universo das duas dimensões.


O pequeno ponto, agora linha, agora forma, sentiu a exultação da vertigem e da desmesura. O seu caminho apresentava-se-lhe tão vasto, tão rico, tão cheio de desafios e obstáculos, que a linha julgou ter atingido o auge dos seus conhecimentos. Extasiada preparou-se para um breve repouso. Precisava de calcular todas as probabilidades para avançar para o terreno perigoso e fascinante das formas impossíveis. Mas foi então que, num ato de muita imprudência, contra o qual outras linhas a avisaram em vão, se ergueu numa direção inexplorada, e, como tal, inexistente. O facto é que o ponto, agora linha, esticou-se, filiforme, para um impossível acima, saindo da linearidade do seu próprio mundo. 


E, em choque e maravilha, mergulhou na terceira dimensão. 


Foi tudo tão estranho e perturbador que a linha, agoniada e quase partida, caiu de chofre na sua primitiva realidade onde, por desenhos esdrúxulos, tentou partilhar a novidade da sua descoberta, descrevendo a novíssima geometria no espaço aos novelo de linhas que a seguiam por todo o lado. Esses mesmos novelos que, segurando o ponto a que se reduzira quando passara para a terceira dimensão, em boa hora a tinham impedido de se perder no seu delírio. 


— Há mais formas, do que as formas que conhecemos. Há mais dimensões e espaços, do que poderíamos alguma vez sonhar e, muito menos, alcançar —explicou-lhes, desdobrando-se em letras que a maior parte das linhas nem sequer era capaz de descodificar. 


―Esta linha ―comentaram então entre si, enoveladas de perplexidade —, já não tem qualquer préstimo. É uma linha desalinhada, cheia de irregularidades e de singularidades. É um perigo para todas nós. 


Algumas, porém, acreditavam nela, e queriam saber mais sobre a geometria no espaço inexistente, de que ela lhes dava testemunho. Um espaço escandalosamente tridimensional, que, sabia-se, não existia porque não podia existir, provado que estava que, para além da linearidade absoluta e puríssima da segunda dimensão, nada mais havia. E a linha continuou assim, durante mais alguns desenhos e formas que não faziam qualquer sentido, a viver entre os dois mundos. Mas os novelos que a seguiam, para a apoiar ou para a combater, tornaram-lhe a vida tão difícil que a linha, a certa altura, tomou a decisão de partir de vez à descoberta do vastíssimo mundo dos sólidos geométricos. Não disse nada a nenhum dos novelos, nem a nenhum dos pontinhos isolados que a seguiam, ou às linhas que a tentavam enlear. 


Dando mostras de grande docilidade, preparou-se para a viagem definitiva, como se tivesse voltado simplesmente aos velhos rumos da espiral e do círculo, das corridas paralelas, e da ondulação das claves de sol, nos caminhos do para a frente, e do para trás, e do para os lados. Até ao momento em que se estendeu, sem aviso, na linha que ascendeu à nova realidade, deixando apenas, atrás de si, o ponto da sua origem a que parecia ter-se reduzido. Um pontinho silente e inerte, em redor do qual pontos, linhas e novelos se colocaram comentando:


―Vêem o que acontece quando uma linha, que pode ir para todo o lado, nega a sua natureza e perde o rumo? Aí está. Volta a ser um pontinho de nada, sem memória de claves de sol, rumos paralelos, círculos e espirais, e números, sim, números; e letras, sim, letras. Tinha tudo. Perdeu tudo.


Depois, quase todas se afastaram. Algumas linhas, porém, rodearam o pontinho de nada, criando à sua volta um círculo de proteção para que nenhum novelo malévolo se lembrasse de o absorver. 


E ficaram à espera. 

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Opinião: Doida Não e Não!, de Manuela Gonzaga https://branmorrighan.com/2018/03/opiniao-doida-nao-e-nao-de-manuela.html https://branmorrighan.com/2018/03/opiniao-doida-nao-e-nao-de-manuela.html#respond Fri, 23 Mar 2018 11:59:00 +0000

Doida Não e Não!

Manuela Gonzaga

Editora: Bertrand Editora

Sinopse: A mulher que enfrentou Egas Moniz, Júlio de Matos e os sábios da época. Filha e herdeira do fundador do Diário de Notícias, mulher do administrador do mesmo jornal, o escritor Alfredo da Cunha, Maria Adelaide Coelho da Cunha veio a ser presa num manicómio, o hospital Conde de Ferreira, no Porto, por um «crime de amor». Os factos relevantes têm início em Novembro de 1918: era uma vez uma senhora muito rica que fugiu de casa, trocando o marido, escritor e poeta, por um amante. Tinha quarenta e oito anos, pertencia à melhor sociedade portuguesa. O homem por quem esta senhora se apaixonou tinha praticamente metade da sua idade e fora seu motorista particular. A história chocou a sociedade da época e foi conhecida além-fronteiras.

OPINIÃO: Maria Adelaide Coelho da Cunha é um nome e personalidade que após lermos este livro não esquecemos com facilidade. Se tal acontece, bem o podemos agradecer a Manuela Gonzaga – para mim a escritora portuguesa mais versátil e verosímil que já li. Tenho uma admiração profunda pela autora que se assoberbou ainda mais ao ler esta biografia tão magnificamente redigida. Há algo que posso destacar desde o início, principalmente para aqueles que resistem a ler biografias: Doida Não e Não! é fascinante de se ler e está escrito num estilo muito próximo do romance, tornando a leitura fácil e prazerosa. Cuidadosamente revisto, agora com uma estrutura ligeiramente diferente da edição anterior, estamos perante um livro que junta duas grandes mulheres – a retratada e a escritora – mostrando a quem quiser ler que enquanto houver espaço para desequilíbrio de géneros, haverá espaço para o absurdo e o inadmissível.

Imaginem-se, há cem anos atrás, numa família poderosa e donos de um pequeno império como o Diário de Notícias. Agora imaginem Maria Adelaide, mulher, herdeira desse império, casada com Alfredo da Cunha, que viria a comandar os negócios da família. A vida parece perfeita. Bailes, recitais de poesia, manifestações públicas de respeito e carinho, a imagem familiar idílica. O problema das aparências é que muito raramente correspondem à realidade vivida na privacidade do lar e Maria Adelaide cometeu a ousadia de fazer diferente e de virar costas ao que já não lhe dizia nada. Largou fortuna, conforto e segurança para perseguir um amor que a fazia sentir viva e lhe dava um novo fôlego. Era mais que sabido que Alfredo da Cunha tinha as suas amantes e ela só queria o divórcio para poder seguir com a sua vida. Resultado? Alfredo da Cunha conseguiu interná-la num manicómio e influenciar os grandes psiquiatras da altura a passarem-lhe um atestado de loucura. Confesso, esta foi uma parte que me custou muito ler, por todas as razões e mais alguma. Primeiro, porque nunca foi administrado qualquer tipo de tratamento a Maria Adelaide, reforçando que não havia qualquer problema com a sua psique; segundo, porque o meu respeito por algumas das maiores figures da psiquiatria nacional, e internacional, diminuiu consideravelmente. Não sou preconceituosa e detesto que associem uma ida a um psiquiatra ou a um psicoterapeuta como estando maluco, mas este tipo de atitudes naquela época só ajudaram a fomentar essa ideia. 

Do outro lado desta história temos Manuel Claro, o ex-motorista de Maria Adelaide e por quem esta se apaixonou. Não sabemos muitos pormenores de como é que era a sua vida, mas sabemos que Manuel Claro esteve às portas da morte e que foi Maria Adelaide quem cuidou dele, às escondidas. Sabemos que quando Maria Adelaide foi internada, foi ele quem fez de tudo para a ajudar, arriscando a sua prisão, coisa que efectivamente aconteceu, sem uma acusação concreta e fundamentada. Esteve preso durante anos. Ela esteve presa durante anos. Aquece-me o coração saber que no fim ficaram juntos. Ferve-me o sangue ao lembrar que o próprio filho de Maria Adelaide foi um cobarde. Filho algum deveria ter apoiado uma atitude daquelas, por parte do pai, não tivesse também este algum tipo de interesse na reclusão da mãe. Maria Adelaide não queria fortunas, não queria protagonismo, queria apenas que a deixassem viver uma vida simples e pacata com um homem que a fazia sentir bem. 

Poderia ficar aqui eternamente a falar sobre este livro. Sobre a forma como a imprensa escrita, nomeadamente através d’A Capital, já há cem anos atrás serviu para que Maria Adelaide se pudesse defender, ao mesmo tempo que era constantemente atacada pelo marido. Boa parte dos artigos e das cartas estão inseridos neste livro, mas no fim podem encontrar as referências para todos os arquivos que contém essas declarações. Estamos perante um trabalho de pesquisa notável, tudo elaborado ao pormenor com um rigor minucioso. Doida Não e Não! é um livro que merece ser livro e que merece que se reflicta sobre o mesmo. Este tipo de opressão e de violência psicológica é algo que ainda ocorre nos dias de hoje, mesmo que de forma mais ou menos camuflada. A nossa identidade só a nós pertence e ninguém tem o direito de limitar a nossa liberdade quando não estamos a fazer nada que prejudique terceiros. Maria Adelaide foi uma grande mulher, tal como o é Manuela Gonzaga. Uma parelha perfeita. 

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[Diário de Bordo] Dizem que o caminho faz-se caminhando https://branmorrighan.com/2018/02/diario-de-bordo-dizem-que-o-caminho-faz.html https://branmorrighan.com/2018/02/diario-de-bordo-dizem-que-o-caminho-faz.html#respond Mon, 26 Feb 2018 17:58:00 +0000

Os últimos dez dias foram de loucos. Fiquei constipada, bati o record de maços de lenços usados, fiquei com o nariz assado, tive dores de cabeça tão fortes que nem ao computador conseguia estar, mas uma coisa foi sempre certa: ninguém ia escrever a minha proposta de tese por mim, mesmo faltando apenas uma secção de um capítulo. Foi o que demorei mais tempo a escrever e a que ficou pior, sem dúvida alguma. Nestes dias só reinava a impaciência e a intolerância. Não devia ser assim, eu sei. Não pedi para ficar doente, mas quando coloco uma meta na minha cabeça gosto de as cumprir e esta proposta acabou por sofrer bastante com uma série de improvisos. Mas agora já está. A primeira versão já foi enviada e é esperar por possíveis correcções e pela data da discussão – NERVOS! 

Outra coisa, já repararam neste magnífico poster? 

É já esta Quarta-feira que subo o Porto com a magnífica Manuela Gonzaga para apresentar um livro delicioso sobre Maria Adelaide, uma mulher com uma história de vida inspiradora e que tanta comoção continua a provocar passados quase 100 anos desde que a sua vida viria a mudar para sempre. Se estiverem nas redondezas, apareçam!

Mais coisas… Para a semana começo a dar aulas, o que me vai roubar ainda mais tempo. Tenho tantas opiniões por escrever dos livros que tenho lido que até me dá uma coisinha má só de pensar nisso! É que nem sempre consigo a serenidade que preciso para escrever e não gosto de deixar comentários superficiais só porque sim. Agradeço a vossa paciência! 

Já agora, deixo aqui uma curiosidade. Enquanto estive doente andei a devorar a série This Is Us. Não sei se vocês já viram, mas já não me lembrava de chorar tanto com uma série como com esta. É que era quase em todos os episódios! A história daquela família está tão brutalmente retratada que é impossível ficar indiferente a personagens como Jack ou até mesmo ao pai de Rendall. Fica a sugestão, mas preparem os lenços! 

Termino o diário curtinho de hoje para destacar três artigos: Reportagem dos Linda Martini no Lux, Entrevista a The Legendary Tigerman e Reportagem de The Legendary Tigerman no Lux. Tudo em colaboração com os meus mais que tudo Música em DX. Uma última nota para o regresso do tio mais lindo de Portugal e arredores, o Tio Rex com o tema This Is An Intervention. Fiquem atentos, divulgarei mais coisas boas brevemente! 

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Opinião Dupla: André e a Esfera Mágica e André e o Baile de Máscaras, de Manuela Gonzaga https://branmorrighan.com/2017/03/opiniao-dupla-andre-e-esfera-magica-e.html https://branmorrighan.com/2017/03/opiniao-dupla-andre-e-esfera-magica-e.html#respond Fri, 03 Mar 2017 15:57:00 +0000

André e a Esfera Mágica e André e o Baile de Máscaras

Manuela Gonzaga

Editora: Bertrand

Informações sobre os livros, ilustrações e autora: http://www.branmorrighan.com/2017/02/em-fevereiro-pela-bertrand-mundo-de.html

OPINIÃO: Descobrir a escrita da Manuela Gonzaga foi uma das maiores dádivas que 2014 me trouxe. Comecei pelo género com que raramente se começa – a Não Ficção – e talvez por isso o meu respeito e admiração tenham crescido ainda mais desmesuradamente. O livro com o qual comecei foi o Moçambique – Para a Mãe Lembrar Como Foi e é autobiográfico. Uma delícia de se ler. Em 2015 a querida Manuela editava Xerazade – A Última Noite, um do melhores livros editados nesse ano, na minha humilde opinião, e também um dos mais subvalorizados de sempre. Não há como dizer isto de outra maneira, mas o público literário português parece andar perdido no seu gosto. Sem ofensa. Este último não tem nada de autobiográfico, é antes um romance que repesca esta maravilhosa personagem da literatura intemporal, Xerazade. E Manuela reinventa-a e transforma-a em algo deliciosamente contemporâneo, sem que com isso se perca pitada de magia. 

Como já devem ter percebido, em dois géneros literários completamente diferentes, Manuela Gonzaga conseguiu aqui uma proeza que poucos escritores conseguem, pelo menos comigo, que é manter uma absoluta e total concentração na sua escrita. Há sempre mais do que aquilo que o olho vê, e os universos que esta nossa escritora cria não são excepção. Quando o ano passado me perguntou se eu gostaria de conhecer e vir a apresentar as aventuras do Mundo de André, confesso que fiquei surpreendida. Ora, se começamos a ler uma autora pela Não Ficção, depois por um Romance absolutamente extraordinário, mas sem dúvida alguma adulto, não será assim tão estranho questionar como é que o registo se encaixaria numa narrativa infanto-juvenil. Mais uma vez, irrepreensível. 

Quando no Sábado passado, dia 25 de Fevereiro, apresentei estes dois livros que podem ver na imagem, o primeiro uma reedição e o segundo (que na verdade é o quarto da série) um lançamento, e olhei para os presentes, já tantos conhecidos de vista da apresentação de Xerazade, tive a certeza que todos partilhavam da mesma opinião que eu: Manuela Gonzaga é um ser humano extraordinário e a sua escrita bebe inteiramente disso, independentemente do género literário. No Mundo de André, essa essência é ainda mais notável e notória, pois de uma forma simples, sem ser infantil, Manuela consegue dar abanões, alertar para estados de alma e de falsos crescimentos, juntando sempre um toque de magia, de ciência, de história ou até da história da sua própria família. André existe na vida real, agora já com um filhote também, tal como Marta, a sua irmã mais nova. 

André e a Esfera Mágica marca o início de uma série de aventuras em que André terá de se colocar à prova e àquilo em que acredita. Tudo começa com a chegada do circo e com a sua primeira paixão. Depois é obrigado a mudar-se para a cidade, mas consigo transporta uma esfera, oferecida pela pequena rapariga do circo pela qual se apaixonou. Essa esfera irá transformar-se no portal que o fará viver coisas imprevisíveis, mas absolutamente fascinantes. Em André e o Baile de Máscaras, conhecemos novas personagens, mas o que me marcou mais foi a forma sublime como a temática, de que enquanto crescemos vamos construindo máscaras para ocultar os nossos verdadeiros pensamentos e sentimentos, foi construída. Está super acessível e perceptível e faz-nos querer recuperar a criança interior que tanto abafamos. Honestamente é uma série que recomendo sem pejo algum. Boas leituras e divirtam-se! 

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Em Fevereiro, pela Bertrand: «Mundo de André», de Manuela Gonzaga https://branmorrighan.com/2017/02/em-fevereiro-pela-bertrand-mundo-de.html https://branmorrighan.com/2017/02/em-fevereiro-pela-bertrand-mundo-de.html#respond Mon, 13 Feb 2017 09:33:00 +0000

André e a Esfera Mágica e André e o Baile de Máscaras são duas aventuras trepidantes, um desafio à imaginação e uma viagem pelo mundo das palavras

A escritora e historiadora Manuela Gonzaga publica pela Bertrand Editora a coleção infantojuvenil Mundo de André, dirigida ao leitor entre os 9 e os 14 anos de idade – ou, de forma mais alargada, às crianças de todas as idades. André e a Esfera Mágica é o primeiro romance da coleção, tratando-se de uma reedição no mercado, mas uma novidade no catálogo da Bertrand Editora. Por outro lado, André e o Baile de Máscaras é um título inédito, sendo o quarto volume da coleção. A obra foi incluída no Plano Nacional de Leitura.

As ilustrações das capas dos livros são da autoria do pintor Gonçalo Jordão, que integrou a equipa de cenografia do filme O Grande Hotel Budapeste, do realizador Wes Anderson, vencedor, entre outros, de um Óscar para Melhor Direção de Arte. Conhecida pelas suas obras de cariz biográfico, como Imperatriz Isabel de Portugal ou Doida Não e Não!, Manuela Gonzaga é uma escritora de grande sucesso e versatilidade, tendo publicado também Romance, como Xerazade – A Última Noite e Meu Único Grande Amor: Casei-me, e Memória, Moçambique, para a Mãe se Lembrar como Foi. A autora tem uma voz ativa na defesa dos Direitos dos Animais e escreve regularmente no seu blog Diários do Irreal Quotidiano, http://gonzagamanuela.blogspot.pt/.

COLECÇÃO

André e a Esfera Mágica, o primeiro livro, foi escrito há mais de trinta anos, e ficou na gaveta. Muitos anos mais tarde, foram as editoras a perguntar à já conhecida escritora se, por acaso, não teria ‘nada’ para um público mais jovem. Manuela Gonzaga recuperou o (ainda) manuscrito, terminado de escrever no Monte Estoril. Releu-o, desenvolveu um pouco mais a segunda parte, e percebeu que o tempo beneficiara a obra. Em vez de uma história, era uma coleção que se iniciava com a Esfera Mágica

André e a Esfera Mágica:

Quando o circo visita a aldeia, André apaixona-se pela filha do mágico, uma menina enigmática, que lhe oferece um berlinde límpido como uma lágrima. Pouco depois, a família muda-se para Lisboa. André detesta a nova vida. Num dia particularmente infeliz, pega no berlinde e descobre-se num mundo desconhecido onde conhece Grionesa do Povo Bonito, o Senhor Leandro, com a sua mala mágica, a porta Portália… até que surge uma ameaça terrível… Só André e Grionesa podem salvar aquele mundo, mas o risco é imenso.

André e o Baile de Máscaras:

Na escola, André faz uma nova amiga: a misteriosa Formiga. Uma noite, ele recupera a Esfera Mágica e, mais uma vez, encontra-se num mundo desconhecido onde todos usam máscaras… animais misteriosos, pássaros gigantes, seres das grandes profundidades. No decorrer de um grande baile, André corre perigo de vida, mas Formiga aparece e salva-o. Só que ela tem uma missão secreta: com a ajuda de André, aceder à imensa Biblioteca, para encontrar a resposta que lhe pode mudar a vida.

AUTORA

Manuela Gonzaga nasceu no Porto e passou parte da adolescência e juventude em Angola e Moçambique. Escritora, com mais de uma dezena de livros publicados, e historiadora com o grau de mestre em História, é investigadora associada ao CHAM (Centro de História AlémMar, Universidade Nova de Lisboa). Desde 2000, dedica-se a tempo inteiro à escrita e à investigação, e às viagens que tanto gosta de fazer. Tem quatro filhos e dois netos. Atualmente, divide o seu tempo entre Lisboa e uma pequena aldeia alentejana, onde, numa casa muito antiga, com árvores e poço, e lendas de fundação, tem espaço para a grande família, amigos, e os cães e gatos que tem resgatado. 

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Entrevista a Manuela Gonzaga, Escritora Portuguesa https://branmorrighan.com/2015/04/entrevista-manuela-gonzaga-escritora.html https://branmorrighan.com/2015/04/entrevista-manuela-gonzaga-escritora.html#respond Wed, 22 Apr 2015 11:21:00 +0000 Ler Manuela Gonzaga foi das melhores decisões que tomei em 2014. Para além de ter considerado Moçambique – Para a mãe lembrar como foi um dos melhores livros do ano, tive também o prazer de conhecer a autora, o seu grande sorriso e a sua extrema bondade. Lutadora nata, tem já mais de uma dezena de livros publicados, sendo que a maioria, fora do infantil, são romances autobiográficos. Recentemente, lançou Xerazade – A Última Noite, uma obra que só pode ter vindo de uma espécie de Olimpo universal e que, com toda a certeza, vai fazer parte do leque dos melhores de 2015. Mesmo com as nossas vidas extremamente ocupadas, lá conseguimos conversar um pouco. Fiquem com a maravilhosa escritora portuguesa, Manuela Gonzaga:

Querida Manuela, fala-nos um pouco sobre ti, os teus gostos e o que é que fazes actualmente para além da escrita.

Querida Sofia, a escrita ocupa-me substancialmente a vida a tempo inteiro. Como costumo dizer, tenho livros para escrever na fila de espera. Mas há outras paixões que me envolvem e desafiam. A História – a que continuo ligada. Para além dos graus académicos que já obtive, licenciatura, pós graduação e mestrado, encaro seriamente a hipótese de avançar para um doutoramento. Por outro lado estou de alma e coraçao num partido de causas: animal, ambiental, humana. O PAN. (http://www.pan.com.pt/)


O que é que te impeliu a começar a escrever? 

A palavra. O deslumbramento que senti quando aprendi a ler e a escrever. O mundo da minha infância está densamente povoado de histórias. Aí pelos meus oito anos já sabia que era por aí. É a única certeza constante da minha vida. Para além da certeza do amor e do amar. 


Boa parte das tuas obras são autobiográficas. Tens sentido a necessidade de arquivar esses momentos do teu passado?

Ui!! Essa pergunta é tão particular. Na verdade, e para responder à letra, os livros (e já vão doze) tem inevitavelmente o ADN do seu autor. Donde, toda a obra é autobiográfica por definição, pelo menos até um certo ponto. Mas grande parte dos meus livros não tem a ver com a minha vida. As biografias da Maria Adelaide Coelho da Cunha, de António Variações ou de Imperatriz Isabel de Portugal, estão claramente fora dessa equação. Da mesma forma, o romance histórico Jardins Secretos de Lisboa só poderá ser biográfico pela dimensão plural de mundos onde me foi dado viver e pelas pessoas que tive o privilégio de conhecer desde muito jovem. Mas é ficção mesmo. Agora… porque as escrevi e pesquisei e lhes dediquei tantos anos de vida? Aí já entra a minha história pessoal. Já Moçambique para a Mae se Lembrar como foi, aí sim, parte da minha história de vida. Bem como alguns dos contos de A Morte da Avó Cega. Sem dúvida. 

Moçambique, para a mãe lembrar como foi é, talvez, o livro mais íntimo, no sentido em que foi escrito quando tinhas a tua mãe muito doente. Foi o livro que mais te custou escrever até hoje? 

Talvez. Até porque fui obrigada a olhar zonas que permaneciam muito na penumbra. E recordar implicou equacionar, lidar com aspectos menos bonitos da minha e nossa vida. Por outro lado, não me fazia sentido ficar só no estritamente pessoal, a partir do momento em que ultrapassava a dimensão de escrever estórias para a mesa de cabeceira da minha mãe, que as lia, esquecia, voltava a ler… e que tanto prazer lhe deram. Aquela é uma história de muitos, contada pela voz de uma miúda que foi crescendo e se fez mulher. Uma ignorante que nem sabia que não sabia. Mas com uma memória de elefante… e outras valias. Em todo o caso, aprendi muitíssimo a escrever este livro. E recebi dele muito mais do que poderia imaginar. Em termos não materiais. 

Entretanto, surgiu Xerazade, essa obra magnífica, que parece trazida directamente dos deuses, ou do universo, ou de tudo e todos, mas que apenas tem uma mão – a tua. Eu estive na apresentação, mas a maioria dos leitores não esteve, queres-nos falar um pouco sobre como foi surgindo este enredo? 

Há vários anos a escrever biografias – tirando o caso dos três romances juvenis de «O Mundo de André» – cansaram-me muito. A minha imaginação desatou a escoucear e a abrir as asas. Foi assim que comecei a postar, no face book, algumas frases, quase aforismos. Relatos muito, muito concisos. Não me passava pela cabeça que era um livro. Até ao momento em que percebi que aqueles eram fragmentos de uma história contada por uma mulher que se está a despedir do amante que, por sua vez, não a quer deixar ir embora. Não no sentido de rotura – percebi rapidamente que ela também o ama. Mas por uma questão de destino. 

O que é que te fascina mais ao contares estas histórias? Sentiste algum propósito ao escrevê-las? 

Não sinto propósito nenhum. Sinto uma exultação que nem consigo definir. É como respirar. Se não escrever o meu propósito de vida perde significado. 

Tens algum momento da narrativa que queiras destacar, algo a que queiras dar especial significado? 

Gosto muitíssimo de algumas histórias que esta Xerazade conta. Por exemplo, aquele conto budista que não li em lado nenhum (para responder aos que acham que tirei de algum lado, como outros que ali são narrados). Refiro-me a «O discípulo pele de cão». Também me toca muito a história dos dois irmãos no «Pais da Cocanha». E de alguns trechos em que o amor entre eles é muito físico, muito profundo, muito intenso e comovedor. A par, evidentemente, dos desencontros, e até do ódio que por vezes repassa na forma como ela recorda algumas estórias da História dos dois. Mas acima de tudo, o que me perturba e me estimula é o propósito dela de passar do tempo para além do tempo até ao limiar de uma eternidade e de uma plenitude que, a cada instante, foge de nós.

Foi-te difícil escrever este livro? Tiveste momentos de bloqueio? Se sim, como é que foste lidando com eles? 

Não sou dada a bloqueios. Quando isso acontece, durmo sobre o assunto e no dia seguinte está resolvido pela Central. Costumo dizer que tenho dupla nacionalidade já que gosto de navegar entre o consciente, o subconsciente e o inconsciente. Mantive durante anos e anos um diário de sonhos que me abriu muitas portas nesse sentido. 

Deixa-me perguntar-te coisas agora mais generalistas… Que escritores, ou que manifestações de arte, te têm inspirado ao longo da tua vida? 

São tantos, mas tantos, que não saia mais daqui e quando saísse seria com a sensação de ter cometido grandes injustiças por omissão. A Vida inspira-me. Da mais pequena manifestação, à obra de arte que me deixa em silêncio e a chorar. Como aconteceu a primeira vez que fiquei diante da Pietá, em Roma. E da segunda não aconteceu porque o vidro á prova de bala, detêm não sei como, uma certa energia que manava da obra. Entretanto, na capela Sistina, tive de me controlar para não soluçar, e já vinha a chorar ao longo daquelas galerias repletas de pinturas que, sinceramente, nem sequer são o meu género. Acho que tem um nome e tudo, «comoção estética». Fiquei mais tranquila, senti-me muito tola… e já me aconteceu perante outras circunstâncias. Quase sempre obras de arte. Mas as imagens do Concorde, que não vi «ao vivo» por exemplo, também me comoviam às lágrimas, e eu nem sou nada sensível a automóveis e coisas assim. 

Vês-te a colaborar com outro(s) escritor(es) numa única obra? Quem seria o/a felizardo/a? 

Não me vejo. A não ser numa obra colectiva de teor académico. 

Qual a obra que te marcou mais até hoje. É a mesma que aconselharias os teus leitores a ler “obrigatoriamente”? 

Não sei responder porque teria que escalonar por épocas, por exemplo. Neste momento, os meus livros de cabeceira são uma estante para dar uma ideia. J

Por fim, quando é que temos mais Manuela Gonzaga em papel para devorarmos?

Estou a escrever um romance histórico, agora quando vou conseguir acabá-lo é que já não sei J 

Fotografias por Sofia Teixeira

Facebook da Autora: 

https://www.facebook.com/pages/Os-meus-livros/110589205662714

Opinião Moçambique – Para a mãe lembrar como foi

http://www.branmorrighan.com/2014/09/opiniao-mocambique-para-minha-mae.html

Opinião Xerazade – A Última Noite:

http://www.branmorrighan.com/2015/03/opiniao-xerazade-de-manuela-gonzaga.html

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Opinião: Xerazade, de Manuela Gonzaga https://branmorrighan.com/2015/03/opiniao-xerazade-de-manuela-gonzaga.html https://branmorrighan.com/2015/03/opiniao-xerazade-de-manuela-gonzaga.html#comments Sun, 22 Mar 2015 10:37:00 +0000

Xerazade

Manuela Gonzaga

Editora: Bertrand

SinopseXerazade – A Última Noite leva-nos aos meandros de uma fascinante tapeçaria narrativa, onde podemos encontrar referências díspares, quer de mitos clássicos ou pré-clássicos, quer ainda de histórias de encantar, juntamente com «memórias» soltas como «um colar de pérolas» desatadas, que a narradora, Xerazade, tenta reconstruir para confortar o amante que, inconformado, se recusa a deixá-la ir embora.

Opinião: O meu primeiro contacto com a escrita da autora Manuela Gonzaga deu-se com a sua obra Moçambique – Para a Mãe Lembrar Como Foi, escrito em honra e memória da sua mãe. Mesmo sendo autobiográfico, houve algo na sua forma de expressão que me conquistou, um sentido de personalidade e força, mesmo no meio das fraquezas, que rapidamente humanizou aquela imagem de escritor que muitas vezes temos tida como distante e fria. Não foi surpresa para mim quando, fazendo o balanço das leituras de 2014, não tive dúvidas que aquele era um dos livros do ano, não havia outra hipótese dada a sua qualidade. Quando elevamos assim a consideração e o gosto por um escritor, pegar em algo novo seu causa sempre aquele formigueiro de expectativa. Irei gostar tanto como o outro? Tendo lido apenas um único livro, que poderei esperar deste novo num formato diferente? Lido este segundo, Xerazade – A Última Noite, tenho a certeza que não podia estar mais certa quanto à minha opinião e que Manuela Gonzaga é das melhores escritoras que alguma vez li. 

«Não tenhas medo. Não é para sempre. Se nunca nos perdemos até agora, não será desta que tal acontecerá. Temos de aprender a aceitar as separações com a serenidade que nos for possível. Sabendo que todas elas escondem a alegria dos reencontros que nunca nos falham

Ao contrário do que nos tem habituado, Xerazade até pode ter algo de auto-biográfico, mas pegamos nele enquanto romance, enquanto universo que nos engole e nos consome à medida que percorremos cada página. Tal como a própria narrativa o vai demonstrando, também a leitura se torna febril capítulo após capítulo. “Não me deixes.”, desejo sentido pelos protagonistas, mas também pelo leitor, que se vê vazio quando tem que pousar o livro. 

«Nunca devemos mostrar tudo o que temos, quando o que temos é mais do que quase toda a gente tem. Não são luxos, mas passam por isso. São mais do que isso, até. São frutos de muito amor e muito labor. Mas as pessoas só vêm o resultado final e então provam o mais ácido dos venenos. A inveja.»

Quem é que não conhece as Mil e Uma Noites? Em que Xerazade empreende num plano arriscado para salvar a vida das mulheres que o sultão insiste matar todos os dias? É com estórias, as mais belas e aterradoras, em que a eloquência e a sagacidade com que desenrola cada fio narrador lhe concede mais algum tempo de vida. É num formato parecido que viajamos por uma estória que é de dois, mas de muitos mais, uma trama apaixonada que não se prende a estereótipos e que expele as mais diversas emoções inerentes ao ser humano – paixão, amor, dor, ódio, rancor, lealdade e traição, entre tantos outros.

«A dor tem muitos rostos e muitas formas de se fazer sentir.»

Existe uma genialidade nesta narrativa que está ao alcance de muito poucos, ou de mais ninguém. Não é algo que se compare, é certamente belo e fascinante, mas penso que acima de tudo único e, mais uma vez, Manuela Gonzaga mostra a fibra de que é feita. Flexível, sem quebrar, forte sem deixar de ser sensível, e uma capacidade de projectar os cenários mais simples de forma tão intensa. Existe uma estética e uma imagética tão sedutores quanto torturantes, no bom sentido, pois queremos rapidamente chegar ao fim sem que na verdade toda esta musicalidade mitológica, real, filosófica e paisagística termine. 

«No princípio de todos os princípios, foi o som. Depois, a palavra. Por fim, a música. A trindade primeva da criação. A sua emergência em espírito, alma e corpo. Um corpo de glória, cuja pauta são os números sagrados. É por isso, que a música está em todo o lado — desde os confins do espaço e do fundo dos tempos, à incerta e delicada estrutura atómica. Cada estrela, cada planeta, cada galáxia, cada cometa e cada asteróide cantam na sua própria vibração. Assim como cantam todos e cada um dos corpos — da célula ao átomo e seus componentes até à plataforma fantasmática da preexistência quântica. A música mora em tudo e em todos. E está presente até no silêncio. É a assinatura da vida.»

Todos conhecemos a lei da atracção e da unicidade da matéria que nos faz reflectir, que nos leva a questionar o que nos rodeia. Neste contexto, mais do que um livro que dá respostas, através de Xerazade a escritora levanta várias questões, confronta o leitor com a sensação do todo, mas também com a inevitabilidade da perda, do que fica no fim. Era capaz de esgotar elogios no que a este livro diz respeito e mais, tenho a certeza que esta obra se vai tornar num Clássico da Literatura Portuguesa. 

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[Fotografia] Apresentação Xerazade – A Última Noite, de Manuela Gonzaga @ Fnac Chiado https://branmorrighan.com/2015/03/fotografia-apresentacao-xerazade-ultima.html https://branmorrighan.com/2015/03/fotografia-apresentacao-xerazade-ultima.html#respond Sat, 21 Mar 2015 17:00:00 +0000

Fotografias por Sofia Teixeira

Uma sessão muito agradável na FNAC Chiado onde se riu muito, mas falou-se ainda mais de coisas sérias. Os convidados não podiam ter sido melhor escolhidos e desde a intensidade de Vítor Rua à harmonia de Samuel Pimenta, Manuela Gonzaga fez-se acompanhar ainda do seu editor Eduardo Boavida para uma apresentação maravilhosa. O livro em causa, o seu último romance – Xerazade, A Última Noite – que já é candidato a livro do ano. A minha opinião sai muito brevemente, entretanto deixo-vos a ligação para caso o queiram comprar: http://goo.gl/5nS9mc

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E agora, o que se segue? [Diário de Bordo XLVII] I Broke Google! Uma Semana de Loucos, Episódio Infinito https://branmorrighan.com/2015/03/e-agora-o-que-se-segue-diario-de-bordo_13.html https://branmorrighan.com/2015/03/e-agora-o-que-se-segue-diario-de-bordo_13.html#respond Fri, 13 Mar 2015 20:00:00 +0000

Isto de fazer um doutoramento tem tanto de desafiante como de frustrante. Pelo menos ao início, digo eu, que estou inscrita desde Setembro e há muito tempo que não me sentia tão sem rumo no que à investigação científica diz respeito. Enquanto fiz parte de projectos concretos, o objectivo estava definido, a forma como lá chegávamos é que podia ser mais ou menos linear. Com o doutoramento, até esse chão desaparece e vamos deambulando por ideias e especulações que boa parte das vezes não dão em nada. 

Mas há que não desmotivar! Há que pensar que havemos de encontrar um significado na vida e que tudo vai correr bem! Ahahah, pois, bem sei, devo estar a soar um pouco lunática, mas estão a ver aquela primeira imagem inicial? É o resumo da minha semana de trabalho. Há uns meses sugeriram-me que trabalhasse com uma plataforma nova, de uma área da informática que andei a evitar estes anos todos, mas como o desafio até me poderia vir a ser útil no futuro lá comecei a trabalhar nisso. Resultado? Devia ter entregue um trabalho em Janeiro e, depois das idas aos hospitais e de todos os azares, quando lá consegui avançar como deve ser, eis que quando passo de pequenos casos de teste para testes em larga escala tudo deixa de funcionar. Erros que não aparecem quando pesquisamos no google, coisas que não fazem sentido nenhum, e como não conheço nem mais uma pessoa que trabalhe nisto… Bem vinda ao mundo encantado da descoberta frustrada, do cai-levanta-volta-a-cair-volta-a-levantar… 

Existe o reverso da medalha que é, nestas alturas dou graças aos deuses de ter o basquetebol e aqui o BranMorrighan porque entre comer toneladas de chocolate (o que acontece com muita frequência) e bater com a cabeça nas paredes (este já no sentido figurado), de vez em quando posso dar uma escapadela aqui perto e ir conversar sobre coisas mesmo fixes com pessoal interessante e que de alguma maneira acaba por ter um papel no meu dia-a-dia. 

Com Linda Martini – Fotografia Nuno Capela

Para vocês terem noção, por exemplo, à Segunda-feira dou duas aulas, tenho uma reunião do corpo docente, tenho de viajar até Oeiras, ter uma aula no Taguspark pelas 18h e com isto tudo só termino o meu dia pelas 22h na Póvoa de Santa Iria, se tiver sorte. Poderia descrever o resto da semana, mas não vale a pena, é sempre tudo assim na correria. Entre estas correrias, e porque andei a recusar entrevistas durante muito tempo – julguei mesmo que Março ia ser mais calmo e que poderia retomar todas as outras actividades descontraidamente -, esta semana estive à conversa com três projectos musicais e ainda dei uma escapadela para ir à apresentação da Manuela Gonzaga. Tudo a uma distância pedonal, ou quase, que começou com a Rita Braga na Segunda-feira, Linda Martini e We Trust na Quarta. Claro que Quinta-feira mal me mexia e o raio do trabalho continuava a aumentar a minha frustração, mas com estes pequenos escapes a coisa fica mais suportável.

As entrevistas correram todas muito bem, a Rita é um amor de pessoa, os Linda Martini são uma banda icónica para mim, que tanto tenho acompanhado e que, por fim, tive a oportunidade de falar cara a cara com eles, o André (We Trust) tem uma boa disposição contagiante, um optimismo admirável e um sotaque que me faz sentir saudades de casa (Porto)! A apresentação do Xerazade da querida Manuela Gonzaga foi muito bonita, momentos muito emotivos e a energia foi muito positiva, muito carinhosa em torno de uma autora que já me é muito querida. Foi excelente rever ainda o nosso Samuel Pimenta e a Margarida Ferra. 

Com Manuela Gonzaga e Samuel Pimenta – Fotografia Margarida Ferra

Não querendo cair no erro de me tornar repetitiva, mas porque nunca sei o que passa na cabeça das pessoas quando me contactam, quero apenas reforçar a realidade de que o BranMorrighan não me dá um ordenado ao final do mês, não me pagam para fazer entrevistas, tirar fotografias ou escrever opiniões. Eu adoro a liberdade que o blogue me dá para fazer o que bem entender, mas é necessário que também exista compreensão do lado de quem pede e espera intervenção. Um exemplo prático é que só ontem consegui transcrever uma entrevista que foi feita há quase cinco meses. Cinco meses! Só que a vida é feita de momentos imprevisíveis e nem sempre reunimos as condições que precisamos para avançar com os projectos que desejamos. Pedirem-me prazos é, neste momento, algo irreal. Eu sou aluna de doutoramento, professora universitária, tenho o campeonato de basquetebol e o que poderia ser uma questão de “ah, mas tu queres é tudo e depois não consegues é nada!” é antes uma necessidade de “só me sinto completa com cada uma destas coisas, mas vão haver alturas em que vou ter de sacrificar umas mais que outras”. Só com este balanço é possível manter tudo e, portanto, é normal que as ondas oscilem. Uma coisa é certa, só uma delas me dá dinheiro e essa será sempre prioridade. 

Por fim, e porque tenho de ir treinar daqui a nada, deixo-vos o lembrete deste magnífico projecto que tive a honra de organizar. A colectânea “Desassossego da Liberdade” já está em crowdfunding e à vossa espera para se tornar uma realidade. Podem ler tudo sobre o projecto e apoiar aqui: http://ppl.com.pt/pt/livros-de-ontem/desassossego-da-liberdade

Contos de Carla M. Soares; Manuel Jorge Marmelo; Nuno Nepomuceno; Pedro Medina Ribeiro e Samuel Pimenta.

Autores convidados: David “Noiserv” Santos e Guillermo de Llera Blanes.

Autores vencedores: André Mateus; Cláudia Ferreira; Eduardo Duarte; Márcia Balsas e Márcia Costa.

Capa: João Pedro Fonseca

Organização: Sofia Teixeira

Editora: Livros de Ontem

Uma ajuda a partir de 5€ garante, pelo menos, o nome na página de agradecimentos do livro e vai ser muito bom ver-vos por lá, afinal o livro vai ser mesmo de todos os que apoiarem! 

Grande beijinho a todos e até ao próximo Diário de Bordo! 

PS: Para a semana são as finais universitárias, tudo a torcer pelo I S T ! :)) 

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Opinião: Moçambique – Para a minha mãe lembrar como foi, de Manuela Gonzaga https://branmorrighan.com/2014/09/opiniao-mocambique-para-minha-mae.html https://branmorrighan.com/2014/09/opiniao-mocambique-para-minha-mae.html#respond Sun, 21 Sep 2014 13:49:00 +0000

Moçambique – Para a minha mãe lembrar como foi

Manuela Gonzaga

Editora: Bertrand

Sinopse: Que África era aquela, quando Portugal era «só um – do Minho a Timor»? Manuela Gonzaga começa por nos levar de Lisboa a Nacala numa maravilhosa travessia oceânica a bordo do paquete Império. Dali, com a família, partiu para a mais remota província da então Província Ultramarina de Moçambique, Vila Cabral, actual Lichinga, onde viveram durante algum tempo. Através da descrição dos quotidianos do Niassa, depois do esbraseante calor de Tete, a seguir na Beira, e mais tarde em Lourenço Marques, Maputo, a autora revive, por dentro, toda uma época, num exercício que começou por ser um lenitivo para mitigar a solidão da mãe cujas memórias se têm vindo a dissolver inexoravelmente. Foi a própria mãe, a quem estas narrativas acordam reminiscências luminosas e felizes de tempos pretéritos no seu Moçambique adorado, que lhe pediu que as transformasse no livro que agora chega a público.

Opinião: Enquanto leitora, ler registos autobiográficos é algo que faço sempre com alguma cautela. Não que ache que este tipo de narrativa seja mau, mas porque não é um género que normalmente consiga apreciar devidamente. Ainda assim, e por todo o percurso de um ramo da minha família, achei que Moçambique – Para a mãe lembrar como foi devia ser um registo com o qual me fosse fácil ligar, e que me suscitou muita curiosidade. Os vários percursos e destinos, que muitas vezes a nossa vida toma, conseguem afectar não só a nossa existência como a de quem nos rodeia. Ao acompanhar Manuela Gonzaga ao longo daqueles anos todos e pelos diversos locais de Moçambique, senti que, de facto, já vivemos tempos muito difíceis, mas que a força de algumas pessoas foi, certamente, inspiradora, tal como este livro o é.

As várias recordações recolhidas para este livro chegam-nos muitas vezes em pequenos fragmentos, e tanto parecem relatados com alguma indiferença como com imensa emoção. Achei extraordinária a forma como a autora conseguiu descrever a mentalidade das pessoas naquela altura, o quão os brancos eram facilmente questionáveis e todo o esforço de adaptação. A mãe da autora, uma mulher senhora de si e muito independente, é o exemplo de mulher progressista, mas que depois, em relação à própria filha, nem sempre conseguiu ser tão tolerante. Deste livro de memórias, o leitor pode retirar uns quantos excertos e romanceá-los, estendê-los na sua própria mente, sem nunca desvirtuar o quão real elas foram.

Com um enquadramento histórico preciso, a escrita de Manuela Gonzaga tem o poder de nos transportar para aqueles tempos, dando-nos a possibilidade de ver com os seus olhos toda uma evolução da sua posição na sociedade, da sua luta, de toda uma experiência num país que, apesar de na altura ser uma extensão do nosso, atravessou todo o tipo de fases – desde a prosperidade à guerra. O sonho de ser escritora começou de forma subtil, na voz de um soldado que partilhava as suas várias angústias. Como é que Manuela poderia saber e sentir tais coisas? Só mesmo tendo presenciado e vivido no meio de tal violência. A continuação, deixo-a para vocês a descobrirem. 

Os últimos capítulos, confesso, deixaram-me muitas perguntas. O regresso a Portugal em 74, a forma agressiva como foi recebida, o espaço entre 70 e 74 passado em Luanda, do qual não sabemos nada, remete-nos à dúvida – irá a autora, algum dia, deixar estes registos também em obra escrita e publicada? No seu conjunto, Moçambique – Para a mãe lembrar o que foi, confronta-nos com uma obra autobiográfica, durante uma época de constantes mudanças, lutas e pequenos pormenores que transmitem, ainda assim, uma grande felicidade sentida pela autora. Lembro-me, particularmente, deste registo – de haver sempre um sentimento que tornasse positiva a experiência. Gostei.  

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