Entrevista a Joel G. Gomes, Escritor Português

Viva!

Cá estamos nós para mais uma entrevista, desta vez com o autor da obra ‘Um Cappuccino Vermelho‘, Joel G. Gomes! Cheio de boa disposição e simpatia, o Joel aceitou ser entrevistado para o blog Morrighan (mesmo não sendo presencialmente – vocês já vão perceber porquê!) e vai-nos dar a conhecer um pouco sobre si a sobre a sua actividade literária. Desde já, deixo aqui votos de boa sorte e de bom trabalho para o futuro. (Joel, acho que até me saí bem! Eheheh).

Fiquem então com Joel G. Gomes:

– Fala-nos sobre ti:

Com certeza. O que desejas saber?

Sofia? Estás aí? Ah! Bolas… Esqueci-me que esta não é uma entrevista presencial.

O que quer dizer que posso escrever o que quiser, certo? (Bom, quem cala consente.)

O meu nome é Joel G. Gomes, como podem ler no título e na introdução toda catita que a Sofia escreveu (notem que estou a adjectivar a priori, o que coloca alguma pressão nos ombros da proprietária deste blog; nada que ela não aguente), mas esteve mesmo por um triz para ser Asdrúbal. É uma história gira, embora um tanto ou quanto longa. Resume-se a isto: mãe grávida de mim, tios, primos e toda a gente e mais alguma a propôr nomes, pai danado insurge-se e declara: “Vai chamar-se Asdrúbal e prontos!” A parte do “prontos” foi só para dar efeito, o meu pai não recorre a esses termos. Safei-me do Asdrúbal e fiquei a ser Joel, o profeta do avivamento.

Coisas menos interessantes que posso dizer da minha pessoa. Trabalho numa faculdade, colaboro com crónicas de arvoredo (a grande maioria, mas não exclusivamente) para alguns jornais, mantenho o blog ângulo obtuso, papo temporadas de séries umas atrás das outras, leio bastante e tento escrever um pouco mais.

Já chega de mim? Também acho que sim.

– Qual o teu estilo e ritmo de escrita?

Começo pelo ritmo, só para trocar a ordem. O meu ritmo é quando posso. Se tiver tempo e oportunidade aproveito para escrever. É claro que não escrevo sempre que tenho tempo e oportunidade, há alturas em que a preguiça impera. Uma vez numa outra entrevista (Desculpa, Sofia. Não era suposto saberes desta maneira, mas não és a primeira pessoa que me entrevista.) perguntaram-me se me apetecia sempre escrever, ao que eu respondi “Apetecer, apetece sempre. Às vezes falta é a vontade.” No fundo é isto, quando estou entusiasmado com um projecto, o meu ritmo é intenso. Escrevo em casa, no barco, no autocarro, no trabalho, qualquer sítio. Quase qualquer sítio, não é bem… Há sítios que— Continuemos.

Não tenho por hábito trabalhar por mínimos diários de palavras – prefiro pensar em número de horas ou em cenas. Durante este mês, por acaso, estou em contradição comigo mesmo porque resolvi participar no Nanowrimo pela primeira vez. Comecei muito bem e ia todo lançado, só que tive de parar um pouco. Não por falta de ideias ou por não saber o que quero fazer da história – felizmente -, mas porque fui convidado para escrever o episódio piloto para uma série de televisão. Estou neste momento a trabalhar na criação dos personagens, na estrutura, história principal, histórias secundárias, possíveis futuros, etc. Como há dinheiro envolvido, decidi dar prioridade a isto, até porque o dinheiro dá jeito. (Sim, sou um vendido.)

Em relação ao estilo, se me posso auto-avaliar de forma objectiva, identifico duas grandes influências. Uma é o arvoredo (ou como alguns dizem: “Deves ter a mania que és engraçadinho.”), a outra é a influência jornalística. A parte do arvoredo existe porque sou por natureza uma pessoa bem disposta e é uma óptima ferramenta desde que se saiba usá-la. Há alturas em que, mesmo numa história cómica, usar o arvoredo não é a melhor opção. É preciso saber contrabalançar as coisas.

Quanto à influência jornalística, convém primeiro dizer que não sou jornalista. Toda a “experiência” que possuo nessa área vem dos tempos do Secundário, onde frequentei o curso de Comunicação e Difusão. Tive professores que eram jornalistas e aprendi com eles a simplificar sempre a informação. (Nota: eu sei que às vezes engonho um bocado; essa é uma característica minha – a vontade de irritar as pessoas – que eu finjo que não existe.) Mais tarde, quando frequentei o curso de guionismo na ETIC, tornei a aprender essa regra e tento mantê-la.

Ter uma escrita simples não invalida o uso de palavras “caras”, nem pressupõe enredos pouco imaginativos. Acho até que é ao contrário. Quanto mais simples for a minha maneira de escrever, quanto mais compreensível for a informação no específico, mais compreensível ela se torna no geral. O importante é saber-se o que se está a fazer em determinado momento e de que modo isso influencia o resto da história.

– Quais as tuas maiores influências?

De momento estou a ler “O Paradigma Perdido” do Edgar Morin, “Brasil” do Ian McDonald, “Dialogue” do Lewis Turco, “O Caçador de Brinquedos e Outras Histórias” do João Barreiros e “Cordeiro: O Evangelho Segundo Biff, o amigo de infância de Jesus Cristo” do Christopher Moore. (Repararam que eu usei “do” em vez de “de” quando referi o o autor? Quase que dá a ideia de que os conheço a todos pessalmente.) A razão pela qual enumerei tudo o que estou a ler (esqueci-me de incluir o guião do episódio piloto da série Revolution) tem a ver com o seguinte: tudo aquilo que leio, de uma forma (já me ia esquecendo desta: National Geographic, edição de Dezembro de 2004) ou doutra, exerce sempre influência (faltava esta: Anuário do Inimigo Público Vol. II) no projecto em que esteja a trabalhar nesse momento.

Não gosto de enumerar autores, até porque já vou conhecendo um ou outro pessoalmente e tenho receio de me esquecer de mencioná-los todos. Tento ser o mais avariado, perdão, variado, possível. Tenho autores constantes, outros que leio sempre que publicam e aqueles que vou descobrindo por recomendação ou por curiosidade.

É muito importante para quem escreve – no meu caso, não só em prosa, mas também para cinema e televisão – ler e ver de tudo, não só aquilo de que se gosta, aquilo que funciona bem e é bem feito, como também aquilo de que não se gosta e aquilo que é mal feito. Aprende-se muito com os erros dos outros. É preciso é saber parar, senão corre-se o risco de se ser mal influenciado.

– O que nos podes contar sobre a tua obra ‘Um Cappucino Vermelho‘?

Um Cappuccino Vermelho’ é o meu primeiro romance publicado. Venceu vários prémios – “Prémio Edição de Autor Com a Mania que Sabe” de Agra de Bouças, “Prémio Obra Literária com Bebida À Base de Café no Título” de Casais do Além (um abraço para o Celestino, autor do livro “A velha que pediu um garoto com adoçante”, que mereceu uma menção honrosa) “Prémio Literário ‘Ca granda livro” de Paradela, “Prémio Calço para Mesa Bamba” de Bertioga, em São Paulo, e “Prémio Agora qualquer caramelo publica” de Cutéres – e já me levou a sítios tão longínquos como a Tapada das Mercês e Odivelas. (Em 2013, se a intenção se mantiver, é possível que vá até Monção, Albufeira, Viseu, Ferreira do Alentejo e outras terras.)

Se alguém ficou com vontade de ganhar um prémio destes, calma. Eles não existem. As terras sim, os prémios não. Certo?

Um pouco mais sério agora, se me permitem. ‘Um Cappuccino Vermelho’ é composto por duas histórias distintas que se vão convergindo. Ambos os protagonistas são escritores com prazos a cumprir e poucas ideias ou nenhumas para escrever, mas não é só isso que eles são. Ricardo Neves, além de escritor é também um assassino profissional que tem uma lista de cinco pessoas para matar; enquanto que João Dias Martins descobre que possui o poder de tornar real aquilo que escreve. A relação entre os dois personagens surge da história em que cada um está a trabalhar – o Ricardo é uma criação do João, assim como o João é uma criação do Ricardo. É uma história que começa simples e que se vai complexificando até ao ponto em que até mim se torna difícil dizer qual dos dois é real, qual dos dois é fictício, se ambos, se nenhum… Cada pessoa tem a sua interpretação – já ouvi de tudo um pouco -, mas a verdadeira explicação (a minha explicação) será dada no segundo livro, ‘A Imagem’, a publicar em 2013.

– Para que público está direccionado?

Como tem mortes e sangue, eu aponto para o público dos 16+, só que esta classificação é um bocado falaciosa. (Eu acho uma aberração os intervalos na tabela de classificação etária. Dos 6 para os 12, para os 16, é uma estupidez.) Há semanas fui fazer uma apresentação numa escola em Carnaxide para uma turma do 9º ano e muitos deles ficaram interessados; já recebi opiniões de crianças de 12/13 anos (mais novos, até!) cujos pais compraram o livro para eles e o sacana do gaiato agarrou-o primeiro. É uma história que pode ser lida por seres mais novos desde esses seres tenham hábitos de leitura superiores aos seus pares. Não é uma história que meta medo, embora uma amiga minha tenha tido pesadelos por causa das primeiras páginas que escrevi d’ ‘A Imagem’.

– Tens tido feedback dos teus leitores?

Sim. De um modo geral, tem sido positivo e objectivo. Estou contente pelo trabalho que fiz e pelas críticas que tenho recebido, o que não significa que eu considere o meu livro perfeito – tem várias falhas, algumas das quais eu só me apercebi depois de estar publicado – ou que todas as críticas tenham sido boas – aliás, as melhores críticas que recebi até foram negativas, porém foram também muito construtivas e isso ajudou-me imenso. Eu já me contento em alguém ler o meu livro, mais ainda comentá-lo, mais ainda comentá-lo de forma objectiva.

Este livro foi escrito em 2002 e só foi publicado dez anos depois. Foi revisto, foi reescrito, mas não foi beta’ed e se calhar devia ter sido. Ainda assim, têm sido várias as pessoas que comentaram a diferença a nível de qualidade de escrita entre ‘Um Cappuccino Vermelho’ e o excerto de ‘A Imagem’ que incluo no final do livro. É sinal que tenho vindo a melhorar. Ou assim dizem.

– Que pensas fazer a nível de escrita num futuro próximo?

Por agora quero focar-me no projecto de série de televisão em que estou a trabalhar e noutros projectos “menores” como crónicas e alguns contos. Quando as coisas estiverem mais orientadas, retomarei as revisões de ‘A Imagem’, continuarei a escrita de ‘A Voz’ (terceiro romance) e de outros projectos que por enquanto permanecerão em segredo. (O livro que comecei no Nanowrimo é para acabar.) Tenho também uma longa-metragem para rever e outras duas para terminar.

De referir que ‘A Voz’ é um romance que faz parte do universo ‘cappuccino’, embora seja uma história independente. É em simultâneo uma sequela e uma prequela. É um livro que não era suposto existir – pelo menos, não como parte de uma “trilogia” – só que havia ainda muitas pontas soltas por aparar. O problema foi que, quando comecei a tentar “fechar” tudo, tive a ideia para um quarto (e último) livro da série. Eu usei o termo série, embora não haja uma sequência de leitura obrigatória nas quatro histórias. Há, no entanto, a necessidade de ter atenção ao que já está publicado para que não surjam discrepâncias a nível de continuidade. É necessária muita atenção a nível de datas, traços físicos, indumentárias, enfim, pequenos detalhes (pleonasmo redundante, eu sei) cuja detecção constitui para algumas pessoas o momento mais estimulante do dia. Do quarto romance ainda só tenho ideias anotadas e um embrião de história na minha mente, mas estou muito ansioso por começar a escrevê-lo. Já vi um final para a história e gostei do que vi. Quero chegar lá. Em rigoroso exclusivo para o blog Morrighan, o título desse quarto livro (se não publicar outra coisa antes) será ‘O Quarto Vazio’.

– Pergunta da praxe: O que achas do blog Morrighan?

Eu sou um visitante recente. Não vou dizer que acompanho este blogue desde a sua fundação, muito menos que já o lia no tempo em que era feito em ms-dos. Tenho-o em feed no Firefox, consulto os títulos regularmente e leio sempre que é publicada uma opinião a algum livro que me possa interessar. É inegável o impacto, a influência e o alcance que este blog tem. Isso vê-se na longevidade, na número de visitas, no feedback dos internautas e, acima de tudo, no profissionalismo da sua proprietária. Também gosto muito da luzinha que se acende quando passamos a seta do rato por cima dos vários menus. (Já fazem de tudo. Qualquer dia até põem um homem na Lua.)

Queres que diga mais alguma coisa ou está bom assim?

(Só para animar isto um pouco, vou seleccionar uma palavra ao acaso e substituí-la por “arvoredo”.)

(Agora já faz sentido, não é?)

Sobre a sua obra:

As pessoas que conhecem Ricardo Neves dividem-se em dois grupos: os que o conhecem como autor de policiais e os que o conhecem como assassino profissional.

Ricardo sempre cuidou para que estas duas facetas da sua vida não misturassem. Tudo se complica quando recebe uma lista de alvos demasiado próximos do seu mundo de escritor. A colisão torna-se inevitável e Ricardo não tem como a impedir.

:::::::::::::::::

João Martins é um escritor com prazos para cumprir e sem ideias para desenvolver. Até que tem a ideia de escrever sobre um escritor que é também assassino profissional.

A surpresa acontece quando pessoas à sua volta começam a morrer tal e qual ele descreve no seu livro. A dúvida surge de imediato: estarão as mortes a acontecer porque ele as escreve ou será ele um mero narrador de eventos predestinados a acontecer?

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  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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