Do autor de O Livro das Coisas Perdidas abrem-se para nós agora Os Portões “do Inferno”…
O jovem Samuel Johnson e o seu cão, Boswell, estão a tentar mostrar iniciativa quando começam a pedir «doçura ou travessura» três dias antes do Halloween, e é assim que são testemunhas de coisas esquisitas que acontecem no n.º 666 da Crowley Avenue. Os Abernathys andam a fazer olhinhos ao submundo, tudo sem más intenções, mas, quando sem querer evocam o próprio Satanás, criam um abismo no Universo através do qual se conseguem ver dois enormes portões. São os portões do Inferno. E há umas criaturas bastante medonhas que estão mortinhas por sair…
Agora, o destino da humanidade está nas mãos de um miúdo pequeno, um cão mais pequeno ainda e um demónio muito azarado chamado Nurd…
John Connolly, best-seller do New York Times, escreveu um romance «completamente original» (People) e «refrescante» (San Francisco Chronicle) acerca da tensão entre o bem e o mal, a física e a fantasia. É impossível não amar este excêntrico rapaz e as personagens que lhe dão força para fazer frente a um poder demoníaco.
(excerto)
II
No Qual Encontramos Um Rapazinho, o Seu Cão e Algumas Pessoas que Andam a Tramar Algo
Na noite em questão, o senhor Abernathy abriu a porta e viu uma pequena figura vestida com um lençol branco no seu alpendre. O lençol tinha dois buracos recortados ao nível dos olhos para que a pequena figura conseguisse andar sem chocar com nada, uma precaução bastante sensata dado que a pequena figura também usava um par de óculos bastante grossos. (…)
– Doçura ou travessura – disse por fim a pequena figura por debaixo do lençol.
O rosto do senhor Abernathy denunciou uma confusão extrema.
– O quê? – perguntou o senhor Abernathy.
– Doçura ou travessura – repetiu a pequena figura.
A boca do senhor Abernathy abriu-se e fechou-se de novo. (…) Olhou de relance para o relógio e verificou a data, pensando se de alguma maneira teria perdido alguns dias desde o momento em que a campainha da porta tocara até a abrir.
– Ainda estamos a vinte e oito de outubro – informou o senhor Abernathy.
– Eu sei – disse a pequena figura. – Pensei em adiantar-me a toda a gente.
– O quê? – perguntou o senhor Abernathy.
– O quê? – repetiu a pequena figura.
– Porque é que estás a dizer «o quê»? – disse o senhor Abernathy. – Eu acabei de perguntar «o quê»?
– Eu sei. Porquê?
– Porquê o quê?
– Essa é precisamente a minha pergunta – retorquiu a pequena figura.
– Quem és tu? – perguntou o senhor Abernathy. A sua cabeça começou a doer.
– Eu sou um fantasma – respondeu a pequena figura, e depois acrescentou, um pouco insegura: – Buu?