Diário dos Infiéis
João Morgado
Editora: Oficina do Livro
Nº de Páginas: 176
Sinopse: Quatro casais, oito personagens e a pergunta que nos assalta quando percebemos o fim: ainda me amas? Não sabem o que os faria felizes, nem se lembram do dia em que sentiram o peso da solidão, em que se amaram ou se desejaram. Hoje, não se reconhecem, não têm coragem para mudar de vida, para assumir o fim e procurar noutro amor o caminho de volta para o compromisso maior: ser feliz.
Num diário de emoções íntimas, falam na primeira pessoa do que sentem em relação a si e aos outros. Concluem que, cada um à sua maneira, todos foram infiéis: por pensamentos, actos ou omissões.
Com vidas entrelaçadas, cada um descreve no diário a sua viagem pelo mundo do sexo, do desejo, do pudor, do egoísmo, do amor-próprio, do envelhecimento, do sonho, da morte… Enfim, a matéria-prima da qual é feita a existência de gente vulgar. «Sobre nós minguem escreverá um romance», diz uma das personagens. Talvez desconhecendo que todos os dias a vida nos ensina o contrário.
Opinião: Diário dos Infiéis é um livro que se lê de um trago só. Por várias razões: é pequeno, está bem escrito e acima de tudo cria um sentimento imenso, em nós, de realidade nua e crua. O livro é literalmente um diário das oito personagens. Através de cada entrada, vamos conhecendo os seus pensamentos e motivações para cada tomada de decisão.
A sinopse não poderia descrever melhor o conteúdo do livro: “Com vidas entrelaçadas, cada um descreve no diário a sua viagem pelo mundo do sexo, do desejo, do pudor, do egoísmo, do amor-próprio, do envelhecimento, do sonho, da morte… Enfim, a matéria-prima da qual é feita a existência de gente vulgar.” Temos personagens de quase todo o género e feitio. Personagens mais que pudicas, que nem da sua felicidade e prazer conseguem dar conta. Personagens sem pudor que pensam estar a aproveitar tudo o que a vida tem e que no final das contas não viram o que realmente havia para aproveitar e que estava mesmo à frente dos seus olhos. Personagens que não queriam trair o cônjugue para não ficarem mal vistos, mas que a cada pensamento e olhar transmitiam essa mensagem. Enfim, um leque vastíssimo de exemplos tão banais da existência humana. E a acompanhar tudo isto, a questão do envelhecimento e a forma como cada personagem o encara.
Gostei da forma como foi escrito. Está leve, real e tem o seu toque de humor que nos leva, tantas vezes, a achar aqueles cenários tão ridículos. Um livro que vale a pena ler nem que seja pelo tema que aborda e que ainda é tão tabu na nossa sociedade. E ao dizer isto, não posso deixar passar em branco o prefácio do livro. Acho que se há algum texto que transmita a essência do livro, é aquele prefácio. Por isso se se cruzarem com o livro e estiverem na dúvida se o devem comprar ou não, leiam-no. Acho que tirará quaisquer dúvidas.
Uma bela surpresa de um autor português.