A Desumanização
Valter Hugo Mãe
Editora: Porto Editora
Sinopse: «Mais tarde, também eu arrancarei o coração do peito para o secar como um trapo e usar limpando apenas as coisas mais estúpidas.»
Passado nos recônditos fiordes islandeses, este romance é a voz de uma menina diferente que nos conta o que sobra depois de perder a irmã gémea. Um livro de profunda delicadeza em que a disciplina da tristeza não impede uma certa redenção e o permanente assombro da beleza.
O livro mais plástico de Valter Hugo Mãe. Um livro de ver. Uma utopia de purificar a experiência difícil e maravilhosa de se estar vivo.
Opinião: Ler Valter Hugo Mãe era um desejo que existia há bastante tempo. Na feira do livro de Lisboa já tinha adquirido um dos seus livros, mas foi com a publicação de A Desumanização que senti que não podia esperar mais. Encomendei o livro ainda em Pré-Venda e mal o tive nas minhas mãos, mais ao excelente e artístico poster, tive de o abrir e mergulhar na sua leitura. Foi um mergulho por uma Islândia que eu desconhecia, mas que aos poucos se foi tornando em algo familiar, uma estranheza que depressa se entranhou em mim e que, mesmo passada uma semana do término da leitura, me deixou com um sentimento de ressaca.
De uma maneira muito própria, crua e ao mesmo tempo poética, o autor apresenta-nos um leque de personagens diferentes de tudo o que já tinha lido. Conjugando com todos os cenários que nos são apresentados, A Desumanização tornou-se numa obra que no seu conjunto é muito mais do que um agrupamento de letras e palavras, mas antes um livro com alma, vivo e pulsante nas nossas mãos, que nos faz sentir, ver, cheirar; que faz com que nos entreguemos por completo numa rendição deliciosa.
«Mais tarde, também eu arrancarei o coração do peito para o secar como um trapo e usar limpando apenas as coisas mais estúpidas.»
Usando e abusando da simbologia para transmitir certos conceitos e ideias, Valter Hugo Mãe revelou-se de uma mestria absurdamente notável no seu domínio. É impossível ficarmos indiferentes a Halla e à forma como se dá a evolução da sua aceitação em relação à morte da irmã Sigridur e do seu próprio filho. Podendo ser chocante o seu papel nesta obra, dada a sua idade, torna-se imperioso para o leitor querer protegê-la, defendê-la e estimá-la, tornando a ligação altamente íntima.
“A minha mãe disse: fazes tudo assim, maldita, fazes tudo como se fosses um bicho. Vou gostar de te ver morta como um bicho também. E eu respondi: morra a senhora também, minha mãe.”
A Desumanização, mais do que mais um livro, é uma autêntica obra de arte. Confesso que ao início custou-me um pouco habituar-me ao estilo de escrita do autor, com as suas frases constantemente curtas, mas logo se tornou natural e até natural que assim fosse para melhor sentirmos o que nos é transmitido. Sou uma amante de livros assim, que mexem connosco, que nos esquadrinham por dentro e que de certa forma nos mudam. Ninguém poderá ficar igual depois de ler esta obra. Uma excelente estreia na minha aventura literária de Valter Hugo Mãe.
também já li esta obra e adorei, ja é a segunda obra que leio de VHM e penso que vou continuar.
Gostava de saber a sua opiniao sobre o final do livro