Indiscrição
Charles Dubow
Editora: Grupo Planeta
Sinopse: Harry e Madeleine Winslow foram abençoados na vida: têm talento, charme e dinheiro. Harry é um autor premiado e com uma carreira promissora. Madeleine é uma mulher de beleza sublime e graça, cuja bondade e serenidade desmentem a educação privilegiada e vivência no luxo. Ligados por profunda devoção, partilham um amor que provoca inveja.
Num fim-de-semana, no princípio de Verão passado na praia, Harry e Maddy, que estão na casa dos quarenta, conhecem Claire, uma jovem aparentemente inocente e inteligente, que desperta com sua a juventude e ingenuidade desarmante uma admiração no casal.
Atraída pelo inegável magnetismo dos Winslow, Claire entra na vida no casal.
Mas, ao longo do Verão, a amizade e reverência transformam-se em desejo perigoso. O que irá abalar e poderá destruir o mundo dos
Winslow.
Uma história de amor, luxúria, engano e traição contada através da perspectiva de Walter, amigo de infância e apaixonado em Segredo por Maddy.
Opinião: Nenhuma relação é um paraíso. Por muito que aparente, por muito que aos olhos de terceiros pareça perfeita, a verdade é que mais cedo ou mais o conflito surge. Pode ser passageiro, insignificante, pode até repetir-se sem nunca ter um efeito prático na relação, ou pode ser completamente devastador e mudar o rumo não só das suas vidas como das de quem lhes é próximo. Indiscrição, mais do que a capa aparenta, é um livro que vai mexer com as emoções do leitor, que lhes vai mostrar todo um lado que muitas vezes é omitido neste tipo de romances.
Charles Dubow construiu um enredo que desde cedo prende o leitor. A narração através de um personagem secundário, mas que é próximo e acompanha de perto toda a trama principal, foi uma abordagem que ao início me custou a perceber, mas que mais tarde se mostrou completamente justificada, para além de nos dar outra perspectiva da história. A sua escrita, muito segura e realista, transporta-nos para cenários íntimos de um casal que aos olhos dos outros, inclusive do narrador, é perfeito. Os dois são de uma beleza notável, inteligentes e harmoniosos. Quando Claire aparece nas suas vidas, essa perfeição, apesar de aparentemente continuar, é abalada para sempre.
As personagens estão bem exploradas e espelham, de maneira simples, mas clara, a dinâmica de certo tipo de personalidades e como estas se podem reflectir numa relação. Mais ainda quando surge uma terceira pessoa que, ao início, se infiltra como uma protegida e uma amiga. Houve partes que, não sei se de forma descabida por serem tão diferentes, me fez lembrar o filme Vicky Cristina Barcelona. Claire é claramente o elemento que ainda se procura a si mesma e, no auge da sua juventude, deixa-se dominar pelo que não pode ter. Esse egoísmo, sair-lhe-á mais caro do que alguma vez julgara possível.
Quanto ao que o livro provocou em mim, confesso que passei por diversas emoções. Este é um tema sensível que de certo afectará a maioria das pessoas que o lerem. O conceito de famílias destruídas não é novo, nem de quarentões que traem as mulheres por recém-adultas, mas quando existe uma criança no meio… Bem, certamente mexeu com os meus nervos. Penso que o autor foi um mestre ao dar-lhe o fim que deu. Trágico, irreversível, mas transmissor de uma grande lição. Um livro humano, com todos os conceitos que tal alberga – pessoas que cometem erros, que se arrependem, mas em que por vezes apenas é tarde demais. Gostei.
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