Queridos leitores,
Pois é, o tempo passa num instante e, entretanto, fez ontem uma semana que aterrámos em Fukuoka! A aventura tem sido imensa, principalmente pelas diferenças culturais, tanto no trato como, acima de tudo, na alimentação! Ahahah, mas tem sido um fartote de rir. Penso que vos devo ter escrito na Segunda-feira, quando nos instalámos aqui no campus, e até ontem estivemos um pouco em modo sobrevivência, a explorar os refeitórios aqui no campus (ainda só encontrámos uma refeição que o nosso estômago aceitasse como deve ser – está algures na galeria que se segue – que é composta por arroz, algas e uma bola de salmão), e a acertar com os ingredientes que vamos comprando para cozinhar em casa. Ontem, finalmente, fomos a um hipermercado na cidade e já trouxemos algumas coisas que sabemos ser seguras como: cogumelos (de todo o género e feitio), tofu, legumes como bróculos, cebola, batata doce, tomate, pimentos e couves que não sabemos bem o que são, massa, arroz e barras de cereais. Eu ainda consegui encontrar três fatias de pão escuro de arroz! YEAH! Hoje pude ter um pequeno-almoço mais tradicional: pão com manteiga de amendoim e um belo de um café (eles cá têm Nescafé!).
Existe outro tipo de choque que é o facto de venderem tudo à unidade. Ontem dei o equivalente e 1,5€ por uma laranja… Um kiwi, por exemplo, custa perto de 2,5€… Dez saquetas de chá de camomila são quase 2€ e, imaginem, não comprei, claro, mas uma melancia pequena/média custa entre 10€ e 16€… Reparei que a maior parte da fruta é importada dos Estados Unidos, a laranja que comprei (tinha mesmo saudades e lá me benzi e à minha carteira por dar aquele dinheiro todo) veio dos EUA, as cerejas que vi à venda também… Oh well 🙂 Mas nem tudo é mau, os cogumelos são muito mais baratos que em Portugal, tal como o Tofu. Acho que por quase 1kg de Tofu demos à volta de uns 0,40€ ? Já uma garrafa de 2L de água, por exemplo, anda sempre à volta de 1€. Ontem no Skype, com os meus pais, comentávamos que quando estava em Portugal ainda achava a fruta cara…! Eheheheh!
Dinheiros à parte, há algo aqui que me tem deliciado: a educação dos japoneses nos espaços públicos. Ontem, estava assim meia perdida à procura de uma faca no hipermercado, quando vem uma das funcionárias perguntar, muito timidamente “help?”. É que cá no Japão é mesmo muito, MUITO, raro encontrar alguém que fale inglês. Temo-nos entendido à base de gestos e de muitos sorrisos, Arigato e Sumimasen. Ahahahah. Mas pronto, a senhora, depois por gestos porque não sabia muito mais inglês, lá nos indicou onde estava. Seja em que supermercado for, sempre que entramos temos alguém a cumprimentar-nos. A registar as compras está sempre alguém a recolher o dinheiro enquanto o outro regista e arruma as compras no saco. Existe uma grande humildade nestes pequenos gestos e raramente vemos alguém com má cara. No dia-a-dia é um bocadinho diferente. Aqui no campus, por exemplo, quando passamos por alguém, o máximo que acontece é uma pequena vénia em tom de cumprimento, mas a maior parte das vezes o pessoal baixa a cabeça, encosta-se a um canto e segue caminho. Não há cá bons dias nem boas tardes nem nada que se pareça. Nem sei se isso não será uma intromissão! Ah! E nada de apertos de mão ou beijinhos! Jamais! Também as entradas e saídas dos elevadores ainda me confundem. Parecem haver regras implícitas sobre ordem de entrada (que claro que é sempre pela ordem de chegada) e depois no posicionamento dentro do elevador. Enfim, pode ser que um dia descubra se ando a fazer alguma coisa de errado! Outra coisa curiosa, aqui no campus, é que se o vosso destino forem até dois andares acima ou três abaixo, têm de utilizar as escadas. Eu como estou no décimo andar, dificilmente vou ter esse problema. No outro dia armei-me em esperta e subi os dez andares…. Ficou o exercício físico da semana feito! Ahahah
Por falar em exercício físico, temos conseguido, de vez em quando, ir dar umas caminhadas. É realmente muito bonito e quase etéreo observar todos os verdes, toda esta natureza tão selvagem que tanto parece querer absorver-nos como dar-nos força. As casinhas japonesas são realmente muito diferentes das ocidentais. Tirando os dormitórios que são verdadeiras torres, aqui em Fukuoka, principalmente à volta do Ito Campus, só encontramos casas praticamente tradicionais que vão intervalando com alguns templos. Mesmo o meu quarto também é minimalista, tem uma caminha (que não tem colchão, só futon), uma secretária, um pequeno roupeiro, uma pequena varanda, e uma pequenita zona/corredor onde tem um frigorífico, um lava-loiças e uma placa com dois discos. A verdade é que esta experiência está a ser qualquer coisa de muito pessoal também. Tive alguns problemas com o quarto ao início, não tinha estores (e aqui amanhece às 4h e tal da manhã), tinha um cheiro meio a químicos que ninguém sabia explicar a origem. Durante esta semana, com uma bela limpeza (de rabo para o ar como as japonesas fazem, a limpar o chão com todo o carinho), com a compra de um estor mais escurinho e com uns banhos de incenso, já me apeguei completamente ao quarto. Tem espaço suficiente para eu fazer os meus exercícios de yoga, para me movimentar sem me sentir presa, etc. Sair da nossa zona de conforto para irmos para a outra ponta do planeta com condições desconhecidas pode ser assustador, mas acredito que é uma experiência completamente enriquecedora. Sofri um pouco com o jetlag nos primeiros dias. Dormia pouco ou nada e fui ficando irritadiça e com algumas crises de nervos, mas felizmente nas últimas três noites já dormi que nem um anjinho e já está tudo normalizado. Ah! E adoro o facto de nos termos que descalçar mal chegamos, existe mesmo uma zona de entrada só para deixar o calçado. Para mim é super porreiro porque eu já faço isso em minha casa! 🙂
Por fim, que no fundo é a razão de eu estar aqui, o trabalho tem corrido bem. Não sei se podia ter corrido melhor, talvez sim, mas dado todo o processo de transição acho que o balanço da primeira semana é muito positivo. Avancei com dois projectos mais ou menos em paralelo, fui mantendo mais ou menos o blogue actualizado com algumas novidades e as perspectivas para as próximas semanas são muito positivas. Na próxima semana o investigador principal não vai estar aqui, por isso vamos aproveitar para tirar umas mini férias e vamos andar a visitar Hiroshima, Miyajima, Matsuyama, Kyoto, Nara, Osaka, só para mencionar alguns. Vou tentar tirar fotografias e partilhar convosco, depois, a experiência!
A foto que ilustra este post, foi tirada ontem no Aeon, um centro comercial enorme no centro da cidade, que tinha lojas inacreditáveis. Ahahah. Tinha um salão de jogos onde me sentei a fazer uma corrida de carros, tinha um espaço com uma banda ao vivo a tocar de tempos a tempos, fomos também a uma loja comprar legumes onde, por termos feito compras superiores a 8€, nos deram um talão que dava direito a tirar um pote de arroz (e tinha de ser cheio senão ela não nos deixava tirar o arroz do saco) e a fazer uma roleta onde consoante a cor da bola tínhamos direito a um brinde, que era comida!! Ahahah, já quando entrámos numa loja de electrodomésticos nos deram um cartãozinho que também era suposto irmos jogar qualquer coisa, mas dessa vez não fizemos nada.
As fotos que se seguem estão em ordem contrária à que foram tiradas, mas acho que se vão aperceber de como a cor do céu varia: tanto está um calor enorme com sol (ontem por andar meia hora a pé apanhei um escaldão nos ombros e fiquei com marca dos calções nas pernas) como está na mesma um calor enorme, mas com céu cinzento e às vezes trovoadas enormes. Já apanhei duas molhas gigantes desde que cá estou! Ahahah! É verdade, agora a rever as fotos é que me lembrei! Vocês vão-se deparar com uma foto de uma sanita toda XPTO. Não é igual à que tenho em casa, no dormitório, mas sim no campus (e nos aeroportos) que tem botões para tudo e mais alguma coisa. Para chapinhar, para spray, para colocar música enquanto fazem xixi ou outra coisa qualquer! Ahahah, eu nem sei se não será falta de educação fazer xixi à bom português, sem música a disfarçar. As duas vezes que me cruzei com alguém na casa de banho (aqui em computer science não se vêem mulheres… Agora que penso nisso não sei se não terei sido a única até agora) elas ligaram sempre a música.
E pronto, é isto, hoje é Domingo, mas viemos ao campus despachar umas coisinhas de trabalho porque amanhã partimos então na nossa aventura. Beijo enorme e obrigada por continuarem desse lado!