Marta Cruz – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Wed, 23 Dec 2020 20:02:07 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.1 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Marta Cruz – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 Opinião: Viajantes, de Daniel Costa-Lourenço, Bruno Torrão e fotografia por Marta Cruz https://branmorrighan.com/2014/10/opiniao-viajantes-de-daniel-costa.html https://branmorrighan.com/2014/10/opiniao-viajantes-de-daniel-costa.html#respond Mon, 13 Oct 2014 14:56:00 +0000

Viajantes

Daniel Costa-Lourenço, Bruno Torrão e fotografia por Marta Cruz

Editora: Livros de Ontem

Sinopse: Viajantes é um livro que conjuga a poesia de Daniel Costa-Lourenço e Bruno Torrão com a fotografia de Marta Cruz, tudo com o propósito de lhe mostrar Lisboa como nunca a viu. Através de uma poética por vezes amorosa, por vezes musical, o leitor é convidado a descobrir cada canto e recanto da cidade de Lisboa nos seus pormenores mais simples e reveladores.

“Este livro é uma viajem pelo lado invisível de Lisboa, por aquela cidade que sentimos e que nos transforma, que nos serve de cenário e que, por vezes, é também personagem.” Daniel Costa-Lourenço

“Cada poema leva-nos a um sítio, um bairro, uma avenida, uma rua, um beco quiçá…” Bruno Torrão

Opinião: Escrever sobre poesia não é uma tarefa fácil para mim. Não sou uma entendida em estruturas e formas poéticas, mas uma coisa eu sei – existem obras que nos atingem, qual tornado, e nos fazer sentir um turbilhão de emoções imenso, sem fim à vista, e que nos desassossegam, falam ao ouvido e ficam em eco durante minutos, horas, dias a fio. E é com base nesses sentimentos, nessa perturbação anímica, que gosto de escrever sobre livros como o Viajantes.

A proposta é simples: dois autores, uma fotógrafa e Lisboa como pano de fundo. O início ficou a cargo de Daniel Costa-Lourenço e é quase injusto falar sobre os seus poemas. Tal como Vicente Alves do Ó diz no Prefácio “Não cabe a ninguém – muito menos a mim – explicar seja o que for, ou elogiar a superfície brilhante do que se segue (…).” Existe uma capacidade, na escrita de Daniel, em expressar determinadas circunstâncias e intimidades que é assombrosa. A imagética projectada, também ela, é intensa, desprovida de timidez e aguçada, incisiva.

Já Bruno Torrão, dá-nos toda uma outra perspectiva mais violenta, com uma agressividade passiva que murmura sobre as paixões efémeras, os tormentos admitidos e renegados, os cenários que confrontam o leitor com a sua fragilidade. São encontros e desencontros a um ritmo que oscila entre o pálido deslumbramento e a fervorosa convicção. Este estilo mais sombrio, tantas vezes sexual, acaba por emparelhar como um oposto perfeito à poesia de Daniel Costa-Lourenço.

Mas esta obra não seria a mesma coisa sem as fotografias de Marta Cruz. Se por um lado ambos os poetas são fortes na projecção de imagens através das palavras, a verdade é que é com as fotografias de Marta que verdadeiramente se completa todo o cenário poético. Pormenores subtis, jogos de luzes íntimos e reconfortantes, são características que conferem a Viajantes um cariz único. A edição está muito bonita, bem cuidada e tem sido um prazer lê-lo e relê-lo. Existem passagens que ficam nas nossas memórias e a tentação de voltar é sempre muita. 

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