Conheci os Boogarins em 2014, numa noite Teach Me Tiger, no Musicbox. Foi impossível não ficar encantada com a energia deste quarteto brasileiro. Desde o seu primeiro trabalho que se destacam por terem conseguido construir uma personalidade e uma identidade muito própria. A caminho do quarto disco, lançam o single de antecipação “Sombra ou Dúvida”. Tem sido bonito ver a evolução dos Boogarins. E digo isto porque quem já ouviu este single irá certamente aperceber-se de uma certa distância dos primeiros tempos, mas sempre com o carimbo inegável da banda. Confesso que tive uma altura em que me cansei do psicadelismo. De repente eram bandas “psicadélicas” a brotarem por todo o lado, sendo poucas aquelas que me mantiveram como ouvinte. Assim que ouvi “Sombra ou Dúvida”, senti que mesmo havendo os traços comuns do psicadelismo, os Boogarins conseguiram enriquecê-lo com toda uma nova parafernália de sons que injectaram neste tema. Claro que ajuda terem uma capacidade lírica admirável, capaz de nos provocar e de nos levar aos recantos mais desassossegados. Venha daí o novo disco, estou muito curiosa!
Sombra ou Dúvida, o novo single dos Boogarins, já está disponível em todas as plataformas digitais. O tema antecipa o quarto disco de estúdio do quarteto brasileiro, Sombrou Dúvida, a ser lançado em Maio, via OAR. Construído entre a casa e estúdio, à margem das tours europeias e americanas, Sombrou Dúvida volta a ser uma viagem pela nostalgia psicadélica dos Boogarins. Começa assim no título, um jogo de palavras que nos atira para uma escolha entre a sombra da zona de conforto ou a incerteza que alimenta os instintos. Continua na música e na vontade de de registar, em disco, a energia que a banda constrói ao vivo. Resulta num disco que, a reboque das capacidades líricas e vocais de Dinho, tem vontade de explorar as potencialidades de um estúdio profissional (como já os vimos em Manual, álbum nomeado para os Grammys Latinos), sem que, com isso, se percam os elementos electrónicos de produção caseira, marca de honra de Lá Vem a Morte.
Isso é sede que não vem da água
Que me instiga da cabeça aos pés
É um tudo que chega do nada
Trem de doido só sabe quem sabe é
Desconfio dos hábitos
Eu boto fé no viver ávido
Existe um desgaste do novo,
Se repete e da nojo,
E isso você não quer ver
Existe um deslumbre dos bobos,
Fajuto e grandioso,
E isso já engole você.
Desconfio dos hábitos
Eu boto fé no viver ávido