Votação termina dia 9 de Novembro |
O Portugal Festival Awards vai para a sua terceira edição e é importante salientar que a sua existência tornou possível o conceito de carimbo de distinção para os festivais e artistas que ganham prémios. De alguma maneira, ter o selo de melhor festival, seja de que categoria for, ou de melhor artista, acaba por ser usado como um selo que é apresentado como distintivo quando cada entidade – festival ou artista – pretende reforçar a sua qualidade. Existe a votação do público, existe a votação do júri, mas independentemente de quem ganha e quem perde, o facto é que quando olhamos para os nomeados damos conta que existe muita coisa a ser feita em Portugal, algumas das quais nem sequer temos noção.
Não pretendo ser isenta no texto que se segue, fica desde já o aviso. Este até poderia ser um post apenas de reflexão, mas como as votações acabam amanhã acho importante relembrar alguns dos esforços feitos em prol do que é a música portuguesa. Apesar do esforço que faço por acompanhar o que se vai fazendo de norte a sul do país, é claro que muito me escapa, daí ser impossível falar com imparcialidade.
No que toca a festivais em Portugal, há pelo menos cinco de que todos têm sempre noção dado o seu mediatismo: NOS Primavera Sound, Vodafone Paredes de Coura, NOS Alive, Super Bock Super Rock e MEO Sudoeste. Claro que não é à toa que os prefixos são das maiores marcas de telecomunicações de Portugal e daí também serem dos maiores festivais no nosso país. Mas há muito mais a ser feito, com muito empenho e paixão. Dos cinco que mencionei até agora, há um que não falho há pelo menos cinco anos – Paredes de Coura. É um festival muito especial, quem lá passa não esquece e fica com saudades. Os cartazes nunca desiludem, acabo por conhecer sempre música nova e as bandas portuguesas presentes podem não ser mediáticas, mas são boas. Também o NOS Primavera Sound é um outro mundo, mas do qual só fiz parte um ano. Sem dúvida que quero voltar a repetir a experiência, torcendo para que mais bandas portuguesas possam integrar as fileiras dos palcos. Dos restantes festivais, o Sudoeste não me vê a sombra e o deslumbramento com o Alive e o SBSR tem-se perdido ao longo dos anos. Gabo o palco da Antena 3 no SBSR e o facto de ter levado boas jovens bandas portuguesas.
A questão agora é também esta, pelo menos na minha óptica. Eu sei que quem vai aos grandes festivais de música não vai pelas bandas portuguesas, mas pelos nomes internacionais que se calhar não veriam noutro contexto. Porém, verdade seja dita, muitas bandas começam a ganhar mais propostas ou mais notoriedade por terem conseguido marcar presença nesses festivais, mesmo que seja para tocarem meia hora a abrirem o palco secundário. Estiveram presentes, vai para o currículo, o interesse aumenta. Mais ou menos, mas acho que percebem a ideia.
O que eu não percebo muito bem é como é que desvalorizamos ou desprezamos festivais que se dedicam exclusivamente à música portuguesa, à cultura portuguesa e que lutam pelo talento dos nossos músicos tentando dar-lhes condições e experiências únicas. E aqui quero relembrar o Fusing que desapareceu por deixar de ser economicamente viável, mesmo quando oferecia experiências para além do cartaz de excelência, mas olhando para o presente e futuro possíveis quero dar três exemplos com que fui tomando contacto mais próximo – Festival Bons Sons, Um ao Molhe e Zigurfest.
Começando pelo Bons Sons, este foi o festival que mais me surpreendeu este ano. A dedicação das pessoas, a forma como os palcos foram planeados e as bandas distribuídas, o acolhimento caloroso, o envolvimento das pessoas da aldeia em algo que realmente se nota que tem muito daquele povo, marca quem por lá passa. Foi incrível a quantidade de bandas portuguesas que por lá passaram, os géneros distintos e para todos os gostos, das mais emergentes às mais antigas e já afirmadas. Na minha opinião acho que o Bons Sons acaba por ser uma escola de música portuguesa. Penso que mesmo para os artistas as experiências que vivem lá acabam por ser diferentes. Ou, pelo menos, tem sido esse o feedback que me tem chegado. E depois existe toda a questão da sustentabilidade, da preocupação com o ambiente, do merchandising personalizado e feito à mão pelas pessoas da aldeia, entre tantas outras coisas. E vai fazer 10 anos. Nas condições em que é feito todos os anos, penso que isso reflecte muita dedicação e paixão, porque não retribuir?
A uma escala mais pequena, temos o Um ao Molhe e o Zigurfest. O Um ao Molhe, para quem não conhece, é um festival itinerante de one-man/woman-bands. É fruto de muita dedicação e compromisso por quem acredita que os músicos também se devem unir e colaborar num caminho que costuma ser bastante solitário. O festival ainda só teve uma edição, mas a segunda já está a ser preparar e com uma lista ainda maior de artistas portugueses. É um projecto ao qual estou atenta, que quero apoiar como puder e que espero que vocês possam a vir acompanhar e até estarem presentes.
O Zigurfest é o meu calcanhar de aquiles pois ainda não consegui estar presente em nenhuma edição. A ZigurArtists, organizadora do festival, está recheada de pessoas valorosas e com as quais gosto de colaborar sempre que posso. O festival, em Lamego, tem proporcionado experiências únicas e exclusivas a quem lá passa (e que faz questão de me contar para eu me ficar a sentir ainda pior por ser apenas uma pessoa e não me conseguir multiplicar!). Quando conhecemos o trabalho, as condições, o empenho e as motivações de quem se dá ao trabalho de lutar pelos artistas portugueses, é impossível não querermos fazer parte da experiência.
Tendo um blogue que se dedica de alma e coração à divulgação de música portuguesa, achei que esta altura em que o Portugal Festival Awards vai ter mais uma edição tornava oportuno fazer uma reflexão da minha experiência com os festivais. É claro que existem dezenas de outros festivais, não os estou a desprezar ou a desvalorizar, mas só posso falar daquilo que sei e testemunho.
Em relação aos artistas portugueses nomeados, quero deixar um mega abraço de apoio aos Thunder & CO., projecto que tenho acompanhado desde que Nociceptor saiu e que espero que continue a singrar. Não que não goste dos outros nomeados, mas fazendo a reflexão de 2015 foram quem mais ouvi, com quem mais interagi e com quem senti mais afinidade.
Que a cerimónia seja muito bonita e que quem merece seja reconhecido!