Sapo MAG – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 05:03:16 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.3 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Sapo MAG – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 [Reportagem] José Gonzalez e The String Theory no Coliseu de Lisboa: Uma Noite de Magia Etérea https://branmorrighan.com/2018/10/reportagem-jose-gonzalez-e-string.html https://branmorrighan.com/2018/10/reportagem-jose-gonzalez-e-string.html#respond Wed, 03 Oct 2018 10:34:00 +0000

Fotografias de Jorge Oliveira

O Coliseu de Lisboa tem sido palco de concertos memoráveis e o da noite passada, com José Gonzalez e The String Theory, não foi excepção. Normalmente munido apenas da sua belíssima voz e de um dedilhar irrepreensível, José Gonzalez habitou-nos a performances solitárias, porém cheias de luz. Na performance com The String Theory essa luz extrapolou o visível, havendo uma união tão magnífica que os arranjos que emanavam do palco tomaram uma dimensão mesmerizante. 

Sendo o mais orgânica possível, a performance contou com elementos particulares para a sua execução. De sacos de plástico a um pequeno aspirador, os músicos em palco provaram-nos que não há limites para a composição nem para a arte. Se nuns momentos o palco era dominado pela orquestra e noutros por José Gonzalez, quando ambos se uniam criavam uma espécie de paisagem, à mercê da nossa imaginação, arrepiante.

O início do concerto fica marcado pelo murmúrio de sacos de plástico manuseados por músicos em palco. Como que um sussurrar que urge tornar-se algo maior. Juntam-se as cordas e a precursão, e tudo converge para o êxtase inicial quando cada átomo do coliseu se vê evolvido pela voz única de Gonzalez. Pouco depois junta-se um pequeno coro e estão abertas as hostes para hora e meia de concerto que teve momentos em que conseguiu roçar uma beleza sobrenatural.

Os arranjos para os temas do artista sueco têm tanto de clássico como de contemporâneo, explorando por vezes uma veia mais electrónica, outra mais pop, mas nunca previsível. É como se a cada narrativa de Gonzalez, The String Theory conseguisse contribuir com uma ilustração. Houve momentos de pura magia em que não me admiraria de, de repente, ver pequenos seres a surgirem por entre os músicos, saltitando e dançando em palco. 

Temas como Crosses, Heartbeats, Teardrop, The Forrest, Cycling Trivialities ou Down on the Line, provocaram o maravilhamento por entre o público. Heartbeats, a cover de The Knife, é das músicas mais acarinhadas. Teardrop, versão dos Massive Attack, também recebeu o deslumbramento e os aplausos de quem se sente arrebatado por uma energia estrondosa. Comum a todas as canções, foi a paixão e o entusiasmo visível em cada um dos músicos, muito bem liderados por um maestro que colocou o Coliseu de pé a bater palmas e a dançar.

O encore chega com mais três temas, sendo o primeiro liderado por The String Theory, com Gonzalez na precursão. Esta versatilidade é exacerbada pelos elementos da orquestra que foram variando de instrumento, entre vocal e físicos, sendo impossível não admirar todo o esforço e entrega que a comunhão José Gonzalez mais The String Theory terá exigido. Para os fãs de Gonzalez que estão habituados a encontrar algum consolo nos seus temas, o concerto proporcionou uma espécie de abraço quente em que mesmo os temas mais emotivos estiveram menos sozinhos, não dando espaço a qualquer tipo de solidão ou melancolia. Festejou-se a música e a sua versatilidade de uma forma belíssima com uma voz incontornável e uma orquestra que quebrou barreiras e preconceitos. 

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[Reportagem SAPOMAG] Marilyn Manson no Campo Pequeno: Frenético, teatral e sempre provocador https://branmorrighan.com/2018/06/reportagem-sapomag-marilyn-manson-no.html https://branmorrighan.com/2018/06/reportagem-sapomag-marilyn-manson-no.html#respond Thu, 28 Jun 2018 11:16:00 +0000 Fotografia Nuno Rolinho/Hexafoto

Reportagem original: https://mag.sapo.pt/showbiz/artigos/marilyn-manson-no-campo-pequeno-frenetico-teatral-e-sempre-provocador

Não existem dúvidas que Marilyn Manson é um ícone do rock. Goste-se ou não, polémico ou não, o que é certo é que não deixa ninguém indiferente, como provou esta Quarta-feira, no Campo Pequeno. O próprio nome do projecto fala por si, as suas origens vão buscar luz e escuridão, luxúria e obsceno.

Com dez discos na bagageira e um quarto de século a pisar palcos, muitos têm sido os episódios que têm marcado a história do protagonista que pisou na noite passada o palco do Campo Pequeno.

A última visita a Portugal tinha sido naquele mesmo local, mas em 2009. Heaven Upside Down, o último disco, foi lançado em Outubro de 2017 e serviu de mote para o regresso a terras lusas. Fazendo jus ao que seria de esperar, o concerto, de plateia e bancadas lotadas, foi um espectáculo que teve tanto de rocambolesco como de frenético e insólito.

Com alguns minutos de atraso, o público português já se fazia ouvir a bom som. Quando Marilyn Manson irrompe pela névoa de fumo, o jogo de luzes ataca em sintonia com as primeiras notas e a euforia começa. Em cima do palco existe toda uma teatralidade que faz parte do personagem que o músico norte-americano encarna, e que se manteve até ao fim.

Logo de início, Marilyn Manson referiu que o público português é o mais “barulhento” de todos e a plateia reagiu e correspondeu com tudo o que tinha. O alinhamento contou com temas do disco novo, mas também percorreu os já considerados grandes clássicos, fazendo as delícias dos fãs.

Houve vários momentos marcantes ao longo do concerto. Não só se expressou como bem entendeu, atirando os microfones e os seus apoios em diferentes direcções, modificando o vestuário de tema para tema e atirando-se para o chão rastejando ou em posições mais provocadoras, como também proporcionou a oportunidade de algumas fãs subirem ao palco – em “Kill4Me” e (pelo menos pareceu uma espécie de tentativa de) em “I Don’t Like The Drugs (But The Drugs Like Me)”. Ambos os temas acabaram por ficar registados também na lista de momentos insólitos. Para quem estava na bancada, não era bem claro o que era encenado ou improvisado.

Toda a performance emanou sempre uma grande dose de provocação. Fosse pelas poses, pelas atitudes, ou por toda a carga sonora e lírica que esta carrega sempre consigo. A voz de Marilyn Manson pode já não ter a resistência que tinha antes, mas ainda assim conseguiu evocar sons bastante viscerais, sempre acompanhado de forma potente pelo guitarrista, baixista e baterista.

A imagem de Marilyn Manson em 2018 pode não provocar o mesmo espanto ou fascínio/terror que provocou nos anos 90, mas o que é certo é que continua a marcar gerações. Houve público para todas as idades, sendo que o músico chegou a brincar dizendo “espero não ser o pai de nenhum de vocês”.

O concerto terminou, já depois de dois encores explosivos, com Marilyn Manson de bandeira de Portugal ao peito e a dizer que nos voltaria a ver brevemente.

Setlist

Irresponsible Hate Anthem

Angel With the Scabbed Wings

Deep Six

This Is the New Shit

Disposable Teens

mOBSCENE

Kill4Me (With fans on stage)

The Dope Show (I Don’t Like The Drugs (But The Drugs Like Me) intro)

Sweet Dreams (Are Made of This) (Eurythmics cover)

Say10

Antichrist Superstar

Encore:

Cry Little Sister (Gerard McMann cover)

The Beautiful People

Encore 2:

Coma White

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[Reportagem SAPO] Bob Dylan na Altice Arena: Uma voz com décadas de experiências https://branmorrighan.com/2018/03/reportagem-sapo-bob-dylan-na-altice.html https://branmorrighan.com/2018/03/reportagem-sapo-bob-dylan-na-altice.html#respond Fri, 23 Mar 2018 09:17:00 +0000

Reportagem originalmente publicada aqui: https://mag.sapo.pt/showbiz/artigos/bob-dylan-no-altice-arena-uma-voz-com-decadas-de-experiencias

A última vez que Bob Dylan tinha atuado em Portugal tinha sido há dez anos atrás no NOS Alive. Ontem à noite regressou a Lisboa, numa noite gelada, para um Altice Arena há muito anunciado esgotado.

O fenómeno, inédito em concertos seus anteriores, poderá ser facilmente explicado não só pelo seu talento musical, mas também pelo recente Prémio Nobel da Literatura que lhe foi atribuído. Esta atribuição algo inédita gerou muita controvérsia mas, acima de tudo, muita curiosidade. Acredito que tenha sido a ponte para chegar a ainda mais público, atravessando gerações mais novas. Ainda ontem pensava, enquanto esperava sentada numa das laterais do Balcão 1, que quando Bob Dylan lançou o seu primeiro disco (em 1962) a minha mãe ainda estava para nascer. Já leva quase o dobro da minha idade só em anos de estrada. Não será então de estranhar que a média de idades dos presentes fosse já bem adulta, havendo ainda assim uns quantos presentes da minha geração e até mais novos. Com todas as luzes baixas e um silêncio expectante, aguardávamos o início do concerto.

“The Never Ending Tour” já conta com quase 3000 concertos e o reportório disponível é mais do que vasto, incluindo várias covers que toca com regularidade nos seus concertos. Só em 2017, Bob Dylan lançou Triplicate (um disco triplo) e ainda Trouble No More: The Bootleg Series, Vol. 13/1979-1981. Ainda assim, o alinhamento apresentado nesta noite em Lisboa foi semelhante ao dos concertos que havia dado em 2017.

Sentado ao piano grande parte da noite, Bob Dylan parece ter abandonado de vez a guitarra. Com uma voz que carrega em si décadas de experiências, amadurecida como qual vinho do Porto, o músico norte-americano mostrou-se sólido na sua atuação.

Cada música consegue conter toda uma narrativa dentro, evocando assim vários cenários e imaginários populados pelas suas personagens. Cada composição instrumental entrelaça-se com a letra, fazendo com que seja criada uma espécie de aura encantatória à volta de cada tema, uns com mais ritmo do que outros.

É também notável a capacidade metamorfósica de Bob Dylan em relação a algumas das suas canções. Quando se tem tantas décadas de carreira e se tocam as mesmas músicas dezenas/centenas de vezes, talvez o processo mais natural seja mesmo dar-lhes uma nova roupagem. Bob Dylan tem-no feito com frequência, sendo que por vezes a distância às originais se torna tão significativa que nem sempre as conseguimos reconhecer aos primeiros acordes, mas já só depois de o cantor adicionar a sua voz à música.

Bob Dylan acaba por abandonar o piano uma única vez, dirigindo-se para o centro do palco e dando-nos o prazer de ouvir “Why Try To Change Me Now”, quase em jeito de sonata, arrancando aplausos do público ainda o tema não tinha terminado. O concerto acabaria pouco depois, mas logo a banda voltaria para um pequeno, mas intenso encore.

Assisti pela a primeira vez a um concerto de Bob Dylan e confesso que estranhei a distância que se fez sentir entre o palco e o público e a ausência de interacção. Dado o género e até a emoção e comoção que a música de Bob Dylan consegue provocar, senti falta de uma intimidade que poderia tornar o concerto mais especial. A nível de execução, tirando alguns ajustes de som iniciais, correu tudo bem.

Uma coisa é certa, existe sempre uma espécie de fascínio quando estamos perante um artista como Bob Dylan. Fez da música a sua vida, acabando com isso por contribuir também para o cânone literário através das suas letras. Bob Dylan tornou-se, ao longo dos últimos 56 anos, uma espécie de instituição. Seja-se admirador ou não, é impossível não sentir um grande respeito pelo seu trajeto e a noite de ontem foi prova disso mesmo.

Alinhamento do concerto:

Things Have Changed

It Ain’t Me, Babe

Highway 61 Revisited

Summer Days

Don’t Think Twice, It’s All Right

Melancholy Mood (Frank Sinatra cover)

Honest With Me

Simple Twist of Fate

Tryin’ to Get to Heaven

Once Upon a Time (Tony Bennett cover)

Pay in Blood

Tangled Up in Blue

Soon After Midnight

Early Roman Kings

Spirit on the Water

Desolation Row

Autumn Leaves (Yves Montand cover)

Thunder on the Mountain

Why Try to Change Me Now (Cy Coleman Jazz Trio cover)

Love Sick

Encore:

Blowin’ in the Wind

Ballad of a Thin Man

*O artista não autorizou a recolha de imagens do concerto

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