Dia 13 de Janeiro de 2014 foi um dia rico em experiências e uma delas foi entrevistar os You Can’t Win, Charlie Brown através de dois dos seus membros – David Santos e João Gil. Lançaram recentemente o seu segundo álbum de longa-duração “Diffraction/Refraction” tendo-o apresentado no CCB no passado dia 18 de Janeiro. Foi uma conversa informal, bem disposta e muito descontraída nas escadas de um dos prédios da Baixa. De uma simpatia e disponibilidade enormes, lá me responderam às minhas maiores curiosidades sobre a banda e o seu percurso. Ora vejam lá o que eles têm para nos contar:
Foto: Vera Marmelo |
You Can’t Win, Charlie Brown! De onde é que vem o nome da banda?
O nome vem do nome de um livro que estava na nossa primeira sala de ensaios em casa do Afonso Cabral. Estávamos na altura a decidir qual seria o nome da banda, havia uma série de hipóteses, e este livro esteve durante todo esse tempo numa das prateleiras. Um de nós uma vez olhou para lá e perguntou porque não “You Can’t Win, Charlie Brown”? E ficou esse nome.
Vocês estão juntos desde 2009, mas a formação de origem é diferente da dos dias de hoje.
Sim, em 2009 eram três (Afonso Cabral, Salvador Menezes e Luís Costa), eu (David Santos) entrei logo de seguida, depois em 2010 entraram mais dois e fizemos o primeiro disco de longa duração (Chromatic) já com os seis. O EP, no Optimus Discos foi feito só com os quatro primeiros. Tocámos esse EP ao vivo e depois entraram mais dois, ele (João Gil) e o Tomás (Sousa). Só com os seis é que lançámos então o primeiro álbum e agora este.
O primeiro disco “Chromatic” foi gravado em 2011 e em 2012 fizeram uma recriação do “Velvet Underground & Nico” e agora em 2014 o novo disco “Diffraction/Refraction”. Como é que vocês consideram que a vossa música em evoluído ao longo destes anos?
Houve um salto grande desde o “Chromatic” até agora, principalmente individualmente. Cada um de nós, como músicos, evoluímos um bocado sozinhos, o que fez com que este disco fosse completamente diferente. Não completamente diferente em si, porque continua a ser YCWCB, mas está mais evoluído do que o outro, mais pensado, mais bem elaborado.
Essa evolução reflecte-se também nas letras das músicas?
A parte das letras, como é o Afonso que trata dessa parte, teríamos de lhe perguntar a ele. Embora um ou outro tenha também contribuído, mas a ideia principal das letras é dele. Eu (David Santos) não acredito muito que as letras estejam melhores, porque no outro já estavam boas. Penso que a grande diferença é em termos instrumentais, este está mais bem conseguido que o outro, não que o outro estivesse mau. Eu (João Gil) acho também que este trabalho, ao longo destes anos, nos fez conhecer melhor a nós próprios e aos outros, e sabemos como trabalhar melhor o que temos. Sabemos exactamente o que é que cada um pode trazer e da melhor maneira que o pode fazer.
Aproveitando a tua presença, David, por também teres o projecto Noiserv, consideras que trazes alguma coisa do Noiserv para os YCWCB ou vice-versa?
Neste caso em específico do Noiserv, aquilo é muito a maneira como eu sou, e a pessoa que eu sou, portanto eu acho que como eu com eles também estou a ser o mais sincero possível é normal que traga alguma influência. Por outro lado, como no projecto sozinho também sou eu e também ganho alguma coisa deles, é normal que essa troca exista, mas não é pensada à partida, este instrumento que uso muito em Noiserv tenho que pôr em Charlie Brown para ficar parecido, nunca é nada disso. Enquanto pessoa, não há nenhum alter ego nem uma outra personalidade que eu crie quer num projecto quer noutro. Sou sempre eu, é normal que hajam coisas em comum.
Em Portugal não temos bandas que consigam conjugar tantos instrumentos da forma espectacular como vocês fazem (risos). Se quisermos caracterizar/categorizar a vossa música, como é que o poderíamos fazer? Não que eu goste de rótulos, mas caso perguntassem que tipo de música faz YCWCB.
O mais fácil é dizer que é alternativo. Mas o que é que é isso? Isso também não diz nada. Eu acho (David Santos) e também costumo dizer isso, que a melhor maneira de as pessoas saberem de que género é, é terem a oportunidade de ouvir e tirarem as suas próprias conclusões. A melhor explicação que podemos dar é que somos seis amigos que fazem música juntos e claro que as influências que temos não vêm do jazz, é uma coisa diferente. É um bocado (João Gil) como juntares tintas. Se juntares o verde e o amarelo, aquilo vai dar uma cor diferente. Quando somos músicos, ainda que partilhemos alguns gostos, somos músicos com gostos diferentes uns dos outros. Isso tudo junto leva a um género que mexe e faz rock, entre outros.
Mesmo com toda essa diversidade de personalidades, instrumentos e participações, é incrível a harmonia com que acabam por brindar o vosso trabalho. Em “Diffraction/Reffraction” essa harmonia eleva-se a um novo patamar, dada a qualidade do mesmo. Ou seja, vocês são um projecto único em Portugal. De que forma é que esta característica tem impacto na receptividade do público e na banda?
Nos singles a reacção tem sido muito boa. Não gosto (David Santos) muito da ideia de pensar que somos mais importantes que as outras bandas ou que somos mais especiais que os outros. Acho que temos essa coisa diferente de sermos se calhar uma das bandas com mais número de elementos das que andam mais por aí, e isso acaba se calhar por ser uma mais valia que as outras não têm. Como somos muitos, há muita coisa para pensar, muitas ideias diferentes a baterem umas contras as outras, então o resultado final será mais único do que os outros, mas acho que só as pessoas o poderão dizer.
Os vossos vídeos deste novo álbum, tanto o “Be My World” como o “After December” são um pouco diferentes dos anteriores. Principalmente em relação ao “After December” que conceito/mensagem é que vocês quiseram passar com ele?
Eu (David Santos) acho que o vídeo conta uma história um bocadinho diferente. Nós fizemos como que uma parceria com uma produtora de vídeos e nessa parceria estava definido que haveria uma pessoa que iria, à maneira dela, interpretar a música e escrever o seu próprio guião para aquela música. Nós como banda, teríamos de achar e sentir que aquilo faria algum sentido, mas a história era deles. Terias de perguntar ao Pedro Gonçalves, qual é que é claramente a relação que houve entre aquela música e o texto que ele escreveu. Para nós a música se calhar era mais sobre uma relação entre namorado/namorada, e ele viu aquilo como uma relação de pai/filho ou entre uma pessoa mais velha e outra mais nova. Acabou por ser ainda mais enriquecedor, quantas mais pessoas tiveres, mais rica fica uma coisa quando corre bem. Teres diferentes interpretações e teres essa interpretação dele completamente diferente da nossa acabou por deixar a música mais rica.
Foto Vera Marmelo |
Vocês já andaram pelo estrangeiro. Que diferenças é que encontraram entre o público português e o público estrangeiro? Seria mais fácil vingarem lá fora do que cá?
Não sei (João Gil), porque não vivo lá, por isso não te consigo responder. É como ires de férias para um país qualquer. Não é por passares duas semanas em Nova Iorque que te fazem achar que já fazes parte. A reacção dos concertos que tivemos lá fora foi muito positiva. Em Inglaterra, por exemplo, fiquei impressionado porque nunca pensei que no primeiro concerto tivéssemos tanta gente e tanta reacção boa. Por exemplo, pessoas virem ter connosco no fim do concerto e saberem exactamente o que tinha sido feito no concerto e não aquela coisa da palmadinha nas costas e nem ouviram a música, não. sabiam exactamente como é que o concerto tinha sido do princípio ao fim e faziam perguntas quase como se fossem jornalistas e nos estivessem a entrevistar. Isso foi muito bom. A verdade é que como moramos em Portugal, é aqui que mais pessoas nos conhecem e é aqui que o público acaba por ser mais efusivo.
Que influências é que vocês consideram que contribuem para a vossa música?
É um bocadinho diferente de músico para músico. Para o Afonso se calhar conta aquilo que vive no dia-a-dia e que é diferente daquilo que cada um de nós vive. Não há assim uma influência clara, é tudo o que vamos vivendo. Quando o Afonso escreve uma letra, é a vivência de cada um, a interpretação e contribuição de cada um, que molda depois a música,
Em que local é que vocês mais gostaram de actuar ou que seja como voltar a casa?
O Festival Bons Sons. Gostávamos que fosse todos os anos, mas é de dois em dois. Eu (David Santos) acho que há festivais em que parece que há uma energia tão boa no ar, que quem está a tocar não sente mais nada do que quem está a ver, e a seguir a teres tocado, vais ver o resto dos concertos com o pessoal com as mesmas pessoas. (João Gil) É quase como se estivesses a tocar para uma família muito grande e não numa coisa que é um negócio.
Esta é a parte em que vocês me adiantam que vão tocar em Paredes de Coura 2014! (risos)
Sim, podia ser, mas não sabemos dizer. Mas Paredes de Coura é um bom exemplo do que sentes no Bons Sons.
Foto Vera Marmelo |
Sonhos por Realizar? Primeira coisa que vos vem à cabeça.
Voar (João Gil) (risos). Agora a sério, enquanto banda o maior sonho que podes ter é que as coisas corram bem para que nós tenhamos vontade de fazer um novo disco. Que este disco corra bem para haver vontade de fazer um próximo.
Dia 18 de Janeiro vão apresentar o novo álbum no CCB, depois disso o que se segue?
É promover o disco, já temos alguns concertos pré-agendados, mas ainda não conseguimos adiantar datas específicas.
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O tempo da entrevista estava limitado pela disponibilidade dos simpáticos David e João Gil, mas o que é certo é que adorei conhecê-los e conversar com eles foi muito bom. Os YCWCB são uma banda formidável e já publiquei aqui no blogue a minha opinião sobre o novo álbum e podem lê-la aqui. Muita sorte e muito sucesso é o que lhes desejo!