O Deus Nobre
A lápide que contém a inscrição dedicada a Turiacus encontra-se numa das paredes do claustro do Mosteiro de Santo Tirso. Segundo Leire de Vasconcelos, o nome da divindade teria a raiz tor, que em irlandês significa “senhor”, “rei” e “nobre”.
Existirá, provavelmente, uma ligação entre as divindades lusitanas Banda Velugus Toiraecus e Tueraeus.
Poderá também, hipoteticamente, existir uma ligação entre o nome da divindade e “Tirso”. Sendo que a ara se encontra numa das paredes do Mosteiro, cuja formação remonta ao séc. X, o seu lugar de origem não deveria ser muito longe do mesmo. O próprio Mosteiro ou a localidade poderão bem encontrar a raiz do seu nome no desta divindade, que persitiria teimosamente nos séculos vindoros sob o nome de um santo cristão – processo que aconteceu, aliás, com várias divindades pré-cristãs.
O Deus Javali/Guerreiro
Para além da leitura atrás referida (que nada de concreto nos diz), muito pouco se sabe sobre o significado desta divindade. Lancemos, assim, uma hipótese: torc significa, tanto em irlandês como em gaélico escocês, “javali”. Pelo seu carácter selvagem e destemido, eram reconhecidas qualidades guerreiras neste animal pelos povos antigos.
Não será, então, de estranhar, que o dedicante, Lúcio Valério Silvano, fosse um soldado que, para além disso, fez parte da VI Legião, que esteve na Hispânia Terraconense e recebeu o epíteto de Victrix (“Vencedora”) após ter vencido os Cantabros! Turiacus poderia assim significar “o deus javali” ou “o deus forte como um javali”, que teria escutado o pedido do dedicante para ter coragem, ser vitorioso ou, simplesmente, sobreviver em batalha. Este terá cumprido “de boa mente” o seu voto, consagrando-lhe uma ara.
É igualmente interessante reparar na semelhança fonética do termo torque, que se refere a uma espécie de colar empregue pelos guerreiros lusitanos, como é visível em vários monólitos esculpidos encontrados em territórios português. A natureza guerreira desta palavra é, assim, uma vez mais atestada.
Publicado por Alexandre Gabriel
Mandrágora – O Almanaque Pagão 2009 – Usos e Costumes Mágicos da Lusitânia