Artwork João Pedro Fonseca |
De tempos a tempos surgem discos de origens algo inexplicáveis. Pelo menos para quem ouve, e para quem possa não fazer ideia de quem está por trás da teia de sons que nos invadem assim que colocamos a primeira música a tocar. SAHU é um disco que vem das profundezas do universo. Existe uma sensibilidade e uma brutalidade nas texturas que se cruzam em cada tema, que dali só pode surgir matéria, qual big bang. No bandcamp, o autor das músicas diz que este trabalho é fruto da inspiração que proveio de uma viagem à Índia. Se fecharmos os olhos, mesmo que nunca tenhamos visto uma fotografia do país não é difícil começar a desenhar contornos paisagísticos. Nota-se um forte vínculo à sonoridade associada ao local, mas há muito mais entrelaçado. Tenho de admitir, a cada música, cada vez que o piano entra em cena, principalmente quando é engolido por tecidos mais densos, há algo em mim que se arrepia, que mergulha profundamente num espaço sensorial etéreo, puro e ao mesmo tempo em estado bruto. O uso minimalista de samples e a forte componente electrónica – diversa, umas vezes pueril, outras dissonante – transformam-se nos aliados perfeitos para uma viagem que vai para lá da observação através da audição, tornando-se uma experiência completa, física, a roçar a transcendência, pois o corpo teima em responder ao estímulos, também ele viajando. Não sei quando vou ter a oportunidade de ver nial ao vivo, mas confesso que é a minha maior curiosidade neste momento.