Rosa Montero – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Fri, 02 Sep 2022 16:34:09 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.9 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Rosa Montero – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 O prazer em conhecer Rosa Montero https://branmorrighan.com/2022/09/o-prazer-em-conhecer-rosa-montero.html https://branmorrighan.com/2022/09/o-prazer-em-conhecer-rosa-montero.html#comments Fri, 02 Sep 2022 16:33:47 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25399
Rosa Montero, Feira do Livro Lisboa 2022, Fotografia da Maria João Covas

Desde que há uns anos li A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te que guardo um fascínio e um carinho enormes por Rosa Montero. Nunca a tinha conhecido pessoalmente até ao fim-de-semana passado, no Domingo na Feira do Livro de Lisboa. Se visitarem a tag Rosa Montero aqui no blogue, rapidamente se apercebem do porquê desse meu fascínio. Nos dois livros que li da autora, encontrei uma empatia e uma ressonância que é tão fascinante como um pouco aterrorizadora.

A autora, imiscuindo a sua vida com a de outras personalidades ou personagens criadas por si aborda temas como a dor, a loucura, o luto, a solidão, o amor, a criatividade, entre outros. Tanto no A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te como no A Louca da Casa, Rosa Montero construiu duas obras literárias que nos trazem conforto e segurança pelo simples facto de nos transmitirem – não estás sozinha!

Mal a vi no Domingo o meu sorriso abriu-se! Estava acompanhada da querida Maria João Covas, que nos tirou a foto deste post, e partilhava com ela o meu absoluto fascínio pela escritora espanhola. Quando chegou a minha vez de assinar os dois livros, juro-vos que parecia uma adolescente em frente a um ídolo quase que meia a gaguejar do entusiasmo e algum embaraço de me sentir tão fangirl naquele momento. E Rosa Montero não desiludiu, pelo contrário! Tanto que trouxe o Boa Sorte comigo e que quero ler até ao final do ano. Foi uma querida, agradeceu as minhas palavras e ainda assinou com uma dedicatória com grande carinho.

Já antes neste blogue falei de Saúde Mental. E a verdade é que há tanta subtileza na expressão destes assuntos nos livros de Rosa Montero, principalmente no que diz respeito às emoções fortes, ansiedade e ataques de pânico, que juro-vos que é um conforto abrir os meus livros, todos sublinhados, e encontrar lá escrito aquilo que eu nunca conseguiria colocar tão bem em palavras. Dito isto, é claro que só posso recomendar que leiam a autora. Confesso que não li mais da autora porque gostei tanto, tanto destes livros, que tenho receio que os outros não acompanhem! Eheh, mas até ao final do ano vai haver mais uma opinião quase de certeza! Fiquem desse lado 🙂

Se já leram a autora, por favor deixem nos comentários a vossa experiência! Estou curiosa se é um sentimento generalizado ou se na verdade é algo mais pessoal.

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Citando a Rosa Montero em relação aos #Excêntricos e aos Criativos https://branmorrighan.com/2018/08/citando-rosa-montero-em-relacao-aos.html https://branmorrighan.com/2018/08/citando-rosa-montero-em-relacao-aos.html#respond Sun, 05 Aug 2018 13:25:00 +0000
Póvoa de Santa Iria

“Permite-me que faça aqui um ligeiro desvio para cantar louvores aos #Excêntricos, aos diferentes, aos monstros, que costumam ser as pessoas que mais me interessam. Por acréscimo, descobri com o tempo que a normalidade não existe; que não vem da palavra «normal», como sinónimo do que é mais comum, mais abundante, mais habitual, mas de «norma», de regulação e mandato.

A normalidade é um marco convencional que pretende a homogeneização dos humanos, como ovelhas fechadas num redil; mas, se olhares bem de perto, somos todos diferentes. Quem nunca se sentiu um monstro alguma vez? Além do mais, ser diferente pode ter algumas vantagens. Em 2009, a universidade húngara de Semmelweis publicou um estudo fascinante efectuado pelo seu Departamento de Psiquiatria.

Pegaram em trezentos e vinte e oito indivíduos sãos e sem antecedentes de doenças neuropsiquiátricas e fizeram-lhes um teste de criatividade. Depois verificaram se os sujeitos revelavam uma determinada mutação num gene do cérebro chamado, espirituosamente, «neuregulin 1». Calcula-se que cinquenta por cento dos europeus sãos possui uma cópia deste gene alterado, quinze por cento duas cópias e os restantes trinta e cinco, nenhuma. Acontece que o gene de nome inverosímil apresenta ter uma relação directa com a criatividade: os mais criativos teriam precisamente duas cópias e os menos criativos, nenhuma.

Segue-se a parte melhor: possuir a mutação também implica um aumento do risco de contrair transtornos psíquicos, como uma memória pior e… uma sensibilidade disparatada às críticas! Não te parece ser o perfeito retrato-robô do artista? Doido e pateticamente inseguro? O reverso da medalha é que essas pessoas um pouco excêntricas, bastante neuróticas e possivelmente fragilizadas parecem ser as mais imaginativas, o que não é nada mau. O estudo poderia explicar, aliás, a existência dos génios.”

Rosa Montero, A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te 

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Citando Rosa Montero Sobre a Loucura, Crises de Angústia e Ataques de Pânico https://branmorrighan.com/2018/07/citando-rosa-montero-sobre-loucura.html https://branmorrighan.com/2018/07/citando-rosa-montero-sobre-loucura.html#respond Tue, 31 Jul 2018 14:57:00 +0000 Fotografia tirada em Lipari


A verdadeira dor é indizível. Se conseguimos falar do que nos angustia estamos com sorte: significa que não é assim tão importante. Porque quando a dor cai sobre nós sem paliativos, a primeira coisa que nos arranca é a #Palavra. É provável que reconheças o que digo; talvez tenhas sentido, porque o sofrimento (tal como a alegria) é algo comum em todas as vidas. Falo daquela dor que é tão grande que nem sequer parece que nos nasce de dentro, que é como se tivéssemos sido sepultados por uma avalancha. E assim ficamos, tão enterrados sob toneladas pedregosas de pena que nem conseguimos falar. Temos a certeza de que ninguém nos vai ouvir. 


Agora que penso nisso, parece-se muito com a loucura. Na minha adolescência e primeira juventude sofri de várias crises de angústia. Eram ataques de pânico repentinos: enjoos, sensação aguda de perda de realidade, terror de estar a enlouquecer. Justamente por isso estudei Psicologia na Universidade Complutense (desisti no quarto ano): na verdade, creio que é a razão pela qual noventa e nove por cento dos profissionais do ramo estudam Psicologia ou Psiquiatria (os restantes são filhos de psicólogos ou psiquiatras e esses ainda estão pior). Que conste que não acho mal mal que assim seja: aproximar-se do exercício terapêutico tendo conhecido o que é o desequilíbrio mental pode proporcionar-nos mais compreensão, mais empatia. A mim, as crises de angústia aumentaram-me o conhecimento do mundo. Hoje alegro-me por as ter sofrido: assim soube o que era a dor psíquica, devastadora porque inefável. Porque a característica essencial daquilo a que chamamos loucura é a solidão, mas uma solidão monumental. Uma solidão tão grande que não cabe dentro da palavra é que não consegues sequer imaginar se nunca lá estiveste. É sentir que nos desligámos do mundo, que não vão conseguir entender-nos, que não temos palavras para nos expressarmos. É como falar uma linguagem que mais ninguém conhece. É ser um astronauta flutuando à deriva na vastidão negra do espaço exterior. É a este tamanho de solidão que me refiro. E acontece que na verdadeira dor, dor-avalanche, se passa uma coisa semelhante. Embora a sensação de alheamento não seja tão extrema, também não conseguimos partilhar ou explicar o nosso sofrimento. Já o diz a sabedoria popular: fulano enlouqueceu de dor. A mágoa é uma alienação. Calamo-nos e fechamo-nos. 

Rosa Montero, A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te

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10 Livros de 2017 que poderia oferecer como prenda de Natal https://branmorrighan.com/2017/12/10-livros-de-2017-que-poderia-oferecer.html https://branmorrighan.com/2017/12/10-livros-de-2017-que-poderia-oferecer.html#respond Sun, 10 Dec 2017 16:15:00 +0000

À semelhança do que fiz em 2016, aqui ficam 10 sugestões de livros para este Natal. Aliás, na verdade, esta imagem pode muito bem reflectir parte dos melhores livros que li este ano. Há algum tempo que decidi não fazer TOPs, mas se recomendamos uma lista de livros é porque eles para nós representam alguma coisa, não? Pois bem, alguns remontam já aos primeiros meses do ano, como Iluminações de uma Mulher Livre, de Samuel Pimenta, enquanto outros saíram recentemente, como Jalan Jalan, de Afonso Cruz. Não estando ordenados por nenhuma ordem ou razão específica, tentei ainda assim equilibrar o número de autores portugueses e autores estrangeiros. Por causa disso, há outros dois livros que estariam ali igualmente bem: “1933 foi um mau ano”, de John Fante (Alfaguara) e “A Sul de Nenhum Norte”, de Charles Bukowski. Acabei por não colocá-los porque são autores que já têm uma boa legião de fãs e nestas recomendações quis colocar livros que talvez não fossem escolhas evidentes à primeira vista. Ora vejamos. 

Afonso Cruz, apesar de para mim ser um dos melhores autores do mundo (é a verdade), parece continuar a ser conhecido apenas num circuito mais restrito, o que escapa à minha compreensão (mas também pode ser só impressão minha). “Jalan Jalan”, a sua mais recente obra, tem sido para mim uma leitura que tem atingido várias dimensões. Nos últimos dois anos devo ter viajado por sete países diferentes, vivi um mês no Japão, etc, e às vezes há aqui coisas sobre essa mobilidade constante que disparam alguns “triggers”. Deixarei essas deambulações para o texto de opinião. O que interessa aqui é: vale COMPLETAMENTE a pena ser adquirido e lido com atenção. 

Eimear McBride, a autora revelação, para mim, de 2016 com o seu “Uma Rapariga É Uma Coisa Inacabada”, lançou este ano o seu segundo romance “Pequenos Boémios”. Foi mais um livro que devorei compulsivamente e foi a concretização da certeza que esta autora se tornou numa das minhas preferidas de sempre. A sua forma de escrita, muitas vezes fragmentada, transporta-nos directamente para o psicológico dos seus protagonistas. Há murros no estômago que merecem ser sentidos. As suas histórias são exemplos disso. 

James Rhodes e a sua história brutal em “Instrumental” são ideais para os que estão dispostos a mergulhar em cenários agressivos, porém também comoventes. Um livro não muito fácil de se ler, mas onde se aprende muito e se acompanha a luta de quem já atravessou estados mentais que passam completamente ao lado da maioria dos humanos durante a sua vida. Só tenho pena de não ter conseguido ir ver nenhum dos concertos que deu recentemente em Portugal.

Angie Thomas foi genial ao escrever “O Ódio Que Semeias”. Apesar de estar categorizado como jovem-adulto, é um livro que recomendaria para qualquer faixa etária. Penso que escrevi isto na opinião: este é um livro necessário! No nosso país não conhecemos assim tantas histórias como aquela, mas é excelente para abrirmos os olhos em relação a outras realidades tão difíceis. E tudo isto é facilmente testemunhado a partir da protagonista com quem a empatia é imediata. 

David Litchfield e as suas maravilhosas ilustrações. “O Urso e o Piano” é toda uma viagem por uma história super querida ilustrada de forma a aquecer e a derreter os nossos corações. Recentemente foi editado “O Gigante Secreto do Avô” que veio comprovar a sua mestria no que toca à forma magnífica como dá cor às suas histórias. Frios e quentes misturam-se num equilíbrio que acabam por reflectir as emoções do que se está a ler. 

Dulce Garcia e o seu “Quando Perdes Tudo Não Tens Pressa de Ir a Lado Nenhum” foram uma das melhores descobertas de 2017. Confesso que foi o título que me atraiu. A vida prega-nos rasteiras e às vezes, mesmo que não seja bem assim, sentimos que perdemos tudo e que então a vida parece que pode esperar que lhe voltemos a dar atenção. Foi um romance sentido, dramático, mas com um sentido real bastante apurado. Um romance de estreia muito bem conseguido. 

Carla M. Soares já é bem conhecida por estes lados. No início do ano lançou “O Ano da Dançarina” e foi uma excelente maneira de recordar alguma história e de ao mesmo tempo viver um romance que poderia mesmo ter acontecido. Sei que entretanto lançou outro romance, mas ainda não o tenho nem li. Como tal, fica esta sugestão que irá deliciar os amantes de romance histórico. 

Sandra Carvalho é uma das autoras mais queridas de Portugal. A cada Feira do Livro está horas e horas a assinar livros e foi este ano que terminou a trilogia Crónicas da Terra e do Mar, que recomendo por completo. A Sandra é uma autora que inspira um carinho enorme e uma devoção completamente merecida. As suas narrativas proporcionam-nos viagens fantásticas, sempre com aquele olhar romântico. Nunca são histórias fáceis, existe sempre muita luta, mas também o amor vence sempre no fim. Leiam-na e deixem-se conquistar. Vale a pena!

Rosa Montero, outra escritora que é das minhas preferidas. Lembro-me do impacto que teve o primeiro livro que li seu. “A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te”. Tinha perdido dois grandes amigos meus recentemente e, apesar de a história ter um contexto amoroso e autobiográfico, as emoções foram tão fortes que foi impossível não me sentir atingida por elas. Em “A Carne”, Rosa Montero expõe a peito aberto as fragilidades emocionais que a idade pode trazer com elas. Como será o amor quando sentimos que o nosso tempo já passou? Um romance duro, mas que vale a pena. 

Samuel Pimenta é um jovem autor português que continua a passar ao lado de muita gente, mas cuja voz merece ser ouvida. É um poeta notável e um romancista acutilante. Depois de em 2016 ter lançado o romance “Os Números Que Venceram os Nomes”, uma chamada à atenção à forma como a humanidade pode progredir, este ano presenteou-nos com “Iluminações de Uma Mulher Livre”, que pretende dar uma nova força à imagem e ao poder interior da mulher. É um dos autores nos quais vale a pena apostar. 

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Opinião: A Louca da Casa, de Rosa Montero https://branmorrighan.com/2017/01/opiniao-louca-da-casa-de-rosa-montero.html https://branmorrighan.com/2017/01/opiniao-louca-da-casa-de-rosa-montero.html#respond Tue, 24 Jan 2017 10:51:00 +0000
A Louca da Casa

A Louca da Casa
Rosa Montero

Editora: Livros do Brasil / Coleção Miniatura

OPINIÃO: Primeiro livro terminado em 2017. Uma espécie de record no que toca ao término da primeira leitura num qualquer ano. Mas a culpa não é d’A Louca da Casa, pelo contrário, este foi o único livro, de vários que experimentei na primeira semana de Janeiro, a prender realmente a minha atenção.

Já em 2015 havia iniciado o ano com uma leitura de Rosa Montero – A ridícula ideia de não voltar a ver-te – e isto tem o seu quê de catártico, começar o ano a absorver tantas emoções familiares que raros escritores têm a capacidade de transmitir com essa proximidade. Desta vez não tive meios para registar muitas das passagens que me marcaram, como fiz com a anterior obra da escritora, mas antes de explorar muito mais este livro é fácil dizer: LEIAM-NO!

“A imaginação é a louca da casa” é um frase de Santa Teresa de Jesus. E a imaginação pode ser inquietante. Toda esta obra de Rosa Montero é um hino à fronteira entre o real e o imaginário, que por vezes é tão ténue que deixamos de conseguir distinguir uma da outra. E esta fragilidade, ou força, humana, é explorada através de uma viagem literária recheada de nomes de referência e ainda com vários relatos pessoais. Penso que existem várias formas de olhar para esta obra, daí a mesma não se encaixar em nenhum género específico, o que adoro.

Recentemente descobri que é este tipo de obra literária que mais me desperta a atenção e mais me prende. Existe de tudo um pouco, ficção, biografia, romance, ensaio, fantasia… Existe principalmente uma grande projecção de uma ideia que se quer explorar. Em A Louca da Casa, a ideia é a da escrita e de como a escrita pode ser libertadora e asfixiante ao mesmo tempo. 

Li algumas entrevistas da autora sobre este livro, portanto sei que muito do que o que está lá não é real, mas honestamente não quero saber o quê. Podia esquadrinhar a vida da autora e perceber se os dados pessoais que apresenta são reais, podia ir tentar verificar tantas outras coisas, mas não quero. Não quero porque a narrativa em si foi um acontecimento por si mesmo. Quem é que nunca sentiu que tinha tantas emoções a transbordarem, em que nos sentimos a roçar a loucura, em que o único alívio possível parece ser pegar num caderno ou num teclado e começar a escrever?

A escrita tem este poder, de exorcizar demónio, reais, imaginados, sonhados. Claro que achei super interessante o relato sobre vários escritores e como a sua afirmação na crítica se tornou uma obsessão. Revi muitos escritores amigos meus em muitas passagens sobre as frustrações, os altos e baixos durante a escrita de uma nova obra, ou até nas crises do antes e do depois. 

No entanto, foi na personalidade de Rosa Montero que mais me apeguei. Não que seja uma espécie de voyeurismo, mas antes porque revejo muito na personalidade da autora. Na sua independência, nas suas inseguranças e nas suas certezas (reais ou aparentes). Cada obra é tão real para um leitor quanto a sua experiência pessoal. Digam o que disserem, esta é a minha opinião. Todas as nossas vivências vão sempre influenciar a forma como olhamos para qualquer obra de arte. Acho que este livro também é sobre isso. Seja como for, A Louca da Casa fica mais do que recomendado. 

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Citações Aleatórias #53 Rosa Montero – A Louca da Casa https://branmorrighan.com/2017/01/citacoes-aleatorias-53-rosa-montero.html https://branmorrighan.com/2017/01/citacoes-aleatorias-53-rosa-montero.html#respond Tue, 10 Jan 2017 20:12:00 +0000


Talvez a sensação de imortalidade que sentimos quando amamos seja uma intuição do nosso triunfo orgânico; ou talvez seja seja apenas um truque genético de espécie, para nos induzir ao sexo e, portanto, à paternidade (os genes, coitadinhos, ainda não sabem nada sobre preservativos e pílulas). Depois, os humanos, com essa habilidade tão nossa para complicar tudo, convertem a pulsão elementar de sobrevivência no delírio da paixão. E a paixão geralmente não gera filhos, mas monstros imaginários. Ou, o que é a mesma coisa, imaginações monstruosas. 


Rosa Montero, A Louca da Casa

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Citações Aleatórias #26 – Rosa Montero/Marie Curie https://branmorrighan.com/2015/11/citacoes-aleatorias-26-rosa.html https://branmorrighan.com/2015/11/citacoes-aleatorias-26-rosa.html#respond Thu, 19 Nov 2015 21:23:00 +0000

«Isto de não querer esquecer é uma prova, um lugar-comum acerca do qual toda a gente nos previne e que, evidentemente, dificulta o luto e o torna mais longo. (…) De qualquer maneira a proibição parece-me brutal e própria de uma mulher possuída pela violência das suas emoções, mesmo que se esforçasse por ocultá-lo. Ela própria [Marie Curie] reconheceu a sua dissimulação numa carta que escreveu a uma amiga, aos vinte anos: “Quanto a mim, estou muito contente, porque com frequência escondo no riso a minha absoluta falta de alegria. Foi uma coisa que aprendi quando me dei conta que as pessoas que vivem tudo com tanta intensidade como eu não são capazes de mudar esta característica da sua natureza e têm de dissimular o melhor possível.” Tal como os géiseres, só de quando em quando deixava escapar o seu íntimo ardente.»

A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te, de Rosa Montero

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Citações Aleatórias #26 – Marie Curie https://branmorrighan.com/2015/11/citacoes-aleatorias-26-marie-curie.html https://branmorrighan.com/2015/11/citacoes-aleatorias-26-marie-curie.html#respond Sun, 15 Nov 2015 21:33:00 +0000

«Não é preciso viver uma existência tão antinatural como a minha. Dediquei uma enorme quantidade de tempo à ciência porque queria, porque amava a investigação… O que desejo para as mulheres e para as jovens é uma simples vida de família e algum trabalho que lhes interesse.»

Marie Curie (retirado do livro A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te, de Rosa Montero)

PS: Sobre esta citação quero dizer, e reforçar a ideia de, que o livro de Rosa Montero é das melhores obras literárias que alguma vez li. De uma assertividade desconcertante. Tenho o livro todo sublinhado. E é incrível como ele me puxa tantas vezes ao ano, como de certa forma me faz sentir menos sozinha quando me deparo com algumas circunstâncias. É um livro sobre Marie Curie e ao mesmo tempo sobre a sua autora. É uma delícia. É com uma enorme admiração que olho para a coragem destas mulheres, cada uma no seu tempo, em se exporem de peito aberto. Revejo-me tanto que podem contar com mais citações nos próximos tempos! É um dos livros do ano para mim, senão O livro do ano.

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Citações Aleatórias #25 – Rosa Montero https://branmorrighan.com/2015/11/citacoes-aleatorias-25-rosa-montero.html https://branmorrighan.com/2015/11/citacoes-aleatorias-25-rosa-montero.html#respond Sat, 14 Nov 2015 13:03:00 +0000

«A criatividade é justamente isso: uma tentativa alquímica de transmutar o sofrimento em beleza. A arte, em geral, e a literatura em particular, são armas poderosas contra o Mal e a Dor. (…) a literatura torna-nos parte do todo e, no todo, a dor individual parece que dói um pouco menos. Mas o sortilégio também funciona porque, quando o sofrimento nos parte a espinha, a arte consegue transformar esse dano feio e sujo numa coisa bela. (…) Esmagamos carvões com as mãos nuas e às vezes conseguimos que pareçam diamantes.»

A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te, Rosa Montero

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Opinião: A ridícula ideia de não voltar a ver-te, de Rosa Montero https://branmorrighan.com/2015/02/opiniao-ridicula-ideia-de-nao-voltar.html https://branmorrighan.com/2015/02/opiniao-ridicula-ideia-de-nao-voltar.html#respond Tue, 03 Feb 2015 20:08:00 +0000

A ridícula ideia de não voltar a ver-te
Rosa Montero

Editora: Porto Editora

Sinopse: Quando Rosa Montero leu o diário que Marie Curie começou a escrever depois da morte do marido, sentiu que a história dessa mulher fascinante era também, de certo modo, a sua própria história.

Assim nasceu A ridícula ideia de não voltar a ver-te: uma narrativa a meio caminho entre a memória pessoal da autora e as memórias coletivas, ao mesmo tempo análise da nossa época e evocação de um percurso íntimo doloroso. São páginas que falam da superação da dor, das relações entre homens e mulheres, do esplendor do sexo, da morte e da vida, da ciência e da ignorância, da força salvadora da literatura e da sabedoria dos que aprendem a gozar a existência em plenitude.

Um livro libérrimo e original, que nos devolve, inteira, a Rosa Montero de A Louca da Casa – talvez o mais famoso dos seus livros.

Opinião: Existem livros que, uma vez lidos, deixam uma marca tão indelével em nós que se torna imperativo tomar alguns momentos como nossos, quase em tom de luto respeitoso pelo seu fim. Nunca antes tinha lido uma obra de Rosa Montero, tornando A ridícula ideia de não voltar a ver-te o meu primeiro contacto com a sua escrita. Nem sequer é bem um romance, mas antes uma espécie de biografia-autobiográfica, cruzando o seu passado com o de Marie Curie. Através do registo fascinante da vida desta que foi Prémio Nobel da Química e da Física, a escritora dá-nos não só a sua visão sobre os acontecimentos históricos como entrelaça o seu sofrimento com o dela nos devidos momentos.

Começando pela edição física desta obra, não poderia não mencionar o facto de estar belíssima, com uma capa reforçada, um trabalho fotográfico cuidado e ainda um separador de tecido integrado, da cor das letras da capa. Gostei do detalhe de a Porto Editora ter dado cor à saia da figura na capa, em oposto ao cinzento quase total da edição original, tornando-a numa das mais bonitas e bem sucedidas capas que tenho encontrado na Literatura. Existe uma simplicidade e um jogo entre a sensibilidade e a força tão patentes na conjugação das cores e no desenho em si, que a conjugação com o texto reflecte uma harmonia de contexto e de expressão visual. 

A escrita, estrondosa. Uma capacidade única de quem, inequivocamente, já sentiu um mundo inteiro em si mesma. Mesmo Marie Curie tendo uma história controversa, dados os altos e baixos na sua vida, a forma como Rosa Montero a vai caracterizando deixa-nos antever uma mente aberta, um entendimento sem julgamento, mostrando um respeito e admiração por quem, como ela, perdeu alguém de forma, poderei dizer, ridícula. Esta perda, pretexto para nos conduzir pelos meandros da personalidade de Marie Curie, é o catalisador supremo das observações mais incisivas, onde a realidade é exposta de forma tão simples quanto brutal.

Na origem da criatividade está o sofrimento, o próprio e o alheio. A verdadeira dor é inefável, deixa-nos surdos e mudos, está para lá de qualquer descrição e qualquer consolo. A verdadeira dor é uma baleia demasiado grande para poder ser arpoada. E no entanto, apesar disso, os escritores empenham-se em pôr ‪#‎Palavras‬ no nada. Atiramos #Palavras como quem atira pedrinhas a um poço radioactivo até o entulharmos.

Quem poderia deitar palavras destas cá para fora sem as ter sentido no seu âmago? A ridícula ideia de não voltar a ver-te é uma viagem para os corações fortes, sendo inevitável a rendição crescente ao lado mais frágil do ser humano. Se ao longo de cada cenário nos vamos confrontando com a dura realidade de Marie Curie, as últimas páginas, que incluem o derradeiro testemunho pessoal e que contém os registos do diário da cientista, aperta-nos o peito ainda mais, sendo provável que as lágrimas cheguem mesmo aos olhos daqueles que se julgam mais insensíveis. 

A vida da mulher que descobriu o rádio tem tanto de fascínio como de horror. A perspectiva que vamos tendo pelos olhos de Rosa Montero mostra-nos a dura realidade do que foi, e às vezes ainda é, ser mulher num mundo de homens, como o universo da ciência, ainda para mais sendo mais bem sucedida do que a grande maioria dos seus colegas. Os sacrifícios feitos, as batalhas esgotantes e uma situação familiar que também a levava a desvalorizar-se a si mesma, tornaram todo o seu caminho doloroso por vezes insuportável. Valia-lhe o seu Pierre, o seu tão amado Pierre, até ao dia em que após uma pequena discussão ele sai de casa para o laboratório e ela não mais o volta a ver. 

Este é um livro imenso, onde a antítese e a catarse convivem para darem origem a uma obra ímpar, reflectindo-se numa leitura intensa, apaixonada, factual, mas que ao mesmo tempo dá espaço à imaginação do leitor para as suas próprias divagações. Posso dizer, sem vergonhas e com toda a certeza, que foi a leitura que mais me arrebatou desde Para Onde Vão os Guarda-Chuvas, de Afonso Cruz, uma das minhas obras preferidas de todos os tempos. É como ter diamantes nas mãos.

«A criatividade é justamente isso: uma tentativa alquímica de transmutar o sofrimento em beleza. A arte, em geral, e a literatura em particular, são armas poderosas contra o Mal e a Dor. (…) a literatura torna-nos parte do todo e, no todo, a dor individual parece que dói um pouco menos. Mas o sortilégio também funciona porque, quando o sofrimento nos parte a espinha, a arte consegue transformar esse dano feio e sujo numa coisa bela. (…) Esmagamos carvões com as mãos nuas e às vezes conseguimos que pareçam diamantes.»

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