Destemida
Lesley Livingston
Chancela: Saida de Emergência
Saga/Série: A Gladiadora Nº: 1
Sinopse: Fallon é a filha mais nova de um orgulhoso rei celta e sempre viveu na sombra da lendária reputação da guerreira de Sorcha, a sua irmã mais velha, que morreu em combate quando os exércitos de Júlio César invadiram a ilha da Bretanha. Na véspera do seu 17.º aniversário, Fallon está ansiosa por seguir os passos da irmã e conquistar o seu legítimo lugar entre os guerreiros reais. Mas ela nunca terá essa oportunidade, já que é capturada e vendida a uma escola de elite que treina mulheres gladiadoras — e cujo patrono é o próprio Júlio César. Numa cruel reviravolta do destino, o homem que destruiu a família da jovem poderá ser a sua única hipótese de sobrevivência. Agora, Fallon terá de ultrapassar rivalidades perversas e combates mortais — dentro e fora da arena. E talvez a maior ameaça de todas: os seus sentimentos proibidos, porém irresistíveis, por Cai, um jovem soldado romano.
OPINIÃO: A vantagem de quando se está a viajar e temos longas horas de espera e de vôos é que podemos usar esse tempo como desculpa para ler. Com o ritmo de vida a que tenho andado, ler um romance do principio ao fim tem sido impossível. Metem-se as leituras académicas, os manuais das disciplinas que tenho que leccionar, etc., e sempre que pego num romance fico com aquele sentimento de culpa de que provavelmente devia estar era a trabalhar… Estando entre vôos e dentro do avião, libertei-me desse sentimento de culpa e mergulhei em Destemida. Foi o único romance que levei comigo para a Polónia (fora o calhamaço Comportamento) e foi o melhor que podia ter levado.
Há muito tempo que estou fora dos romances históricos/fantásticos/místicos e Destemida foi muito mais do que esperava. Logo de início reacendeu uma chama inesperada de entusiasmo ao puxar-me para um imaginário celta em que, ainda para mais, a personagem principal tinha como sua deusa de eleição a Morrighan. Eu sei, no livro escrevem Morrigan, mas é-me difícil escrever sem ser com o h. Eheh. Parece que lhe falta ali qualquer coisa! Mas voltemos ao livro. A protagonista do livro chama-se Fallon, é filha de um rei celta e um dos seus objectivos de vida é ser uma guerreira. Aliás, conhecêmo-la precisamente enquanto ela pratica o “vôo de Morrighan”, uma manobra que muito poucos conseguem executar e que acarreta um elevado risco para o executor.
De um ambiente seguro, com Fallon a descobrir o seu primeiro amor e prestes a tornar-se numa das guerreiras do seu pai, passamos rapidamente para um ambiente de perigo e de imprevisibilidade. Lesley Livingston conseguiu de forma brilhante aquilo que queria – um mundo sem magia, mas absolutamente deslumbrante e com uma energia tão própria que quase parece impregnado dela. De foragida a gladiadora, o crescimento de Fallon enquanto personagem foi algo que me agradou. Teve de passar a criança a mulher, mas não foi daquelas transições repentinas. A autora sobe como explorar toda a estrutura de personagens secundárias para conduzir Fallon ao ritmo certo ao ponto necessário para ser a heroína que revela.
Mesmo que os leitores saibam muito pouco de história, em Destemida conseguem ter uma excelente noção do que foi a invasão da Britânia pelos romanos e ainda como todo o mecanismo político, muito baseado também em guerras de bastidores, funcionava. A violência enquanto entretenimento provem do aborrecimento de quando as guerras acalmam. É preciso reavivar as memórias, reconstruir glórias passadas… E assim surgem também as gladiadoras. Só uma mulher poderia escrever de forma tão apurada e aguçada sobre um grupo de mulheres e todas as suas dinâmicas de confiança e traição.
O ritmo da narrativa não nos dá hipótese. Não queremos largar, nem por um segundo, Fallon e as suas companheiras. Há demasiadas intrigas escondidas, demasiados passos em falso que podem ser dados! E, claro, aquela componente que não podia faltar e que fico grata que não tenha sido exagerada… o romance! Dou os parabéns a Lesley Livingston por ter construído personagens femininas tão fortes e tão capazes que, mesmo não abdicando do seu lado emocional, mantém-se firmes nas suas convicções. Claro que ajuda quando os personagens-chave masculinos são também eles estruturados refletindo interacções que podiam ter acontecido na realidade. Isto é, lemos o livro e não dizemos “só mesmo em livro é que isto podia acontecer!”. Se por um lado por vezes adoramos perdermo-nos em fantasias, este foi um romance inspirador em que agradeci ter pouco de fantasioso.