Foi na passada Sexta-feira que me dirigi à Labs Lisboa para me sentar com o João e a Rita à conversa sobre o Portugal Festival Awards. Esta cerimónia, a caminho da sua segunda edição – já na próxima Terça-feira no Cinema São Jorge -, irá promover e eleger tanto os melhores festivais ocorridos em 2014 como as melhores actuações. O objectivo máximo? Divulgar e premiar quem tanto trabalha em prol da evolução dos festivais em Portugal, numa era em que estes se tornaram autênticas montras de exposição de bandas e de momentos de comunhão e cruzamento entre públicos diversos. O meu muito obrigada pela simpatia de ambos e Terça lá estarei para testemunhar este grande evento. Fiquem então com a nossa conversa.
Portugal tem festivais a fazerem mais de 20 anos, mas só o ano passado surgiu uma iniciativa que os premiasse. A motivação vem de uma necessidade que encontraram: «Foi um passo natural depois de nos apercebermos da quantidade e diversidade de festivais a serem feitos em Portugal. Neste último ano identificámos mais de 200 festivais de música e só consideramos aqueles em que a música seja realmente o foco principal. Com isto, percebemos que a indústria já atingiu um determinado patamar de desenvolvimento e qualidade e que era um passo natural começarmos a ter um reconhecimento público do trabalho que é feito, do esforço que é desenvolvido pelos promotores e todas as entidades ligadas à indústria; apercebemo-nos que no último ano tivemos mais de dois milhões de espectadores nos festivais de música, que é um número bastante significativo; em termos de turismo, os festivais já conseguem atrair pessoas do estrangeiro, ultrapassando os números do futebol, o que é interessante. Isto já é feito a nível internacional, sabemos disso, mas achámos que neste momento a nossa indústria já estava preparada para receber uma iniciativa destas. »
Quanto às reacções da primeira edição, ocorrida o ano passado (2013), o balanço é positivo e já há sinais que este ano estão a ser levados ainda mais a sério: «O ano passado as pessoas ainda não sabiam bem o que é que isto significava, digamos assim. Ajuda termos uma divisão clara entre o que são categorias votadas pelo público e categorias votadas por um júri. As do júri são muito mais técnicas, portanto a opinião que é ali valorizada é uma opinião técnica por pessoas que têm experiência. As do público são pessoas que vão aos festivais e gostam dos festivais. Ter um selo a dizer que eu ganhei nesta categoria porque a maior parte das pessoas votaram em mim – e não são assim tão poucas, cerca de 10 000, 12 500, este ano, e esperamos que seja sempre a crescer -, achoamos que acaba por ser um selo que é muito valorizado não só pelos promotores dos festivais, mas também pelas marcas que investem nos festivais. Pensamos que ter o logótipo Portugal Festival Awards, a dizer que ganhei nesta categoria, é uma coisa que já faz diferença e depois deste ano pensamos que vai fazer ainda mais. Para além de termos mais apoios, do número de festivais considerados ter aumentado de 63 para 106, temos muito mais buzz em termos de imprensa e de artistas nomeados porque acham que é importante estarem lá caso ganhem. O salto do ano passado para este ano é grande. É óbvio que é um tema sensível, afinal estamos a falar de premiar o trabalho de alguém, mas até agora tem sido bem recebido. Não temos sponsors que sejam naming sponsors de festivais, por opção nossa, os elementos do júri são o mais diversificados e eclécticos possível e até nisso esperamos continuar a crescer, tanto em número como em qualidade. Esta independência ajuda-nos a transmitir a ideia de que este é um evento isento, em que 12 das 18 categorias são escolhidas pelo público, portanto o que está aqui é voto público. Reflecte a maneira como as pessoas vivem cada um destes eventos. Para não falar que temos tudo bem dividido – pequenos, médios e grandes festivais, se é urbano ou não, tentamos equalizar um pouco o campo de jogo.»
Os critérios para um festival ser eleito para votação dependem do número de espectadores médio diário, que acaba por ser o elemento discriminatório para as várias categorias em que podem ser inseridos: «Queremos os pequenos a competir com os pequenos, médios com médios e grandes com grandes. Nas outras categorias avaliamos se usam uma estrutura urbana para se desenvolver ou se é construído praticamente de raiz numa zona não urbana. Aqui os critérios de selecção nas categorias de público acabam naturalmente por ser baseados na experiência de festivaleiro, já nas categorias de júri é um pouco diferente. Por exemplo, na categoria da contribuição para a divulgação da musica portuguesa só foram validadas candidaturas que tivessem o cartaz com cerca de 90% de músicos portugueses. Em termos dos artistas, em particular, as nossas categorias para melhor actuação ao vivo estão divididas entre artista revelação (artistas emergentes que tenham no máximo um LP editado), artista nacional (artistas que estejam já num patamar superior) e artista internacional. Neste caso, os candidatos a artista revelação e nacional, foram escolhidos pela Antena 3 e os artistas internacionais pela FuelTV, nossos parceiros. No fundo, a nossa única exigência é que tenham sido performance em festivais nacionais e que estes tenham tido um impacto positivo nos espectadores e nos media. Acabamos por ser apenas uma plataforma intermediária das decisões da indústria. Não tomamos decisões nenhumas, apenas validamos se determinado festival cumpre os critérios necessários para cada categoria. Os nomeados são escolhidos pelos nossos parceiros media, os vencedores são escolhidos pelo público e pelo júri, ou seja, não temos qualquer palavra a dizer no meio deste processo todo (risos).»
Este ano, as actuações ao vivo são compostas pelos artistas nomeados para Artista Revelação, a Rita e o João justificam essa escolha: «O nosso objectivo, enquanto plataforma de divulgação dos festivais, passa também muito por cumprir outros desígnios sendo um deles divulgar a música portuguesa. Aquilo que achámos que poderia enriquecer o evento de entrega de prémios era uma ou mais actuações ao vivo. Uma ideia que achámos que iria resultar muito bem foi ter os artistas a tocarem com uma orquestra. Principalmente se forem artistas emergentes, isto acaba por ter impacto – temos actuações únicas, que nunca se realizaram. Com o apoio da Antena 3 e da The West European Symphony Orchestram, conseguimos ter os cinco nomeados para Artista Revelação a tocar ao vivo, o qu também contribui para a divulgação do trabalho deles. Acaba por ser, outra vez, uma escolha natural que enriquece o evento e também a experiência dos próprios artistas. Não queremos que seja mais uma entrega de prémios fechada sobre si própria, só para a indústria, mas que seja antes acessível a qualquer pessoa que queira comparecer. O nosso objectivo foi tentar que o produto final, que é um evento, tendo categorias de artistas e artistas a actuar, possa abrir um pouco o público alvo que pode assistir a eventos deste tipo e fazê-los perceber que uma entrega de prémios não tem que ser um evento chato, mas antes um espectáculo. O importante é não ver isto como uma cerimónia enfadonha – é um produto que é bom e no qual acreditamos.»
Como objectivo último, a organização acredita estar a ajudar a divulgar não só os grandes promotores, mas também, e principalmente, os festivais mais pequenos: «A nível nacional, acreditamos que ajudar os festivais mais pequenos a chegarem a mais público é um marco importante, e queremos muito contribuir para isso, por outro lado aumenta também aquilo que os festivais significam para o público. A nível internacional, uma das coisas que queremos conseguir atingir com isto é ter influência na decisão de um estrangeiro quando este estiver a decidir onde ir passar uma semana de férias e para qual comprar o bilhete. Se vir um festival que foi premiado, se calhar isso tem peso na sua decisão. Um exemplo que podemos dar em relação ao ano passado, e não querendo individualizar porque é um festival que só acontece de dois em dois anos, é o caso do festival Salva a Terra que o ano passado ganhou o prémio de festival mais sustentável. Depois de ter ganho esse prémio, a RTP fez uma reportagem sobre o festival com o pressuposto de ter sido o festival que ganhou Festival Mais Sustentável no Portugal Festival Awards e perceber como é que este funcionava. Isso é o retorno que queremos. Um festival grande é claro que precisa de retorno, mas tem meios de promoção que os mais pequenos não têm e com estes prémios achamos que é uma boa forma de se promoverem. O facto de o público poder votar em termos de dimensão de festivais, acaba por tornar as votações mais renhidas. Podem votar na mesma nos festivais de grande dimensão sem prejudicarem a sua opinião pelos mais pequenos, onde existe uma grande ligação entre o festival e as pessoas desses locais. Uma das principais simbologias que queremos é – o meu festival vai crescer porque eu ganhei um galo no Portugal Festival Awards.»
Para mim, dada esta vontade imensa de divulgar a música portuguesa, uma perspectiva interessante é vermos o impacto destes prémios nos programadores estrangeiros no sentido de estes, aquando da organização da agenda dos vários locais de espectáculos, consultarem artistas premiados para os levarem lá para fora. «Nunca tínhamos pensado nisso, mas agora que falas…! (risos) Ainda assim, é difícil chegar ao estrangeiro e após duas edições pensamos que ainda é cedo. Já estamos referenciados nos European Festival Awards, mas é um trabalho que leva o seu tempo e que exige recursos que a nossa equipa ainda não tem. Mas não deixa de ser, provavelmente, um objectivo poder ser reconhecido internacionalmente como a banda que ganhou o prémio do Portugal Festival Awards. E ainda há a outra perspectiva dos agentes estarem a ver onde vão colocar os seus artistas e consultarem os premiados para escolherem determinado festival por ter ganho esse prémio. Sim, não tínhamos pensado nisso, mas é um ponto de vista interessante. (risos)»
O que está previsto fazer logo após a entrega de prémios é uma análise dos mesmo e de como tudo correu. «Isto é um evento anual e o processo é muito longo e tem de ser feito continuamente ao longo do ano. A comunicação é constante e todo o feedback da respectiva indústria é importante para também continuarmos a crescer. Nós fazemos isto para a indústria, por isso não faz sentido fazermos isto sem ela. Estamos sempre disponíveis para qualquer pessoa que queira contribuir que esteja ligada ao meio. Fazemos tudo muito por amor à camisola, ainda não dá para viver (risos), embora gostássemos, mas de um ano para o outro já sentimos algum crescimento e queremos que isto seja grande. Também queremos fazer com que haja mais actividade ao longo do ano e não apenas aquele evento único de ano a ano. Quem sabe um dia não conseguimos ter não só os artistas revelação a tocar, mas também os internacionais. (risos) O objectivo tem que ser sempre crescer e conseguirmos fazer mais de ano para ano. Mas para já estamos muito concentrados para Terça-feira e para que tudo corra bem.»
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http://portugalfestivalawards.pt/
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