Amuleto
Roberto Bolaño
Editora: Quetzal
Sinopse: Uruguaia de meia-idade, alta e magra como Dom Quixote, Auxilio ficou escondida na casa de banho das mulheres, enquanto a polícia ocupava, de forma brutal, a Faculdade de Filosofia e Letras da Cidade do México, em 1968. Durante os dias que aí permaneceu, os lavabos converteram-se num túnel do tempo, que lhe permitiu rememorar os anos vividos no México e antever os que estavam por vir.
Neste exercício evoca a poeta Lilian Serpas, que foi para a cama com Che, e o seu desafortunado filho; os poetas espanhóis León Filipe e Pedro Garfias, a quem Auxilio serviu voluntariamente como empregada doméstica; a pintora catalã Remedios Varo e a sua legião de gatos; o rei dos homossexuais da colónia Guerrero e o seu reino de terror; Arturo Belano, uma das personagens centrais de Os Detetives Selvagens; e a derradeira imagem de um assassínio esquecido.
Opinião: Nunca antes tinha pegado numa obra de Roberto Boleño até Amuleto me chegar às mãos. Certamente que há muito que andava curiosa por ler uma obra sua, principalmente depois do sucesso que foi 2666. Mesmo sendo um tipo de leitura diferente do que o que costumo ler, gostei imenso de descobrir a escrita deste autor numa história que me deu que pensar, que me fez rir e que me despertou a curiosidade para tantos autores/poetas mexicanos.
Amuleto é uma extensão de uma história presente noutra obra do autor “Os Detectives Selvagens“. Enquanto que nessa obra os protagonistas são dois poetas, Artur Belano e Ulisses Lima, que também são mencionados em Amuleto, aqui temos Auxilio Lacouture e a sua história que para sempre ficou na memória de todos.
Auxilio autodenomina-se mãe de todos os poetas mexicanos, anda na casa dos quarenta e sempre que fala ou sorri, coloca a mão em frente da boca para que não seja os dentes que lhe faltam. Enquanto escondida na casa de banho, a sua mente vagueia por tantos episódios marcantes da sua vida. É sem dúvida uma mulher resistente em que por vezes nos seus pensamentos roçam na loucura. Resistindo à fome e à solidão, a sua única companhia é um livro de poemas e é esse o seu colete salvador.
“Não consigo esquecer nada. Dizem que esse é o meu problema.” Esta é sem dúvida uma passagem marcante que é representante de um século no qual acontecimentos aterradores tiveram lugar: a câmara de gás e a bomba atómica saltaram da mente humana para a realidade, da realidade para a História, desta para a memória e da memória para a eternidade. A escrita do autor é apaixonada e a narrativa viciante. Gostei imenso.
Fantastic!