Entrevista aos Country Playground, Banda Portuguesa

Esta semana voltamos às entrevistas com Country Playground, banda leiriense que lançou recentemente o seu primeiro disco. O duo de que é composto – Rodrigo Cavalheiro e Fernando Silva – certamente não passará despercebido a um público mais atento à cena musical pois ambos já estiverem em vários outros projectos musicais. Juntam-se agora numa cumplicidade rara em Country Playground e apresentam um primeiro trabalho já bastante sólido com o apoio da Preguiça Magazine – uma pequena homenagem a vários momentos e pessoas das suas vidas. Tive a oportunidade de falar um pouco com o Fernando sobre este percurso que já se iniciou há mais de um ano e eis que partilho agora o resultado convosco. 

Fotografia de Ricardo Graça

Como é que o vosso projecto começou?

O Rodrigo tinha um projecto dele, muito pessoal, a que ele chamava Rodrigo Cavalheiro e a Country Playground. Surgiu em 2008 ou coisa do género, e eram músicas que ele tinha escrito com a mulher dele e que ele apresentava com viola de caixa – a cantar com a viola de caixa. Entretanto, ele começou a atrofiar um bocadinho com esse formato quando começou a tocar ao vivo. Não sei se era por se sentir um bocado despido ou pouco à vontade – a guitarra não era o instrumento dele – mas também havia uma coisa que lhe era muito estranha: estar a tocar e estarem pessoas a falar, estás a ver? É ele estar a tocar guitarra de caixa e as pessoas estarem a falar e ele a ouvir a conversa… Aquilo não estava a ver bom e ele achou que ia parar. Até que no ano passado, em 2014, por volta de Maio, convidaram o Rodrigo para uma festa da Zebra Sessions, que é uma associação lá de Leiria muito ligada a vídeo – eles fazem produção de vídeo a preto e branco, há montes de vídeos no YouTube deles. Quando o convidaram para ir a essa festa, ele não queria ir sozinho e lembrou-se de mim. Nós já nos conhecemos há alguns anos e ele ligou-me, até porque na altura já estava sem banda, mas ele sabia que continuava sempre a tocar. Perguntou-me se eu queria experimentar, sem grande compromisso, tocar guitarra eléctrica. Dávamos uma roupagem mais eléctrica a músicas que ele já tinha e ele passava para o instrumento que ele se sente à vontade – que é a bateria. Mas uma cena assim muito sem compromisso. Isto foi para aí três semanas antes do concerto. Nós fomos ensaiar e logo no primeiro ensaio houve ali uma química muito grande entre nós. Nós trabalhámos logo três ou quatro temas e começámos logo a modificar, até radicalmente, algumas coisas que ele tinha. O concerto correu super bem e nos já estávamos, na altura, determinados – “não, isto é para continuar”. 

Como é que as coisas foram acontecendo daí para a frente? 

Passado pouco tempo começámos a compor coisas novas e começámos logo a falar em “vamos gravar um disco”. Assim que chegou Agosto, que foi na altura das minhas férias, fechámo-nos no quintal do Rodrigo, onde ele tem um anexo que nós chamamos carinhosamente de Topanga Studios, e gravámos lá o disco. O disco está pronto desde Agosto de 2014. Tínhamos o plano de lançar o disco digitalmente, estávamos a trabalhar nesse sentido, mas entretanto o Rodrigo teve de mudar de cidade, teve que ir trabalhar para Coimbra. Tivemos que entrar num período de hibernação. Felizmente, ele regressou a Leiria em Fevereiro ou Março e voltámos novamente à carga e a preparar as coisas. Estávamos decididos a lançar o álbum em formato digital porque já tínhamos falado com algumas editoras e por vários motivos – não era a altura certa ou por falta de disponibilidade – não era possível lançar por uma. Falámos com a Preguiça Magazine, que é um blogue de Leiria que tem muito seguimento e nós damo-nos super bem também com o pessoal da Preguiça, nomeadamente a Paula Lagoa que é uma pessoa cinco estrelas mesmo, e fizemos uma reunião com ela para nos ajudar no sentido da divulgação do disco – já que era em formato digital. A Paulo Lagoa surpreendeu-nos e fez-nos duas propostas. Nós na altura apresentámos-lhe a nossa ideia para a data do lançamento e ela contrapôs com “olhem, eu tenho aqui duas propostas para vocês, mas não sei se vocês aceitam. A primeira é: se nós chegarmos um bocadinho a data para a frente, o que vocês acham da Preguiça vos oferecer um video clip?. Claro que ficámos muito contentes porque não tínhamos orçamento para o fazer. A segunda surpresa foi ela perguntar-nos o que estava feito do disco, ao que respondemos que estava tudo, incluindo a capa, que só faltava prensar, e ela respondeu: “Então,  o que é que vocês achavam da Preguiça editar o disco?” Foi muito bom sentir aquela confiança toda, ficámos sem palavras… A Paula só nos tinha visto ao vivo e conhece-nos há muitos anos de todos os projectos que nós tivemos, mas ela nunca tinha ouvido o álbum e nem quis ouvir, ela quis editar. Foi muito fixe. A partir daí, as coisas começaram a acontecer. A Raquel Lains que é uma pessoa cinco estrelas da Let’s Start a Fire, também por intermédio de amigos, ela é de Leiria, acabou por ouvir e conhecer o projecto, também se interessou e as coisas começaram a acontecer e começámos a tocar mais e pronto.

Pegando no álbum do “Melro Preto”. Porquê esse símbolo? De onde é que surgiu esse conceito do vosso álbum?

O nosso universo move-se muito à volta do imaginário do Country Rock. Se calhar o ponto em comum que eu e o Rodrigo temos da influência central daquilo que nós fazemos e gostamos é o Neil Young. Tudo o que está ligado ao country, sei lá… Cavalos, natureza… Nós somos muito apaixonados por isso. Gostamos muito do melro preto e pensámos, ainda antes de começarmos a gravar o disco, que isso iria ser o seu nome de forma a que quando estivéssemos a gravar – eu sei que isto aprece tudo muita metafísico – pudéssemos unir todos aqueles temas num conceito mental à volta do melro. Como se tu estivesses a visualizar, percebes? Porque alguns temas podem ter alguma coisa a ver com outros, mas os restantes nem por isso. São canções, é um álbum de canções e o melro quase que serviu como aquele elo de ligação para nós visualizarmos e unirmos os temas, mas também é uma homenagem ao próprio bicho que é muito bonito e que nós gostamos mesmo muito. Pelo menos a nós remete-nos para este imaginário do Country, daquela parte antiga, até mesmo através da capa tentámos transmitir isso… Nós imaginamos aquele disco como se fosse um vinil. Então imaginámos uma capa como se fosse uma capa para um vinil e achámos que aquilo ia casar tudo muito bem. Pelo menos, foi essa a ideia que tivemos.

Vocês assumem as canções como sendo de dor, amor e lamento. De onde é que isso sai? Das vossas experiências pessoais?

O disco tem cinco temas cujas letras foram escritas ainda pelo Rodrigo e pela mulher dele, a Ana. Depois tem dois temas em que já eu e o Rodrigo escrevemos juntos. Se calhar é um álbum com letras de amor, porque, no fundo, realmente tem sofrimento, dor e redenção. Tem coisas pela quais o Rodrigo passou, tem coisas que nós dois depois passámos e tem também uma grande homenagem ao Neil Young, a música Song for Neil, que é uma canção que foi escrita pelos dois, inteiramente dedicada ao Neil Young pela influência que ele teve na nossa vida e pela importância que teve, para o Rodrigo principalmente. Houve um momento muito difícil na vida do Rodrigo em que ele quase que se redescobriu graças ao Neil. Eu adoro o Neil como compositor e acho que deve ser uma pessoa excelente, é alguém que me influencia de certa forma e as canções são mesmo disso. Temos canções que espelham a dor de sofrimento que o Rodrigo passou pela morte do avô, de amor pela mulher do Rodrigo – pela parte dele (risos) – de amor também ao Neil e de descoberta também, Down to Mexico é uma canção de descoberta daquilo que nos pode fazer bem, de uma sessão de liberdade. No fundo, é um álbum de amor. É uma cena muito esquisita porque as bandas em que eu estive foram sempre bandas ligadas ao rock muito pesado e algumas até de metal. Eu gosto muito também deste universo e isto são coisas que eu nunca explorava e mesmo agora quando pude escrever, pude ir um bocadinho mais para essa veia mais sentimental, sem grandes complexos. O Rodrigo também me permite isso. Ainda em termos de guitarra também, puxando um bocadinho a asa à minha sardinha, consegui explorar coisas que eu habitualmente não podia fazer, mas que eu gosto muito de tocar, que já gostava de tocar sozinho, tipo certos clichés do country que eu gosto de fazer e que ali encaixaram perfeitamente.

Passando ao single de apresentação… Porquê a Grandpa’s Grave como primeiro single?

Desde o primeiro momento achámos que essa música poderia ser single do álbum, mas, muito honestamente, nós tivemos muitas dúvidas. Depois de ouvirmos o álbum todo, parecia-nos que qualquer uma poderia ser um single. Acabou por ser a Grandpa’s Grave e porquê? Porque, basicamente, era aquilo que nos parecia certo. Essa música fala muito sobre a dor da perda… O avô do Rodrigo era extremamente apaixonado pela avó e morreu em sofrimento. A história é um bocado triste e o Rodrigo tenta descansá-lo com a letra porque. pode parecer um bocado chocante, se calhar a avó não gostava dele. É uma tentativa de parar um sofrimento que não valia a pena porque houve coisas más lá pelo meio que não valiam a pena esse sofrimento. É quase como um lamento ao pé da campa do avô – porque é que o avô se deixou depois se abater tanto por aquilo. Tem um tom forte e nós gostamos da música, é uma música que nos dá uma pica enorme tocar. Se fosse noutra altura, se calhar até tínhamos escolhido a Song for Neil, porque é uma música que nós adoramos. É uma música um bocadinho mais longa, mas talvez venha a ser o segundo.

Ao vivo, como é que tem sido a experiência?

Não nos custa nada, é uma cena impressionante. Juro-te, eu nunca estive numa banda assim. Mesmo o Rodrigo… Eu adoro Born a Lion e ele adora Born a Lion, mas connosco há uma coisa que eu não te sei explicar. Nós temos vindo a notar isto, nós ainda agora tocámos na Marinha Grande e há ali uma sintonia enorme. Se calhar é porque ainda não nos cansámos do que estamos a fazer. Há uma entrega muito grande e aquela cena sai-nos sem custo nenhum. Eu toco em bandas desde 93-94 e sempre adorei tudo o que fiz, nunca fiz nada em que eu não acreditasse. Foi sempre com entrega e coração, mas nunca passei por nada como estou a passar com o Rodrigo. Para já damo-nos bem, somos bons parceiros, depois partilhamos gostos comuns e estamos a fazer coisas que ambos adoramos. Nós já éramos um bocadinho enérgicos em todos os projectos que fazíamos, então neste que estamos os dois extremamente à vontade, tudo nos sai sem esforço nenhum. 

Quer dizer que toda a tristeza, toda a dor…

É espiada ali, é espiada ao vivo, nós espiamos essa dor.

E onde é que vocês querem levar este projecto?

Nós queremos levar este projecto até onde ele puder ir. Primeiro de tudo, nós temos andado a ver se nos habituamos a deixar de chamá-lo um projecto porque já não é um projecto, é uma banda. É algo que nós vamos manter. Pode ter períodos em que se pare, mas é algo que queremos manter, que já existe. Queremos sair de Leiria. Não que eu tenha alguma coisa contra Leiria, mas em Leiria o pessoal já nos conhece e queremos ir apresentar o nosso disco a outros lados. Sinceramente, queremos tentar com que o nosso trabalho chegue ao maior número de pessoas… Mas também temos noção da realidade, ou seja, nós já andamos aqui há tempo suficiente para perceber as dificuldades do meio e o sítio em que estamos, mas não fechamos portas a nada. Temos uma grande facilidade de mobilidade por sermos só dois e estamos muito focados e muito orientados. Isso permite-nos abdicar de certas coisas sem qualquer problema para fazer as coisas acontecerem… Isso talvez nos dê alguma facilidade de explorar alguns cenários, que à partida o pessoal já exclui, como tentar sair daqui, percebes? Mas com os pés assentes na terra. Isto parece arrogante, mas temos um bocadinho a vontade de ir mostrar a música por aí fora. Agora o objectivo é tocar o máximo porque também já temos as músicas para o segundo disco praticamente prontas. Entretanto já passou muito tempo desde que criámos estas. Quando acabámos o primeiro disco deixamos algumas músicas de parte já a pensar no próximo.

Então já andam a tocar músicas novas ao vivo?

Tocamos, estamos a tocar duas ou três, depende do espectáculo. Depois, tipicamente, costumamos fazer uma homenagem ao Dylan… Costumamos ter mais uma música ou outra, mas adaptações nossas mesmo. Coisas que nos influenciam e que nós gostamos.

E pronto! Estão apresentados os nossos Country Playground e sugiro que estejam atentos porque brevemente vão começar a invadir vários locais do nosso país sendo que estão duas datas em Lisboa prestes a serem anunciadas! Deixo-vos com o Facebook e o single de estreia!

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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