BRIGHID CRISTÃ
A Nova Cristã e Antiga Pagã, Brighid, fundiram-se na figura de Santa Brígida no ano de 450. Mas, Ela converteu-se em Santa sem perder de todo a sua qualidade de Antiga Deusa. A sua transformação deu-se quase literalmente em Drumeague, Country Cavan, num lugar chamado “a montanha dos três deuses”. Ali uma cabeça de Brighid foi talhada em pedra como uma deidade tripla. Porém, com a chegada do cristianismo, foi escondida numa tumba neolítica. Depois foi recuperada e exposta numa igreja local, onde foi canonizada popularmente como “Santa Bride de Knockbridge.
Em algumas histórias ou lendas, dizem que foi o próprio São Patrício que a baptizou e ela foi elevada à condição da figura galesa de Maria, sendo muitas vezes considerada como a parteira de Maria ou até como a ama do Menino Jesus.
Aqui reconhecemos a Deusa como protectora do parto. E, Brighid como santa, possui até biografia, que é de autoria de Cogitosus. Segundo ele, ela teria nascido em 452, no vilarejo de Faughart (próximo a Dundalk, Co. Lough), ao romper da aurora, hora de máxima importância para a filosofia celta. Era filha do nobre Dubhtach, chefe da Província de Leinster, e Broicsech, uma escrava. Numa das versões da lenda, conta-se que, ao nascer, a casa em que estava ficou totalmente envolta num fogo mágico, que assustou todos os que presenciaram a cena. Entretanto, ninguém se queimou. Vários textos afirmam que tal fogo surgiu do centro da cabeça da criança, talvez para identificá-la como uma santa portadora de um poder criador.
Brigid foi educada por um druida e desde muito cedo manifestou o dom da profecia. Mas certo dia ela adoece gravemente e, o druida consegue salvá-la alimentando-a com o leite de uma vaca branca de orelhas vermelhas. Em muitas lendas aparecem animais com essas cores, que são animais mágicos pertencentes ao Outro Mundo.
Os cristãos, gerando uma estranha contradição, afirmam que apesar de muito bela, Brighid permanece virgem. Contam, que para não casar, ela retirou o seu próprio olho, tornando-se desinteressante para os seus pretendentes. E, apesar de ter sido criada e instruída por um druida, Brighid escolhe converter-se à nova religião. Nessa época era comum as mulheres serem ordenadas sacerdotisas, e até episcopisas. Esse, portanto, foi o caso de Brighid, que, de acordo com a lenda, foi ordenada pelo próprio São Patrício, o Padroeiro da Irlanda.
Cogitosus nos esclarece, que no ano de 490, ela funda um convento na localidade de Kildare, local de peregrinação dos seguidores da religião celta pré-cristã. O próprio nome Kildare, “Templo do Carvalho” (Cill Duir), já explica a sua origem pagã, pois essa árvore era associada ao druidas.
Neste convento havia uma chama sagrada que devia arder sempre. Dezenove sacerdotisas-freiras guardavam a sua pira sagrada, alimentando o fogo. Conta-se que, no vigésimo dia de cada mês, ela aparece e vigia o fogo pessoalmente. Aos homens não eram permitida a entrada.
Segundo as lendas, aqueles que tentassem se aproximar da fogueira eram acometidos de estranhos surtos de loucura e podiam até perder a vida. Uma oração era entoada pelas freiras, também conhecidas com as Guardiãs da Chama:
“Bride, Dama Superior,
Chama súbida;
Que o brilhante e luminoso sol,
Nos leve ao reino eterno.”
Os vínculos com a tradição pagã são reforçados pelo facto de que a madeira utilizada como lenha era o estrepeiro, uma árvore sagrada para os druidas. Ainda na obra de Cogitosus, “Vita Brigitae”, escrita no século VII, Santa Brigida é descrita como uma santa generosa, sempre disposta a conceder alimentos e hospitalidade aos necessitados. Devido a essas virtudes é a santa mais relacionada com a produção de alimentos e protecção da vida campestre. O dia da sua celebração está conectado com os trabalhos agrícolas da sementeira na primavera, quando começam a diminuir os rigores do inverno e os dias se tornam mais claros e longos.
Em algumas regiões da Irlanda, como nos condados Munster, de Connaught e algumas localidades fronteiriças de Ulter, uma das principais tradições que se efetuavam no dia de Santa Brigida consistia em ir de casa em casa disfarçados com vestes grotescas e transportando uma rústica representação da Santa, que podia ser uma boneca adornada com palhas entrelaçadas e com cintas coloridas. Em muitas localidades do Sul do país, os homens vestiam-se do mesmo modo esfarrapado com roupas de mulher, e ocultavam os rostos com máscaras de facções horríveis.
Quando se aproximava o dia da Santa Brigida, os camponeses irlandeses saíam para dar uma volta qualquer nos seus campos de lavoura. Com essa acção consideravam que era favorecida a chegada do bom tempo, que necessitavam para efetuar os trabalhos agrícolas da temporada. Os pescadores irlandeses também esperavam uma melhoria no tempo quando se aproximava a festa de Santa Brigida. Nesse dia era quando reiniciavam a temporada da pesca e os habitantes dos povoados costeiros recolhiam algas para adubar os campos. Em Galway, acreditava-se que a pesca seria abundante se no dia dessa Santa se colocasse um caracol (molusco marinho) nos quatro cantos da casa. (Danaher, 1972: 14)
Os irlandeses acreditavam que a Santa Brigida visitava as suas casas na noite do dia da sua festa para benzer o gado e os seus donos. Como oferenda à santa, os mais devotos deixavam na janela um pedaço de pão, um pouquinho de manteiga ou alguns biscoitos, inclusivé alguns deixavam um feixe de trigo para servir de comida à vaca branca que sempre acompanhava a Santa. Outros deixavam uma faixa, um pedaço de tecido ou qualquer outra prenda, para que fosse tocado quando a Santa passasse. Esses objetos eram guardados depois cuidadosamente, pois tinham a virtude de proteger em qualquer situação de perigo à quem os transportasse.
Brighid era tão poderosa que São Patrício, arcebispo de toda a Irlanda, concede a Kildare autonomia total. O fogo sagrado de Kildare foi mantido aceso até 1220, quando o arcebispo Henry de Dublin ordena, para desespero da população, que fosse extinto. Posteriormente a chama sagrada volta a arder, até que Henrique VIII e a Reforma Protestante mandaram eliminar o Kildare.
A “Vita Brigitae” afirma que a Santa Brigida morreu em 1 de fevereiro de 525, dia de celebração da Deusa Brighid. Durante a Idade Média o culto a Santa Brigida estendeu-se por todas as Ilhas Britânicas e grande parte da Europa. Inclusivé em Espanha a veneravam em pequenas capelas em Navarra e em Andalucia (Breeze, 1988).
Texto Pesquisado e Desenvolvido por Rosane Volpatto e adaptado por mim.
Morrighan