Tinta-da-China – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 05:53:19 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.3 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Tinta-da-China – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 Sugestões de Natal, por João Morales: I’m Your Man – A Vida de Leonard Cohen, de Sylvie Simmons https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales-im.html https://branmorrighan.com/2019/12/sugestoes-de-natal-por-joao-morales-im.html#respond Tue, 17 Dec 2019 21:39:00 +0000

I’m Your Man – A Vida de Leonard Cohen

Sylvie Simmons (tradução de Paulo Faria)

Tinta-da-China

634 págs

27,90 euros

Leonard Cohen (1934-2016) conseguiu implantar o seu nome e reconhecimento de uma forma transversal a várias gerações, como poucos. Apesar de começar a publicar música nos anos 60 (e embora já tivesse um percurso anterior como poeta e novelista), a sua obra ultrapassou em muito todo o movimento hippie e a contracultura que enformou esses dias.

Mesclou a rebeldia com a espiritualidade, o romantismo com a exaltação do desejo, o recolhimento com a sagração pública, acabando por espelhar um artista reconhecido até ao fim, sem nunca fazer concessões, mantendo uma voz acima das modas e tendências, fruto de uma honestidade interior de que nunca abdicou e assumindo um papel de trovador místico, anunciador de reinos intemporais, pregador de um epicurismo que não se esgota na matéria, poeta sensível e deslumbrado perante a grandiosidade da vida.

«O Big Bang de Leonard, o momento em que a poesia, a música, o sexo e os anseios espirituais colidiram e se fundiram nele pela primeira vez, teve lugar em 1950, entre os seus décimo quinto e décimo sexto aniversários. Leonard estava parado diante de um alfarrabista, a remexer nos expositores em busca de algum livro que lhe interessasse, quando deparou com Poemas Escolhidos de Federico Garcia Lorca. Ao folhear aquelas páginas, deparou com “Gacela del mercado matutino”. O poema arrepiou-lhe os cabelos da nuca. Leonard já antes experimentar aquela sensação, ao escutar a energia e a beleza dos versículos lidos em voz alta na sinagoga – um outro repositório de segredos», lemos no mais recente livro dedicado ao homem e sua vida. Anos mais tarde, um dos filhos que teve com Suzanne (a sua mais famosa musa), cujo nome originou a canção homónima, foi a pequena Lorca, em homenagem ao poeta espanhol.

I’m Your Man – A Vida de Leonard Cohen revela-se um repositório de memórias, um baú de entendimentos, uma conjugação de caminhos para entender o homem que fez de Suzanne ou Marianne nomes simbólicos da devoção amorosa. Aliás, as mulheres marcaram presença axial na existência deste cantor e poeta, aspecto devidamente documentado no livro de Sylvie Simmons. Bem como outras histórias paralelas, em torno de figuras Nico ou Joni Mitchel, em que descobrimos o galã Jimi Hendrix cuja perícia no galanteio parece rivalizar com a mestria no dedilhar das seis cordas que afamaram.

«I’m Your Man teve o condão de dar a Leonard uma nova imagem, principalmente entre os fãs mais jovens, em vez de poeta sombrio, torturado, passou a ser visto como oficialmente cheio de estilo». No fundo, encontramos um homem com várias vidas, encarnadas num percurso só, que poderá parecer divergente, mas que conta com a coerência que o ar de cada tempo lhe transmite, como se as circunstâncias fossem apenas uma velha gabardine, mas o homem que ela protege permanecesse fiel aos mais humanos instintos e vontades. Da alma e, principalmente, do corpo.

João Morales

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Sugestões de Natal, por João Morales: Sarah Affonso – Os Dias das pequenas Coisas, de Emília Ferreira https://branmorrighan.com/2019/11/sugestoes-de-natal-por-joao-morales_36.html https://branmorrighan.com/2019/11/sugestoes-de-natal-por-joao-morales_36.html#respond Tue, 26 Nov 2019 19:39:00 +0000

Sarah Affonso – Os Dias das pequenas Coisas

Emília Ferreira (apresentação)

Tinta-da-China

208 págs

32,90 euros

Este álbum ilustrado, publicado em conjunto com a exposição homónima, patente no Museu Nacional de Arte Contemporânea até 22 de Março de 2020, lança uma luz que tardava sobre a figura de uma artista que abdicou de o ser, deixando-se permanecer na sombra avassaladora do seu marido, José de Almada Negreiros.

Em comum com o autor de “Cena do Ódio”, a variedade de suportes a que recorreu para registar a sua criatividade. Quer seja no desenho, na pintura, nos bordados, na ilustração, nas suas peças em azulejo, a fixação e decomposição da tradição, aliadas a cenas da vida familiar, permitiram-lhe explorar os seus dons, chegando até a aventurar-se em outros domínios, como a arquitectura paisagista e o design de interiores, áreas que foi desenvolvendo na sua própria casa de Bicesse.

«As circunstâncias da sua vida e o facto de nunca ter tido uma única encomenda de pintura (conhecido desabafo de fim de vida) levaram-na ao abandono desta área da criação, o que sempre lamentou, mas que assumiu conscientemente, optando por uma vida de cuidadora», como escreve Emília Ferreira, directora do Museu Nacional de Arte Contemporânea.

A linguagem de Sarah Affonso acompanha a modernidade na qual estava inserida, executando técnicas e materiais modernos, embora no âmago do seu imaginário, ao nível dos motivos, da figuração, do simbolismo, prevaleça uma cultura tradicional que transporta consigo mesma a memória viva das raízes da artista e, simultaneamente, a carga telúrica que a evocação de padrões, elementos cénicos ou personagens pode conter.

Uma elucidativa fotobiografia, preenche a parte final deste livro, acompanhando as imagens com diversas referências elencadas cronologicamente, tornando-se num auxílio fundamental para melhor compreendermos o percurso, as opções e a evolução do enquadramento desta artista.

João Morales

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