Entrevista a Throes + The Shine, Banda Luso-Angolana

Ao longo dos últimos meses tenho conhecido projectos fantásticos e originais. Sim, sou uma sortuda. O que eu não estava à espera, apenas por nunca ter imaginado tal conjugação, foi encontrar em Throes + The Shine uma sonoridade completamente diferente de todas as que já ouvi, conjugando dois géneros que em separado têm muito pouco em comum – o rock e o kuduro. Se a minha veia rock sempre foi um dado adquirido, o kuduro nunca foi um género que me dedicasse a ouvir. O resultado desta junção – o rockuduro – deixou-me cheia de energia e completamente fã deste novo género. Na véspera da apresentação do segundo álbum de longa duração – Mambos de outro tipo – deixo-vos a entrevista que deram esta semana ao Morrighan.

Throes + The Shine têm origem em dois projectos distintos que em 2010 acabaram por se fundir. “Aconteceu como que por acaso. Conhecemo-nos no festival Náice, organizado pela Lovers & Lollypops, que consiste em reunir os artistas que estiveram na edição do Milhões de Festa do ano anterior, num club no Porto no Inverno, e fazer  lá uma festa. Estavam lá as duas bandas, a minha (Igor), os Throes, e a do André, os The Shine. Quando estávamos a tocar, calhou tocarmos (Throes) uma música, que por acaso acho que só tocámos uma vez, cuja base tinha um ritmo de Kuduro. Eles estavam lá no concerto e começaram a rappar em cima daquilo. No final do concerto vieram falar connosco para fazermos uma espécie de participação. Gostámos logo da ideia. Surgiu fazermos um video para o bodyspace, passado um tempo, em dois dias, fizemos uma música e tudo acabou por correr muito bem. Fomos convidados para fazer um concerto no Milhões de Festa, que correu ainda melhor, e a partir daí deixou de ser a junção de duas bandas para passar a ser apenas uma banda Throes + The Shine“.

Apesar desta nova banda, The Shine continuam no activo “continuamos a produzir sons e a fazer vídeos.“, conta-nos o André, enquanto que “os Throes estão a hibernar. Mas como temos outros projetos sem ser os Throes, acabamos por nunca estar parados. Havemos de voltar a produzir coisas novas.“, explica o Igor.

A fusão de rock + kuduro poderia soar estranha quanto mais não fosse por o público alvo ser tão distinto. Quando questionados sobre a receptividade do público a este novo género rockuduro a resposta é fácil: “tem sido muito boa. Sendo ainda por cima um estilo novo, quando é novidade e é algo bom e bem feito (risos) acho que só pode ser bom.” (André). “Primeiro estranha-se, depois entranha-se! (risos) Acho que muitas das vezes o público fica reticente por ser uma junção que não é muito óbvia, mas principalmente quando nos vêem em concertos, que são sempre explosivos, ninguém consegue ficar indiferente. A não ser que essa pessoas seja muito aborrecida! (risos)“, diz-nos o Igor. “Por acaso cura dores de cabeça, a nova música – Dombolo (risos).“, remata o André.

Os últimos quatro anos têm sido sempre a crescer, “Rockuduro, o nosso primeiro álbum, abriu-nos muitas portas. Em termos de composições e como banda crescemos muito. Este novo trabalho acaba por ser a continuação desse crescimento.” (André). “Quem ouve este disco acho que percebe que é um disco mais maduro em relação ao anterior. Quando fizemos o primeiro álbum, ainda não nos conhecíamos muito bem e as diferenças de influências eram mais notórias. Nós tínhamos as influências do rock/underground/hardcore e eles a base da cultura angolana. Entretanto passaram três ou quatro anos em que os estilos se foram cruzando provocando a procura por novas sonoridades para além do rock e do hardcore que sempre ouvimos. Este disco mistura muito mais que rock e kuduro. Tem músicas mais tradicionais, outras músicas com mistura de electrónica, é um disco diferente.” (Igor)

Todos os sons produzidos são agora o resultado da interacção entre todos e não de influências exteriores. “Surge muito dos ensaios. Um toca um som, o outro coloca uma voz, experimenta-se um toque de bateria e assim sucessivamente. Não existe aquela situação em que ouvimos uma coisa de uma banda e a queremos trazer para as nossas músicas.” (André) “Quando estamos a compor tentamos nem sequer ouvir coisas semelhantes com o que tocamos para não nos sentirmos influenciados.” (Igor)

As letras que se podem ouvir em Mambos de Outro Tipo não são de todo inocentes “neste disco houve muito cuidado em termos de letras. Tentámos pegar em factos sociais de incentivo juntando os dialectos de Angola, como nas músicas Tufuete, Tuyeto Mukina. Também em termos de letras crescemos muito. A letra de rockduro tem mais power é mais festiva. Tentámos transparecer isso neste disco.” (André)

Throes + The Shine já actuaram em palcos estrangeiros juntamente com outros grande nomes da música internacional. O público estrangeiro acaba por recebê-los tão bem como o português “tanto tocamos em sítios que não nos conhecem e ficam rendidos, como tocamos em sítios que já nos conhecem e em que quando chegamos já estão a cantar a batida.” (Igor)

Ser músico a tempo inteiro é uma dificuldade que a maioria dos músicos portugueses enfrenta. Apesar de os projectos muitas vezes necessitarem de mais tempo aplicado, nem sempre é possível. Em conversa com o Igor e o André encontrei mais um testemunho que vai de encontro a este mesmo facto. “Continuamos a fazer outras coisas, eu ainda estou a acabar o curso e isto acaba por ser um hobbie que, apesar de ser remunerado, não dá para só nos dedicarmos somente a isto.” (Igor) 

Perguntei-lhes se achavam que seria mais fácil ser músico a tempo inteiro fora de Portugal… “Não quero que entendam isto como uma queixa, mas muitas vezes aqui não te dão as condições necessárias. Temos coisas que às vezes pedimos, que nem são disparatadas, seja em palco ou fora de palco, e não as fornecem. Quando enviamos o rider técnico para o estrangeiro, chegamos lá e temos tudo o que lá colocámos. Um exemplo ainda mais simples é a diferença de caché que se recebe em Portugal e lá fora. Para não dizer que o músico é sempre o último a receber. De qualquer maneira, continuamos a fazer isto porque gostamos e mesmo que não recebêssemos nada, iríamos continuar a fazê-lo.” (Igor) “Lá fora valorizam-nos mais. Respeitam-nos mais. Sendo um projecto que traz algo novo e ainda por cima português, penso que em Portugal nos podiam dar mais valor. É a realidade e estamos submetidos a isso.” (André)

Em termos de palcos especiais, o André deixa bem claro que “cada palco tem a sua doçura (risos).” Já actuaram em vários palcos e cada um acaba por ser especial à sua maneira. Depende sempre mais do público. 

Num futuro próximo os planos são “divulgar este disco, que achamos que está bastante bom, e no final do ano começar a compor coisas novas.” (Igor)

Já a terminar a entrevista, em tom de curiosidade perguntei-lhes que tipo de livro achavam que daria uma obra cuja banda sonora fosse a música deles. “Depende da música. O Tufuete penso que daria mais um drama.” (André) “Eu acho que daria um Rei Leão! (risos) Na verdade gostava que desse algo como o Live in Las Vegas (risos)” (Igor).

Por último, estes dois rapazes simpáticos deixaram uma mensagem ao Morrighan e aos seus leitores: “Queremos agradecer a entrevista e esperamos que seja a primeira de muitas. Vamos ficar ligados ao Morrighan – é complicado de dizer! – (risos). No Sábado vamos apresentar o Mambos de Outros Tipos e aproveitamos para vos convidar a aparecem.

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Só para terminar este post, queria deixar aqui um muito obrigada ao André e ao Igor pela tremenda boa disposição e simpatia. Gostei imenso de fazer esta entrevista e só contribui para ficar ainda mais rendida ao seu trabalho. Descubram os Throes + The Shine, valem a pena e provam que os rótulos são aquilo que fazemos deles e não algo imutável. Sábado lá estarei, no Musicbox, para a apresentação em Lisboa de Mambos de Outros Tipos. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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