E nada melhor do que começar o ano com mais uma entrevista. Confesso que contactei o autor em 2010, logo após o lançamento do seu livro, mas não sei como perdi o mail da entrevista do autor na altura e agora que o autor está prestes a lançar um novo projecto, fica aqui uma entrevista um pouco mais completa. No fim da entrevista têm um link para a minha opinião sobre o seu livro. Conheçam então, João Morgado.
Fala-nos um pouco sobre ti:
É sempre difícil falar em causa própria. Gosto de dizer que sou um comunicador – embora algo reservado na minha vida pessoal. Trabalhei como jornalista, agora dou formação profissional e consultoria na área da comunicação empresaria e política, mas sobretudo comunicação interpessoal. Por isso a escrita é a minha matéria prima, pelo que a literatura, que era um sonho antigo, acabou por aparecer naturalmente…
Qual o teu estilo e ritmo de escrita:
Quando escrevi o romance «Diário dos Infiéis» (Oficina do Livro, 2010) o ritmo foi pausado, mais na base da inspiração que da transpiração. Este ano que passou tudo foi já diferente. Para escrever o segundo romance, que deverá sair este ano, já marquei horas de trabalho regulares, como se fosse uma profissão, e trabalhei nessa obra diariamente. Como dizia Picasso, se a inspiração vem e não nos apanha a trabalhar é um desperdício, por isso apostei no trabalho regular e a inspiração passou a contar comigo naquelas horas e a aparecer…
O meu estilo é muito pessoal. Por vezes tenho uma prosa poética, romântica, mas toco em temas muito difíceis e incómodos e por vezes abordo-os de uma forma dura e crua. Creio que o meu estilo é este misto entre o doce e o salgado, que gosta de surpreender quem lê. Depois tenho uma escrita muito intimista que vai procurar os sentimentos das pessoas, a sua parte escondida, com o que isso tem de bom e de mau, levando-me muitas a entrar pelo erotismo… onde os sentimentos estão mais à flor da pele. É esse o caminho do meu segundo romance que vai falar de uma viagem iniciática ao prazer, e da moral castradora da sociedade e da religião…
Quais as tuas influências:
Numa primeira fase fui muito marcado pelos clássicos. Comecei pelo romances da minha mãe, Camilo, Júlio Diniz… depois passei para o Eça, Aquilino, Torga… Essa influência está patente no meu livro de contos «Meio-Rico», recentemente editado, e que contém contos escritos nos anos 80. Depois senti uma bofetada quando li Lobo Antunes, Milan Kundera… marcaram um ponto de viragem. Por motivos profissionais a escrita foi sendo adiada, mas agora que retomei a criação, sinto que estes dois escritores me marcaram.
Em 2010 lançaste ‘O Diário dos Infiéis’. O que te levou a escrever sobre o relacionamento entre casais?
Hoje editam-se muitos romances (demasiados) e andam todos mais ou menos à volta dos mesmos temas – o amor, a paixão… Procurei algo diferente, ao tocar em temas tabu, como são as diferentes infidelidades (por acção e por omissão), a masturbação, a falta de desejo, a sexualidade na terceira idade, os medos, as frustrações… no fundo, coisas que fazem parte de todos nós, mas que queremos ver debaixo do tapete. Muitas pessoas sentiram um murro no estômago ao ler o livro…
Tens recebido feedback dos teus leitores?
Imenso. As pessoas contactam-me por e-mail, no Facebook, vão às sessões de apresentação do livro para me conhecerem pessoalmente. Tenho recebido relatos impressionantes de pessoas (maioritariamente mulheres) que vivem dramas pessoais tremendos. Sentiram-se representados em personagens ou passagens, por isso querem desabafar comigo coisas que não falam com os seus parceiros ou amigos, pois têm medos de ser julgadas… é um livro que obriga as pessoas a reflectir sobre as suas próprias vidas e, muitas vezes, leva-as a tomar decisões difíceis… Sinto que mudei a vida de alguns casais com este livro, e isso é o meu grande prémio e o meu grande incentivo! O livro está esgotadíssimo… espero ter uma segunda edição muito em breve!
Onde é que eles te podem encontrar? (Online)
Podem encontrar-me em www.joaomorgado.net. Lá encontrarão os meus contactos e os links para as páginas do Facebook. Estou sempre à disposição para falar com toda a gente e para participar em iniciativas literárias!
Projectos Futuros:
Para este ano espero publicar o meu segundo romance. Devo participar numa antologia de poesia e, se possível, ainda publicar um livro só meu de poesia. Entretanto, nos bastidores, estou a escrever o terceiro romance, que terá uma carácter mais histórico… vou afastar-me um pouco da minha temática e do meus estilo de escrita, mas é um exercício de criação que me está a dar muito prazer!!
Pergunta da praxe: o que achas do blog Morrighan?
Talvez esteja na hora de um refresh em termos gráficos, mas o mais importante é o conteúdo, e admiro a tenacidade com que a Sofia continua a ler e a promover literatura. O meu agradecimento e o meu aplauso!
A Sua Obra:
Diário dos Infiéis
João Morgado
Editora: Oficina do Livro
Nº de Páginas: 176
Sinopse: Quatro casais, oito personagens e a pergunta que nos assalta quando percebemos o fim: ainda me amas? Não sabem o que os faria felizes, nem se lembram do dia em que sentiram o peso da solidão, em que se amaram ou se desejaram. Hoje, não se reconhecem, não têm coragem para mudar de vida, para assumir o fim e procurar noutro amor o caminho de volta para o compromisso maior: ser feliz.
Num diário de emoções íntimas, falam na primeira pessoa do que sentem em relação a si e aos outros. Concluem que, cada um à sua maneira, todos foram infiéis: por pensamentos, actos ou omissões.
Com vidas entrelaçadas, cada um descreve no diário a sua viagem pelo mundo do sexo, do desejo, do pudor, do egoísmo, do amor-próprio, do envelhecimento, do sonho, da morte… Enfim, a matéria-prima da qual é feita a existência de gente vulgar. «Sobre nós minguem escreverá um romance», diz uma das personagens. Talvez desconhecendo que todos os dias a vida nos ensina o contrário.