Reportagem – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Wed, 14 Aug 2024 09:02:01 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.2 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Reportagem – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 Jazz em Agosto 2024 – As mãos dele são barcos [The Locals] https://branmorrighan.com/2024/08/jazz-em-agosto-2024-as-maos-dele-sao-barcos-the-locals.html https://branmorrighan.com/2024/08/jazz-em-agosto-2024-as-maos-dele-sao-barcos-the-locals.html#respond Wed, 14 Aug 2024 08:59:07 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25536 Jazz em Agosto 2024 – As mãos dele são barcos [The Locals]

A noite de dia 9 de Agosto foi dedicada à música de Anthony Braxton, reinventada pelo quinteto The Locals, com Pat Thomas e Alex Ward a liderarem uma noite surpreendente. Uma roupagem servida por batida Funk, acabava por desvendar a complexidade do compositor de Chicago. Mas aí, já estávamos todos rendidos…

Texto: João Morales

Fotos: Vera Marmelo/ Gulbenkian Música

Como tinha anunciado, a presença do Blog Bran Morrighan no Jazz em Agosto 2024 foi um bocadinho “de fugida”, mas concertos como este fazem justiça à qualidade habitual do certame que, recorde-se em abono do merecido elogio, completa este ano quatro décadas de um metódico, insistente e coerente percurso, desde a sua edição inicial, composta apenas por projectos nacionais, desbravando a partir daí a imensa paisagem que brota das fusões e derivações a que um género musical desta natureza sempre esteve assumidamente sujeito. Uma palavra de apreço a todos os programadores que desenharam estes 40 anos e, naturalmente, a casa que acolhe o encontro, cujos nomes já se confundem pela sua natural predisposição para uma atenção constante à actualidade à memória.

Passemos então ao concerto da noite e 9 de Agosto. Mal começa o primeiro tema, entendemos que a música em questão vive de dois factores: por um lado, a riqueza das composições de Anthony Braxton, o padroeiro cujas composições estão na origem e na energia que move este quinteto, por outro, a sombra de um certo Funk, constante e assaz flexível, que transporta estes temas para um novo universo, proporcionado terreno fértil para a versatilidades dos músicos agrupados, The Locals.

O projecto (fixado em CD em 2021, “Plays the Music of Anthony Braxton”, embora se trate de uma gravação ao vivo de 2006) surge com o nome de Pat Thomas à cabeça, histórico pianista fortemente influenciado pelo jazz mais livre (nasceu em 1960), que já se cruzou com músicos como Lol Coxhill, Steve Beresford, Thurston Moore, Phil Minton ou Eugene Chadbourne. Já passou mais que uma vez pelo Jazz em Agosto, sendo as presenças mais recentes com o quarteto Ahmed, em 2022, e integrado no Trance Map +, de Evan Parker, no ano seguinte.

Thomas é de uma agilidade assinalável, as suas mãos percorrem o teclado com mestria, esquerda e direita trocam facilmente de posicionamento, vagueiam ou matraqueiam o teclado com o primor de quem sabe bem em que águas navega. As suas mãos são barcos, conhecedores das marés em que se movem, ditando mesmo a cadência das vagas, quando necessário. Nota-se bem uma sabedoria antiga, no discurso musical, na escolha dos momentos para abrir “hostilidades”, acolher “consensos”, promover conjugações.

Contudo, há um outro elemento fundamental para o sucesso desta ideia feita grupo que, não só sublinha, mais uma vez, a riqueza da escrita de um dos fundadores da mítica Association For the Advancement os Creative Musicians (AACM), na década de 60 do séc XX, como transporta essa mesma música para uma dimensão distinta, marcada por uma secção rítmica rígida (mas atenta e competente), trazendo consigo heranças de outras famílias sonoras, como o Harmolodics ou o M-base – sendo, necessariamente, uma coisa diferente.

E esse elemento é o magnífico clarinetista Alex Ward (n. 1974). Com 12 anos de idade conheceu Derek Bailey, uma das sumidades da nova música improvisada, no ano seguinte tocou com ele (na lendária formação variável Company) e, em 1991, grava o seu primeiro disco, com o percussionista Steve Noble, justamente na Incus, a chancela de Bailey. Descubram-no em The Convergence Quartet; Son/ Dance (Clean Feed; 2010)

Ward solou com toda a elegância ao longo da noite, integrando o seu discurso em momentos imbuídos de um certo Free-Funk, ou Funk-Rock, em passagens herdeiras de um reggae bastante artesanal (como no último tema, antes do encore), em trocas de galhardetes com o piano de Thomas ou a secção rítmica (em especial a guitarra de Evan Thomas), em sequências de exploração colectiva que traziam de novo à tona a essência experimentalista que move estes homens (como o encore, que começou com uma balada, para derivar rapidamente em cascata de várias frentes), ou deambulando em contramão com a simplicidade aparente que o invólucro sabiamente potencia.

O quinteto tocou cinco temas, mais um encore, tendo o baixista Dominic Lash (n. 1980, com um percurso que engloba prestações com John Butcher, Evan Parker, Joe Morris ou o histórico Tony Conrad, nome maior do minimalismo) trocado o eléctrico pelo contrabaixo em duas das faixas, curiosamente, mostrando-se mais flexível nesse registo. A formação foi completada com o baterista Darren Hasson-Davis, figura com um percurso essencialmente académico, no ensino de bateria.

No final, perante uma audiência alargada, cinco homens demonstraram como a música permite várias abordagens a uma mesma composição, como o essencial se prende com a alegria da comunhão e como nunca estão esgotadas as vias de acesso a um estilo ou um músico. Pelo menos, para quem conhece bem as águas em que navega.

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Jazz em Agosto 2024 – Um corpo colectivo [dieb13 Beatnik Manifesto] https://branmorrighan.com/2024/08/jazz-em-agosto-2024-um-corpo-colectivo-dieb13-beatnik-manifesto.html https://branmorrighan.com/2024/08/jazz-em-agosto-2024-um-corpo-colectivo-dieb13-beatnik-manifesto.html#respond Wed, 14 Aug 2024 08:54:29 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25529 Jazz em Agosto 2024 – Um corpo colectivo [dieb13 Beatnik Manifesto]

Se a beat generation assentou na glorificação do individuo, este Beatanik Manifesto inverte os pressupostos e faz do som colectivo, da orquestração, a sua mais-valia.

Texto: João Morales

Fotos: Vera Marmelo/ Gulbenkian Música

Quando pensamos em Beatnik, a imagem que nos ocorre é de um indivíduo – viajante, bardo, aventureiro – mas um indivíduo. O projecto Beatnik Manifesto, concebido e coordenado por dieb13, assenta precisamente num pressuposto invertido, ou seja, ao longo do espectáculo o que sobressai é a dinâmica colectiva, a sonoridade obtida pela conjugação do extenso leque de músicos e a dimensão quase maquinal que se obtém com esse efeito. O simples facto de não ter sido dirigida ao público uma única palavra, entre o início e o final do concerto, bem como a ausência de qualquer apresentação dos músicos, não parece ser casual, antes acentua essa mesma construção.

Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, final da tarde de dia 9 de Agosto. O palco encontra-se repleto, são 14 músicos, incluindo dieb13, responsável pela composição desta peça (distribuída por vários movimentos), montagem das imagens de vídeo a que vamos assistindo e manipulação de um gira-discos. Este austríaco (cujo nome é Dieter Kovačič) tem trabalhado em colaboração com diversos nomes da vanguarda do Jazz, como John Butcher, Mats Gustafsson ou Günter Müller.

A orgânica desta pequena orquestra assenta na repetição de instrumentos: duas baterias, dois contrabaixos, duas guitarras eléctricas, dois clarinetes-baixo e um sax alto, dois manipuladores de electrónica. E uma dupla de vozes ao centro: Karolina Preuschl e o histórico Phil Minton (nome que se associa rapidamente a Mike Westbrook, Veryan Weston ou Roger Turner). Logo a abrir surgem palavras na tela que ajudam a contextualizar: Beatniks We Are. A voz que ouvimos é a de Minton e, sobre um crescendo dos sopros, demonstra um pouco das suas capacidades, começando pela leitura (ora suave, ora quase gritada), fazendo brotar perante os nossos olhos figuras que remetem para o universo do cartoon, sussurrando, graduando a cadência da respiração, percorrendo um manancial de efeitos torácicos que só ele conhece.

As imagens vão surgindo na tela, ora um cenário marinho e as suas vagas, ora rostos como os de Donald Trump ou Allen Ginsberg, ora animais fosforescentes. As duplas de instrumentos semelhantes dão, várias vezes, azo a diálogos mais ou menos frenéticos, como foi a dupla de guitarras eléctricas de Sandy Ewen e Finn Loxbo, ou as baterias de Erik Carlsson e Camille Émaille.

A composição que vai avançado assenta nas suas possibilidades orquestrais, sendo que o factor de improvisação está também presente de forma mais ou menos constante, embora sem que seja o de maior evidência. Ou seja, por cima da conjuntura colectiva vão discorrendo os diferentes naipes e, aí sim, há margem de manobra para confrontar o material já composto.

Há vários momentos de maior intensidade, como o despique entre os três instrumentos de palheta, a passagem em que os Karollina e Minton vocalistas assobiam com o nariz tapado, criando efeitos incríveis, a dinâmica entre declamação, quase no domínio da acalmia, e uma intervenção das vozes mais aguerrida (Minton esteve igual a si mesmo, com os trejeitos de corpo, o jogo de aproximação/ afastamento ao microfone e a sábia gestão de inspiração e expiração).

Uma pequena nota para reflectir sobre uma opção – legítima – que tem vindo a ganhar terreno em alguns locais de concertos (que a não tinham). Durante anos habituámo-nos a encontrar uma folha de sala, não apenas com informação referente aos músicos envolventes e respectiva instrumentação, mas também algumas considerações/ contextualização sobre o que vamos e ouvir. Numa lógica de sustentabilidade ambiental, várias são as instituições que abandoam a criação e difusão dessa mesma folha. Contudo, seria de reflectir sobre a pertinência da sua permanência.

A energia colectiva gerada pelas dinâmicas conduzidas por dieb13 resulta com eficácia em cada movimento, talvez falhando um pouco a noção de globalidade, a ligação entre as várias partes. Há um regular fluxo de tensão que não cede a repetições ou lugares-comuns, demonstrando uma vitalidade assinalável, explorando caminhos nem novas incursões na tantas vezes designada terceira via, ou seja, a confluência entre música composta e o espaço destinado a acolher a perspectiva individual que significa a improvisação. No fundo, como o Jazz tantas vezes tem feito ao longo da História.

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[Reportagem MDX] A Estreia Catártica de The Pineapple Thief em Portugal e a Magia Progressiva de um Concerto Memorável https://branmorrighan.com/2024/03/reportagem-mdx-a-estreia-catartica-de-the-pineapple-thief-em-portugal-e-a-magia-progressiva-de-um-concerto-memoravel.html https://branmorrighan.com/2024/03/reportagem-mdx-a-estreia-catartica-de-the-pineapple-thief-em-portugal-e-a-magia-progressiva-de-um-concerto-memoravel.html#comments Sat, 16 Mar 2024 14:33:12 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25513

Reportagem original: https://www.musicaemdx.pt/2024/03/05/a-estreia-catartica-de-the-pineapple-thief-em-portugal-e-a-magia-progressiva-de-um-concerto-memoravel/

Faz já quase duas semanas que me desloquei ao Lisboa ao Vivo para ver The Pineapple Thief, banda que conheci há já 16 anos atrás e que nunca tinha oportunidade de ver. Confesso que fiquei espantada com a sala completamente cheia e com fãs tão entusiastas quando na verdade não conheço quase ninguém que também seja fã da banda. Mas a espera valeu completamente a pena e foi um dos melhores concertos a que fui nos últimos tempos! Deixo-vos com o texto que escrevi para a família no Música em DX e com a playlist do concerto! As duas fotografias são do meu telemóvel.

Noite de domingo, noite de clássico no futebol, mas nada disso intimidou quem se deslocou ao Lisboa ao Vivo com casa cheia para homenagear os vencedores da noite – The Pineapple Thief! O espetáculo, com início marcado para as 20h30 e abertura de Randy McStine, prometia uma noite memorável. Às 20h15, ainda se via uma fila extensa à porta, enquanto no interior a sala já fervilhava de entusiasmo, marcando a estreia da banda britânica em solo português. A espera, embora longa, revelou-se insignificante perante a experiência única que se desenrolou, alimentando a esperança de um rápido regresso.

Com a pontualidade britânica, Randy McStine subiu ao palco munido da sua guitarra e loop station, entrelaçando as suas canções e colaborações com mestria, aquecendo a audiência com uma voz potente e vibrante. O seu último disco, Unintentional, foi lançado em Dezembro de 2023 e o artista americano conta já com 12 lançamentos na plataforma bandcamp. A sua simpatia e a sua disponibilidade para interagir com o público e vender o seu próprio merchandising deixou-nos cativados. Terminada a sua bela actuação, era palpável a expectativa crescente para os The Pineapple Thief.

Bruce Soord, vocalista e guitarrista, iniciou o projecto há já 25 anos atrás, tornando a banda numa das referências de rock progressivo internacionais. Acompanhado por Jon Skyes há mais de duas décadas no baixo, a formação actual conta também como membros fixos Steve Kitch nos teclados e Gavin Harrison na bateria, este último reconhecido também pelos Porcupine Tree (banda que tive o prazer de ver no Incrível Almadense em 2008!). Ao vivo, a banda tem-se feito acompanhar de Beren Matthews na guitarra e voz, tendo também contribuído com as mesmas em algumas partes nas gravações do último It Leads to This.

O quinteto sobe ao palco perante um público já efusivo, demonstrando já a sua expectativa.. Mesmo com expectativas elevadas, bastou o primeiro tema, “The Frost”, para rapidamente superá-las. A magia dos discos transformou-se em energia visceral ao vivo. A sinergia entre os músicos criou uma atmosfera libertadora, projetando ao mesmo tempo uma ligação crescente com a plateia que não hesitou em expressar o seu fervor.

O alinhamento da noite levou-nos por uma viagem de emoções fortes. Em canções como “Our Mire”, “Version of the Truth”, ou “Rubicon”, mas também como tema geral do concerto, testemunhámos o talento conquistador da banda, com uma bateria comandante, teclado envolvente, baixo dançante e pulsante, guitarras cavalgantes e a voz liderante de Bruce Soord irrepreensível. A performance da banda, a dança entre os elementos, os momentos mais calmos alternados com momentos explosivos, os solos mais vibrantes de Beren Matthews a complementarem a personalidade da banda, tornou toda a experiência catártica. 

Para além de temas do último disco e de Version of Truth, a banda tocou ainda dois temas de Give it Back (uma colecção de temas anteriores agora regravados também com as contribuições poderosas de Gavin Harrison) e “The Final Thing on My Mind”, do disco The Wilderness, que encerrou o set principal. Este último tema é um dos meus preferidos da banda e foi um privilégio vê-los a construir a narrativa com momentos sublimes e arrebatadores, e com uma carga emocional muito própria. Acredito que por esta altura a banda também já estava completamente rendida ao público português, o que tornou o momento muito genuíno. 

Felizmente a espera para o encore foi curtinha, e a banda voltou com “In Exile” e “Alone at Sea”. Confesso que soube a pouco, mas apenas porque foi uma noite tão bonita. Para quem tem acompanhado a banda, penso que fica a curiosidade dos primeiros tempos ao vivo e a vontade de não ficar muitos mais anos sem os ver novamente. Guardo um respeito e admiração enormes por este projecto, pela sua evolução sonora e lírica, que também reflectem as várias fases de vida e de intimidade, o que permite a quem ouve poder libertar alguns dos seus próprios “Demons”. Resumindo, queremos mais.

Mais novidades: https://branmorrighan.com/categoria/musica

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[Diário de Bordo] Escrevendo sobre o Tim Bernardes para o Música em DX https://branmorrighan.com/2024/02/diario-de-bordo-escrevendo-sobre-o-tim-bernardes-para-o-musica-em-dx.html https://branmorrighan.com/2024/02/diario-de-bordo-escrevendo-sobre-o-tim-bernardes-para-o-musica-em-dx.html#respond Wed, 28 Feb 2024 19:35:23 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25502 Meus queridos leitores,

Como estão? Tenho andado a ameaçar que volto e depois não acontece, ou acontece muito devagarinho, nos bastidores. No entanto, no início do mês aventurei-me a juntar-me aos nossos amigos no Música em DX para escrever, pela primeira vez em quase cinco anos!, sobre um concerto. Fui verificar e o último texto tinha sido do enorme Olafur Arnolds!

Volta e meia vou a outros concertos, mas não tenho escrito sobre os mesmos. Este ano, a disponibilidade permitindo, conto pelo menos tentar fazê-lo de vez em quando. A família MDX não se importa de me ter de volta e dá-me motivação extra! Afinal tenho estado fora do circuito há algum tempo, mas o gosto pela música, se possível, só cresceu.

Quando vi o anúncio do concerto do Tim Bernardes, ainda nem sequer tinha ouvido o seu último disco Mil Coisas Invisíveis. Na verdade, conheci o Tim já em 2017 com O Terno! Já na altura tinha ficado com aquela sensação de quentinho e de serem uma banda tão querida, que achei que esta era uma excelente oportunidade para ver o Tim novamente, agora a solo.

Enviei a minha disponibilidade ainda antes de ouvir o disco. Tive a sensação que seria uma aposta segura. Para os leitores mais antigos, vocês sabem que eu escolho a dedo sobre o que escrevo. O meu tipo de escrita não dá muita flexibilidade para escrever sobre coisas que não me dizem nada ao coração. Já aconteceu, e consigo escrever sobre a qualidade de algo, mas é tão mais belo quando levitamos não só durante o concerto como durante a escrita.

Escrever novamente para o Música em DX (obrigada mais uma vez, família!) foi como sair de mim mesma durante um par de horas para mergulhar numa dimensão que misturou a minha experiência durante o concerto, o quanto as canções de Tim na verdade me dizem, e o quanto foi catártico no final juntar as duas coisas e ter novamente um texto cá fora.

Quando criei o rascunho deste post, a minha intenção era só copiar aqui o texto da reportagem (como podem ver no final do post), mas entretanto já me estou a esticar! Ainda assim, não quero carregar Publicar sem mencionar que para além de vos agradecer lerem o meu texto, sugiro que ouçam o disco do Tim Bernardes. Eu não estava à espera que me tocasse tanto, que me identificasse tanto com tantas canções e a sua performance ao vivo — um pequeno gigante sozinho num palco que a certa altura parecia não ser suficiente para a sua alma — levou-me às lágrimas mais do que uma vez.

Deixo-vos com o link para o MDX, no final deste post está a playlist do concerto e, com sorte, falamos em breve? Obrigada pelos comentários recentes em posts anteriores. Fico-vos muito grata pelo vosso carinho! Até breve!

Reportagem original em: https://www.musicaemdx.pt/2024/02/03/o-carisma-e-a-humildade-de-tim-bernardes-no-coliseu-dos-recreios/

Estamos em 2017 e eu ouço falar nesta banda brasileira chamada O Terno que iria actuar brevemente no Musicbox. E lá estava eu, e talvez muitos de vós, a conhecer uma banda pela qual foi tão fácil ganhar carinho pela simplicidade, cumplicidade e boa energia. Ao mesmo tempo, Tim Bernardes, um dos membros da banda, lança o seu primeiro disco a solo “Recomeçar”. Avançamos para o presente, 1 de Fevereiro de 2024, e Tim Bernardes enche duas datas no Coliseu de Lisboa para nos brindar novamente com o seu último disco “Mil Coisas Invisíveis”, mas também com temas do disco anterior, algumas de O Terno, canções que escreveu para outros artistas e ainda uma cover de Bob Dylan. 

As luzes baixam, e com uma voz vibrante, com um laivo de timidez, mas ousada, Tim Bernardes abre a noite com o primeiro tema do seu mais recente álbum Nascer, Viver, Morrer. E logo aqui percebemos porque é que Tim Bernardes enche o coliseu de forma tão fácil – os seus discos são belos, mas o poder da sua voz, da sua presença, e do seu sorriso tão genuíno, conquista-nos facilmente. A partir daquele momento, as nossas emoções já não são bem nossas, mas antes um reflexo da narrativa que Tim Bernardes nos traz com as suas canções. 

Esta viagem – com referências a Fernando Pessoa, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, entre outros – torna-se muito pessoal à medida que vamos de canção em canção, ora ao som de uma das suas guitarras, ora ao som do piano. É impossível não sorrir, ou até não largar uma lágrima aqui e ali, quando Tim Bernardes projecta a sua voz em canções como Realmente Lindo ou Velha Amiga. Quando Tim Bernardes referiu a sua admiração pelo Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, referindo que ele próprio sentia que era ele que estava ali naquelas páginas, há um momento de compreensão silencioso sobre o processo criativo e de onde vem parte da alquimia da escrita das suas canções.

Chega a vez de Melhor do Que Parece, do reportório de O Terno, e a reação do público foi de reconhecimento e carinho pela banda do cantor. Não foi raro ao longo do concerto ouvir ecos e o público a cantar com Tim Bernardes, mas o que me admirou mais, porque obviamente era um público entusiasta e conhecedor, foi o respeito pelo silêncio e pela solenidade da maior parte das canções. A sequência das canções Última Vez e até Esse Ar (uma canção sobre a lua!) trouxe um momento mais solene, apropriado para potenciais corações partidos em recuperação. 

O que mais me fascina no Tim Bernardes, é que ele é muito mais do que um cantor de canções românticas – ele vai ao âmago dos caminhos intrincados do nosso crescimento num mundo em constante mudança, expondo uma vulnerabilidade que todos sentimos e poucos conseguimos expressar. A sua humildade e o seu sorriso radiante, dão esperança a quem tem o privilégio de se sentar e partilhar estes momentos íntimos que é expor os seus pensamentos numa das salas mais emblemáticas de Portugal. Em cada interação entre Tim e o público houve uma troca de carinho muito grande, com o músico brasileiro a expressar a sua gratidão por estar ali, após ter passado também pelo Porto. 

O fim do concerto aproxima-se com o início d’A Balada de Tim Bernardes, uma canção que nos lembra que mesmo no meio de desafios, porque não cantar? Termina com Recomeçar, do seu primeiro disco a solo, fechando uma viagem que foi uma espécie de psicoterapia musical, em que Tim deu voz e som a um espectro de emoções, equilibrando entre o humor e a genuinidade de quem se expõe. Foi uma noite muito bonita e não tenho dúvidas de que Tim Bernardes irá voltar a encher o Coliseu no futuro.

Playlist do concerto:

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Gabril Ferrandini & Alexander Von Sclippenbach; Culturgest – Uma surpresa que transformou a noite. https://branmorrighan.com/2019/09/gabril-ferrandini-alexander-von.html https://branmorrighan.com/2019/09/gabril-ferrandini-alexander-von.html#respond Wed, 18 Sep 2019 16:12:00 +0000 © Vera Marmelo/ Culturgest

O Grande Auditório da Culturgest, em Lisboa, estava bem composto, para receber Gabriel Ferrandini, o seu convidado alemão, Alexander Von Schlippenbach, e os restantes músicos. Desmontar a música de Thelonious Monk e subverter o Free jazz mais canónico eram as intenções anunciadas. Mas, se os Três Mosqueteiros eram quatro, o quarteto fez-se pentágono, com a parte final do concerto enriquecida por um convidado-surpresa.

Por João Morales

Na antecâmara deste concerto está todo um processo de reaprendizagem pessoal, de investigação sonora, que Gabriel Ferrandini já explicou em algumas entrevistas, processo esse que foi habitado por diferentes formações, incluindo o trio com Pedro Sousa (saxofone tenor) e Hernâni Faustino (contrabaixo) com quem gravou o álbum Volúpias. E é este ´disco que serve de ponto de partida, acrescido de um convidado muito especial, Alexander Von Schlippenbach.

A noite começa com o histórico pianista alemão (Von Schlippenbach criou na década de 60 a Globe Unity Orchestra, por onde passaram os maiores nomes da improvisação alemã – e não só – enquanto se colocavam em lume pouco brando todas as concepções pré-adquiridas para a composição orquestral). A solo, calmo, metódico, demonstrando a contenção de quem conhece demasiado bem os caminhos da improvisação para deixar que a chama se precipite.

Aproveitando até os espaços em branco, a conjuntura colectiva vai ganhando corpo e os restantes músicos vão entrando neste convívio, contribuindo para o seu crescendo. O toque do baterista, americano de nascença, mas filho de um moçambicano e de uma mãe «meio brasileira, meio italiana, meia espanhola», revela-se peculiar, devedor de estéticas disseminadas pela chamada Música Improvisada. Explora padrões rítmicos, aposta em diversas abordagens à bateria ao longo de cada composição. O prolongamento do som dos pratos, a textura metálica, a brevidade com que as baquetas assentam em cada peça da bateria.

O ambiente vai acalmando, até que o tema terminar.

O segundo tema começa com Pedro Sousa a solo. Já acompanha Ferrandini há muito, gravaram conjuntamente com Thurston Moore (ex-Sonic youth), e é um dos nomes mais importantes da nova vaga de improvisadores portugueses.

Divaga com um sopro seguro, mesclando instantes já compostos, com outros alinhados na sua cabeça, outros ainda gerados no momento. Os comparsas juntam-se e a consolidação dos quatro é evidente. Hernâni Faustino é um experiente músico, ligado a diversas facetas do Jazz em Portugal há muitos anos, seguidor dos grandes nomes, e já tocou com músicos como John Butcher, Carlos Zíngaro, Paal-Nilssen-LOve, Taylor Ho Bynum ou Mats Gustafsson.

Seguindo a mesma lógica, foi ele quem iniciou o terceiro tema, usando o contrabaixo com arco. Ferrandini volta a demonstrar que não está disposto a fazer concessões, o grupo levanta âncora e denuncia os ecos de um Free Jazz algo mais musculado – o que deixa Alexander Von Schlippenbach completamente em casa, no seu habitat natural, traçando caminhos com as suas linhas seguras, apenas aos ouvidos mais desatentos em segundo plano. A orgânica salienta a relação entre Pedro Sousa e Hernâni Faustino, com o convidado alemão a pontuar, fazendo uso de um ritmo muito seu que não passa pelo be bop ou pelo swing, mas não deixa de ter uma componente de dança de salão. E o nosso Gabriel a completar este quarteto de executantes, com mestria, elegância, discrição e uma personalidade bem vincada pela qual tem perorado (em algumas passagens a fazer lembrar bateristas menos ortodoxos, como o também alemão Paul Lovens, ou o inglês Tony Oxley, citando dois gigantes que tocaram, justamente, com Alexander Von Schlippenbach).

No final de um quarto tema, iniciado justamente por si, na lógica dos anteriores, Ferrandini dirigiu-se ao público, apresentou os seus comparsas, explicou que tínhamos estado a escutar incursões pelo reportório de Thelonious Monk e trouxe-nos uma enorme surpresa. Havia mais um convidado, “the one and and only Peter Evans”, como lhe chamou, desencadeando a euforia na plateia.

E, verdade seja dita, este último tema, com cerca de 15/ 20 minutos (num concerto de aproximadamente 75), em que Evans rapidamente tomou conta das atenções – e das direcções – foi uma experiência fantástica, dada a invulgar qualidade do trompetista. Ora mais lentos, ora mais rápidos, lá nos guiaram os cinco numa demonstração de contemporaneidade descomplexada.

Evans é hoje um dos grandes músicos da actualidade, experimentando, desafiando os limites do seu instrumento, pondo em causa os sons que habitualmente escutamos. A dada altura, quem fechasse os olhos ouviria sem grande dificuldade uma flauta asiática, apoiada numa técnica exímia de respiração que permitia frases extensas, mas com diversas oscilações e variantes. Contudo, era o jovem Evans quem nos espantava com o seu trompete, com o seu fôlego, ritmo, criatividade e capacidade de aventura, oferendo-nos uma das mais espantosas versões de “’Round Midnight” de que tenho memória. Monk novamente, portanto.

© Vera Marmelo/ Culturgest
© Vera Marmelo/ Culturgest
© Vera Marmelo/ Culturgest
© Vera Marmelo/ Culturgest
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Jazz em Agosto 2019: Mary Halvorson Code Girl – A canção do futuro https://branmorrighan.com/2019/08/jazz-em-agosto-2019-mary-halvorson-code.html https://branmorrighan.com/2019/08/jazz-em-agosto-2019-mary-halvorson-code.html#respond Mon, 19 Aug 2019 09:50:00 +0000 © Jazz em Agosto / Petra Cvelbar    

Para encerrar o Jazz em Agosto deste ano, Mary Halvorson regressou com um novo formato, onde a contemporaneidade e a improvisação servem de pretexto para operar sobre o formato de canção. O resultado é excelente.

Por João Morales

Já nos visitou por diversas vezes, mas continua a ter o dom de brindar o auditório com propostas inovadoras, dando a conhecer de uma forma cada vez mais ampla o universo de possibilidades que tem arriscado explorar. Mary Halvorson não é só uma interessante e criativa guitarrista e compositora, é também responsável pela concepção e coordenação de diferentes formações, explorando e forçando com inteligência os limites do Jazz contemporâneo.

Code Girl é a designação do sexteto que nos trouxe para encerrar o Jazz em Agosto 2019. A primeira vez que nos visitou integrava um colectivo liderado pelo gigante Anthony Braxton e as coisas acabam por fazer sentido em consonância, uma vez que, lemos na folha de sala deste espectáculo (tal como as restantes da autoria de Rui Eduardo Paes) «o termo “code girl” foi usado por Braxton para aludir à forma como, nas mãos desta nova-iorquina, a guitarra é uma máquina que serve para codificar e descodificar emoções».

Acompanhando os sucessivos aviões que há muito cruzam os céus do anfiteatro da Fundação Calouste Gulbenkian (embora hoje sejam em maior número do que há dez, vinte, trinta anos) o ensemble liderado pela discreta Mary Halvorson foi criando uma densidade sonora segura e estável, sem recorrer a momentos de grande ruptura, passando por alguns elementos dignos de um pós-bop sem preconceitos, integrando algumas passagens mais devedoras da improvisação, a própria Halvorson tirando partido dos efeitos dos pedais, mas tudo em conformidade com uma pintura de grupo que não procurou momentos de espectacularidade, apesar de ela se ter imposto pela qualidade orgânica da proposta.

O grupo apresenta-se com duas vozes. Uma, Maria Grand, que além do saxofone tenor acompanhou em diversas passagens a voz principal. Mas foi Amirtha Kidambi, cantora que já trabalhou com nomes como Matana Roberts, Ingrid Laubrock, Trevor Dunn ou William Parker a captar as maiores atenções. De ascendência indiana, integra a modernidade com enorme naturalidade no seu trabalho (já executou peças de Muhal Richard Abrams ou Robert Ashley), demonstrando ao mesmo tempo uma pureza de timbre que faz parecer clássicos os mais inventivos movimentos.

A sua abordagem, inicialmente bastante tradicional (em algumas passagens a fazer lembrar até Joni Mitchel), resulta de uma exposição a várias formas de composição e execução, como sejam a Clássica, a Contemporânea, a tradição indiana e a improvisação – transversal a várias delas. Há indícios do trabalho icónico e incontornável de Maggie Nicols ou Julie Tippett, passando depois a integrar no seu discurso sonoro uma paleta de sons onde cabem onomatopeias, ascensões de timbre e prolongamento de sílabas em diversas palavras, o que provoca um efeito orquestral sub-reptício, mas muito eficaz. Vale a pena descobrir um outro projecto em que está fortemente envolvida, Elder Ones.

Logo no início do concerto esta voz ondulante, serpenteante, surpreende, bem como o swing imediatamente evidente, a capacidade de criar ondas de ritmo e um apelo quase físico demonstrado por um excelente baterista, Tomas Fujiwara, um jovem nascido em 1977 que já tocou com gente como Anthony Braxton ou John Zorn. Ao longo de toda a noite, Fujiwara foi um dos pilares deste agrupamento, sempre na linha da frente, sempre com um ritmo alucinante, sempre a acompanhar cada um dos elementos quando era necessário ir mais adiante. Um outro músico a reter no radar. Aliás, esta é também uma das mais-valias de um festival com a grandiosidade e variedade do Jazz em Agosto; ao trazer grupos que estão no activo há pouco tempo, estamos a assistir em tempo real ao crescimento criativo de alguns dos nomes que serão, certamente, ícones das gerações seguintes.

Dois sopros marcam presença nesta aventura, a já referida Maria Grand no saxofone tenor e o trompetista Adam O’Farrill, que também teve direito a alguns solos, momentos em que pôde demonstrar as suas capacidades. No baixo, Michael Formanek, um veterano. Se, nos anos 70, ainda adolescente, acompanhou o baterista Tony Williams ou o saxofonista Joe Henderson, e na década seguinte juntou ao palmarés dos palcos heróis como Stan Getz, Gerry Mulligan ou Freddie Hubbard, o trabalho consolidado com Dave Burrell, Tim Berne ou Marty Ehrlich sagrou o seu nome. Formanek, cuja segurança foi notória na forma como se articulou ao longo de toda a noite, mantendo quase sempre uma preponderância nas diferentes combinações que surgiam em diferentes passagens, utilizando a sapiência da experiência para mascarar a inventividade com a naturalidade de quem domina as suas diferentes facetas.

Na génese de tudo isto, Mary Halvorson, a personagem mais discreta em palco, uma mulher de pequena estatura que, não obstante os elogios que tem recebido da crítica e dos seus pares, com a consequente oportunidade de arriscar formatos e encontros que não estão ao alcance de todos (Marc Ribot, Peter Evans, Elliott Sharp) se manteve discreta ao longo da noite. As composições são suas (e, ao contrário do que se possa pensar, esta faceta da música que escutamos não será displicente, bastava atentar na quantidade de pautas que todos os músicos tinham – baterista incluído – e na preocupação que um roubo pelo vento causava a cada momento). Apenas no último tema, ainda antes do encore, Halvorson se liberta um pouco, expressando-se através de riffs mais aguerridos, escapando à quase clandestinidade a que se remeteu duramente grande parte do concerto. Regressados para o dito encore, vozes e sopros definem um campo, o trio guitarra-baixo-bateria avança por outro, convergindo os seis músicos para uma caminhada final em comum, símbolo da harmonia que se fez escutar ao longo da noite. Depois dos aplausos finais, Mary coloca a sua bolsa a tiracolo e retiram-se todos. Relembro as piadas que existem sobre a bolsa da Rainha de Inglaterra e não posso deixar de sorrir.

© Jazz em Agosto / Petra Cvelbar    
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Jazz em Agosto 2019: Freaks – a alegria de tocar e misturar https://branmorrighan.com/2019/08/jazz-em-agosto-2019-freaks-alegria-de.html https://branmorrighan.com/2019/08/jazz-em-agosto-2019-freaks-alegria-de.html#respond Sun, 11 Aug 2019 12:25:00 +0000 © Jazz em Agosto / Petra Cvelbar   

A segunda parte do Jazz em Agosto 2019 começou com Freaks, um sexteto liderado pelo violinista Théo Ceccaldi que nos trouxe uma música intensa e descomprometida, que bebe em várias fontes mas tem um travo muito próprio.

Por João Morales

A pujança colectiva que este sexteto apresentou contrariou o clima acabrunhado de uma noite de Agosto equivocado, deixando bem claro que a energia e a noção unânime de uma sonoridade comum são traços identificativos de um projecto devedor do Jazz, de várias tendências do Rock, mas não só. Freaks, chamam-se eles a si mesmos, e trouxeram uma lufada de som contagiante ao anfiteatro da Fundação Calouste Gulbenkian em mais um concerto do Jazz em Agosto 2019.

Théo Ceccaldi já tinha passado por este festival duas vezes; a primeira, em 2015, integrado na Orchestre National de Jazz (onde a sua forma algo anarquizante de abordar o seu instrumento deu logo nas vistas), a segunda, no ano seguinte, com o quarteto Petite Moutarde, num espectáculo devedor de influências surrealistas, acompanhando filmes de René Clair, Marcel Duchamp e Man Ray. À terceira vez, também não defraudou, com o sexteto Freaks.

Uma parte importante do som deste grupo passa pela conjugação dos dois saxofones (Mathieu Metzger – que se divide actualmente entre este projecto e os Anabasis, de Dominique Pifarély – e Quentin Biardeau) e do violino (nas mãos do próprio Ceccaldi) que, diversas vezes, apresentam o tema em uníssono, integrando uma espécie de caravana pós-moderna, derivando a partir daí para uma miríade de possibilidades. O início do concerto ficou marcado por uma vertente devedora do Jazz-rock, embora com uma musicalidade actualizada, tendência que se escutaria por diversas vezes, o que não é de estranhar, numa abordagem aglutinadora e ecléctica, como a que é levada a cabo por estes Freaks.

A influência de John Zorn é uma pista constante, tanto pelos seus Naked City, que criaram um momento de disrupção na História da Música mais recente, como por outras facetas, nomeadamente, a capacidade de evocar e desconstruir ambientes musicais próximos do easy listening. Nomes como Frank Zappa e alguns compositores do primeiro quartel do século XX (o próprio Ceccaldi realça a influência de Igor Stravinsky) também não estão isentos de responsabilidades no resultado final.

Por mais que uma vez, o mentor do agrupamento tomou conta dos holofotes principais, habitualmente acompanhado pela secção rítmica (Stéphane Decolly, no baixo elétrico, e Etienne Ziemniak – que já tocou com o saxofonista Paul Dunmall ou o contrabaixista Paul Rogers – numa explosiva e endemoninhada bateria, com o mais discreto Giani Caserotto, guitarrista).

A integração de elementos da dance music (com um Ceccaldi visivelmente satisfeito a desfrutar, bamboleando-se pelo palco), sem que nunca se tornem o cerne das atenções, a influência de algum doom rock – sem excessos, revelando a lucidez com tudo isto é misturado, com parcimónia e equilíbrio – o diálogo entre a chançon française e uma quase atonalidade que rapidamente pode dar lugar a um ambiente devedor do rock progressivo ou a um momento de falso lounge rapidamente desmascarado pela ousadia dos intérpretes, são marcas-de-água deste conjunto, que prima pela surpresa sonora e ousadia. Sempre com uma noção epicurista da música, patente no bom humor que lhe conseguem imprimir (no seu site oficial, Ceccaldi fala em “troça e extravagância, como se David Lynch revisitasse Tex Avery”).

Aliás, esta ousadia não se fica pela música, quando atentamos na postura quase queer dos seus elementos (a começar pela saia de Mathieu Metzger), atitude confirmada não pelas fotografias de promoção do grupo, como por outros vídeos de diferente projectos, patentes no youtube. Se tiverem curiosidade, espreitem “Danse de Salon”, interpretado por Ceccaldi e pelo pianista Roberto Negro, com quem mantém um duo regular.

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Jazz em Agosto 2019: Heroes Are Gang Leaders – Tem a palavra a música negra https://branmorrighan.com/2019/08/jazz-em-agosto-2019-heroes-are-gang.html https://branmorrighan.com/2019/08/jazz-em-agosto-2019-heroes-are-gang.html#respond Mon, 05 Aug 2019 12:50:00 +0000 © Jazz em Agosto / Petra Cvelbar 

A segunda noite do Jazz em Agosto 2019, no anfiteatro da Fundação Calouste Gulbenkian, deveu tanto à música como à teatralização, criando uma bolha espácio-temporal que nos passeou por Harlem, enquanto nos recordava a máxima dos Art Ensemble of Chicago, quando se reclamam da “Great Black Music Ancient to the Future”.

Por João Morales

No centro das atenções, o poeta (e fotógrafo) Thomas Sayers Ellis, uma espécie de mistura entre o moderno MC, o antigo Pastor galvanizante e o actor que questiona continuamente a postura do negro na narrativa tradicional, papel que encontramos há muitos, muitos anos, em pequenas curtas-metragens musicadas, gravadas por estrelas hoje esquecidas. Ao seu lado, uma segunda voz masculina, Randall Horton (poeta e professor de inglês na Universidade de New Haven, no Estado de Connecticut) com quem “contracenou” na perfeição ao longo da noite.

Heroes Are Gang Leaders é um ensemble de doze elementos, quatro vozes à cabeça. The Amiri Baraka Sessions, espectáculo resultante do CD homónimo que apresentaram em Portugal, nasceu com o intuito de homenagear o legado, a postura e o trabalho desenvolvido por Amiri Baraka, poeta e ensaísta nascido LeRoi Jones (1934-2014) que trabalhou com alguns dos grandes nomes do Free Jazz, meio onde forjou a sua arte, ampliando a ligação encetada anteriormente por nomes da beat generation, ainda nos tempo do Be Bop.

Esta escolha do programador do festival, Rui Neves, trouxe-nos um grupo actual que é, simultaneamente, guardião de uma herança importante, amealhada em diversos contextos, hoje integrados numa genealogia que se foi dilatando.

Logo no início do concerto, surgem na memória diversas evocações que ajudam a enquadrar o que aí vem: Jayne Cortez, Sun Ra e as suas tropas espaciais (e a indispensável June Tyson), Cadentia Nova Denica (com quem John Tchicai gravou Afrodisiaca), The Colson Unity Troupe. A forma como as quatro vozes interagem herdou tiques e métodos do teatro radiofónico, enquanto a pose de coro gospel acentua a dimensão étnica e reivindicativa que vamos escutar ao longo de todo o espectáculo. Por vezes, parece que fomos transportados para as gravações de Hair, acrescentado de sopros conhecedores da importância da New Thing no Jazz e seus descendentes e de uma secção rítmica (Luke Stewart, baixo elétrico e contrabaixo; Brandon Moses, guitarra elétrica, e Warren Crudup III, na bateria) com os ensinamentos em dia, quanto às variações ao dispor – Funky e Blues incluídos. ”Somebody Blew up America. Was it You?”, pergunta Thomas…

“Amina” começa com um diálogo entre a viola de Melanie Dyer e o saxofone tenor de James Brandon Lewis, um cúmplice importante ao longo de toda a noite (aliás, um dos fundadores deste projecto), solando amiúde, com fervor mas sem se destacar demasiado, como, aliás, os restantes sopros (Heru Shabaka-Ra, músico da actual formação da Sun Ra Arkestra, no Trompete, e Devin Brahja Waldman, no sax alto, embora na maioria do tempo se tenha dedicado aos teclados).

Nas vozes femininas, destaque para Nettie Chickering, cantora e actriz, juntando-se à também pianista Jenna Camille, que nos brindou com dois momentos próximo da balada em quase solo, num ambiente de relax enquanto as tropas se preparavam para novas investidas, e Thea Matthews, poetisa reconhecida e activista assaz dinâmica).

A noite raramente amainou, passando por momentos com ecos de Reggae, harmonias vocais que não se estranhariam nos primeiros momentos dos Mothers of Invention e uma constante e persistente atenção ao público, fazendo-o sentir que tudo o que era dito, cantado, lido, tocado, não era apenas entretenimento, mas sim uma parte de algo maior e mais importante, uma opção que passa por juntar política, arte, humor e crítica para sublinhar uma postura que coincide com um papel social: «LeRoi LeRoi/ from New York Hill/ if capitalism wont kill you/ racism will», canta-se em palco.

A calorosa recepção rendeu um encore, começado num ambiente ligeiramente psicadélico, baixo eléctrico e voz do trompetista, a que se foram juntando os restantes comparsas. A bateria de Warren revelou-se fulcral nestes últimos momentos, uma espécie de metrónomo libertino que ajudou a levar a bom porto esta embarcação endemoninhada, convés partilhado em comunidade, sem esquecer a influência da Chicago dos anos 60 e todo o ambiente de Free Jazz que a cidade viu nascer e crescer, dando mesmo origem à histórica Association For The Advancement of Creative Musicians. De tudo isto se fez a noite, com a vez de Melanie Dyer a deixar um último recado, cantado em tom celestial: «you gotta get peace and love to get some freedom». E assim partimos.

© Jazz em Agosto / Petra Cvelbar 
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Jazz em Agosto 2019: Marc Ribot Songs of Resistance – Um combate com alma e coração https://branmorrighan.com/2019/08/jazz-em-agosto-2019-marc-ribot-songs-of.html https://branmorrighan.com/2019/08/jazz-em-agosto-2019-marc-ribot-songs-of.html#respond Sun, 04 Aug 2019 16:19:00 +0000 © Jazz em Agosto / Petra Cvelbar

Ao longo de mais de uma hora e meia foi a alma americana, em todo o seu esplendor e diversas facetas, que tomou conta do anfiteatro da Fundação Calouste Gulbenkian, completamente esgotado. O concerto de estreia do Jazz em Agosto 2019, “Songs of Resistance”, conceito conduzido pelo carismático Marc Ribot, teve direito a três merecidos encores, perante uma audiência rendida à emoção, entrega e virtuosismo que este colectivo nos trouxe.

Por João Morales

A voz de Ribot e a sua guitarra, recorrendo a um conjunto de riffs que poderiam remeter para uma herança actualizada do fraseado de Richie Havens, marcaram o início da noite, entoando “We Are Soldiers in the Army”, igualmente o tema inicial do CD deste recente projecto (na versão gravada em estúdio o tema era interpretado pela cantora Fay Victor). Como facilmente se percebe, estamos perante um conjunto de cações de protesto, de denúncia, de revolta, de alerta. Algumas transportadas no tempo (realçando a actualidade da sua essência) outras nascidas na conjuntura actual dos EUA, marcada pela eleição de Donald Trump e respetivas consequências na política – interna e externa.

Os restantes músicos vão-se agrupando, a tensão aumenta e assistimos ao primeiro solo de Jay Rodriguez, colombiano a seguir com muita atenção (aos interessados uma sugestão: procurem o seu CD Live in Italy, com o histórico pianista Chucho Valdés). O seu som mantém a frescura e o balanço da América Latina, mas integra já a influência cosmopolita onde hoje se integra, criando as condições necessárias para solos soltos e dinâmicos, sempre com uma ligação evidente à harmonia colectiva dos parceiros.

O tema seguinte, “The Big Fool”, uma composição de Marc Ribot, prossegue e confirma o ambiente. A percussão marca bem o seu território, bongos e outras peças a cargo de Reinaldo de Jesus (porto-riquenho que estudou no Berklee College of Music), bateria nas mãos sábias de um Ches Smith em permanente ascensão técnica (Smith tem sido o baterista escolhido por Marc Ribot em vários formatos, além de integrar projectos inigualáveis, como Mr. Bungle ou Secret Chifes 3). A sensação de ritual colectivo percorre o quinteto, completado com o contrabaixista Brad Jones, músico que passou pelos Jazz Passengers mas também partilhou palcos com Muhal Richard Abrams, Elvin Jones, Ornette Coleman ou Han Bennink.

E é justamente Brad Jones que inicia o tema seguinte, “How to Walk in Freedom”, mais um hino de apelo à liberdade e consagração dos seus combatentes, referindo figuras como Emma Goldman, Mahtma Ghandi, Malcolm X ou ate mesmo Rosa Parks, a histórica negra que se recusou a ceder o lugar no autocarro a um branco, em 1955.

Marc Ribot vai entoando, como se de uma oração se tratasse. É visível que este guitarrista, que começou por dar nas vistas ao acompanhar com o seu instrumento vozes como Tom Waits ou Elvis Costello, gosta cada vez mais de cantar, tendo essa faceta adquirido um papel crescente nos seus álbuns, desde o já longínquo e seminal Rootless Cosmopolitans (embora nesse seu primeiro álbum já fizesse o gosto à voz).

Ribot vais oscilando entre a guitarra eléctrica e acústica, transportando pólen de John Fahey, Dereck Bailey, Nels Cline ou Chris Cochrane. No final, resulta uma sonoridade exemplar, a condizer com a imagem de entrega que a sua figura curvada sobre a guitarra sublinha indelevelmente. Com alguns pozinhos de funk, blues ou hip hop, Ribot e o seu bando prosseguem a jornada. Em “John Brown” assistimos a um momento mágico, com uma intensa luz vermelha a cobrir o grupo em perfeita sintonia com a capacidade incendiária que várias vezes demonstram.

O primeiro encore dá-se com “We’ll Never Turn Back (“dedicado aos amigos LGBT que lutam no Brasil” pelo guitarrista), com uma discreta flauta nas mãos de Rodriguez. O segundo é composto por mais dois temas, com a palavra “resistance” bem audível e alguma influência dos Ceramic Dog – um outro projecto de Ribot igualmente marcado pela intervenção política.

Uma noite inesquecível termina com o guitarrista a solo, interpretando mais um tema do CD, “Srinivas”, dedicado a Srinivas Kuchibhotla, um emigrante sikh assassinado no Kansas, em 2017, por ter sido confundido com um muçulmano.

Esta é uma noite que vai ficar na memória de todos os que assistiram e conquistou já um lugar entre os grandes concertos do Jazz em Agosto ao longo de três décadas e meia de prolífera actividade. E a alma americana terá ficado orgulhosa da forma como foi representada, num tempo em que Ribot assume o seu país como “a litlle fucked up”.

© Jazz em Agosto / Petra Cvelbar
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Jazz Im Goethe-Garten 2019 – Ghost Trio: afinal, ainda havia outra https://branmorrighan.com/2019/07/jazz-im-goethe-garten-ghost-trio-afinal.html https://branmorrighan.com/2019/07/jazz-im-goethe-garten-ghost-trio-afinal.html#respond Thu, 11 Jul 2019 09:11:00 +0000

O final da tarde de dia 10 foi entregue aos italianos Ghost Trio, que cumpriram o desígnio. Ficámos a conhecer melhor como se improvisa hoje por terras de Garibaldi. Mesmo no final, uma surpresa enorme a abrir o apetite para uma próxima visita.

Texto João Morales

Fotos: Hugo Alexandre Cruz

O início foi suave, em jeito de divagação, fazendo corresponder entre si as opções tomadas e as consequências para a avanço do manto sonoro tecido em conjunto, em tempo real, já que a música deste trio italiano preza pela improvisação total, não obstante a sua experimentada relação, patente na cumplicidade demonstrada a cada passo.

O clima de Música de Câmara favorecia o embalo tripartido, com cada um destes músicos italianos a devolver no seu discurso pequenos comentários ao exposto pelo anterior, dando origem a uma trama suave, um manto diáfano onde a criação ganhou contornos de celebração. No Jardim do Goethe Institut acolhia-se um Jazz livre, contudo, pacato, onde a exuberância dera lugar à precisão e a partilha fez as vezes de qualquer mestria exibicionista, com os três instrumentistas a acomodarem entre si as honras do palco.

Marco Colonna apresentou-se em clarinete e, principalmente, clarinete baixo, tendo mesmo efectuado algumas intervenções em que recorreu ao segundo com o bocal do primeiro em simultâneo, numa espécie de revisitação da imagem de Roland kirk, transportada para um contexto onde a herança transalpina comum aos três executantes não esteve completamente arredada.

Colonna, que já trabalhou com Eugenio Colombo, Ben Golberg ou Perry Robinson, e gravou em 2018 um curioso álbum a solo designado Sketches for Victor Jara, usou as palhetas de uma forma que evocava, por vezes, Michel Doneda, nos tempos de Open Paper Tree (FMP; 1995), um sopro fugidio, mas controlado, uma dinâmica que não se impõe pela forma, mas pelo carisma, em diálogo constante com os seus dois parceiros.

A contrabaixista Silvia Bolognesi, a quem coube as honras de apresentação, esteve igualmente à altura das circunstâncias, percorrendo o braço do seu instrumento com mestria, saltitando entre escalas, intercalando camadas de intensidade. Entre os projectos que integrou nos anos mais recentes, está a composição festiva dos Art Ensemble of Chicago (reunida nos 50 anos do colectivo) e uma das orquestras de Butch Morris, um dos mestres da direcção instantânea, em palco, em tempo real. Numa passagem em que acedeu ao microfone, as suas palavras debitadas sob o fundo musical ganharam dimensão transatlântica e, por instantes, o fantasma de Jayne Cortez pairou sorridente.

A trindade completa-se com o baterista, figura descontraída, de reflexos consistentes e uma aproximação à bateria que contempla a presença de diversos elementos metálicos, inseridos na cadeia de transmissão como extensão das possibilidades do instrumento, numa lógica muito querida na tradição da dita Música Improvisada. A lista de figuras da improvisação com quem este músico de 60 anos já teve oportunidade de tocar inclui sumidades como Steve Lacy ou (o infelizmente tão esquecido) Gaetano Liguori. Entre os mestres cuja herança será sensível no seu discurso musical, arrisquem-se dois nomes, Tony Oxley e Sunny Murray, patentes na destreza com que distribuía os seus “ataques” pelas diferentes peças do instrumento, ao mesmo tempo que rápidas passagens pelos pratos ajudavam à consolidação da musicalidade global final.

O mais curioso, acabou por ser, mesmo no final, a demonstração do eclectismo do trio que, embora só tendo um disco gravado, apresenta-se com uma cumplicidade evidente e divertida. Anunciado o encore, somos confrontados com um furacão de Free Jazz devedor directo dos mais viscerais exemplos desta sonoridade nos idos de 60, trazendo à memória as gravações por terras francesas recolhidas no catálogo Byg Actuel. A sonoridade elegante e bem-comportada que pautou grande parte da improvisação neste final de tarde deu lugar a um saudável vendaval, devastador, gerenerador. É caso para dizer: se na sonoridade anterior se revelaram competentes, afinal… ainda havia outra. 

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