Opinião: “Goor – As Crónicas de Feaglar I & II” de Pedro Ventura

Goor – As Crónicas de Feaglar I & II

Pedro Ventura

Editora: Papiro (Pelo menos, supostamente)

Nº de Páginas: –/–

Opinião: Antes de mais, alguns esclarecimentos. A versão que li, foi uma versão “de autor”, não revista, impressa num formato A4 com os dois livros seguidos. É suposto estas duas magníficas obras serem vendidas pela Papiro Editora, mas ao que parece isso não acontece e, a única solução que eu e o autor arranjámos para ter o prazer de as ler, foi ele enviar-mas em formato “manuscrito”.

Sei que devem estar a pensar “Uhh, que horror, os manuscritos normalmente têm muitos erros e gralhas e não sei que mais..”, pois bem, desenganem-se. A única contrapartida de ler neste formato, foi o tamanho e peso do manuscrito e por isso (para os leitores mais atentos do blog) demorei mais tempo que o normal a conseguir lê-lo. Não obstante, valeu mais que a pena ler neste formato. E a primeira coisa a apontar é que Pedro Ventura tem uma escrita de fazer inveja. A linguagem utilizada é bastante adequada à estória, directa e que nos puxa para dentro dela fazendo com que nos sintamos parte daquele universo.

Goor – As Crónicas de Feaglar I & II são obras inigualáveis. A primeira coisa em que pensei quando terminei de os ler foi “Uau, nunca pensei que houvesse uma obra destas, muito menos escrita por um autor português”. Isto porque, quando lemos algum livro, normalmente tendemos a comparar com esta ou aquela obra que já lemos anteriormente. Com os Goor, isto não acontece.

Desde cedo entramos num mundo completamente novo. E, apesar de estas duas obras serem classificadas no género Fantástico, desenganem-se se pensam que vão encontrar os seus elementos típicos como fadas, gnomos, elfos, anjos ou vampiros ou o que quer que vos possa passar pela cabeça. Aqui, temos a humanidade dura e crua, onde cada pensamento e acção têm uma intensidade nunca antes expressas desta forma.

O território nestas obras, é constítuido por sete reinos, cada um com os seus reis, rainhas e exércitos e, à medida que a narrativa vai avançando vamos conhecendo cada vez mais personagens. Um grande ponto a favor do autor é que, apesar de serem imensas e serem tantos reinos, ele consegue a narrativa organizadíssima e coerente, não havendo confusão de quem é quem ou o que era o quê. E quanto às suas características, temos de tudo um pouco. Personagens de personalidade forte, sombrias, alegres, extrovertidas, soturnas e mesmo quando pensamos que odiamos certa personagem, muitas das vezes o autor surpreende-nos com reviravoltas estonteantes.

E é muito à base dos sentimentos que a narrativa nos provoca, que tornam estes livros tão bons. Pedro Ventura consegue transmitir uma data de valores e de ideais tão fundamentais à nossa sociedade de uma forma, por vezes, romântica, intensa e que nos faz por vezes rir, outras vezes chorar (sim, chorei e depois?), mas acima de tudo provoca-nos um deslumbramento que muito poucos autores têm a arte de o fazer.

Ele consegue mostrar que o bem e o mal não são lineares. Que muitas vezes pode ser tudo bastante relativo e por vezes abala-nos em certos momentos da estória com claras demonstrações disso.

As demandas, as batalhas, as paixões, os ódios, a amizade, a camaradagem, o sofrimento, a alegria, a capacidade de amar para além de qualquer compreensão, são apenas alguns tópicos tão bem desenvolvidos e descritos. O autor não perde tempo com longas descrições de batalhas épicas ou cenas de amor explícitas só para prender o leitor. Não, ele é sublime, mas certeiro nelas e vai sendo impossível para nós largarmos a leitura.

Dois livros inesquecíveis, que tenho pena de terem sido editados por uma editora que não soube dar o devido valor e por ver desperdiçado um talento que nem no estrangeiro abunda. Sim, Pedro Ventura é um autor capaz de fazer frente e vencer, em termos de qualidade, grandes nomes de literatura estrangeira, já para não falar da portuguesa.

Deixo aqui expresso o meu desagrado e gostava mesmo que estes dois livros tivessem uma edição decente e que ocupassem o lugar que merecem – os tops das livrarias e distribuidoras nacionais.

Até lá fora, de Portugal, parecem dar mais valor a estes dois livros do que nós, portugueses.

Sem dúvida que adorei.

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2 Comentários
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BukNet - Loja On-line
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13 anos atrás

Bom dia,

Concordamos com a opinião que tem sobre os livros "Goor – As crónicas de Feaglar I & II" e é com muito orgulho que os temos no catálogo da Papiro Editora.
Relembramos-lhe, no entanto, que os livros datam de 2006 e 2007 (primeiro e segundo volume, respectivamente), pelo que não será fácil encontrá-los nas livrarias, muito menos em destaque. O mercado livreiro, como decerto saberá, é sedento de novidades.
Para sua informação, esclarecemos que os livros estiveram colocados em todas as livrarias Bertrand e Fnac do país, e estiveram em destaque nas livrarias do El Corte Inglês, na Bulhosa Livreiros, na Livraria Latina, na Livraria Barata, e na Livraria Portugal. Estiveram ainda colocados em cerca de 50 livrarias com quem a Buk Distribuição, a nossa distribuidora, tinha parceria cultural na altura, para além de terem estado expostos em diversas Feiras do Livro.
Espanta-nos contudo que, ao procurar estes títulos, não tivesse entrado em contacto com a Papiro Editora ou procurado os livros na BukNet (www.buknet.pt), a nossa livraria online.
Aliás, se tiver a bondade de nos facultar uma morada, teremos todo o prazer em enviar-lhe um exemplar de cada um dos livros. Assim, poderá constatar que eles tiveram “uma edição decente” e foram condignamente valorizados na Papiro Editora.
Quanto a “ocuparem o lugar que merecem nos tops das livrarias e distribuidoras nacionais”, esse seria também o nosso desejo e resta-nos a esperança de saber que há leitores, como a Sofia, que não desperdiçam “um talento que nem no estrangeiro abunda”.
A Papiro Editora continuará a valorizar e a divulgar obras de novos autores e é graças ao nosso trabalho editorial que leitores não preconceituosos, como a Sofia, poderão conhecer obras que, de outra forma, permaneceriam na gaveta do anonimato.

Bruno Mourato
Director Geral
Papiro Editora

Pedro Ventura
Pedro Ventura
13 anos atrás

Como autor das obras em questão, cabe-me esclarecer os seguintes pontos:

1- Em primeiro lugar, que fiquem bem claro que rescindi o meu contrato com a Papiro Editora. Essa decisão foi tornada pública e antecipadamente analisada pela SPA.
2- Quanto ao que é explanado em relação à colocação dos livros em questão, a veracidade de tais afirmações é questionada, não por mim, mas por dezenas de pessoas que me informaram do contrário – a extrema dificuldade em encontrar os livros. Julgo não ser desejo da Papiro Editora contestar essa informação, sob pena de estar a fazer essas pessoas passarem por mentirosas, inábeis ou mal-intencionadas. Mas se for necessário (espero que não), poderei convocá-las a esta discussão.
3- No caso particular dos meus livros, torna-se errónea a generalização de que estes teriam ficado “na gaveta do anonimato”, caso não tivessem sido publicados pela Papiro. Tive outras opções. Aliás, se formos falar de “tirar do anonimato”, recordo que foi devido a Goor que, pela primeira vez, a Papiro Editora teve exposição televisiva.

Na melhor das hipóteses, a Papiro Editora limita-se a vender exemplares remanescentes, não havendo mais nenhum assunto a desenvolver ou sobre o qual opinar. De futuro, agradecia que este tipo de associação (basicamente publicitária e incidindo sobre a as virtudes da editora) às minhas obras fosse refreado, do mesmo modo que me tenho escusado a comentar as razões que me levaram a rescindir com a referida editora.

Com os melhores cumprimentos,

Pedro Ventura

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

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