A Cada Dia
David Levithan
Editora: TOPSELLER
Sinopse: A cada dia um novo corpo. A cada dia uma nova vida. A cada dia o mesmo amor pela mesma rapariga. A cada dia, A acorda no corpo de uma pessoa diferente. Nunca sabe quem será nem onde estará. A já se conformou com a sua sorte e criou regras para a sua vida: Nunca se apegar muito. Evitar ser notado. Não interferir.
Tudo corre bem até que A acorda no corpo de Justin e conhece Rhiannon, a namorada de Justin. A partir desse momento, as regras de vida de A não mais se aplicam. Porque, finalmente, A encontrou alguém com quem quer estar a cada dia, todos os dias.
Opinião: Depois de lermos John Green é normal ficarmos atentos aos seus gostos, afinal A Culpa é das Estrelas é dos livros mais, nem de propósito, brilhantes da última década. Sabendo que o escritor já tinha colaborado com David Levithan noutra obra e colocado um carimbo adulatório nesta, A Cada Dia tornou-se numa leitura obrigatória. Mas não foi só esta associação que me provocou o interesse, também a premissa, numa promessa de explorar vários temas sensíveis, ajudou a que este livro passasse à frente de uns quantos outros.
Já se imaginaram a acordar todos os dias num corpo diferente, tendo noção da vossa própria identidade, mas tendo que assumir a do corpo em detrimento da vossa? O que faria isso de vocês em termos de género? Rapaz ou rapariga? Será que isso realmente interessa quando a existência é efémera e as ligações temporárias? Estas questões são apenas a gota de um oceano de perguntas e de temas que David Levithan acaba por levantar ao longo da narrativa. De uma forma ligeira, mas bem alimentada e impulsionada, o autor criou um romance em tom juvenil, com A no centro, que tem uma pertinência transversal a qualquer faixa etária.
A tem 16 anos, desde que se lembra que existe que salta de corpo em corpo e, que tenha noção, não sabe de mais ninguém que seja como ele. Com o tempo, A apercebe-se que há coisas que ele nunca sentirá na totalidade como, por exemplo, saber que existe alguém que se preocupa com ele e chorará a sua morte. Por outro lado, A acumula uma série de experiências e de conhecimento que poucos terão algum dia noção. Através de A conhecemos a realidade de jovens drogados, de obesidade mórbida, de interiores fúteis, mas também de corações cheios e despreconceituosos. Ele não quer saber se é homem ou mulher e se esse corpo que habita é heterossexual ou homossexual, ele procura a ligação com as pessoas e não com o género.
É nesta mentalidade que ao conhecer Rhiannon e ao apaixonar-se verdadeiramente pela primeira vez, no lugar de viver as paixões sentidas pelos corpos que habita, que A se decide a lutar por essa ligação, tendo esperança que Rhiannon o/a reconheça independentemente do corpo em que esteja. Um trilho complicado que A decide percorrer, lutando contra tudo e todos para fazer valer a sua visão do mundo.
A escrita está muito boa. Como disse anteriormente, apesar de vários cenários fortes, toda a obra é lida de um só fôlego, num espírito leve, ao mesmo tempo que estimula a reflexão. Também a certa altura da história, após um incidente em que A falha com o corpo que habita, a trama ganha novos contornos e o próprio fim acaba por prometer uma continuação curiosa, explorando agora mais a vertente do tipo de ser que é A. Será que ele poderia habitar um corpo por mais tempo que as meras vinte e quatro horas? E é com muita na cabeça que pousamos o livro e esperamos pelo próximo. Gostei.