Alma Rebelde
Carla M. Soares
Editora: Porto Editora
Sinopse: No calor das febres que incendeiam a Lisboa do século XIX, Joana, uma burguesa jovem e demasiado inteligente para o seu próprio bem, vê o destino traçado num trato comercial entre o pai e o patriarca de uma família nobre e sem meios.
Contrariada, Joana percorre os quilómetros até à nova casa, preparando-se para um futuro de obediências e nenhuma esperança.
Mas Santiago, o noivo, é em tudo diferente do que esperava. Pouco convencional, vivido e, acima de tudo, livre, depressa desarma Joana, com promessas de igualdade, respeito e até amor.
Numa atmosfera de sedução incontida e de aventuras quase fatais, desenham-se os alicerces de um amor imprevisto… Mas será Joana capaz de confiar neste companheiro inesperado e entregar-se à liberdade com que sempre sonhou? Ou esconderá o encanto de Santiago um perigo ainda maior?
Opinião: Alma Rebelde é a obra de estreia de Carla M. Soares no mundo literário português. O romance começa de forma muito simples, um pouco lenta até, mas rapidamente e de forma subtil, a escrita da autora prende o leitor e quando damos conta já consumimos boa parte da história.
Joana é uma rapariga como tantas outras, prometida em casamento a um dos d’Oriaga em jeito de negócio. Os d’Oriaga estão na penúria e o dote de Joana é a garantia de que estes voltam a obter o estatuto de riqueza que sempre tiveram no meio. A nossa protagonista, apesar de conformada, depressa entra numa espiral depressiva. Não quer sequer saber a aparência do noivo antes de o conhecer pessoalmente, mentalizando-se apenas que foi criada para ser subserviente e submissa, preparando na sua mente os piores cenários possíveis.
Santiago, herdeiro dos d’Oriaga, é amigo próximo do rei e é tudo menos aquilo que podiam esperar dele. Não liga a regras de etiqueta, é completamente informal com as pessoas que lhe são próximas e é um homem cheio de vida e aventureiro. Mal o pai lhe comunica que terá que se casar com Joana com o propósito de obterem parte da sua fortuna de volta, Santiago revolta-se e pensa seriamente em fugir, não aceitando que a sua vida seja penhorada por culpa do insucesso dos negócios do pai.
Ambos não sabiam o que lhes esperava… Bastou cruzarem-se para terem a certeza que as coisas nunca irião ser como ambos tinham imaginado. Santiago fica desde logo completamente deslumbrado com a beleza de Joana e com o fogo que o seu olhar esconde. Joana fica incrédula com a forma informal como Santiago a trata e com as prematuras promessas de que haverá sempre sinceridade entre eles e não será apenas um casamento de conveniência como tantos outros. Conseguirão os dois a felicidade que tanto desejam, mas em que nenhum deles acredita de forma verdadeira? Sem dúvida que a parte em que ambos se começam a descobrir um ao outro é das melhores. O jogo em que ambos parecem alinhar depressa os surpreende e leva-os por caminhos perigosos e incontornáveis.
A escrita de Carla M. Soares é leve e fluída. A obra está bastante bem organizada e com personagens muito engraçadas como é o caso de Ester, amiga de Joana com quem troca correspondência, e de Santiago. Penso que o aspecto menos positivo desta obra é a intensidade depressiva em que Joana cai tão facilmente. Por vezes ela torna-se tão negativa e pessimista que parece que quase transmite esse sofrimento atroz ao leitor. No entanto, está sem dúvida uma obra engraçada e penso que é uma boa estreia da autora na nossa literatura. Gostei.