Opinião: Lorde, de João Gilberto Noll

Lorde

João Gilberto Noll

Editora: Elsinore

Sinopse: «Uma bandeira do reino unido, que lembrava ter notado do quarto, agora se mostrava apenas certa mancha indistinta, flutuante. Fui para a outra janela ao lado: o mesmo. Perguntei-me se o mundo daqui agora era esse, embaçado.»

Um escritor brasileiro de cinquenta anos, autor de sete livros reconhecidos e premiados pela crítica, recebe um misterioso convite de emprego de uma instituição britânica.

Depois de desembarcar em Londres e de se instalar num apartamento nos subúrbios, percebe que pode haver um contrato, mas haverá pouco mais. Sem dinheiro nem pátria, vagueia ao sabor de encontros fortuitos, alimentado pelo desejo de viver fora das páginas das suas obras, de esquecer quem é.

Lorde parte da experiência do próprio João Gilberto Noll em 2004, como escritor residente no King’s College. Nele desenha-se um retrato inquietante, herdeiro da tradição de Beckett, sobre quem somos e o que somos quando consumidos pela cultura mediática, num romance que a cada instante desfaz, como Karl Ove Knausgard, a fronteira entre a ficção e a vida.

Opinião: Escrever sobre este livro provoca alguma inquietação. Também desassossegada foi a leitura. Embora curta, esta é uma obra que nas pouco mais de cem páginas que tem consegue deixar o leitor ofegante, um misto de pele arrepiada, algum asco e perplexidade, mas também uma enorme admiração. Não é uma escrita convencional, mas antes romanesca em que a realidade e a fantasia se entrelaçam em processos metamórficos e de alguma dissociação. Existe a urgência do desapego, de nada significar nada, mas tão somente o que for ali, naquele momento. Noll é um escritor premiado e no que toca a Lord tem sido associado a outros escritores como Kafka ou Lispector.

Quem pegar neste livro, antes de o ler, penso que deve ter em conta duas coisas: a língua impressa é a original, português do Brasil, e a narrativa presa o movimento e acção, sendo corrida e contendo poucos parágrafos. Daí a sensação ofegante e sôfrega em alguns momentos. Combinando o processo de procura de um sentido às experiências empíricas e oníricas com um forte teor sexual, esta experiência do escritor brasileiro em terras de sua majestade revela-se tão curiosa como perturbadora. Aceitar um emprego, por umas míseras milagres, num país estrangeiro, em que o passado se tenta apagar e o futuro parece depender de alguém que desconhece… Dá pano para mangas.

Propósito, solidão, motivação, (des)contentamento e frustração – tudo aspectos que assolam o ser humano nas mais diversas fases da vida. Entre os subúrbios de Londres e o derradeiro desfecho em Liverpool, testemunhamos o perdido, o vagabundo, o prostituto e o ladrão. Acabamos com a transfiguração imprevista, mas não imprevisível e o fim deixa-nos todo um turbilhão nas nossas mentes.

Esta aposta da nova chancela da editora 20|20 – Elsinore – tem a particularidade de adicionar ao nosso mercado uma alternativa em português, do Brasil é certo, de um género que é pouco desenvolvido por cá e que mesmo pelo mundo poucos têm a capacidade de o fazer. O mais curioso é que o escritor diz partir de uma residência sua em Londres, mas não assume a autobiografia do mesmo. Numa entrevista ele diz: “Fiquei quatro meses lá, escrevendo esse livro, da manhã até as entranhas da madrugada. E foram os dias mais felizes da minha vida, não tenho a menor dúvida disso. Porque eu vivia, ali, o princípio do prazer freudiano o tempo todo. Eu não estava exatamente na realidade. Eu estava ficcionalizando uma série de coisas que eu vivia. Claro que Lorde não é um livro autobiográfico. Nem tenho jeito para fazer coisas autobiográficas, para fazer um documentário sobre o meu eu. Mas, realmente, se eu não tivesse ido a Londres, eu não teria escrito esse livro.” Apesar destas afirmações, o leitor não deixa de especular até que ponto é que a ficção aqui apresentada não terá tido o seu lugar no mundo real. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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