Miguel Esteves Cardoso – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 06:07:15 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.2 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Miguel Esteves Cardoso – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 Citações Aleatórias #31 – Miguel Esteves Cardoso https://branmorrighan.com/2015/12/citacoes-aleatorias-31-miguel-esteves.html https://branmorrighan.com/2015/12/citacoes-aleatorias-31-miguel-esteves.html#respond Tue, 29 Dec 2015 14:05:00 +0000

“É pena. As pessoas dizem que o tempo cura tudo mas não sabem dizer como. Ou não podem. Porque a ideia delas, mais automática do que mal pensada, é que o tempo cura através do esquecimento. (…) 

Porque o esquecimento é contrário ao amor: é um atentado contra ele. (…)

É a tal “questão do tempo”. Parece sábia mas é estúpida. Tão estúpida como dar importância ao espaço físico e aconselhar, para um luto ou desgosto de amor, pôr-se a milhas do lugar onde aconteceu. (…)

A verdade é que não há nada que se possa dizer. Mas não se pode dizer que o tempo fará esquecer. Ou que o esquecimento fará com que deixe de doer tanto. (…)”

Miguel Esteves Cardoso, O tempo que nos aproxima, em Como é Linda a Puta da Vida

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Opinião: O Amor é Fodido, de Miguel Esteves Cardoso https://branmorrighan.com/2015/09/opiniao-o-amor-e-fodido-de-miguel.html https://branmorrighan.com/2015/09/opiniao-o-amor-e-fodido-de-miguel.html#respond Wed, 09 Sep 2015 15:14:00 +0000

O Amor é Fodido

Miguel Esteves Cardoso

Editora: Porto Editora

Sinopse: «As lágrimas das raparigas refrescam-me. Levantam-me o moral. Às vezes lambo-a dos cantos dos olhos. São pequenos coquetéis sem álcool, inteiramente naturais. Dizer: “Não chores” funciona sempre, porque só mencionar o verbo “chorar” emociona-as e liberta-as, dando-lhes carta branca para chorar ainda mais. Só intervenho com piadas e palavras de esperança e de amor quando elas vão longe de mais e começam, por exemplo, a pingar do nariz.»

Opinião: Ora aí está um livro que é fodido de se ler. Perdoem-me a linguagem, ou não, não faz diferença. Tal como não faz diferença se se gosta ou não desta obra. O Amor é Fodido é daqueles livros que dificilmente criam consenso, tal como dificilmente apaziguam quem lê. Até mesmo a escrita é inconstante. Assumido pelo próprio autor que este livro só foi publicado, assim em cru, porque queria publicar algo antes dos 40 anos, mesmo quando se mudou para a Porto Editora decidiu manter como estava, sem alterar nada. E acho bem, afinal também é impossível voltar atrás no tempo e reescrever a nossa vida, não é? Mas isto são tudo perspectivas, claro. 

Já tinha este livro na minha estante desde a Feira do Livro e nem o comecei a ler por achar que o amor é fodido, disso eu tenho a certeza. É lindo e maravilhoso e juntamente com a paixão causa todas aquelas sensações arrebatadoras, mas verdade seja dita que quando corre mal, tudo se torna imprevisível. E este livro é todo ele sobre uma data de obsessões em perseguição de um amor que se sabe ser disfuncional, doentio, baseado em premissas loucas que culmina em desastres e vivências que se tornam em parte presente, em parte passado, numa fusão entre o agora e as recordações.

Gostei mais de umas partes do que de outras. Acho que é um livro muito realista para uma realidade precoce da vida de qualquer pessoa. Ou assim poderia ser caso se partisse do princípio que à medida que a idade avança aprendemos com a experiência. Não gostei muito da maior parte da narrativa do último terço da história. Não me disse absolutamente nada. Ainda assim a primeira metade compensa bem pelo restante. Se me perguntarem se aconselho o livro, nunca vou dizer que não, mas direi sim com restrições, dependendo se conheço bem ou não a pessoa que me fizer essa pergunta. Acho que a interpretação vai ser sempre muito pessoal e haverá sempre quem não goste. Como disse ao início, não é consensual, mas que não se perde nada em ler, não. Talvez até se ganhe, pelo menos um ligeiro abrir olhos. 

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Citações Aleatórias #20 – O Amor é Fodido https://branmorrighan.com/2015/08/citacoes-aleatorias-20-o-amor-e-fodido.html https://branmorrighan.com/2015/08/citacoes-aleatorias-20-o-amor-e-fodido.html#comments Fri, 28 Aug 2015 11:21:00 +0000

“O amor é fodido. Hei-de acreditar sempre nisto. Onde quer que haja amor, ele acabará, mais tarde ou mais cedo, por ser fodido. 

É melhor do que morrer. Há coisas, como o álcool e os livros, que continuam boas. A morte é mais aborrecida. 

Por que é que podemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem de haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo.” 


Miguel Esteves Cardoso, O Amor é Fodido

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Opinião: Como é Linda a Puta da Vida, de Miguel Esteves Cardoso https://branmorrighan.com/2015/01/opiniao-como-e-linda-puta-da-vida-de.html https://branmorrighan.com/2015/01/opiniao-como-e-linda-puta-da-vida-de.html#comments Sat, 10 Jan 2015 19:25:00 +0000

Como é Linda a Puta da Vida

Miguel Esteves Cardoso

Editora: Porto Editora

Sinopse: «O que espanta num gato é a maneira como combina a neurose, a desconfiança e o medo – para não falar numa ausência total de sentido de humor – com o talento para procurar e apreciar o conforto e, sobretudo, a capacidade para dormir 20 em cada 24 horas, sem a ajuda de benzodiazepinas.

O gato é neurótico mas brinca. (…) Mas, acima de tudo, descobriu o sistema binário da existência.

Que é: dormir faz fome. Comer faz sono. Acordo porque tenho fome.

Adormeço porque comi. Nos intervalos, faço as necessidades.»

Opinião: Adquiri este livro em Abril de 2014 e pouco depois comecei a lê-lo. Não como se lê um romance, pois trata-se de um livro de crónicas, mas antes como uma espécie de diário nocturno. Nas noites em que era possível, lia uma das crónicas e muitas vezes desligava a luz a pensar sobre as mesmas. Mas tal como em tudo na vida, não nos podemos forçar a ler por ler, andei uns meses em que mal tinha tempo para ler e, quando tinha, só me apetecia enveredar por narrativas mais complexas que me tirasse “deste mundo”. Ficou mais ou menos a meio e voltei a pegar nele no início deste novo ano de 2015. Mais uma vez confirma-se, não somos nós que escolhemos as leituras, mas as leituras é que nos escolhem a nós, parece que adivinham o timing em que se devem colocar à nossa frente! O que é certo é que devo ter pegado no livro mesmo na altura certa porque rapidamente o terminei. 

Esta colectânea do escritor Miguel Esteves Cardoso, também conhecido como MEC, contém crónicas de vários anos, ao longo da última década, e também abrange vários temas. O primeiro, o que mais me emocionou, está relacionado, e friso, com a sua mulher. Quem já leu este livro perceberá o porquê do negrito, tem a sua piada, mas o que já não foi assim tão engraçado foi assistir aos momentos de luta enquanto Maria João esteve no IPO. Doença do século, dizem muitos, mas o que importa aqui é a mensagem de esperança, entre altos e baixos, e um carinho e devoção enormes que transparecem do autor para o leitor e para a própria Maria João. 

Os restantes temas têm sempre a sua pertinência. Algumas crónicas estão mais interessantes do que outras, muitas vezes não nos conseguimos situar bem nas ideias do escritor, mas uma coisa é inegável – MEC tem uma personalidade tão vincada que, quer se goste, quer não, ninguém pode duvidar da sua genuinidade e poder de expressão. Não tem papas na língua, gosta de pegar nos touros pelos cornos e sabe bem como abordar temas mais sensíveis de forma directa e perspicaz, sem ser grosseiro. Nunca li nenhum romance do autor, foi a minha estreia na sua escrita, mas a sua aparente sinceridade e frontalidade fez-me perguntar como será o seu estilo num outro registo. Pode ser que 2015 traga mais MEC ao Morrighan. 

Deixo-vos um excerto que também deixou a sua marca:

É pena. As pessoas dizem que o tempo cura tudo mas não sabem dizer como. Ou não podem. Porque a ideia delas, mais automática do que mal pensada, é que o tempo cura através do esquecimento. (…) 

Porque o esquecimento é contrário ao amor: é um atentado contra ele. (…)

É a tal “questão do tempo”. Parece sábia mas é estúpida. Tão estúpida como dar importância ao espaço físico e aconselhar, para um luto ou desgosto de amor, pôr-se a milhas do lugar onde aconteceu. (…)

A verdade é que não há nada que se possa dizer. Mas não se pode dizer que o tempo fará esquecer. Ou que o esquecimento fará com que deixe de doer tanto. (…)

– Miguel Esteves Cardoso, O tempo que nos aproxima

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