Uma das maiores maravilhas da música é a sua capacidade de nos surpreender e de nos tocar em recantos que palavras e imagens muitas vezes não conseguem. Recentemente descobri Patient Hands, através do seu tema “I Shaved My Father’s Face”, o logo senti a necessidade de saber mais sobre este artista. A primeira vez que ouvi o tema senti uma espécie de peso no peito. Não um peso com conotação necessariamente má, mas intensa, intrigante e desconcertante. Mais tarde tudo fez sentido. A música pode vir de escombros interiores e ainda assim reflectir uma luz que nos deixa menos sozinhos.
O tema começa em crescendo com uma mistura de sons que pouco nos diz sobre o que está para vir e assim que a sua voz entra em campo é fácil interrogarmo-nos sobre as origens da canção. Se por um lado parece existir uma zona cinzenta muito forte e desconfortável, a entrada da guitarra acústica faz-nos ter esperança num caminho redentor. E quando chegamos por volta do minuto 2:20 já estamos numa viagem que urge consolo e redenção.
A música evoluiu para paisagens ecléticas e cada vez mais compostas. Reflectindo, os quase sete minutos que compõem o tema assemelha-se na verdade a uma viagem repleta de perguntas que procura respostas difíceis de encontrar. Depois de ler mais sobre o artista, todas estas associações fizeram sentido. Ele próprio o diz no prefácio do seu disco Stoic que saiu a 15 de Fevereiro:
Stoic begins in the dark.
I lost myself somewhere inside me. I was a foreigner; a refugee. But I had nowhere to run to, and nowhere to leave. I couldn’t find love for myself, or anyone else. I became physically ill for at least eleven months. I had a brush with cancer, and I was overcome by emptiness. I tried to get back to who I knew myself to be before the illness by walking the Camino de Santiago. I tried to force a change, but found that I couldn’t.
(…)
Stoic, then, is a document of those years of my life. It was a world I visited, and a private conversation I had with myself. The album walks a line between self-satire and sincerity perhaps best captured in “I Shaved My Father’s Face” and “The Poisoner”. It’s full of references and humour that only I am ‘in’ on. In a way, I don’t expect the record to make sense to anyone else. But maybe that’s okay. In the end, Stoic is a love record. It’s about enduring the dark night, and finding the courage to live with an open heart. I hope it speaks to you.
Bem, de certeza que falou comigo ou não estaria eu aqui a escrever sobre o mesmo. Os temas não são todos lineares nem confortáveis, mas desempenham perfeitamente o seu papel. E para além de todo este caminho de luz e escuridão que percorremos com o seu disco, é também de admirar todo o cuidado com a edição que tem disponível no bandcamp. Não sei o que o futuro traz ao Alex, mas é admirável a obra de arte que ele conseguiu construir através de todo o seu sofrimento. Do meu lado, só posso desejar que venha o que vier, que continue a fazer discos de amor, que prevaleça perante toda a escuridão que encontre e que tenha sempre coragem para enfrentar o que tiver de enfrentar.