Nuno Nepomuceno – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 05:55:40 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.2 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Nuno Nepomuceno – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 [Especial Nuno Nepomuceno] Crónica #3 – Acabamento https://branmorrighan.com/2019/02/especial-nuno-nepomuceno-cronica-3.html https://branmorrighan.com/2019/02/especial-nuno-nepomuceno-cronica-3.html#respond Sun, 24 Feb 2019 18:36:00 +0000

Acabamento

Eu ia roubar um quadro, lembram-se?

Hum, que ideia tão tola.

Acho que a primeira dificuldade que tive foi exatamente essa, ou seja, encontrar o meu caminho, descobrir, ao fim e ao cabo, como é que eu iria fazê-lo. Confesso que foi uma altura complicada. Passavam-me imagens mirabolantes pela cabeça. O Giampietrino é uma tela muito grande. Como é que eu iria tirá-lo da Academia Real das Artes de Londres? Permitam-me que vos faça uma pequena confissão: eu cheguei a sonhar com homens vestidos de negro, encapuzados, numa cena plena de adrenalina, enquanto trocavam uma tela por outra, pendurados na carroçaria de um camião em andamento numa autoestrada.

Sim, deitei a ideia fora.

O mais importante não era a espetacularidade. Já fizera isso antes; era a coisa mais simples de alcançar. Aquilo que eu não poderia descurar era o remate, o acabamento, aquele ato final que deixaria todos boquiabertos, a pensar que tinham sido ludibriados.

Ou, melhor do que isso, o que significaria aquela pequena centelha de dúvida que desejava introduzir estrategicamente com o único propósito de vos deixar sem chão? Pois, leram bem. É que há algo que ainda não vos disse…

Eu até consigo ser um bom ladrão.

Todavia, há outra coisa que faço ainda melhor.

Descreve-se com uma palavra: enganar-vos.

As frases fluíram a bom ritmo. Os meus dedos segredaram ao teclado do computador, tocando harmonias de poesia, embustes, amor e vingança. Mas, como sempre, estava atrasado. A pesquisa que fizera consumira-me demasiado tempo, sobretudo, para alguém que, desde o momento em que pela primeira vez se sentara defronte do seu editor e assumira — com um sorriso rasgado, note-se — que terminaria o livro no fim do verão, pura e simplesmente arrancara tarde de mais.

Vá lá, Nuno. Confessa-o. Tu só começas a escrever mesmo a sério quando estás debaixo de pressão.

Mas não senti isso. O que este livro me trouxe foi algo diferente.

À medida que progredia, o ritmo foi-se intensificando. O número de páginas começou a crescer, mesmo apesar do andamento tímido, ao princípio. Nem sequer fiz uma ou duas paragens a meio, como acontecera em livros anteriores, para me situar na história. Desta vez, eu fui até ao fim com um só fôlego. Continuava a ver o mesmo casal, aquele homem e aquela mulher que me tinham aparecido em Londres. Discutiam em frente às janelas de um quarto de hotel; contemplavam um quadro mítico; ou apenas urdiam planos para se atraiçoarem mutuamente.

Aqueles dois bastavam-me.

E foi assim que escrevi o meu acabamento.

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[Especial Nuno Nepomuceno] Crónica #2 – Cor https://branmorrighan.com/2019/01/especial-nuno-nepomuceno-cronica-2-cor.html https://branmorrighan.com/2019/01/especial-nuno-nepomuceno-cronica-2-cor.html#respond Sun, 27 Jan 2019 19:15:00 +0000

Cor

De mochila às costas, com um bloco de notas e uma caneta na mão, sentado dentro da carruagem em movimento, olhei para o cartaz que ilustrava a rede ferroviária. Sentia-me numa encruzilhada. Como é que era possível? Tinha planeado tudo tão bem. Pior do que isso, não comprara bilhete para aquela viagem. O que iria acontecer se aparecesse o revisor? Uma ideia ridícula veio-me à cabeça. Poderia ser deportado?

Felizmente, não aconteceu nada disso. Passados cerca de três quartos de hora, dei por mim já na rua, no exterior de um dos muitos acessos à estação de London Bridge. Parei e deixei-me ficar sobre o passeio durante algum tempo, tentando situar-me. Reparei numa placa afixada numa parede e senti que a minha sorte acabara de mudar. Era um hospital. Sorri com ironia. Que oportunismo. Umas das personagens que construíra para o meu novo livro sobrevivera a um cancro.

Comecei a andar e deparei-me com a entrada de um hotel de luxo. Já ouvira falar nele, sobretudo, nos quartos, famosos pela vista panorâmica que ofereciam. Foi nesse instante que tive a primeira visão: um homem, uma mulher; os dois frente a frente, junto a uma das janelas num momento decisivo das suas vidas.

Já definira muita coisa naquela altura. Decidira o tema, grande parte do enredo, e fizera um esboço tosco, a preto-e-branco, de como o livro deveria ser. No entanto, faltava-me uma coisa, o casal de protagonistas. Acabara de os encontrar.

Perdido em sonhos, a vaguear por palavras, andei um pouco por Londres. Apesar do percalço, dispunha de algum tempo livre. Cruzei o Tamisa e deixei-me ir. Queria conhecer melhor a cidade, sentir as ruas.

Cerca de duas horas mais tarde, respirei fundo e admirei uma entrada clássica, onde, ao fundo de um pequeno lance de escadas, se via uma porta de vidro e uma inscrição em dourado. Acabara de chegar à Academia Real das Artes.

Passei o vestíbulo e subi a grande escadaria de pedra. A entrevista que tinha marcada com o diretor de coleção só começava dali a mais de meia-hora, o que me deixaria com o tempo suficiente para me organizar. Queria rever as perguntas que preparara pelo menos mais uma vez.

Assim que cheguei ao primeiro andar, fui diretamente para a sala da exposição pública. Uma obra de arte gigantesca recebeu-me ao entrar. Contornei a grande parede e, de repente, deparei-me com ele. Delimitado por uma moldura cor de vinho, ali estava o Giampietrino, três metros e dois centímetros de altura por sete metros e oitenta e cinco centímetros de comprimento, a cópia a óleo sobre tela de A Última Ceia.

Estaquei no meio da sala, indiferente aos outros visitantes. Não estava maravilhado pela imponência e singularidade do quadro. Era belo, sem dúvida, com uma expressividade desarmante. Todavia, havia algo mais ali dentro que me fez parar. Lá estavam eles, o mesmo homem e a mesma mulher de há duas horas. Sentados nos bancos de pele, de frente para a tela, contemplavam-na.

Só eu os via. Eram os meus protagonistas.

Sorri e, de repente, todo o meu esboço ganhou cor e o livro pintou-se defronte dos meus olhos.

Eu ia roubar um quadro.

Nuno Nepomuceno

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[Especial Nuno Nepomuceno] Crónica #1 – Esboço https://branmorrighan.com/2019/01/especial-nuno-nepomuceno-cronica-1.html https://branmorrighan.com/2019/01/especial-nuno-nepomuceno-cronica-1.html#respond Tue, 22 Jan 2019 12:50:00 +0000 ../../../Depois%20da%20Cópia%20de%20Segurança/IMG_1441.JPG

Esboço

A resposta chegou uma semana e meia depois. Tinha estudado, tomara notas, delineara histórias, urdira intrigas e até cedera à tentação infantil de enviar um segundo e-mail. Estava ansioso, certamente, mas a verdade é que não tinha um plano B. Aquele contacto era tudo ou nada para mim.

Li o texto com um nó na garganta, sempre à espera do pior. Mas dei por mim de punho cerrado a celebrar, a festejar a minha pequena vitória. Ele tinha dito que sim. O diretor de coleção da Academia Real das Artes de Londres estava disposto a falar comigo.

Aquilo que ao início me parecera um tiro no escuro, transformou-se numa oportunidade rara. O impasse inicial, uma vez ultrapassado o primeiro obstáculo, desfez-se rapidamente, à medida que começámos a trocar mensagens a um ritmo diário.

Sim, poderíamos agendar uma pequena entrevista, uma breve conversa. Não, as medidas de segurança existentes na academia não seriam abordadas. Se eu queria escrever o meu livro, então, teria de respeitar as suas condições. Aliás, era apenas uma: falaríamos somente acerca do quadro.

Destemido, aceitei. E foi aí que deitei mãos ao meu desenho, o meu plano sumário, ou a minha declaração de intenções. A primeira coisa que eu tinha de fazer era estudar ainda mais, esforçar-me arduamente por aprofundar a pesquisa que começara, não ter medo de ousar, de fazer aquilo que desde o início me motivara a entrar neste mundo. A segunda era algo mais simples. Bastava-me comprar um bilhete de avião. Eu ia a Londres.

Há momentos de sorte, sabem? Costumava acreditar que nunca vivera nenhum. Ouço frequentemente que tenho uma vida de sonho, que alcancei e que usufruo de coisas com as quais apenas alguns sonham e que, na realidade, nunca chegam a alcançar.

A verdade não é bem assim. Diria mesmo que discordo. Sinto que tudo, mas mesmo tudo, tem sido sempre mais difícil para mim.

Não foi o caso da viagem a Londres, apesar de, curiosamente, ter começado com esse sentimento — de desnorte, confusão, frustração e imenso azar. Depois de chegar à cidade, a primeira coisa que fiz foi deitar tudo por terra, destruir o meu pequeno esboço. Comecei por apanhar o comboio errado.

Nuno Nepomuceno

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[Especial Nuno Nepomuceno] Teaser: A Última Ceia – Um conto por Nuno Nepomuceno https://branmorrighan.com/2019/01/especial-nuno-nepomuceno-teaser-ultima.html https://branmorrighan.com/2019/01/especial-nuno-nepomuceno-teaser-ultima.html#respond Thu, 17 Jan 2019 18:27:00 +0000

A Última Ceia

Um conto por Nuno Nepomuceno

Praça de Santa Maria delle Grazie, Milão, Itália

O artista afastou e aproximou do edifício do mosteiro o lápis que segurava na mão, reavaliando as proporções. Estava sentado desde o início da manhã sobre a calçada da praça, trabalhando com suavidade no desenho. Passou às aguarelas. Uma silhueta vermelha e creme começou a nascer na folha.

Ao longe, uma jovem mulher de olhos castanhos, com um cartão de identificação pendurado no pescoço, deixou passar o elétrico e atravessou a via. Usava saltos rasos e o cabelo comprido e claro adornava-lhe as costas, enquanto deixava a abside alta da igreja cada vez mais para trás e se aproximava.

O aluno de Belas-Artes observou-a. Não havia nada de extraordinário nela. Era simplesmente a harmonia do conjunto que formava e a pele cor de alabastro, como num quadro imortalizado a óleo sobre uma tela, que faziam de Sofia Conti uma mulher de rara beleza.

Ela acabou de contornar o mosteiro dominicano e localizou o acesso principal. Não deu qualquer atenção ao rapaz que rasgava uma folha e começava rapidamente a esboçar o seu retrato. O pouco tempo de que dispunha iria ser muito bem empregue. Tencionava passá-lo com o seu velho amante, um fresco-secco original de Leonardo. Os italianos chamavam-lhe Il Cenacolo, mas todos davam outro nome a esta obra de arte. Era A Última Ceia.

Não foi amor à primeira vista. Para Sofia, o momento em que os dois se conheceram propiciou outra sensação. Quando saiu do elevador e entrou no antigo refeitório, foi recebida por uma atmosfera simples e serena, onde a luz do dia entrava timidamente pelos vidros das janelas altas. Os bancos de madeira, austeros e velhos, rangeram ao acomodar os turistas. Sentada na penúltima fila, a primeira que encontrou vazia, apreciou maravilhada o drama humano a que assistia.

Pálidas carícias de cor, na sua maioria em tons de pastel, ganharam vida perante si. Depois da entrada triunfal em Jerusalém, Jesus reuniu os apóstolos para uma refeição e previu, entre outras coisas, que um deles iria traí-lo. As grandes figuras dos discípulos agruparam-se à sua volta em conjuntos de retórica. Revoltados, gesticularam e argumentaram com uma emotividade nunca antes representada, escutados aos longe pelas montanhas que os espiavam através das janelas entreabertas.

Sofia sobressaltou-se ao reparar que estava a ser observada. Tratava-se de um homem que se sentara na última fila, alguns anos mais velho do que ela, talvez dez, quem sabe. Vestia um fato azul-forte, tinha o cabelo ligeiramente comprido, o colarinho da camisa branca que vestia contrastava com a pele morena e observava-a demoradamente.

Ela desviou o olhar e concentrou-se na obra de arte. Aprendera com os erros cometidos no passado. Voltou-se novamente para trás. Ele continuava a admirá-la.

Não foi amor à primeira vista. Para Sofia, o momento em que os dois se conheceram propiciou outra sensação. Foi uma oportunidade de viver de novo.

— Acho que é a obra de arte mais triste do mundo. E incomensuravelmente bela ao mesmo tempo — observou o homem, nas suas costas, com uma voz bem colocada, forte.

— Porque diz isso?

— O quê?

— Que é triste e belo.

— Repare na luz representada no quadro — pediu-lhe ele. — Existe uma, pintada a partir da esquerda, como se viesse das janelas altas deste refeitório, e há a imaginária, vinda das montanhas por trás dos homens, iluminando a figura central de Cristo.

— É quase como um halo — reparou ela.

— Não. Estes homens são todos muito humanos, espontâneos. Expressam serenidade, raiva, ressentimento, ou choque, como todos nós. É por isso que é um trabalho extraordinário.

— E não triste.

— Não.

— Porquê?

Os dois foram interrompidos por um funcionário do museu, que pediu aos visitantes que subissem. Um novo grupo de turistas aguardava pela sua vez. Sofia obedeceu e entrou no elevador. O homem manteve-se ao seu lado, algo que continuou a fazer depois de saírem, embora por pouco tempo. Uma mulher magra de cabelo ondulado e peito generoso apareceu a correr, beijando-o sonoramente nas faces.

Carissimo!

Sofia estacou, hesitando. Decidiu ir-se embora. Sentia-se claramente a mais.

Um bando de pombos levantou voo sobre a calçada, assustado pelo homem que caminhava apressadamente através da praça. Vestia um fato da cor do céu, ignorado por um jovem pintor que se concentrava no retrato da mulher de cabelo claro que se afastava na direção da lateral do mosteiro de Santa Maria delle Grazie.

Sofia foi alcançada pouco tempo depois. Ele era mais ágil e atlético do que ela. Aliás, tudo em si o favorecia, inclusivamente as explicações que tinha para dar. Aquela mulher era a diretora do museu, uma velha amiga que apenas desejava agradecer-lhe pelas contribuições regulares que fazia para a manutenção do edifício.

— Devo ir — justificou-se ela, procurando retomar a caminhada.

— Não seja infantil. A cena de ciúmes fica-lhe muito mal.

— Não, não compreendeu. Tenho de ir. Vou apanhar o comboio para Roma e a Estação Central é longe.

— Posso levá-la. Tenho o carro estacionado adiante.

— Isso é conveniente, mas desnecessário. Obrigada.

Sofia arrancou mais uma vez. Milão, criativa, inovadora e plena de vida, acompanhou-a. Ele reapareceu segundos depois.

— Essa sua insistência fica-lhe mal — disse-lhe ela.

— Estou a tentar ser prestável. Custa-me deixá-la fazer esta caminhada debaixo do Sol.

— Não está assim tão quente.

— Mas é longe.

— Nem por isso.

O homem parou debaixo de uma árvore e fez um trejeito contrariado aos lábios. Ficava-lhe bem, teve de admitir.

— Para a semana, vou a Roma. Tenho umas reuniões de negócios agendadas. Seria possível vê-la novamente?

— Nem sequer sabe o meu nome.

Ele esboçou um sorriso malicioso, o primeiro dos vários que ela iria conseguir arrancar-lhe nos meses que se seguiram.

— Não preciso. Está escrito no cartão de identificação que traz pendurado no pescoço. Sofia Conti, embaixada portuguesa. Imagino que não devam existir muitas mais por lá.

Ela sentiu-se enrubescer. O homem tinha razão, que infantilidade.

— Chamo-me Giovanni Carlo — apresentou-se ele. — Mas todos me tratam por Giancarlo.

Sofia assentiu. Não queria ser mal-educada. Despediu-se cordialmente e retomou a caminhada rumo à boca do metro.

Giancarlo ficou a vê-la afastar-se até se tornar numa figura distante. Atravessou a estrada e entrou no seu automóvel, arrancando com suavidade. Seguiu na mesma direção que ela, mas apanhou uma transversal, evitando deliberadamente passar por Sofia.

Era perfeita, um peão fundamental na estratégia que esboçara. Dentro de menos de um ano, tornar-se-ia na sua esposa.

Pelo menos, esse era o plano.

Sessão fotográfica especial A Última Ceia: https://www.branmorrighan.com/2019/01/especial-nuno-nepomuceno-sessao.html

Mais sobre a obra e o autor: https://www.nunonepomuceno.com/

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[Diário de Bordo] Está Entregue. https://branmorrighan.com/2019/01/diario-de-bordo-esta-entregue.html https://branmorrighan.com/2019/01/diario-de-bordo-esta-entregue.html#respond Wed, 16 Jan 2019 15:08:00 +0000

Era assim que gostava de estar nos próximos tempos. Deitada com Bran, sem fazer nada, a apanhar sol e a descansar. Era bom, não era? Não vai ser a realidade a tempo inteiro, mas ao menos sempre que tenho um bocadinho gosto de o passar com este peludinho. É incrível como só está na minha vida há um ano e dois meses e parece que sempre fez parte dela. 

Mas vamos ao tema principal deste Diário de Bordo… Entreguei ontem, definitivamente, a minha tese de doutoramento. Ufa! Só que não… Ok, sei que o discurso está confuso, mas passo a explicar. Não é que em vez de me sentir aliviada, senti o estômago tão embrulhado que parecia que ia vomitar a qualquer momento? Em circunstâncias muito específicas já tinha senti aquelas descargas de adrenalina em que, depois de um período de tempo de elevado stress, uma pessoa fica KO, mas ontem, confesso, não estava à espera de me sentir tão arrasada. Ahah. É que foi, literalmente, como se tivesse sido colocada numa máquina centrifugadora e logo a seguir atropelada por um TGV. Hoje sinto-me adoentada, e já voltei às actividades normais na FCUL, mas ainda há tanto para fazer que não me posso dar ao luxo de baixar os braços 🙂 

Logo a seguir a entregar a tese fui convidada do Pedro Moreira Dias na VodafoneFM e tenho que manifestar aqui a minha profunda gratidão e admiração pelo Pedro. Já fui entrevistada algumas vezes e, com o tempo, é fácil distinguir aqueles que realmente se interessam pelos entrevistados e que, consequentemente, tornam as entrevistas muito mais ricas. O Pedro é uma dessas pessoas e é sempre um privilégio e um gosto enorme ser sua convidada. O tema principal foi a festa de aniversário do BranMorrighan em Lisboa que é já esta Sexta-feira dia 18 de Janeiro no Musicbox. Juntem-se a nós! 

As boas notícias é que, espero eu, vou libertar um bocadinho mais de tempo para ler. Como tenho andado mesmo muito, muito cansada, há uma semana que voltei a andar de transportes públicos o que me garante sempre, pelo menos, quarenta minutos de leitura por dia. Logo aí, já estou a ganhar. Depois do milk and honey e ao mesmo tempo que leio Comportamento, de Robert M. Sapolsky, estou agora com o belíssimo novo romance policial de Nuno Nepomuceno, A Última Ceia. A fotografia não mente e, para além da capa belíssima o enredo está de devorar página após página. Mas vá, vou deixar uma opinião mais desenvolvida para a devida altura. Quero só reforçar que o romance vai estar disponível nas livrarias dia 18 de Janeiro e que a apresentação será dia 23 de Janeiro na FNAC Colombo. 

Entretanto, e voltando às comemorações da primeira década de BranMorrighan, vou divulgar o cartaz do Porto (que foi ontem descrito pela primeira vez na entrevista com a VodafoneFM e cujo cartaz já circula pelo Facebook) cuja festa será dia 1 de Fevereiro no Maus Hábitos, no Porto! Vai ser um fim-de-semana daqueles já que dia 3 estou a voar para Cracóvia durante 9 dias! Mas mais tarde falo-vos sobre isto. Já estou contente de ter arranjado este bocadinho para estas pequenas novidades. Espero que estejam bem e até breve! 

PS: Existem novidades em branmorrighan.bandcamp.com – espreitem!

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[Especial Nuno Nepomuceno] A Sessão Fotográfica de A Última Ceia https://branmorrighan.com/2019/01/especial-nuno-nepomuceno-sessao.html https://branmorrighan.com/2019/01/especial-nuno-nepomuceno-sessao.html#respond Tue, 08 Jan 2019 19:51:00 +0000 Fotografia Anna MacCarthy

O Nuno Nepomuceno é das pessoas mais talentosas e resilientes que conheço. Nunca quebra perante as adversidades e, através da sua magnífica escrita, tem-nos brindado com romances que se lêem de um fôlego. Conheci-o aquando da publicação de O Espião Português, o seu primeiro romance, e tive o prazer de fazer parte da apresentação dos outros dois volumes da trilogia Freelancer. O salto que deu quando lançou A Célula Adormecida, foi qualquer coisa de outro mundo. Não que a trilogia não tivesse qualidade, mas houve algo que endureceu e amadureceu dentro do escritor. Seguiu-se Pecados Santos e as opiniões são unânimes. Estamos perante um dos melhores escritores da sua geração, pelo menos no que ao romance policial diz respeito.

Quem tem acompanhado o percurso de Nuno Nepomuceno já se apercebeu que ele é perfeccionista ao pormenor. Começando na forma como trata os seus leitores, sendo sempre carinhoso e disponível com eles, e terminando, fundamentalmente, na forma como trata cada uma das suas obras. A produção é toda ela cuidada. Existem registos fotográficos, diários de bordo e, algumas vezes, outras surpresas. O BranMorrighan tem sido palco de alguns desses momentos e volta agora a ter esse privilégio. Nuno Nepomuceno lança seu novo romance policial dia 18 de Janeiro – A Última Ceia.

As fotografias que se seguem fazem parte da sessão fotográfica especial produzida para A Última Ceia e são da autoria da fotógrafa inglesa Anna MacCarthy. A sessão teve lugar em três sítios distintos: Academia Real das Artes de Londres, numa localização privada (quarto de hotel) e nas ruas de Londres. As fotografias junto à cópia de A Última Ceia, por Giampietrino, foram realizadas ao abrigo do acordo escrito entre Nuno Nepomuceno e a Academia Real das Artes de Londres. O livro também contou com a colaboração da própria Academia Real das Artes e do seu respectivo staff. A intriga central do livro é, como poderão facilmente imaginar, o roubo da cópia em óleo sobre tela de A Última Ceia, de Giampietrino e é inspirado em factos verídicos, nomeadamente, em roubos de arte famosos.

Querem saber mais? Capa e sinopse do livro no site do autor: https://www.nunonepomuceno.com/

PS: Por curiosidade, a protagonista do livro chama-se Sofia! Estou para ver quão em sintonia com ela me vou sentir… Se vou sentir de todo! Ainda não sei detalhes sobre a história, mas estou ansiosa por lhe colocar os olhos em cima. 

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[9 Anos Blog BranMorrighan] Vencedor do Passatempo Nuno Nepomuceno: A Célula Adormecida https://branmorrighan.com/2018/01/9-anos-blog-branmorrighan-vencedor-do_38.html https://branmorrighan.com/2018/01/9-anos-blog-branmorrighan-vencedor-do_38.html#respond Thu, 25 Jan 2018 14:53:00 +0000

Viva! Cá estamos para anunciar mais um vencedor, desta vez para o A Célula Adormecida, de Nuno Nepomuceno. Este passatempo contou com 729 participações e o vencedor escolhido através do random.org foi:

Susana Silva Gomes, 145

Parabéns Susana! Tens um mail na tua caixa de correio para responderes com os teus dados para que o livro te possa ser entregue. Obrigada a todos mais uma vez e em breve mais passatempos.

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Opinião: Pecados Santos, de Nuno Nepomuceno https://branmorrighan.com/2018/01/opiniao-pecados-santos-de-nuno.html https://branmorrighan.com/2018/01/opiniao-pecados-santos-de-nuno.html#respond Mon, 22 Jan 2018 15:21:00 +0000

Pecados Santos

Nuno Nepomuceno

Editora: Cultura Editora

Sinopse: Um rabino é encontrado morto numa das mais famosas sinagogas de Londres. O corpo, disposto como num quadro renascentista, representa o sacrifício do filho de Abraão, patriarca do povo judeu. O caso parece ficar encerrado quando um jovem professor universitário a lecionar numa das faculdades da cidade é acusado do homicídio. Mas é então que ocorrem outros crimes, recriando episódios bíblicos em circunstâncias cada vez mais macabras. E as dúvidas instalam-se. Estarão ou não estes acontecimentos relacionados? Porque insistirá a sua família em pedir ajuda a um antigo professor, ele próprio ainda em conflito com os seus próprios pecados? As autoridades contratam uma jovem profiler criminal para as ajudar a descobrir a verdade. Mas conseguirá esta mente brilhante ultrapassar o facto de também ela ter sido uma vítima no passado?

OPINIÃO: É sempre um orgulho quando lemos um autor português de inegável qualidade. Mesmo sendo mais modesto do que devia, Nuno Nepomuceno tem tido um percurso discreto, mas sólido. Começou a sua carreira enquanto autor ganhando um prémio literário, na altura para o primeiro livro da trilogia Freelancer – O Espião Português. Este seria o início de um crescendo constante, de um amadurecer narrativo a olhos vistos e, fechada a trilogia, em 2016 o autor confirmou-se como um mestre do thriller com o seu romance A Célula Adormecida. Os seus leitores são unânimes, Nuno Nepomuceno tornou-se num escritor tão capaz quanto querido para o seu público. Não será então de estranhar o burburinho que se faz sentir desde o início do ano, desde que se soube que viria nova obra – Pecados Santos. Com este escritor nunca nenhum livro é igual/parecido a outro e a sua capacidade para abordar termas tão diversos quanto interessantes é já uma característica admirável. Entremos neste universo de morte, fé, paixão e traição.

À semelhança do que escrevi na opinião do seu anterior romance, a escrita de Nuno Nepomuceno continua a evoluir e a tornar-se cada vez mais incontornável. O seu trabalho de pesquisa, rigoroso e bem documentado, entra nas suas narrativas de forma suave e extremamente apelativa. Sou suspeita, adoro tudo o que diga respeito a religiões e diferentes formas de fé, mas são poucos os autores que nos conseguem dar autênticas aulas sobre estes assuntos sem os tornarem maçadores. Agora imaginem começar um romance precisamente com uma aula sobre a divisão da linhagem de Abraão, mergulhando mais profundamente no judaísmo. Poderia parecer aborrecido, mas Nuno Nepomuceno teve a mestria de nos conduzir por esse caminho de forma extremamente gráfica e sedutora. O protagonista já é conhecido de quem leu A Célula Adormecida. Afonso Catalão volta a ser o centro da trama. Desta vez, mesmo sem perceber como, vê-se envolvido numa série de crimes aparentemente religiosos que estão ligados, pelo menos em parte, a uma pessoa do seu passado. Pessoa essa que vai desenterrar alguns dos seus demónios mais perturbadores. Afonso não teve uma vida propriamente despida de incidentes e estes voltam a assombrá-lo.

Não é necessário ler qualquer uma das outras obras publicadas anteriormente. Existem alguns cruzamentos de referências – incluindo um sentido de humor hilariante, pois o próprio autor é referido em certo ponto -, mas nada que nos deixe de alguma forma confusos ou perdidos. A estrutura narrativa impele o leitor a ler capítulo após capítulo, sempre com uma imagética bastante poderosa. As descrições são detalhadas e ricas em pormenores que nos transportam para as ruas de Londres, Lisboa e Jerusalém. Existem vários mistérios por desvendar, fazendo com que a nossa mente não pare de se questionar sobre inúmeras possibilidades. As emoções de cada personagem são bem exploradas e as dúvidas permanecem até ao fim. Fim esse que surpreende. Não tanto pelo desvendar do grande mistério, mas antes porque Nuno Nepomuceno dá mais um passo destemido na sua escrita revelando-se capaz de mortes impiedosas e inesperadas, que abrem novas portas para um próximo romance no universo de Afonso Catalão. Tudo é possível. Resumindo: Pecados Santos é uma obra de confirmação deste escritor português que já domina o género thriller em Portugal. Recomendo.

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Entrevista a Nuno Nepomuceno – Uma viagem a Pecados Santos – Morte, Fé, Sexo, Traição https://branmorrighan.com/2018/01/entrevista-nuno-nepomuceno-uma-viagem.html https://branmorrighan.com/2018/01/entrevista-nuno-nepomuceno-uma-viagem.html#respond Wed, 17 Jan 2018 08:59:00 +0000

Nuno Nepomuceno, escritor já bem conhecido aqui no blogue, apresenta na próxima semana o seu mais recente romance Pecados Santos. Já se encontra em pré-venda e estará disponível para compra a partir do dia 19 de Janeiro. Dado que o acompanho desde o início da sua carreira, esta era uma conversa que urgia acontecer. Relembro que logo nos primeiros dias de 2018, não só apresentei a Nova Imagem, Novo Romance, Nova Editora do autor, como também todo o percurso para cada etapa nos seus Diários de Bordo. Segue a entrevista. Brevemente escreverei também a opinião do livro. 

Podemos dizer que a tua carreira literária, composta por uma trilogia e um romance a solo, tem sido em crescendo. Que balanço é que fazes da trilogia Freelancer e d’A Célula Adormecida?

Positivo, felizmente. Há dois livros que destaco. O Espião Português, porque foi um êxito comercial inesperado, tendo já vendido mais de 4000 exemplares. Em Portugal, tudo o que superar a marca dos 1500 é considerado um grande sucesso.

E depois há A Célula Adormecida. Considero que beneficiou da experiência que adquiri com a trilogia, mostrando um escritor mais maduro, para além do reconhecimento que me trouxe. Há um antes e um depois na minha carreira marcado pela edição desse livro.

Está prestes a sair um novo romance que promete dar que falar. O que é que nos podes desvendar sobre ele?

Trata-se de um thriller passado no seio das comunidades judaicas de Londres e Lisboa, onde uma série de homicídios inspirada em episódios bíblicos começa a ocorrer. Mas não vai ser a intriga ou as descrições dos crimes que irão dar destaque ao livro. A narrativa é muito forte e integra capítulos de grande violência psicológica e sexual.

Antes de mergulharmos no livro em si, o processo até este estar terminado foi tudo menos linear. Mudaste de editora, vais ter um site novo, uma imagem nova. Está a ser fácil esta transição?

Tem sido suave e compensatória. A Cultura Editora, apesar de ser uma chancela recente, é liderada por uma equipa muito experiente e profissional, que tudo tem feito para corresponder às minhas necessidades enquanto autor do livro. Acho que cheguei finalmente a casa.

A renovação da minha imagem e site tem dado um pouco mais de trabalho, pois exigiu várias reuniões e deslocações, mas já terminou. Os resultados falam por si. Eu nunca fui tão popular como neste momento e estou grato aos profissionais que me acompanham atualmente, não só pela competência que têm, mas pela inspiração que me dão, motivando-me a fazer ainda melhor e a exigir mais de mim.

Pelos Diários de Bordo publicados, dá para ver que tens sempre um processo criativo muito preciso e organizado. Queres partilhar com os teus leitores as tuas bengalas na escrita dos teus romances?

Não considero ser possível ensinar alguém a escrever um livro. Cada um tem o seu método e ou sabemos intimamente o que fazer, ou nem vale a pena tentarmos. Julgo ser esse o mal de todos aqueles que não acabam ou não publicam. Não se pode partir para a redação de um livro a achar que vai ser fácil ou sem ter uma noção concreta de o que se quer fazer

A partir daí, para mim, tudo começa com a pesquisa. Tenho uma ideia, junto-lhe um título e vou aprofundar o conceito que tenho dentro da minha cabeça. Findo este processo, arranco com outro, ou seja, visitar os locais que escolho para a ação, se não os conhecer já. Isso, normalmente, traz-me logo algumas imagens. E depois começo a escrever. Redijo, reescrevo, corto, mudo, edito, revejo e avanço. Não desisto até estar satisfeito.

Ficas muito desamparado quando há algo que não corre como o previsto?

Os meus livros fazem parte de mim e cada obstáculo com o qual me deparo dói sempre muito. Mas celebrei recentemente 5 anos de carreira e com o tempo tenho aprendido a lidar com isso, a ignorar o que não passa de ruído.

Como é que acabaste por conseguir escrever este teu último livro dentro do prazo que tinhas estipulado, se umas semanas antes te parecia impossível?

Acho que a minha experiência acabou por ser fundamental. Tenho o meu método, no qual confio, e não permito desvios. Apesar de me ter atrasado, eu sabia que iria progredir mais depressa na 2ª parte do livro, pois tal acontecera sempre anteriormente. O mais complexo é construir a casa. Se as fundações foram bem executadas, fechá-la e acabá-la poderá tornar-se extremamente simples. E depois existiu outro fator, o qual foi preponderante. O facto de ter optado por narrativas diferentes e mais ousadas, motivou-me. E isso é essencial na superação.

Mergulhando agora em Pecados Santos, quais os maiores desafios que encontraste ao escrevê-lo?Encontrar motivação. Acho que sou um escritor que tem apresentado sempre livros com qualidade e que tem feito um esforço para não repetir fórmulas. Tu própria reconheceste isso quando leste A Célula Adormecida, o quão inovador era. Mas ver o nosso trabalho partir constantemente em desvantagem face à concorrência só porque esta vem de fora e eu sou português, pode tornar-se difícil de enfrentar. Entre um thriller meu e o de um autor estrangeiro, a maioria dos leitores irá preferir comprar o segundo, apesar de muitas vezes nem sequer ter alguma vez ouvido falar no escritor. Nós achamos sempre que o que fazemos é de qualidade inferior.

Nenhum dos teus outros romances tem essa componente de violência psicológica e sexual tão desenvolvida. Que reação esperas dos teus leitores?

Será uma surpresa, pois tenho uma imagem discreta, de alguém que não é transgressor, mas acho que vão gostar. Não se trata de erotismo ou violência gratuita. São momentos catalisadores da ação, que a fazem avançar, que motivam as personagens a agir ou evoluir. Gosto de pensar que qualquer leitor aprecia um livro com personagens bem desenvolvidas. A minha intenção foi apenas essa, enriquecer a intriga, oferecendo-lhe novas dimensões. Poderei estar a chocar algumas pessoas, mas na realidade não trago qualquer novidade. Todos sabemos que o ser humano é capaz de uma crueldade indiscritível.

Achas que esta introdução na tua escrita mostra outra faceta de ti enquanto escritor?

Sim, mais uma. Julgo que nunca irei copiar o modelo que utilizei no livro anterior para redigir o seguinte. Não acredito nisso. Para mim, a escrita tem de ser motivadora, desafiante. E eu quero que os meus leitores sintam que são fãs de um escritor imprevisível, que a qualquer momento poderá surgir com algo completamente inesperado.

De onde vem o teu interesse pela religião?

Tem sido uma oportunidade de aprendizagem, sobretudo. Sejamos nós crentes ou não, a religião faz parte das nossas vidas. Há todo um conjunto de referências com as quais convivemos diariamente e que não compreendemos na íntegra. Para escrever sobre elas, e assim perceber melhor a sociedade em que me insiro, tive de as estudar primeiro. De uma certa forma, escrever sobre religião é uma forma de me tornar numa pessoa melhor.

O que é que te tem motivado a escrever neste tema?

A noção de que, ao fazê-lo, estarei a contribuir para a informação dos meus leitores. Poderei tocar muitos ou quase nenhuns, mas se o conseguir fazer com alguém, já será suficiente para mim. Para além de que os thrillers religiosos são um género que sempre me atraiu. Poder transportar este tipo de elementos para um livro meu é um desafio.

Os teus livros acabam por ser uma forma interessante e empolgante de saber factos históricos e referências religiosas. Achas que é importante as pessoas terem consciência das diferenças entre as diversas religiões?

Muito, sim. Se pensarmos bem, grande parte dos conflitos que persistem atualmente têm origem em diferentes fés. É o caso da Guerra Civil na Síria ou da tensão existente em Israel, o que depois tem repercussões a outros níveis com efeito direto no Ocidente, como os movimentos migratórios no presente ou a 2ª Guerra Mundial no passado. Ao mostrar o que é na realidade o verdadeiro Islão, como fiz com A Célula Adormecida, ou ao desmistificar a crença judaica, como faço agora com Pecados Santos, espero contribuir para que as pessoas se tornem mais esclarecidas e, como tal, mais tolerantes. Há demasiado ódio na nossa sociedade.

És um homem religioso?

Fui educado de forma católica, tal como a maioria de nós, portugueses, e acredito na existência de Deus. Atualmente frequento a igreja apenas em ocasiões especiais, como cerimónias, embora tente reger a minha vida e o meu comportamento de acordo com a educação que me foi dada.

O que é que os corvos, que por norma estão mais ligados ao paganismo, realmente significam para ti?

É uma pergunta curiosa, esta. Para mim, são apenas aves. Vejo-as com frequência na zona onde resido, a voar em círculos sobre as casas ou pousadas nos campos. Para Afonso, o protagonista dos meus dois últimos livros, é mais como um mau presságio. Os corvos marcam episódios traumáticos da vida deste homem. O professor Catalão sente-se intimidado por eles.

Quanto de ti tem o protagonista?

Pouco ou quase nada. Há sempre um ou outro ponto de contacto, que poderei ter introduzido em momentos de menor inspiração, mas com o tempo tenho aprendido a manter um certo distanciamento. Escrever é menos doloroso assim.

Não podia terminar esta entrevista sem referir um ser que já quase todos os teus leitores conheceram ou viram em alguma fotografia. Tens um patudinho muito bonito contigo, o Kimi. Que papel é que ele tem tido na tua vida tão atribulada entre o trabalho e a escrita? Ele deixa-te escrever sossegado ou anda sempre à tua volta?”

Eu resido numa vivenda e o Kimi fica na rua. Costumo dizer que assim, cada um tem a sua casa e o seu espaço. Como escrevo sempre com o apoio de alguns documentos em papel, como apontamentos de pesquisa ou sobre o enredo do livro, trabalhar no exterior não se torna muito prático. Faço-o dentro de casa, sendo, por isso, mais fácil concentrar-me. Mas normalmente, se tenho o dia todo para escrever, acabo por ir realizando vários intervalos, durante os quais lhe dou atenção. Às vezes não consigo e tenho de regressar ao trabalho, porque ele está a dormir. Como é novinho e tem alguma dificuldade em estar sossegado, faz muitas sestas.

Por outro lado, também reorganizei as minhas rotinas diárias desde que o trouxe para casa. Passei a levantar-me mais cedo para o poder passear de manhã e ficar com algum tempo livre para trabalhar, além de ter abdicado da prática desportiva, que faço atualmente com menos regularidade. São opções que mudaram o meu estilo de vida, mas das quais não me arrependo. Trata-se de um cão muito afetivo, que faz imensa companhia. 

E agora aquela pergunta da praxe. Apesar de este romance não estar sequer apresentado, já tens ideias para um novo? Ou vais esperar para ver como este é acolhido?

Já. Mantenho um bloco de notas onde registo algumas das ideias que vou tendo, o qual já tem algumas páginas preenchidas. Algumas delas poderão ser aproveitadas, outras até mesmo descartadas. Mas ainda não tomei qualquer decisão, além de que, findo o período mais intenso de promoção a este livro, irei tirar alguns meses para descansar, nos quais nem sequer irei fazer pesquisa. Pecados Santos deixou-me exausto. É um livro muito intenso. E eu sinto que não tenho mais nada a provar.

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[Diário de Bordo] E já temos duas semanas de 2018 https://branmorrighan.com/2018/01/diario-de-bordo-e-ja-temos-duas-semanas.html https://branmorrighan.com/2018/01/diario-de-bordo-e-ja-temos-duas-semanas.html#respond Sun, 14 Jan 2018 18:43:00 +0000

2018 começou e dei conta que ainda não tinha escrito nenhum Diário de Bordo. Aliás, já passou a primeira festa de aniversário e eu ainda não tive oportunidade de me sentar como deve ser e escrever sobre essa noite que foi tão bonita. A ver se o faço entretanto, quanto mais não seja para ficar aqui registado para recordar mais tarde. Se 2017 já tinha sido de percalços e milhentos afazeres, 2018 não começou mais meiguinho. A primeira semana foi a euforia total para conseguir que tudo corresse bem no aniversário do blogue, ao mesmo tempo que recomeçava a alinhavar a minha vida no doutoramento. Estou a atrasar-me um pouco mais do que queria numa das tarefas que tenho, o que não é muito bom. Nesta última semana tenho tentado correr atrás do prejuízo. Algumas coisas avançaram, outras nem tanto, mas sinto que tenho feito o melhor que consigo dentro do possível. Às vezes isso tem que chegar, não é? Não sermos super-heróis é uma realidade da qual temos que ter noção. Não ser preguiçoso, mas também perceber que nem sempre é possível concretizar as mil e uma tarefas que gostávamos. Adiante! 

Estou muito contente com a receptividade à iniciativa com o escritor Nuno Nepomuceno. O post “Nova Imagem, Novo Romance, Nova Editora” tornou-se, com ligação de link directo, a segunda publicação mais visualizada de sempre! Os restantes diários de bordo, apesar de não tão visualizados, também têm sido um sucesso e tem sido bom o feedback dos leitores nas redes sociais. Tenho de desafiar mais escritores a fazerem coisas destas quando estiverem para escrever romances novos! Eu adorei e acho uma excelente forma de não só saciar a curiosidade dos leitores que seguem estes escritores como ainda de conquistar outros tantos pela primeira vez. Brevemente vai sair também uma entrevista com o autor, por isso fiquem atentos. 

Continuando na literatura, deixei muitas das minhas leituras do ano passado sem opinião escrita. Vou tentar, entretanto, colocar umas quantas em dia. Esta semana, vai-se lá saber por que milagre, consegui publicar três opiniões, o que para mim foi uma conquista! Na página do blogue no Facebook andei a perguntar por desafios literários (espreitem, tem lá uns quantos muito engraçados), na esperança de me desafiar a ler mais e diferente, mas cheguei à conclusão – como sempre – que com a vida que levo e com os meus humores sempre muito específicos que sou uma leitora indisciplinada. Talvez no final do ano tente fazer check às listas e ver se, sem querer, acabei por cumprir com algum dos desafios literários. 

Ainda se lembram d’#ocaobran? Está e n o r m e! Como no final do ano passado fiquei sem o meu telemóvel que até tirava fotografias decentes, ultimamente não lhe tenho tirado fotografias para vos mostrar. No entanto, reparem no seguinte. O Bran veio para nós no dia 21 de Novembro. Pesava 890g e tinha cerca de um mês. Há uma semana, no dia 8 de Janeiro, fomos novamente com ele ao veterinário, para apanha a segunda vacina e assim poder ir à rua, e já pesava 5,2kg. Claro que, para a semana, quando fizer três meses já ultrapassou os 6kg… Quando os meus pais o foram buscar (tinha então sido abandonado com outros nove irmãos numas sarjetas de umas obras na Amadora), sem pensar duas vezes dada a situação, não sabíamos bem o que iria sair dali. Sem mãe por perto e claramente rafeiros, estes cãezinhos tanto podiam vir a ser pequeninos como enormes. Bem, uma coisa é certa, pelo menos entre 12kg a 14kg vai ter de certeza, segundo o veterinário. Este fim-de-semana foi à rua pela primeira vez e o que nos rimos com ele. Primeiro, porque ainda é um autêntico bebé e tem medo de tudo. Depois, pelo entusiasmo e pelas novidades todas que descobriu. Como é a primeira vez que tenho um cãozinho, tudo isto está a ter a sua dose de divertimento e fascínio. Aliás, enquanto vos escrevo ele está cá em minha casa e a colocar a cabeça no teclado enquanto dorme (estou a escrever sentada no sofá com ele supostamente ao lado). Quando não é a cabeça é a pata, por isso tentar escrever ou trabalhar ao lado dele, mesmo que esteja a dormir, é sempre uma aventura. 

E, uau, já escrevi imenso, quando a intenção inicial era só dizer que estou viva e que quero muito trazer-vos conteúdo fresco em 2018. A Ana Cláudia Silva (na secção de Convidados) também voltou com os seus textos, o Paulo André Cecílio vai continuar com as suas crónicas mensais, e espero, brevemente, voltar às entrevistas mais intimistas com escritores e músicos. No que toca a leituras, estou agora com Pecados Santos, do Nuno Nepomuceno, mas já tenho uns quantos na lista para ler a seguir: Homo Deus, Irmão de Gelo, O Mito da Singularidade, O Livro do Pó, Limões na Madrugada, Manobras de Guerrilha e Goeth – O Eterno Amador! Isto para não mencionar as novidades Porto Editora que chegaram cá a casa e que ainda hei-de partilhar convosco! Bem, vamos lá um dia de cada vez 🙂 

Grande abraço e tenham uma excelente semana!

PS: Ontem o meu melhor amigo fez anos. É daquelas pessoas que sei que, mesmo não estando muitas vezes com ele, vai estar sempre lá para mim. Obrigada, NC, por fazeres parte da minha vida És o melhor.

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