Entrevista aos Holy Nothing sobre o seu disco “HYPERTEXT”

Conheci os Holy Nothing em 2014 quando foram actuar ao palco da vila do Vodafone Paredes de Coura. Não resisti em ter uma primeira conversa com eles, que podem ler aqui, na qual falámos sobre o início da banda, de como estava a ser a experiência de actuarem em festivais e o que esperam que acontecesse no futuro. Como costumam dizer, o futuro é agora e não só passaram do palco da vila para o palco secundário do Vodafone Paredes de Coura como estiveram no Jameson Urban Routes a apresentar o seu primeiro disco de longa duração – HYPERTEXT. O facto de tentarem que a sua música seja o mais orgânica possível ao vivo e ainda o cuidado com a estética do projecto tem levado a críticas muito boas e não resisti em ter uma nova conversa com eles. Aqui fica o resultado. 

Fotografia Sofia Teixeira

Na nossa última conversa ficámos na parte sobre o que é que esperavam para o vosso futuro. Na altura, o futuro parecia ainda por definir, mas passado um ano sai um disco, com apoio FNAC, e tudo parece tomar um rumo muito positivo. Quando é que decidiram que estava na hora de lançarem esse primeiro trabalho cá para fora? 

As decisões na banda são tomadas um bocadinho pelas circunstâncias que se vão proporcionando. Na verdade saiu um álbum porque o conjunto de ideias que compilámos era suficiente. Poderia ter sido outro EP se as ideias não fossem suficientes para criarmos algo coerente à volta de uma ideia/conceito. Neste caso, o HYPERTEXT é um conceito descritivo do que é a banda em si. A ideia de hipertexto enquanto múltiplas ligações, e o nosso hipertexto são as múltiplas referências que nós vamos tendo e as múltiplas ideias e músicas que vamos trazendo para a sala de ensaio. O disco não foi propriamente planeado, não foi algo que achámos que tínhamos de fazer cronologicamente, foi a oportunidade que surgiu de ter um conjunto de músicas num disco, neste caso um LP.

Para além dessa multiplicidade sonora e de referências, o título HYPERTEXT tem mais algum significado?

O nome não é descritivo em termos sonoros, é descritivo em termos do processo de composição. É mais uma descrição de nós próprios, da nossa forma de trabalhar, da nossa forma de interagirmos entre nós, e criarmos músicas através de três inputs que por vezes são similares outras vezes são completamente diferentes. Eu acho que HYPERTEXT pode ser considerado um álbum conceptual se pensarmos no que é que é Holy Nothing. No fundo HYPERTEXT é isso, não é tanto a descrição da nossa música, mas do nosso processo criativo – como um hipertexto com múltiplas ligações.

Dessa multiplicidade sonora que cada um traz para a banda, querem dar alguns exemplos? 

Ainda há poucos dias falávamos disso. Do que são as referências. A verdade é que estas variam imenso e depende muito do que estamos a ouvir no momento. É sempre difícil responder, cada dia teríamos uma resposta diferente. Mais, responder de forma directa a isso às vezes é estranho porque damos nomes que muitas vezes não têm nada a ver com aquilo que fazemos, mas que de alguma maneira nos inspiram ou dizem algo. Nós criamos uma espécie de metrópole à volta dessas referências múltiplas e vamos tirando coisas de lá. 

Nos últimos tempos têm surgido, na música portuguesa, mais projectos musicais que vão beber muito à electrónica e que têm tido uma boa aceitação. Sentem que também por causa disso este é um momento favorável para o lançamento do vosso disco?

Não acho que seja algo pontuado no tempo, que seja uma coisa efémera. Acho que é quase uma espécie de globalização de informação. As pessoas vão tendo referências diferentes, vamos tendo acesso a instrumentos diferentes, vamos tendo acesso mais rápido a imensa música e as barreiras dissolvem-se. As barreiras e os nichos nacionais vão-se perdendo. Também existe esta complexidade e a exaustão de estilos em que as pessoas fazem fusões com tudo. O estarmos inseridos neste espectro mais electrónico, isto é um termo muito lato. Há muita coisa que se pode por dentro dessa caixa, mas permite-nos a cada momento refrescar a coisa, as formas de compor são muito mais flexíveis e abrangentes do que quando só tens um baixo, uma guitarra e uma bateria. Permite-nos abrir um espectro muito grande e fugir a esta saturação de estilos. Quando estás dentro desta núvem que é a electrónica, que é tanta coisa, permite-te ir para caminhos muito diferentes. 

Fotografia Sofia Teixeira

Vocês têm mostrado uma forte e sólida componente estética. O trabalho com os vídeos, o desenho do disco, as projecções nos concertos ao vivo, é tudo muito coerente. Quão importante é esta componente nos Holy Nothing como complemento à música? 

Desde o primeiro concerto, mesmo com a logística mais primitiva que tínhamos,  que sempre fizemos um esforço para ter esta componente bidimensional. Nós queremos que este projecto tenha essa dimensão audiovisual, em que tens essa vertente audio, importante para nós enquanto compositores, mas também temos um conjunto de pessoas que vamos agrupando à nossa volta. Inicialmente o Bruno Albuquerque, que é responsável por toda a imagem gráfica do álbum e por todos os vídeos, agora também temos a colaboração do João Pessegueiro e do Rui Monteiro, que é designer de luz. São sempre pessoas novas que vêm tentar dar mais coerência e mais corpo a este projecto. Para além da música, interessa-nos esta questão de cenário porque cada vez mais achamos que a experiência num concerto não é só a audição, é muito mais do que isso. Sensorial a vários níveis. E essa foi sempre uma preocupação nossa e por isso os nossos cenários também têm evoluído. Tentamos que haja uma evolução paralela entre estas duas dimensões – musical e visual. 

Passemos à parte lírica. Que papel é que as letras e a voz têm em Holy Nothing? Li, ou vi, numa entrevista que vocês encaravam a voz como apenas mais um instrumento. Expliquem-nos esse conceito.

Até ao lançamento deste disco essas perguntas nunca nos tinham sido postas (risos). Nem mesmo com o EP Boundaries. Agora com o HYPERTEXT essa questão das letras tem sido abordada. É assim, nós não temos o objectivo que o projecto seja uma espécie de passagem de mensagem. A voz e a mensagem que a voz transmite não são propriamente o ex-líbris do projecto. É importante para mim (Pedro) enquanto compositor/escritor das mensagens, mas estas não fazem parte de um conceito de Holy Nothing, mas sim coisas que para mim naquele momento têm sentido, mesmo que agora já não tenham. Mas é como tu estavas a dizer, a voz é mais uma vertente musical, equilibrada e nivelada com os restantes instrumentos. Nós queremos que seja mais um instrumento e não a cabeça do projecto. 

Fotografia Sofia Teixeira

Ouvi dizer que a escolha do vocalista, também por causa do que explicaram, foi assim um bocadinho à sorte (risos). Há hipótese de no futuro termos frequências diferentes? 

Samuel: Pode acontecer (risos)! 

Pedro: Gostava muito que o Samuel cantasse uma canção (risos). Isto foi um bocado “se calhar o Pedro não canta assim tão bem, vamos tentar o Nelson!” 

Nelson intervém: Tu também não cantas nada bem, tens só pedais à tua volta (risos). 

Pedro: Mas já pensámos a certa altura de convidar pessoas para participarem, até termos uma voz feminina. São coisas que nos vão passando pela cabeça, mas para já ainda não aconteceu. 

Para terminar e voltando um bocadinho ao início, o que é que vocês perspectivam para o vosso futuro. A vossa visão mudou muito desde há um ano, com o lançamento do disco? Eu sei que cada um tem o seu trabalho. Nós estamos interessados em viver bem o presente e não tanto em pensar no futuro.

Samuel: Acho que posso dar a mesma resposta que o ano passado. Queremos continuar a fazer as coisas por prazer e deixar que o resto surja naturalmente.

Nelson: O que acontece é que neste momento nós estamos super satisfeitos com este disco e as coisas estão super coesas e claras na nossa cabeça. É isto que nós queremos agora, se calhar para o ano estamos a fazer coisas completamente diferentes. 

Pedro: Há também uma questão importante naquilo que o Samuel diz: as coisas são sempre feitas por prazer e é sempre um prazer enorme dar um desvio à nossa vida profissional como tu falavas, mas é também fazê-lo com muito compromisso. Há sempre muita gente envolvida, mesmo a Turbina e a colaboração com a FNAC, a ajuda imensa da VodafoneFM… É fazê-lo da forma mais profissional possível, mas nunca perder essa vertente de prazer que é o que nos move, que nos faz andar estes quilómetros todos por Portugal. E já que falas no futuro, claro, tocar lá fora. São sempre possibilidades a serem pensadas, mas não há projectos megalómanos para a banda. O que nós queremos é continuar com a mesma energia, o mesmo afinco e trabalho.

Nelson: O facto de nós dizermos que fazemos isto por prazer é também porque a música é para as pessoas e queremos que chegue ao máximo número de pessoas e que façam a festa connosco.



Facebook Holy Nothing: 

https://www.facebook.com/holynothingmusic

Mais sobre os Holy Nothing: 

http://www.branmorrighan.com/search/label/Holy%20Nothing

AGENDA:

21 Novembro | Café au lait, Porto | 23:30h, disco-bilhete, entrada limitada à lotação da sala

27 Novembro | Coimbra Discoteca Twiit

28 Novembro | Vodafone Mexefest, Cinema São Jorge | Sala Montepio

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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