Tó Trips – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Mon, 28 Dec 2020 05:51:13 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.3 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Tó Trips – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 [Foto Reportagem] Tó Trips + Benjamim + Pista, no Musicbox Lisboa (Talkfest’16) https://branmorrighan.com/2016/03/foto-reportagem-to-trips-benjamim-pista.html https://branmorrighan.com/2016/03/foto-reportagem-to-trips-benjamim-pista.html#respond Fri, 11 Mar 2016 10:14:00 +0000

Fotografias Eugénio Ribeiro

Textohttp://www.musicaemdx.pt/2016/03/10/talkfest16-to-trips-benjamim-e-pista/

Desta vez escrevi para o Música em DX sobre esta noite! Para não me repetir, visitem o link que deixei porque pelo MDX também encontram outras coisas mesmo muito boas! De destacar que realmente adorei o concerto do Tó Trips com o João Doce, que foi o concerto com que mais me identifiquei, talvez por me ter despertado outros sentidos. Quem segue o blogue há mais tempo conseguirá perceber bem porquê. É como regressar às origens!

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E agora, o que se segue? [Diário de Bordo LV] Bons Sons – Um dia a Viver a Aldeia em Cem Soldos – A próxima Capital da Música Portuguesa, e não só https://branmorrighan.com/2015/05/e-agora-o-que-se-segue-diario-de-bordo_21.html https://branmorrighan.com/2015/05/e-agora-o-que-se-segue-diario-de-bordo_21.html#respond Thu, 21 May 2015 16:21:00 +0000 Fotografia Nuno Capela

Este será, provavelmente, um dos Diários de Bordo que mais gozo me vai dar escrever. Em primeiro lugar porque foi um dia extremamente bem passado, com pessoas fantásticas, boa comida, boa bebida (tinha de o dizer), mas acima de tudo porque são projectos como o Bons Sons (vou já deixar cair o Festival porque realmente já se nota que é bem mais do que isso, mas já passo a explicar) que me fazem acreditar que todo o trabalho em prol da cultura portuguesa valem a pena. Mais, acho extraordinário encontrar todo este entusiasmo a percorrer todas as faixas etárias numa pequena aldeia de Tomar – Cem Soldos. Há muito a dizer sobre este Festival que em 2016 deixará cair este prefixo, tornando-se o Bons Sons, um conceito próprio por si mesmo – de dinamização cultural, de envolvimento e integração social da comunidade de Cem Soldos na actividade de uma aldeia que, parece-me, poderá vir a ter mais do que os mil habitantes que tem agora. 

Fotografia Nuno Capela

Partindo de Lisboa rumo a esta pequena, mas amorosa, aldeia de Tomar, a visita iniciou-se pela Oficina das Avós, onde fomos testemunhas do processo criativo de toda a mão de obra de merchandising do festival. Se algumas daquelas belas senhoras já andam pelos 90, disse-nos o Luís Ferreira que é porque têm os seus horários todos muito certinhos com rituais diários que se mantêm há muito tempo. Só posso desejar que continuem porque para além dos sorrisos lindíssimos, também tudo o que constroem já passou a fazer parte da identidade do festival.

Seguimos em viagem pelos vários locais onde irão ser construídos alguns dos palcos, incluindo uma nova zona lounge construída com materiais sustentáveis e reutilizáveis, a fazer jus ao prémio que ganharam em 2014, no Portugal Festival Awards, de Festival Mais Sustentável. É também sabido que para além desta postura são ainda dinamizadas, durante o festival, campanhas de sensibilização ao público no sentido de adoptarem comportamentos ecológicos mais responsáveis. 

Fotografia Nuno Capela

Seguiu-se um momento delicioso em que ficámos a conhecer o Projecto Canixas, fazendo parte do espírito Formador do Bons Sons, no qual se pretende dotar as crianças de conhecimentos técnicos de música, para além de lhes apresentar as diferentes da música tradicional portuguesa, criando um espaço de convívio em que tal possa acontecer. Esta iniciativa terá os primeiros resultados apresentados no Palco Tarde ao Sol na presente edição de 2015. Sem dúvida que entusiasmo não lhes faltou, até porque quando se deu por terminado, tal como só as crianças o sabem fazer, exigiram nova canção e a dança também não faltou. 

Provavelmente farei mais uns quantos artigos sobre o Bons Sons até à data do festival. Não só por haver tanto para contar, mas porque existem aspectos que merecem o devido destaque. Tendo o almoço como ponto de paragem para as restantes novidades nos serem contadas, ficámos a saber que um dos objectivos futuros, para além de residências artísticas, que já começaram, e actividade continua ao longo de todo o ano na aldeia de Cem Soldos, é também criar um dia para a imprensa/agentes/promotores em prol do Bons Sons se tornar numa espécie de montra com projecção internacional. 

Fotografia Nuno Capela

Podíamos dizer, sem qualquer risco de exagero, que este é um projecto muito ambicioso, mas ao contrário do que muitas vezes vemos – do querer muito, mas não ter como torná-lo realidade – a verdade é que todos fomos testemunhas de uma roda bem oleada, uma determinação férrea nos rostos de quem intervém para que a aldeia se vá tornando, ao seu ritmo, na capital da música portuguesa e não só, a meu ver têm todo o potencial para se tornarem numa Capital da Cultura. Foi-nos dito que de 2015 a 2020 um novo ciclo será construído. Se 2015 será um ano de transição, ficámos também a saber que à música juntar-se-á o cinema, as artes visuais e as artes performativas. A música portuguesa bem que pode ser o chamariz, mas todos estes ingredientes juntos expressam um quadro cultural invejável. Mensagem passada, de forma clara e eloquente, passámos à refeição e aos maravilhosos cozinhados de Cem Soldos. Eu já estava convencida de que queria viver a aldeia este ano, mas caso não estivesse acho que a gastronomia tinha dado um belo empurrão. E se os quintais e as casas dos habitantes se vão abrir para alimentar os visitantes, nem quero imaginar quantas mais iguarias não serão proporcionadas ao longo dos quatro dias de festival. Ah! Dou conta que ainda não vos disse quando é que isto se irá passar, mas também já deviam saber – de 13 a 16 de Agosto! 

Aquela primeira foto inicial toma agora protagonismo no sentido em que nada melhor para sobremesa do que dois showcases de dois dos melhores músicos portugueses – Tó Trips, com músicas do seu novo disco Guitarra Makaka, e Benjamim (antigo Walter Benjamin), com músicas do seu primeiro disco neste projecto – que ainda não saiu – passando pela música Os teus passos, já nossa conhecida. As duas actuações foram bonitas, cada uma à sua maneira. Sendo dois estilos tão diferentes, também o ambiente formado ao longo das actuações o foi. O Tó com a sua intensidade na guitarra torna sempre a atmosfera mais contemplativa e sentida, enquanto o Benjamim tem sempre o toque mais alegre, mais pop mas também familiar, agora que fala das suas gentes e da sua terra. Seguiram-se mais uns petiscos e a certeza de querer voltar. Quem me conhece sabe que dou imenso valor à genuinidade das pessoas, à paixão e entrega que dão a tudo o que fazem, e eu senti isso enquanto estive em Cem Soldos. Foi bom, quero voltar.

Entrando na despedida, quero deixar aqui um grande beijinho e um abraço a uma série de pessoas que tornaram o dia ainda mais especial: ao Nuno, por ter conseguido arranjar tempo para vir fotografar coisas lindas como só ele sabe, ao Paulo e à Rita (claro!), à Nádia e ao Telmo (que não conhecia, mas que completaram a mesa dos fixes – sem ofensa!), ao Tó Trips e ao Luís Nunes (Benjamim), que alinharam comigo numa brincadeira que acabou por se tornar num momento algo embaraçado para mim (imaginem que eu queria tirar uma foto no palco, na brincadeira, e o Nuno chama o Tó e o Benjamim para ficarem atrás de mim. A sala estava vazia quando me sentei naquela cadeira e de repente estava lá a imprensa quase toda de câmeras apontadas – pânico!) e, por último mas mais importante, ao Luís Ferreira, à Ana, à Inês e restante comitiva, por todo o carinho e atenção com que nos trataram sempre. Seriedade, mas muitos sorrisos, afinal a alegria no que se faz é fundamental.

Fotografia Nuno Capela

Para não sobrecarregar este post ainda mais, deixo-vos o link para a Foto Reportagem completa deste dia (com fotografias minhas e do Nuno Capela): http://www.branmorrighan.com/2015/05/foto-reportagem-viver-aldeia-cem-soldos.html

PROGRAMA:

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Entrevista a Tó Trips, Músico Português, sobre Guitarra Makaka – Danças a um Deus Desconhecido https://branmorrighan.com/2015/05/entrevista-to-trips-musico-portugues.html https://branmorrighan.com/2015/05/entrevista-to-trips-musico-portugues.html#respond Fri, 01 May 2015 23:10:00 +0000 Não é preciso ter uma relação de grande profundidade com a música portuguesa para se reconhecer o nome Tó Trips. Nos dias que correm, principalmente, é tido e comprovado como um dos grandes guitarristas portugueses e mestre naquilo que faz. Teve vários projectos musicais, mas actualmente mantém o seu trabalho com Pedro Gonçalves nos Dead Combo e lançou agora um novo disco a solo – Guitarra Makaka – Danças a um Deus Desconhecido. O primeiro foi lançado em 2009, Guitarra 66, tendo sido dedicado à sua mulher, Raquel. Sobre estas coisas e muitas mais podem ler na entrevista que se segue. 

Fotografia por Raquel Castro

A guitarra é já uma extensão do Tó Trips, mas uma curiosidade tomou a dianteira, se este se lembraria dos seus primeiros contactos mais a sério com a música! «Lembro-me do primeiro concerto que dei, foi com Amen Sacristi na escolha primária de Chelas, acho eu. Começámos em 1986!» Imaginem só que ainda nem eu era nascida! 

A formação académica em si não esteve ligada ao meio musical, Tó Trips contou que andou na D. Pedro V., passou pela António Arroio e depois quis ir para cenografia. «Eu gramava pintar e depois consegui arranjar um estágio numa agência de publicidade na Thompson e fiquei na publicidade até 2000.» Depois de Amen Sacristi ainda vieram os famosos Lulu Blind que acabaram por não resistir à mudança dos tempos: «Nos anos 90 ainda não havia a cena dos auditórios e sendo punk/hardcore fazíamos basicamente bares e clubes. Quando surgiu a cena dos DJs, muitos desses bares optaram por, em vez de pagar a bandas, ter DJs que enchiam mais a casa (risos). No final dos anos 90 essa quebra foi mais forte. O único bar que continuava com concertos de bandas era o Bafo de Baco no Algarve.»

Nisto das bandas, estamos habituados a ver o Tó sempre agarrado à guitarra, mas o que se calhar alguns não sabem foi que ele também foi vocalista por uns tempos… «Fui vocalista porque a malta tinha vários problemas com vocalistas e alguém tinha de se chegar à frente. (risos) Eu não era vocalista, até tinha um certo preconceito de ser vocalista e guitarrista, o que eu gostava era de tocar guitarra, mas na altura cansámo-nos de ter problemas com vocalistas e nóias de vocalistas e então cheguei-me à frente. O que a malta queria era divertir-se, tocar, ter uma banda e não estar sempre com problemas, daí termos resolvido as coisas dessa maneira.» 

Ter uma banda nem sempre é tão fácil quanto parece e daí o Tó também se ter começado a isolar mais no seu trabalho artístico: «Cansei-me um bocado do pessoal trazer problemas pessoais, que todos temos, para os ensaios. Por mais que goste dessas pessoas, chegas a uma altura em que passas mais tempo a discutir do que a ensaiar, quando o que queres é estar ali a tocar e a perderes-te naquilo. Depois também foram saindo pessoas que começaram de início, por se terem cansado, e eu então comecei a compor umas malhas sozinho, até encontrar o Pedro que também estava farto da cena do Jazz. Basicamente fiz isto para não desistir de uma coisa que eu gosto que é a música. Se havia problemas com outro pessoal, por que não fazer alguma coisa sozinho? Também comecei a ouvir outras coisas, comecei a ser um pouco mais eclético. Nos anos 90 ouvia muito rock, cenas pesadas também. Foi uma boa escola, em tudo aprendes sempre alguma coisa. Mas comecei a ser curioso por outras coisas, Jazz, música africana, música improvisada… Acho que a idade também leva um pouco as pessoas a serem mais tolerantes. A idade tem alguns defeitos, mas também te traz outras coisas. E se tocas um instrumento deves ser sempre curioso em relação a esse instrumento e a quem o toca de maneiras que não conheces ou não estás habituado. Deves investigar o máximo que puderes sobre ele.»

Neste seu percurso a solo, li uma vez que tinha sido através da sua mulher, Raquel, que acabou por conhecer outros guitarristas e também o seu primeiro trabalho é-lhe dedicado. «Sempre aprendi muito com as mulheres com quem eu andei, com as minhas namoradas e actualmente com a minha mulher. Acho que as mulheres são sempre muito mais curiosas que os homens. Isto é a minha opinião, não é por seres mulher. (risos) Mas acho que muitas vezes até são mais para a frente que os homens no sentido de abertura e gostarem de coisas que possam não ser a praia delas. Já nos anos 90 e mesmo agora, estou sempre a aprender com a minha mulher que me mostra coisas novas. Cheguei a ter uma namorada, que ainda hoje é nossa amiga, que me mostrava drum&bass e essas coisas, que não eram a minha cena, e acabei por ouvir e interessar-me. Aliás, tenho um amigo meu que tem a teoria que as bandas só têm sucesso se a maior parte das mulheres gostar (risos). Uma vez li uma entrevista do Fat Boy Slim que dizia que cada vez que fazia as músicas mostrava a duas amigas e que se elas gostassem que aquilo ia ser um sucesso. (risos) E tens o caso dos Beatles, em que tens as miúdas todas loucas. E isso porque as mulheres têm esse lado mais aberto, menos conservadoras do que os gajos.»

Surge então o Guitarra 66, o primeiro trabalho a solo, resultado de tocar todos os dias e da construção de uma homenagem não só às viagens que fez como à sua própria mulher, Raquel. 66, ano de nascimento de Tó Trips dá o moto ao título. Guitarra Makaka é o sucessor, num estilo bastante diferente com utilização tanto da guitarra clássica como da Resonator numa afinação diferente. «O que aconteceu foi, primeiro arranjei aquela afinação, foi quase como reaprender a tocar por ter de adequar o som da guitarra aos sons do zither da Adriana que me convidou a tocar com Timespine. Perguntei-lhe como é que aquilo estava afinado, conseguimos arranjar uma afinação que soasse bem em conjunto e depois comecei a experimentar isso em casa. Nessa altura topei que aquilo tinha coisas que tanto podiam ser árabes, como portuguesas e até africanas. Entreti-me à volta dessa afinação que ao fim ao cabo acaba por ser um desafio para mim, aprender uma linguagem para tocar na guitarra.»

Damos por nós numa ilha imaginária com diversos cenários: «Tem um lado talvez mais primitivo e espiritual. Associei às vezes a cantares africanos, a ritos. Depois andei à procura de mapas antigos, e gravuras antigas, de ilhas do Pacífico. Por exemplo, há um filme que eu gosto que é A Revolta na Bounty em que eles revoltam-se e piram-se para uma ilha que não vinha no mapa, esse tipo de imaginário. Como era uma coisa nova para mim[a afinação da guitarra], estava a explorar o desconhecido. E isso da Guitarra Makaka é porque os dedos saltam bué de um lado para o outro e aquilo às vezes faz uma espécie de guinchos. Entretanto lembro-me de ter visto uma ilustração num livro do Voltaire, uma gravura antiga, em que eram uns macacos a dançar com umas mulheres. Acabei por adaptar essa ilustração antiga a uma cena mais tropical, mais exótica, que se passaria nessa ilha por onde passaram várias culturas. Chegado a essa ilha era aquela a forma de tocar a guitarra.»

Também não será de estranhar algum tipo de evocação quase pagã ao tema do disco. Coincidências, o próprio Steinback, escritor, tem uma obra chamada A Um Deus Desconhecido que aborda precisamente esse tema. O disco do Tó, disse-me ele, nada tem a ver com a obra, mas sobre o tema, que me interessava, disse mais: «Eu tive uma educação católica, mas eu desisti disso com uns 18 ou 20 anos. Respeito, mas basicamente acredito que se estou mal, sou um gajo que vai até à praia ver o mar, já estive nas montanhas… Respeito muito essas forças, são maiores que nós. Se existir Deus será dessa forma, mas respeito as religiões, a minha própria família é católica.»

Voltando ao disco, este é rico em ritmos diferentes, uns mais calmos, outros mais eufóricos, sendo que as guitarras utilizadas influenciaram o estilo. Em particular nos temas mais harmoniosos, quase tristes: «Tenho duas músicas que são gravadas com a guitarra clássica como se fosse o gajo ocidental que tenha chegado a esses sítios mais exóticos. Tudo isto também tem aquele lado romântico, não é? Uma ilha, uma coisa assim muito fantasiosa, imaginária, romântica. Um sítio onde ninguém pôs os pés ou puseram e só há uns vestígios… Deuses que não conhecem, há uns rituais… Por aí!»

Imagética e sonoridade andaram de mãos dadas à medida que uma inspirava a outra e vice-versa: «Neste caso trabalhei várias gravuras e às vezes estava com a guitarra a olhar para elas. Como sou um gajo muito da imagem, gosto de trabalhar nesse sentido. Sou capaz de pegar numa fotografia e fazer uma música para essa imagem. Aliás, fiz primeiro a capa, fiz várias capaz, do que o disco. Ajuda-me bastante no processo criativo. Primeiro já tinha descoberto a afinação, depois foi encaixar isso em algum sítio e este processo ajudou-me nisso.»

Apesar de o disco só ter sido lançado no mês passado, no Verão de 2014 o Tó já tocava algumas das músicas: «Eu tinha isto gravado apenas no iPhone e até tinha pensado lançar o disco gravado mesmo assim. Como o disco tem um lado primitivo pensei – se estivesse sozinho em qualquer sítio e tivesse uma guitarra, como é que registava as coisas para ficar alguma coisa daquilo que eu fiz? Só que depois fui adiando e adiando… E também gosto de deixar passar algum tempo sobre as coisas para um gajo também pensar sobre elas, questioná-las… Passado esse tempo decidi gravá-las como deve ser e ir a um estúdio. Quando foi nas misturas até entreguei ao João Santos e ao Eduardo Vinhas as gravuras e as imagens, até com um mapa, para eles imaginarem os cenários ao misturarem aquilo.»

Fotografia por Raquel Castro

O facto de ter começado a tocar nessa altura, tendo feito, inclusive, uma apresentação na ZdB tem razão de ser: «O que eu gosto de fazer é do género, ao princípio tens aqui uma banda, antes de gravares um disco andas aí a tocar e só mais tarde é que gravas o disco. Isto porque acabas por ir tocando de várias formas. Eu se gravasse este disco hoje já gravava de maneira diferente porque há músicas que já toco de maneira diferente. Seriam os mesmo temas, mas vais descobrindo mais coisas. Ao vivo, dentro dos temas, já existem outras fases, outras variações.»

Pouco antes do disco sair, também tivemos a oportunidade de ouvir algumas das músicas através do projecto Guitarras ao Alto em que o Tó e o Filho da Mãe partilham o palco. Fizeram um remake no Maria Matos, mas o Tó explica que essa experiência foi diferente da anterior: «No Guitarras ao Alto fazíamos uma coisa diferente do Maria Matos que era eu tocava um set e o Rui Carvalho tocava outro. No fim fazíamos uma espécie de Jam. Foi óptimo, a cena da comida, dos vinhos, a cena de tocar numa adega lindíssima. Quando tivemos o convite para fazer no Maria Matos tentámos fazer uma coisa mesmo entre os dois. Ensaiámos na Casa Independente, convidámos a Cláudia para fazer as imagens e foi uma coisa mais a dois. Aprendes sempre coisas, aprendes sempre com os outros.»

Na preferência entre estar sozinho em palco ou acompanhado, em banda por exemplo, o Tó diz que o importante são as pessoas que gostam da música e que contribuem para ela: «Eu gosto das pessoas que estão na música, desde músicos a técnicos, quem for. Se me perguntares se prefiro andar na estrada sozinho ou com uma banda é claro que prefiro com uma banda porque estou com outras pessoas. Mas não vou deixar de tocar em casa e de construir as minhas coisas porque não existem os outros, ando com isso para a frente. E como acho que quando um gajo faz as coisas deve mostrá-las, porque isso ajuda-me a evoluir, aprendes sempre com essa experiência. Se trabalhas e não mostras, não tens feedback nenhum das pessoas, quando mostras tens sempre comentários que te ajudam a melhorar ou a fazer diferente. Tu que jogas basquet, imagina que os jogos são os concertos (risos). É lá que aprendes.»

Dizem que aprender nunca é demais e que o conhecimento pode ser sempre transportado para diversas áreas. Fazendo um balanço desta experiência com o Guitarra Makaka, isto confirma-se, especialmente no que toca ao enriquecimento de reportório que Tó poderá levar para os Dead Combo: «Exactamente, isto tem esse lado que é aprender esta afinação é mais uma coisa que eu sei, como pessoa e como músico, e que depois poderei usar, ou não, nos Dead Combo.» 

Ainda não está anunciado qualquer concerto de lançamento, mas por entre os locais que tem passado, perguntei-lhe qual o seu cenário preferido para tocar: «Eu tinha pensado no B.Leza, mas depois disseram-me que o pessoal para chegar lá poderia ter dificuldades, porque é um local que até se adequa ao disco. O Filho Único como é a minha agência é que depois tratou disso. Também tinha pensado numa igreja, mas também já lá têm tocado uns quantos e seria quase uma repetição. Mas eles tentam arranjar locais assim diferentes.»

Num futuro próximo, projectos para além do trabalho a solo, temos os Dead Combo a pensar num novo disco: «Queremos tentar gravar por uma editora lá fora em vez de sermos nós a editar cá. Tentar que o projecto se internacionalize mais. Queremos arranjar uma coisa mais coerente, mais sólida do que apenas andar em tour lá por fora. Não sei se vamos conseguir, mas a ideia é essa. As coisas aqui às vezes correm-nos bem, mas estamos num país pequeno… Até para não nos desgastarmos aqui. Porque já apanhas pessoal que depois comenta que já viu Dead Combo cinco vezes… Estás sempre aí a aparecer e pode ser cansativo. A mim não me faz confusão fazer discos, até podia fazer dois ou três disco por ano, mas acho que isso não faz muito sentido num país como o nosso. Tivemos uma tour nos Estados Unidos que correu bem, agora se calhar é arranjar uma agência por lá até para haver um maior espaçamento. Aqui estás sempre a aparecer, parece que de dois em dois anos tens que estar a fazer um disco e isso é cansativo. Nem é que seja cansativo para os músicos, mas vais estar a percorrer novamente os mesmos sítios, com as mesmas pessoas em muito pouco tempo.»

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É sempre um prazer falar com o Tó e aconselho vivamente a que comprem e ouçam o disco. O trabalho está fantástico, o disco é uma delícia de se ouvir e a rendição é automática. 

Para os fãs de Dead Combo podem consultar uma entrevista feita há pouco mais de um ano sobre o disco A Bunch of Meninos: http://www.branmorrighan.com/2014/03/entrevista-aos-dead-combo-se-nos.html

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[Reportagem] Tó Trips & Filho da Mãe – Guitarras ao Alto no Teatro Maria Matos https://branmorrighan.com/2015/01/reportagem-to-trips-filho-da-mae.html https://branmorrighan.com/2015/01/reportagem-to-trips-filho-da-mae.html#respond Fri, 30 Jan 2015 10:30:00 +0000

Fotografias cedidas pelo Teatro Maria Matos, autoria José Frade

A noite de Terça-feira, dia 20 de Janeiro, trouxe a Lisboa, ao Teatro Maria Matos, o projecto Guitarras ao Alto, protagonizado pelos músicos Tó Trips (Dead Combo) e Filho da Mãe. Depois de uma estreia por terras alentejanas, que foi um sucesso, deram a oportunidade aos lisboetas de presenciar um espectáculo ímpar, uma dança de guitarras acompanhada pela arte projectada de Cláudia Guerreiro. 

Passava pouco das 22h quando o silêncio absoluto se instalou. Palco iluminado, duas cadeiras, quatro guitarras, uma mesa e dois copos de vinho, eis que entram os nossos anfitriões. Tudo tem início de forma calma e quase contemplativa, Filho da Mãe dá os primeiros acordes, Tó Trips junta-se posteriormente, e quando damos por nós estamos fascinados com uma narrativa não só sonora como ilustrada, com a Cláudia a acompanhar o ritmo na tela, numa estética vibrante a provocar a imaginação de cada um. 

Existe uma liberdade contagiante na performance destes dois artistas, um exorcizar de emoções através de cada uma das guitarras nas suas diferentes manifestações quando dedilhadas à vez. A cada malha, um diálogo sublime em tom de sussurro harmonioso alternado com uma dicotomia de expressões com um Tó Trips bastante calmo e um Filho da Mãe mais expansivo. 

Apesar de alguma monotonia em certos momentos, a intensidade da atmosfera mantém-se palpável até ao último momento do encore. O sentimento de respeito e admiração transforma-se em murmúrios no final do concerto enquanto lamentamos ter passado tão rápido. Uma verdadeira manifestação de cultura portuguesa, a conjugação destes três artistas, num palco também ele de referência e um público sôfrego por mais. 

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[DESTAQUE] Tó Trips, dos Dead Combo, tem novo projecto – Guitarra Makaka: Danças a um Deus Desconhecido https://branmorrighan.com/2014/06/destaque-to-trips-dos-dead-combo-tem.html https://branmorrighan.com/2014/06/destaque-to-trips-dos-dead-combo-tem.html#respond Sun, 22 Jun 2014 19:24:00 +0000

Tó Trips dos Dead Combo prepara-se para estrear a sua nova aventura. Chama-se ‘Guitarra Makaka: danças a um deus desconhecido’ e evoca a tristeza lânguida das mornas de Cabo Verde, a sofisticação ditosa da música do Mali ou uma Lisboa que, numa alegria envergonhada, convida o Mediterrâneo para um baile de verão. 

Podem ouvir 3 músicas de Guitarra Makaka em 

https://soundcloud.com/zdbm-zique/sets/t-trips-guitarra-makaka

A estreia ao vivo faz-se na Galeria Zé dos Bois no próximo dia 4 de Julho com honras de abertura de Bubacar Djabate no balafon!

RSVP: http://tinyurl.com/mpsolz8

Via Facebook Galeria Zé dos Bois

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