Teatro Maria Matos – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 05:34:06 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.2 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Teatro Maria Matos – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 [DESTAQUE] Paul Jebanasam e Tarik Barri juntos no Teatro Maria Matos dia 20 de Dezembro https://branmorrighan.com/2017/12/destaque-paul-jebanasam-e-tarik-barri.html https://branmorrighan.com/2017/12/destaque-paul-jebanasam-e-tarik-barri.html#respond Tue, 19 Dec 2017 10:39:00 +0000

MÚSICA ★ 20 DEZEMBRO 2017

QUARTA → 22H

PAUL JEBANASAM & TARIK BARRI

Continuum

Na capa de Continuum, álbum de Paul Jebanasam editado no ano passado, está a fotografia de um reator de fusão do centro energético de Culham, em Inglaterra. A grande maioria de nós não consegue compreender a sua mecânica e atividade, mas reconhecemos na sua imagem um poder que nos transcende. Acima de tudo, esta imagem, de uma máquina altamente tecnológica que desafia a nossa realidade, abre-nos as portas de uma imaginação que também ela nos transcende, com limites tão distantes quando as próprias dimensões do universo. Foi neste campo de possibilidades infinitas que Paul Jebanasem criou Continuum, um magnífico álbum que coloca a eletrónica em constante exploração por vida no Universo, elaborando uma possível banda sonora para a sua História, desde o aparecimento dos primeiros sinais de vida até a uma hipótese de futuro do Cosmos. Dividindo-se em três partes, Continuum recria eventos celestiais, algoritmos em ação, comportamentos celulares, como se tanto olhássemos para o céu como para um potente microscópico: tudo cabe dentro desta obra, tal como tudo existe à nossa volta.

Mas uma banda sonora é apenas o lado musical de todo este filme. Continuum existe, sobretudo, na sua presença (e ausência) em palco, em que toda a especulação musical é transposta para uma especulação visual. Tarik Barri, um dos estetas visuais dos dias de hoje (com trabalho importante para Monolake ou Thom Yorke), conta-nos o que pode ter sido esta bonita História do Universo, com uma poesia luminosa que nos inquieta e transcende. Continuum é, na sua versão ao vivo, uma obra-prima estonteante, e um dos momentos mais felizes em como a eletrónica encontrou numa tela a sua perfeita identidade visual. Poucas, mesmo muito poucas experiências numa sala de concertos têm esta magia. Arrisquemos a palavra “milagre”, porque também é esse o substantivo que nos lembramos quando tentamos pensar no Universo.

sala principal • 7€ a 14€

Menores de 30 anos 5€ • Menores de 18 anos 3€ • M/6

eletrónica Paul Jebanasam

vídeo Tarik Barri

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[Agenda] Ben Frost regressa ao Teatro Maria Matos com novo disco a 12 de Dezembro https://branmorrighan.com/2017/11/agenda-ben-frost-regressa-ao-teatro.html https://branmorrighan.com/2017/11/agenda-ben-frost-regressa-ao-teatro.html#respond Wed, 22 Nov 2017 14:50:00 +0000 Fotografia Salar Kheradpejouh

Músico australiano apresenta The Centre Cannot Hold a 12 Dezembro no Teatro Maria Matos

12 DEZEMBRO 2017

TERÇA → 22H

BEN FROST

The Centre Cannot Hold

Da última vez que o Teatro Maria Matos recebeu Ben Frost na sua sala, em 2015, para além de ter trazido a sua Aurora em versão expandida por MFO, havia também na bagagem uma confissão pública de que a composição e edição dos seus álbuns teriam deixado de fazer sentido. A colaboração com outros músicos e artistas parecia, nessa altura, ter substituído o motor que o levara a editar obras tão importantes como By The Throat ou Theory of Machines. É nesse aparente desvio da norma que Ben Frost escreve música para FAR e Black Marrow, duas coreografias de Wayne McGregor e Erna Ómarsdóttir, respetivamente; Rainbow Six: Siege, banda sonora para o jogo da Ubisoft; Fortitude, série de TV, atualmente com duas temporadas; e Incoming, uma instalação de Richard Mosse, com quem também trabalhou para o documentário Bombing ISIS do Channel 4.

The Centre Cannot Hold aparece, por isso, como uma surpresa, embora se compreenda que a gravação de discos originais passam agora a ser o desvio da norma das bandas sonoras dos últimos anos. Mas, como sempre, um disco na cabeça de Ben Frost não é apenas um disco de música: tal como Aurora, esta nova obra parece empenhada em colocar na música a sua atração pela tensões cromáticas, com o azul a dominar o seu espectro. A sua música tem agora outras sensações, menos explosivas e mais pacientes, com maior preocupação em criar narrativas subtis, mais distantes do medo instigado anteriormente. Há agora uma encenação do som, como se tudo estivesse num palco fictício, imaginário, dentro da tal caixa em que Ben Frost nos quer colocar. Contenções e encenações que virão, decerto, das muitas encomendas que executou nos últimos anos.

Mas quem o procura pelas descargas de adrenalina sonora não terá nada a recear: The Centre Cannot Hold, produzido por Steve Albini, transmite-nos uma tensão eletrizante constante, como se fosse um gás em permanente acumulação de energia, pressionando os limites do espaço que ocupa. Ao vivo, como sabemos, a grande questão que Ben Frost sempre nos coloca é: seremos apenas espectadores, ou estamos bem dentro do seu espaço? Com a ajuda valiosa de MFO — que já nos atirou para dentro de Aurora, e também de Love Streams, de Tim Hecker —, está garantida a imersão total nesta noite.

sala principal • 7,5€ a 15€

Menores de 30 anos 5€ • Menores de 18 anos 3€ • M/6

eletrónica, guitarra elétrica Ben Frost

vídeo, luz MFO

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[DESTAQUE] Tiago Sousa tem novo disco – Coro das Vontades – e concerto no Teatro Maria Matos https://branmorrighan.com/2015/02/destaque-tiago-sousa-tem-novo-disco.html https://branmorrighan.com/2015/02/destaque-tiago-sousa-tem-novo-disco.html#respond Mon, 16 Feb 2015 12:44:00 +0000

Coro das Vontades

um disco com música de Tiago Sousa e textos de Joana Rosa, Inês Leitão e Paulo Carvalho

O Coro das Vontades é o novo disco de Tiago Sousa. A edição desta obra comissariada pelo Teatro Maria Matos, será assinalada com um concerto a ter lugar no teatro lisboeta, a 8 de Abril, momento em que o CD será oferecido a todos os que a ele assistam.

Em antecipação, Tiago irá enviar O Coro das Vontades, em formato digital, a todos os subscritoes da sua newsletter no final deste mês, Fevereiro. Quem ainda não tiver subscrito poderá fazê-lo através do site www.tiagosousa.org. No dia 15 de Março a versão digital será dispnibilizada ao público em geral através do mesmo site e no novo Bandcamp do músico.

Teatro Maria Matos 8 abril 22h

Do coro das vontades a um piano nas barricadas

O Coro das Vontades, originalmente comissariado pelo Teatro Maria Matos, e aí apresentado no Dia do Manifesto a 14 de Julho de 2012, parte da criação de dois finlandeses, Tellervo Kalleinen e Oliver Kochta-Kalleinen, que em 2005 organizaram o primeiro Complaint Choir na cidade de Birmigham. Os artistas decidiram disponibilizar o conceito na Internet em open source. Os coros de queixas começaram a emergir em todo o mundo: Helsínquia, Hamburgo, São Petersburgo, Melbourne, Jerusalém, Budapeste, Chicago, Florença, Vancouver, Singapura, Copenhaga, Filadélfia, Milão, Hong Kong, Tóquio, Roterdão. A convite do teatro lisboeta, Tiago Sousa propõe uma abordagem a este conceito.

Partindo de textos enviados pelo público do Teatro Maria Matos, Tiago Sousa e Joana Rosa criaram este espectáculo a partir de questões levantadas pelos manifestos e chegaram à ideia de separação. Da separação inerente à condição do cidadão, que entrega o seu poder à esfera política, à separação entre autor e público, nos seus papéis de emissor e receptor.

À ideia iluminista que vê o Autor como um agente de intelectualidade, ou de sensibilidade, vedada ao público comum, ignorante da arte enquanto prática, propõe-se a ideia de que tanto o autor quanto o espectador são emissores e receptores de ideias, potenciais criadores de um diálogo dinâmico de partilha.

Os autores propõem a oposição desse sujeito pensante que se reconhece como tal separado de sentido e de corpo, a um novo sujeito pensante que se expressa pela via da acção. Exercendo-a sobre si mesmo e sobre os outros. Buscando a sua harmonização e realização de modo colectivo e emancipatório.

Créditos:

Créditos:

conceptualização, piano e composição Tiago Sousa

conceptualização, edição e escrita de textos Joana Rosa

clarinete soprano Ricardo Ribeiro

violoncelo Ulrich Mitzlaff

soprano Beatriz Nunes

actriz Inês Nogueira

uma encomenda Maria Matos Teatro Municipal

agradecimentos Os autores agradecem aos amigos, familiares e a toda a equipa do Teatro Maria Matos pelo contributo dado na realização deste disco. Em especial a Mark Deputter e Pedro Santos. Por fim, agradecem a todos os que contribuíram com os seus manifestos e ideias.

This work is licensed under Creative Commons License: Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International (CC BY-NC-SA 4.0)

 International License. To view a copy of this license, visit https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/

01 A Terra Treme

a partir do original de Mónica Amaral Ferreira

A Terra Treme (a casa cai)

02 Antígona

Joana Rosa

Quando erguidos e retos

Descobriremos insurretos

Antiga Antígona

Primeira lei interior

Anterior às leis dos homens

03 Cinco crimes por dia, amor meu, e seremos nossos

Joana Rosa

I.

     Preparai-vos

     Saí de vós

     Desfazer não

     Traz temor se

     Confiais na

     Promessa que

     Se esconde

     Atrás da

     Cortina de fogo

     II.

     Manifesta-se a

     Estrada cortada

     Ao espanto

     Anunciada

     Por um Piano

     Na barricada

     III.

     A primordial

     Forma do mundo

     Inspira, é mimética

     Imago Mundi aberta

     IV.

     Dirigi-vos

     Entrai em vós

     Chegar não é louvor

     Se vos focais na meta

     Não vês que é certa

     A perda de sentido

     Do caminhar

     V.

     Libertai

     Da Mente

     Os pássaros

    Como Prometeu

     O fogo

     Que a dádiva

     Torna livre

     Aquele que dá.

04

Manifesto a favor da utilização

dos transportes públicos / Manifesto pela saída de emergência

Inês Leitão

Fonte Sonora A

Faço questão do autocarro público, das pessoas contra o meu corpo, de ir para o trabalho a achar que eu sou os olhos e as mãos de todos os que passaram por mim, de todos os que me tocaram inocentemente, ostensivamente, luxuriosamente.

Faço questão dos seus olhos a fitarem os meus: dos seus olhos, de como se abrem e fecham tão rapidamente sem que eu compreenda o fenómeno do fechamento das pálpebras cansadas e da densidade das sobrancelhas. Faço questão de os ver dormir quando o cansaço os agarra e de os ver despertar para sair, automáticos e autónomos. Gosto de dar atenção às suas expressões, àquilo que a sua cara diz quando se silenciam sozinhos e falam para dentro onde eu não oiço.

Faço questão dos dedos, de lhe contar os pelos da pele das mãos, de lhes conhecer perfeitamente as mãos sem que se apercebam dos meus olhos na sua pele.

Faço questão do tamanho das unhas, do contorno da barba, do desenho do queixo na anatomia total do corpo a que pertencem.

Faço questão que o autocarro chegue cheio e quente de gente e que o vapor se instale na janela para eu poder desenhar e escrever. Faço questão de desenhar e escrever no vapor deles.

Faço questão do número de senhoras da minha idade, de lhes analisar as ancas e adivinhar quantas pessoas lhes dormiram no útero durante nove meses de gestação.

Faço questão das roupas que usam de manhã e que trazem no fim do dia. Faço questão de pensar neles sem roupa

(o ato de vestir é o mais terrível ato de egoísmo individual sobre a humanidade)

e faço questão da transpiração.

9

Faço questão das gotas de água a saírem de poros invisíveis e audaciosos, faço questão do milagre do suor do corpo quando somos tantos no mesmo espaço, tantos a respirar o mesmo ar, tantos a suar os mesmos medos. Faço questão do barulho do motor do autocarro, de me agarrar a ferros mornos de gente para resistir à queda. Faço questão de sentir o ferro e de invejar a sorte da sua condição de ferro de autocarro público: tão tocado por tantos. Faço questão de não esquecer

(não esquecer um só)

e de me sentir feliz sempre que os vejo chegar à hora certa (a perturbação invade-me e as minhas mãos tremem ao pensar no que pode ter causado a ausência)

Faço questão que o autocarro venha cheio de corpos para eu poder entrar de lado e jurar a todos com licença. Faço questão de gravar as suas vozes na minha memória para poder reproduzi-las quando me deito e penso que a cidade de Lisboa é muda à noite

(só à noite)

quando não há ninguém nem nada de novo a acontecer nas paredes do meu quarto. Faço questão do cheiro do champô deles no autocarro, do desodorizante, dos perfumes, dos roupeiros

(tantos, tantos, tantos).

Faço questão de me encostar aos seus corpos de propósito, de aproveitar os instantes das travagens abruptas do autocarro para poder tocar-lhes e olhar cada um nos olhos a suplicar perdão pelo toque usurpador

— com licença, desculpe,

senhora, o seu perdão

Faço questão de repetir o transtorno

— com licença, por favor, desculpe

vezes sem conta,

— perdão, senhor, perdão

por todos os corpos presentes, até ser a minha vez de tocar para sair, triste e em tropeço, agarrando as mãos ao ferro como uma despedida de dor com cheiro a aço, colocando o dedo na campainha com a certeza de que os meus ouvidos ouvirão

— dlim-dlão

dlim-dlão

Fonte Sonora B

1. Contra o vento do metro na minha cara

quando eu vou trabalhar,

contra o Jornal de Negócios no degrau do

escritório de manhã,

contra todas as saídas de emergência desta

cidade,

plim.

2. Contra o rating,

contra a precariedade e contra o capitalismo

desenfreado,

plim.

3. Contra o BPN,

o BPP,

a Standard & Poor,

plim.

10

4. Contra mim,

contra o meu corpo carregado de

precariedade,

plim.

5. Contra o que podemos comer e

contra o que não podemos comer,

plim.

6. Contra todo o tédio,

contra a minha cara numa entrevista de

emprego falhada e contra a alma do meu

avô, sindicalista antes de 1974,

plim.

7. Contra a minha vagina,

contra a precariedade da minha vagina e

contra as pilas que já passaram por ela sem

a olhar,

plim.

8. Contra a raiva que tenho entre os dentes

à laia de cárie dentária que levo na boca até

à cadeira do meu trabalho,

plim.

9. Contra a pele dos meus lábios a queimar

à beira da chávena de uma bica demasiado

quente às 08:46 da manhã

antes do serviço,

plim.

10. Contra a pequena janela que tenho à

minha frente e

contra os meus dedos a bater com violência

na chapa plástica do teclado do meu

computador,

plim.

11. Contra o meu carro na oficina há três

meses por falta de pagamento,

contra a ideia de ter de comer o meu chefe

para subir de escalão e

ganhar mais do que os meus colegas: contra

aquilo que a minha boca não diz e

a minha cabeça pensa,

plim.

12. Contra o meu corpo,

contra a ideia de esmagar a minha cabeça

na parede com muita força até a abrir e tudo

se tornar irreversível,

plim.

13. Contra o mundo todo,

contra todos os movimentos pela paz,

plim.

14. Contra o Ghandi,

contra o Luther King e

contra o Mick Jagger,

plim.

15. Contra o José Luís Goucha,

contra a Júlia Pinheiro e

contra a saliva do Sr. Silva,

plim.

16. Contra os carros,

contra os pneus dos carros e

contra as bicicletas que não poluem,

plim.

17. Contra a morte de Saramago e

contra os ecos do livro de Lobo Antunes na

minha cabeça,

plim plim.

18. Contra a minha cabeça,

plim.

19. Contra a cabeça da minha mãe e

do meu pai,

plim.

20. Contra a violência da solidão e o cheiro

da urina seca num beco de Lisboa,

plim.

21. Contra o ar condicionado e contra a

escravatura do clima controlado,

plim.

22. Contra o blazer preto e contra o inverno,

plim.

23. Contra a chuva,

contra o medo e contra os fascistas da

Faculdade de Letras em 2006,

plim.

24. Contra o temor,

contra o Mário Crespo e o pânico na cara

dos outros,

plim.

25. Contra a violência,

o despudor,

contra as gralhas do jornal da SIC,

plim.

26. Contra o engano,

contra as baratas e contra os escaravelhos

amigos escondidos de mim,

plim.

27. Contra os que tropeçam e caem em

balsas quando os barcos se afundam com

pessoas presas lá dentro,

contra o mau tempo no canal,

plim.

28. Contra o mundo todo e todos os

mundos,

contra a vida que levamos e aquilo que

corremos,

plim.

29. Contra a resistência dos resistentes,

contra a sobrevivência dos malditos:

contra o meu umbigo e contra a democracia

que temos,

plim.

30. Contra mim, que tenho 30 anos, e

contra a geração fon-fon-fon:

contra ti e contra aquilo que nos tornámos

os dois multiplicados por tantos,

plim.

A favor de todas e quaisquer saídas de emergência intencionais e

criteriosas que nos levem daqui para fora,

dlim-dlão,

dlim-dlão

05 Sentados nas pernas

Joana Rosa

As pernas cruzadas

Freiam a alma

Ignotas do uso

Desconhecem acreditar

E do pensamento só saía

O espanto de um corpo

Que não se sentia

A vontade tocando

Não existia

Alguém — Quem?

Lavou e torceu

Esse pano

Para secar

06 O que é um coro?

… e um coro de vontades?

Paulo Carvalho

Se de vivos falamos, o todo é infinitamente mais pequeno do que as partes. O todo — a civilização (ocidental ou oriental), o continente, o país, a classe, a multidão, a instituição, o partido, o gang, a turma, o género, a família… — são as verdadeiras partes, meras ideias (ainda que armadilhadas), estilhaços de violência implícita, prontas a serem arremessadas ou defendidas, ameaças distantes ou baluartes próximos, que nada são quando comparadas contigo, que és imensidão, que não és parte (ainda que participes), porque não és um triângulo de vidro ou peça de puzzle que se encaixe ou solde. Não és um soldado, ainda que te solidarizes. Também não és inteiramente sólido. Partes só e esburacado para o encontro, encontras-te só e esburacado depois dele. O vento passa dentro desses buracos e no interior dos buracos do encontro. Infinito, entre infinitos, és tu, sou eu. Se te afastas, sentes frio; se te aproximas demais, corres o risco de sufocar. E eu contigo. Não nos conhecemos, conhecemos reações, alquimias a que damos nomes grandes (pelo medo de não sabermos). Infinito é apenas um dos nomes do mistério que te habita e que és. Que me habita e que sou. Foi por isso que, antes dos nomes, a voz sobreveio ao mutismo do corpo. A tua no teu, a minha no meu, a dele no seu. E a primeira forma da voz foi o grito. E o grito, assim fora do corpo, atemorizava. E foi para vencer esse medo que o tímpano — a primeira fonte do medo — se tornou fino e, muito antes da afinação, procurou a afinidade. E, desde então, cada voz existe na distância em que outra a deixa ser. É, pois, o tímpano que marca a distância: pela escuta. Da tua voz, da minha. E da terceira voz, a dele. E assim nasce o canto plural, que já não é só voz, mas cada voz unida a outras vozes singulares modelando os gritos: as vontades na distância exata — que nunca é exata, ou que o é apenas na procura do tom comum. O coro já não é um todo, difusa ideia a combater ou a defender, é a convergência de vozes singulares em ação. 

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[Reportagem] Tó Trips & Filho da Mãe – Guitarras ao Alto no Teatro Maria Matos https://branmorrighan.com/2015/01/reportagem-to-trips-filho-da-mae.html https://branmorrighan.com/2015/01/reportagem-to-trips-filho-da-mae.html#respond Fri, 30 Jan 2015 10:30:00 +0000

Fotografias cedidas pelo Teatro Maria Matos, autoria José Frade

A noite de Terça-feira, dia 20 de Janeiro, trouxe a Lisboa, ao Teatro Maria Matos, o projecto Guitarras ao Alto, protagonizado pelos músicos Tó Trips (Dead Combo) e Filho da Mãe. Depois de uma estreia por terras alentejanas, que foi um sucesso, deram a oportunidade aos lisboetas de presenciar um espectáculo ímpar, uma dança de guitarras acompanhada pela arte projectada de Cláudia Guerreiro. 

Passava pouco das 22h quando o silêncio absoluto se instalou. Palco iluminado, duas cadeiras, quatro guitarras, uma mesa e dois copos de vinho, eis que entram os nossos anfitriões. Tudo tem início de forma calma e quase contemplativa, Filho da Mãe dá os primeiros acordes, Tó Trips junta-se posteriormente, e quando damos por nós estamos fascinados com uma narrativa não só sonora como ilustrada, com a Cláudia a acompanhar o ritmo na tela, numa estética vibrante a provocar a imaginação de cada um. 

Existe uma liberdade contagiante na performance destes dois artistas, um exorcizar de emoções através de cada uma das guitarras nas suas diferentes manifestações quando dedilhadas à vez. A cada malha, um diálogo sublime em tom de sussurro harmonioso alternado com uma dicotomia de expressões com um Tó Trips bastante calmo e um Filho da Mãe mais expansivo. 

Apesar de alguma monotonia em certos momentos, a intensidade da atmosfera mantém-se palpável até ao último momento do encore. O sentimento de respeito e admiração transforma-se em murmúrios no final do concerto enquanto lamentamos ter passado tão rápido. Uma verdadeira manifestação de cultura portuguesa, a conjugação destes três artistas, num palco também ele de referência e um público sôfrego por mais. 

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PEIXE:AVIÃO / FILHO DA MÃE & JIBÓIA no Teatro Maria Matos https://branmorrighan.com/2014/09/peixeaviao-filho-da-mae-jiboia-no.html https://branmorrighan.com/2014/09/peixeaviao-filho-da-mae-jiboia-no.html#respond Sat, 13 Sep 2014 11:13:00 +0000

No dia 20 de Setembro, a música e o cinema entrelaçam-se dando origem a dois concertos vindos de duas propostas que o Curtas de Vila do Conde de 2014 endereçou a Filho da Mãe & Jibóia e aos Peixe:Avião. PEIXE:AVIÃO subirá ao palco Ménilmontant, de realização, argumento e montagem por Dimitri Kirsanoff. Já FILHO DA MÃE & JIBÓIA, dará forma musical a In the Land of the Head Hunters. 

Mais informações e bilheteira aquihttp://www.bilheteiraonline.pt/Comprar/Bilhetes/20550-peixe_aviao_filho_da_mae_jiboia-maria_matos_teatro_municipal/

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Agenda – HOJE – Laraaji e Sun Araw no Teatro Maria Matos https://branmorrighan.com/2014/05/agenda-hoje-laraaji-e-sun-araw-no.html https://branmorrighan.com/2014/05/agenda-hoje-laraaji-e-sun-araw-no.html#respond Tue, 20 May 2014 09:46:00 +0000

MÚSICA 

LARAAJI & SUN ARAW

The Play Zone

20 maio 22h

Depois de ter abençoado um dos volumes da mítica série ambiental de Brian Eno, Laraaji não mais interrompeu a sua demanda celestial. Novas reedições e colaborações nos últimos anos reabilitaram a urgência da sua música, encontrando agora nos Sun Araw os perfeitos cúmplices para prosseguir a sua jornada hipnótica a caminho do infinito do Universo.

Foi nos finais da década de 70 que Brian Eno o viu a tocar num parque em Greenwich Village, em Nova Iorque. Quando, pouco depois, o convidou para integrar um dos volumes da sacrossanta série ambiental ― Ambient 3: Day of Radiance ―, já Laraaji, ou Edward Larry Gordon, havia começado o seu trajeto rumo ao Cosmos. Ainda hoje, Celestial Vibrations, a sua estreia em 1978, parece ser um mapa detalhado dessa jornada. Praticante de meditação transcendental desde o início dos anos 70, as suas composições acabariam por espelhar o dom levitacional da sua linguagem sonora aberta ao acaso, à intuição e aos nossos sentidos primários. É dessa generosidade que vem o abraço às novas gerações que lhe vão reconhecendo influência referencial, numa altura em que a new age ganha a distância necessária do seu epicentro para se tornar num género de profunda apreciação. Os sempre brilhantes Sun Araw, cultivadores igualmente cósmicos embora numa vertente psicadélica assente em misticismo terreno, são os perfeitos acólitos para acompanhar Laraaji nas suas play zones. É para uma viagem celestial a esses lugares onde sensações brotam espontaneamente que estaremos todos convocados.

sala principal com bancada ● 14€ / com desconto: 7€ ● Menores de 30 anos 5€ ● M/3

zither, eletrónica: Laraaji

guitarra, teclados: Cameron Stallones

eletrónica, teclados: Alex Gray

imagem Laraaji: © Liam Ricketts

imagem Sun Araw: © Erez Avissar

Laraaji, Culturgest Porto, 21 maio

Comprar AQUI.

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